Capítulo 20 - Erin

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CAPÍTULO 20

Eu quero mais que dinheiro
Que um bom cabeleireiro
Eu quero mais que joias
E nada menos que rosas
Quero ser livre
Ir para onde eu quiser,
Quero ser livre,
Para te amar o quanto eu puder
Desejos Reais, Fragmentos

Uma festa.

Hoje pela manhã, tentei não surtar com o fato de Gabe me convidar para a festa da sua empresa, apenas dois dias antes de ela acontecer, mas estava difícil controlar a ansiedade que eu sentia. Será que meu vizinho não entendia a dificuldade que era encontrar uma roupa adequada?! Para Gabriel, certamente seria muito simples achar algo no estilo anos sessenta. Essa era a temática e, claro, não foi nada difícil perceber quem a havia sugerido. Para mim, no entanto, isso seria uma caça ao tesouro.

Eu estou em pânico, por isso, enquanto caminho até o carro, pego meu celular e mando uma mensagem para o grupo que criei no WhatsApp para nossa gangue. Mia e Emmeline precisam me salvar depois do expediente.

Assim que chego à revista, antes de me dirigir para a sala de reuniões, pego um copo de chá. Quando entro no ambiente, Judite e a maior parte dos funcionários já estão lá e a postos para ouvir e sugerir ideias. O mês que passou fora um dos melhores para a revista.

Minha matéria já tinha sido publicada e eu ainda recebia diversos e-mails de garotas que já haviam passado por algum tipo de assédio ou abuso. O artigo dera a algumas a coragem para denunciar. Infelizmente, muitas mulheres ainda estavam presas pelo medo. Se o medo fosse algo palpável, eu faria de tudo para tirar aquilo delas. Não é fácil conviver com um sentimento que te limita, te magoa e machuca. Eu senti isso por minutos e já foi uma sensação horrível. Não conseguia imaginar como era sentir aquilo por dias, meses ou anos. Mas eu estava feliz por elas confiarem em mim para se abrir e por poder aconselhá-las. De alguma forma, as minhas palavras estavam fazendo a diferença, o que me fez refletir sobre o fato de que, por mais desconfortável ou difícil que seja, precisamos falar. Alguém precisa falar.

Tomo a última gota do meu chá e olho para frente. Judite passa as mãos pelos cabelos e pede ideias, anotando, como sempre, as sugestões no quadro branco. Emmeline chega alguns minutos depois, atrasada. Ela senta-se discretamente ao meu lado, e não diz nada até que a reunião esteja terminada. Depois que tudo é decidido, ela me belisca e sorri. Reviro os olhos, mas não sou capaz de evitar que meus lábios se ergam para cima.

- Estou muito feliz por Gabe ter se provado um idiota perdoável.

- Você é realmente má, Emme, - Dou uma risadinha.

- Bom, o importante é que vocês estão bem e que nós vamos às compras hoje! - Emmeline pisca para mim cheia de energia e eu já me arrependo por tê-la chamado para sair.

Nós duas nos levantamos e seguimos até a porta. Antes que eu a atravesse, no entanto, Judite me chama. Emmeline me lança um olhar estreito e eu dou de ombros num gesto que denota que eu não sei o que ela quer.

- Boa sorte - ela mexe os lábios sem emitir som e sai.

Assim que ficamos sozinhas, Judite se aproxima de mim. Ela manteve-se o tempo todo séria na reunião, mas agora exibe para mim o maior dos sorrisos.

- Tenho uma notícia fantástica!

Eu engulo em seco e meu coração dispara. Judite se aproxima, segura minhas duas mãos com animação e continua:

- Você conseguiu!

- Eu... Eu consegui?

- Sim!!! - ela confirma.

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