Capítulo 6
Os dias parecem longos
Quando não estamos juntos
As horas passam tão devagar
Mas eu vou te esperar
Porque você vale a pena
Vale a pena, vale a pena.
Você vale a pena.
Eu vou te esperar, FragmentosO dia na revista foi bastante tranquilo. Entreguei a Judite meu pen drive, pois finalmente havia conseguido terminar de escrever o que ela havia pedido, e que eu não tinha sido capaz de concluir naquele final de semana musical. Agora estou aqui, em frente ao computador, empolgada com minha nova matéria. Quero realmente que ela seja importante e que, de alguma forma, possa ajudar alguém, mas não sei muito bem por onde começar. Tenho consciência de que, mesmo que eu faça aquelas aulas maravilhosas de defesa pessoal, não posso simplesmente escrever os golpes ou desenhá-los e pedir que as mulheres os realizem quando sentirem necessidade, pois é impossível reproduzi-los em palavras tão perfeitamente. Não é a mesma coisa que vê-los sendo executados e repetir.
Coloco o cotovelo sobre minha mesa cheia de papéis espalhados e descanso a cabeça na mão, maquinando uma maneira de fazer com que minhas ideias possam dar certo. Mas não tenho muito sucesso em manter minha atenção no que realmente devo fazer, ainda mais quando meus olhos pousam sobre o iPod que está ao lado do teclado e que estou decidida a carregar sempre comigo. Aquilo me faz lembrar de Gabe e do encontro que teremos daqui a algumas horas.
Até agora só consegui gostar de três músicas, mas não estou nem na metade da seleção. Estendo a mão para pegar o objeto e aperto o play para ouvir a próxima.
Seus olhos, meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto sóSorrio comigo mesma quando o som da música Velha Infância, numa versão especial dos Tribalistas, sai do aparelho. Nunca imaginei que Gabe curtisse esse estilo. Se eu fosse julgá-lo pela aparência, eu diria que ele é um daqueles garotos que só ouvem bandas de rock. Músicas suaves também se encaixariam em seu perfil, mas isso só quando meu vizinho está mais formal, o que, na verdade, não combina muito com a personalidade dele. Sei que não o conheço muito bem, mas, o papo que tivemos em seu apartamento me fez perceber que Gabe não é uma dessas pessoas que nasceram para ficar trancados em escritórios.
Talvez eu esteja errada. Ultimamente meu sexto sentido tem falhado com relação às pessoas e é possível que Gabe goste muito do que faz e eu esteja apenas fazendo conjecturas sem sentido.
Me endireito na cadeira e chacoalho a cabeça. Ainda tenho muita coisa para pesquisar e não posso me dar ao luxo de permitir que minha mente viaje. Deixo a música do iPod bem baixinha para não me atrapalhar e vou em busca de informações que possam me ajudar, enquanto o relógio parece brincar com os ponteiros como se não quisesse que eles saíssem do lugar.
*
- Por que você não me contou? - Emmeline pergunta aquilo com tanto entusiasmo que parece que é ela quem irá sair com Gabe.
- Porque eu sei que você não iria me deixar em paz - eu digo e reviro os olhos, embora ela não possa me ver porque nesse momento não estou em frente a câmera.
Estamos numa conversa via Skype. Meu notebook está sobre a penteadeira, enquanto eu ando de um lado para o outro, tirando peças do meu guarda-roupa e mostrando-as a Emme para que ela me ajude a escolher alguma. Até agora não tive muito sucesso com nada.
- E aonde é que vocês irão? - ela questiona.
- Eu ainda não sei. Ele só me chamou para jantar, mas não teve tempo de me dar detalhes.
Eu tiro da gaveta uma saia com estampa étnica tribal em tons de cores quentes e uma blusa fina de cor salmão e as ergo para que Emmeline opine.
- Eu amo esse seu look, Erin, tenho certeza de que Gabe ficará ainda mais caidinho por você quando a vir assim! - Ela solta um gritinho e começa a cantarolar, erguendo os braços para cima: - Eu peço A, de Arrasar, porque essa noite minha amiga vai beijar!
Acabo rindo da euforia dela. Acho que Emmeline daria uma boa líder de torcida. Às vezes fico imaginando-a balançando pompons, com aquelas minissaias rodadas, incentivando os jogadores a marcarem pontos. É realmente uma pena não termos isso por aqui.
- Vai colocar um salto?
- Deus me livre! - Dou uma risada irônica.
Infelizmente, eu e os saltos-altos não somos bons amigos. Além do mais, eu não sei em que local nós dois iremos, então prefiro me precaver e colocar algo que possa me deixar confortável.
Me ajoelho no fofo tapete e me curvo para pegar, de debaixo da cama, minha sapatilha. Não sei bem a que horas Gabe pretende que nós saiamos, para falar a verdade, nem sei se ele já chegou em casa. Mas desligo minha chamada com Emmeline e corro para o chuveiro para tomar um banho e me arrumar.
Coloco minha roupa, alguns acessórios como uma pulseira de berloque e um anel preto daqueles de madeira. Abro o celular e olho as horas. São sete e meia e não tive nenhum sinal do meu vizinho. Talvez ainda esteja cedo.
Procuro me distrair com algum livro, enquanto o espero sentada no sofá. Conforme os minutos vão se estendendo, confesso que começo a ficar impaciente. Preciso pedir ao meu cérebro que pare de mandar essas vibrações de ansiedade para o meu corpo, que me fazem olhar o celular a cada cinco minutos, mas ele não parece querer obedecer a sua dona.
Tento não entrar num surto ao ver que as horas passam e nada do meu vizinho aparecer. Cogito a ideia de não tê-lo ouvido bater à porta, mas tudo está em total silêncio e eu sei que, embora eu possa ser um tanto distraída, ainda não sou surda. Me pergunto se Gabe está esperando para que eu o chame.
É possível que seja isso.
Saio do meu apartamento e fico parada em frente à porta de Gabe. Solto o ar, tomando coragem para bater enquanto fico remoendo as desculpas que irei dar caso o meu vizinho diga que se arrependeu e mudou de ideia com relação a me levar para sair.
Com o punho fechado, bato algumas vezes, mas ninguém atende. Colo meu ouvido à porta a fim de ouvir ruídos, mas tudo está silencioso. Só consigo levantar duas hipóteses. Ou Gabe ainda não chegou ou ele está me ignorando. Mas às dez horas é improvável que ele ainda esteja no trabalho, pois isso iria além do que a lei permite. Será que ele está com outra garota? Ou aconteceu algo grave?
Pensamentos paranoicos sobrevoam minha cabeça e um sentimento de preocupação toma conta do meu peito. O pior é que nós sequer trocamos nossos números de telefone e eu não tenho como descobrir se ele está bem ou se alguma coisa aconteceu. Detesto me sentir angustiada assim e sei que eu não vou conseguir dormir até ouvir algum som sair do apartamento ao lado.
Marcho de volta para o meu sofá, onde me jogo, roendo minhas unhas e pedindo aos céus para que nada de ruim tenha acontecido a Gabe.
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Sem Canção
General FictionSINOPSE PROVISÓRIA Ao contrário da maioria das pessoas, Erin não é grande apreciadora de música. Na verdade, ela prefere o silêncio onde possa ouvir seus próprios pensamentos ao som de instrumentos e canções. Todavia, parte da sua tranquilidade a...