Sem Canção

Capítulo 17 - Gabe

CAPÍTULO 17

De noite quero olhar o céu
Preciso te sentir
E o vento que vem me tocar
Vou pensar que é você aqui
Por que é que tem ser assim?
Você é a brisa e eu queria te abraçar
Você é a brisa, você é o mar
Mas eu não posso me afogar
Meu Mar, Fragmentos

- Você é um babaca, Gabe - ela diz e dá um passo para o lado a fim de se esquivar de mim, mas eu sou mais rápido e agarro o pulso dela, fazendo com que ela não possa se afastar.

Ela tem toda a razão em dizer que sou um babaca, porque é exatamente assim que tenho agido nessas duas semanas. E apesar de ter consciência sobre esse fato, não posso deixar de contar a ela meus motivos. Não espero que ela os aceite, mas algo dentro de mim não ficaria em paz pensando que Erin acredita que ela é a culpada pelas minhas atitudes impulsivas.

- Erin, me deixe explicar as coisas para você e, então, se depois de ouvir o que tenho a dizer você ainda não quiser olhar na minha cara, eu irei entender perfeitamente.

- O quê? - Ela me fuzila com o olhar. - Por acaso tirou essa frase de algum livro? - inquire com aspereza e tenta se desvencilhar de mim, mas estou decidido a fazê-la me ouvir nem que eu tenha que sequestrá-la, porque eu preciso que ela saiba que tudo isso não tem nada a ver com ela. - Vem comigo.

Tento puxá-la, mas Erin é teimosa como uma mula e permanece plantada ali, com a cara amarrada.

- Me solta agora! - ela exige.

- Me diz uma coisa, Erin. - Eu aproximo meu corpo do dela, mantendo meus olhos fixos nos seus.

Nem por um segundo Erin vacila e isso me faz ficar ainda mais fascinado por ela, como se isso fosse possível. Mas preciso me manter firme. Preciso que ela leia a verdade em mim. Ela já fez isso uma vez, quando nós mal nos conhecíamos, agora que ela sabe como eu sou pode fazer de novo - pode me dar outra chance. Não sairei daqui sem ela.

- O que você tem a perder me ouvindo? Só há duas opções nessa questão.

- E as duas são muito dolorosas, Gabe - ela diz e vejo seus olhos ficarem marejados. - Ou eu passo a te detestar ainda mais ou a gostar. Todas elas num grau muito elevado que não sei se serei capaz de suportar.

Entendo perfeitamente os receios de Erin. Por muito tempo eu também mantive o meu coração guardado numa espécie de cofre onde ninguém mais pudesse ter acesso a ele. Mas, aos poucos, eu entreguei a senha a Erin. Ela conseguiu me ganhar e eu estou disposto a entregar de vez meu coração a ela. Está na hora de finalmente Erin conhecer os meus segredos.

- Eu sei que te magoei, Erin, e eu realmente sinto muito por isso. - Toco uma mexa de cabelo dela, levando-o para trás de sua orelha.

Sinto quando meu toque em sua pele faz todos os pelos dela se arrepiarem.

- Eu não posso fazer nada quanto ao modo como te tratei esses últimos dias, mas posso fazer quanto ao futuro. Só me dê mais uma oportunidade.

Os olhos de Erin descem para o chão. Tenho a sensação de que uma eternidade se passa até que ela decida.

- Tudo bem. - Ela volta a erguer seus olhos verdes para os meus.

Vejo o silencioso pedido que eles me fazem e sorrio como resposta. Não irei magoá-la de novo.

*

Erin fica bastante confusa quando eu ofereço o capacete a ela e a levo até a moto.

- Por favor - eu peço.

Sem dizer nada, ela coloca o capacete e sobe atrás de mim. Se quero que Erin conheça cada pedacinho meu, desde os pequenos caquinhos até o todo, eu preciso levá-la ao lugar onde tudo aconteceu.