Capítulo 3

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O primeiro ato de Byakuya no sentido de descobrir o paradeiro de Yoruichi foi tentar contatá-la pelo celular, o que só resultou em perda de tempo. Se ela estava envolvida em alguma situação controversa - e se tivesse que apostar, ele apostaria que sim -, claro que ela não iria atendê-lo. O próximo ato foi pegar seu carro e seguir para o apartamento dela. Mas, lá chegando, também não a encontrou. Ele estava mesmo estranhando aquele sumiço, ou melhor, a paz que vinha desfrutando em função disso, já que azucriná-lo parecia ser o passatempo preferido daquela mulher.

Aos olhos da sociedade, Byakuya Kuchiki e Yoruichi Shihouin mantinham uma relação no melhor estilo cão e gato. Eram rivais em tudo e, no consenso geral, qualquer um diria que eles não se suportavam. Mas isso era apenas uma fachada, quem os conhecia um pouco melhor sabia que eles compartilhavam laços mais profundos.

A família de Yoruichi, tal como a dele, constituía um clã de nobres. Por essa razão, os dois se conheciam desde pequenos e foram educados de acordo com os ditames das milenares tradições japonesas. E sendo os primogênitos das vertentes centrais de seus respectivos clãs, aprenderam desde o berço a língua e a escrita japonesa - em detrimento da língua inglesa que ficou em segundo plano -, além das tantas e tantas regras de etiqueta. Um legado cultural tão diferente da cultura do país no qual eles haviam nascido e crescido, porém um legado do qual sentiam muito orgulho e respeito. Nos churrascos, saraus e outros eventos sociais da casta nobre de Seireitei, eles sempre estavam presentes e se destacavam, trajando as opulentas vestes orientais e demonstrando seus talentos nas artes, danças e músicas típicas do Japão.

A rivalidade sempre foi uma constante entre eles, mas foram os laços tecidos pela morte que verdadeiramente interligaram suas vidas. Um desses laços foi atado na adolescência, quando eles dois perderam seus pais no mesmo dia, em um acidente de avião. Um outro, anos mais tarde, quando Yoruichi o impediu de se matar, aos vinte anos, no dia em que a morte o visitou novamente, dessa vez, para lhe tomar sua jovem esposa, Hisana, vítima de um câncer no pâncreas.

Byakuya tinha dez anos quando perdeu os pais, sua irmã, Rukia, mal tinha completado quatro anos. Eles dois foram criados pelo avô, Ginrei, pai do pai de Byakuya e viúvo havia pouco tempo. Yoruichi, já uma adolescente de quinze anos, não teve a sorte de ter um parente próximo que cuidasse dela, sendo assistida por uma tia-avó da qual parecia não gostar muito, visto que sempre fugia dessa senhora. E ela sempre fugia para casa de Byakuya.

Quando ele menos esperava, Yoruichi aparecia na mansão Kuchiki para importuná-lo nos treinos de kendo, ou ridicularizar suas marcas no atletismo ou só para roubar a parte dele da sobremesa. E o que mais o deixava inflamado de ira era ver o apreço que seu avô mantinha por ela. Na época, ele se mordia de ciúmes com isso, e precisou de anos para compreender que era consolo pela dor com a falta dos pais que ela encontrava em seu avô. Por conta disso, pelos dois anos que seguiram após a tragédia, ele e Yoruichi mantiveram um estreito convívio e foi nesse tempo que a rivalidade entre eles ficou mais acirrada. Byakuya, tão infante, só pensava em ser melhor que ela. Queria ser mais esperto, mais rápido, melhor no arco, na caligrafia, no hipismo, na natação. Viviam se desafiando, e, na maioria das vezes, ele levava a pior. E justo quando a balança parecia que ia começar a se equilibrar, sem explicação ou aviso, Yoruichi simplesmente sumiu da vida dele.

Passaram-se quatro anos até que eles voltassem a se ver, o que aconteceu em um tribunal de justiça. Ele estava na plateia com seu avô e ela, contrariando a expectativa dele de que deveria estar no banco dos réus, estava na bancada da promotoria, atuando como assistente de investigação. Três eram as carreiras preferidas pelos membros dos clãs Kuchiki e Shihouin: segurança, direito e tecnologia. Byakuya, aos dezesseis anos, se sentia indeciso quanto a qual dessas carreiras seguir e ter visto Yoruichi trabalhando naquele tribunal pesou em sua própria escolha, mas, em alta voz, ele jamais admitiria isso.

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