Capítulo 27 - Erin

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CAPÍTULO 27

Abra suas asas
Voe, meu amor
Mas permaneça por perto
Para que eu possa te sentir
Abra suas asas
Trilhe para longe daqui
Mas não afaste sua alma de mim
Sobre o Céu, Fragmentos

- Não sei por que temos que fazer isso se vamos nos casar e mudar daqui - diz Lucas, olhando para a parede azul à sua frente, ainda com o rolo nas mãos, a testa suada.

- Vocês vão se casar? - pergunto, surpresa por Emmeline não ter me dito nada.

- Nós vamos nos casar? - Ela soa como se aquilo fosse novidade para ela também.

- Um dia - ele responde depressa. Depressa demais. - Um dia nós vamos.

Soltando um grunhido, Emmeline arremessa a toalhinha branca com força em Lucas que pensa rápido e consegue pegá-la antes que ela atinja seu rosto. Ele aperta os lábios ao olhar para a namorada e vê-la com uma expressão fechada tentando conter um riso sem muito sucesso.

- É brincadeira, mozão. - Lucas aproxima-se da minha amiga e deposita um beijo na testa dela. - A gente se casa no dia que você quiser. Pode ser até hoje. Pode ser agora! Que tal?

- Não seja bobo, Lucas - ela ralha com ele meio brava, meio brincando.

Ambos ficam sorrindo um para o outro e eu apenas os observo. A interação deles é tão legal que me dá vontade de chorar, sobretudo depois da discussão que rolou essa manhã entre mim e Gabe. Emmeline parece perceber meus sentimentos, porque empurra o namorado delicadamente e seu sorriso se torna morno.

- Bom, eu vou lavar o rosto e deixá-las à vontade. - Lucas dá um passo para trás e deposita o rolo numa caixa.

- Não quero atrapalhar - digo, me sentindo mal por interromper à tarde de namoro dos meus amigos.

- Não está atrapalhando. Eu já ia mesmo sair.

Lucas soa bastante convincente, mas não tenho certeza se está dizendo a verdade ou apenas querendo aliviar o meu constrangimento. Ele vai até o banheiro e Emmeline se dirige até a cozinha. Eu a espero indo me sentar no único sofá da sala. Minha amiga não demora e quando chega está com duas taças de sorvete nas mãos. O sabor é de flocos e vejo que ela colocou cobertura de abacaxi por cima.

- Vai me dizer por que me ligou chorando? - Ela me entrega a taça.

Emmeline se senta ao meu lado e leva uma colherada de sorvete à boca.

- Eu e Gabriel brigamos - conto a ela. - Ele acha que não me importo com o que nós temos. Pensa que eu o estou trocando como o pai dele fez...

- O quê? - Emmeline inquire sem entender.

Lembro que não disse nada à minha amiga sobre o pai de Gabe ou sobre como seu irmão morreu, então conto toda a história e ela ouve os detalhes com atenção. Durante a minha narrativa, Lucas sai do banheiro e nós ficamos mudas. Ele caminha até a nós; despede-se de mim com um beijo na bochecha e de Emmeline com um beijo delicado nos lábios. Em seguida, ele ruma até a porta, deixando o rastro de seu perfume pelo cômodo. Quando a fecha, eu e Emmeline voltamos a conversar.

- Que barra, Erin - ela comenta.

- Hoje, a última coisa que ele disse é que sou uma mimada que não... não entende nada da vida. Talvez ele esteja certo - pondero tristemente.

A verdade é que Gabriel tem razão. Meu pai não teve a opção de ficar e eu nunca fui abandonada por ninguém e nunca perdi alguém da forma como ele perdeu. Mas se há uma coisa da qual eu tenho certeza é de que a decisão que tomei não foi por mim - foi por nós, pois tudo que desejo é vê-lo realizando seus objetivos perdidos.

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