Sem Canção

Capítulo 9 - Erin

CAPÍTULO 9

Eu sou assim perto de você
Não adianta dizer que não
É que você tira o melhor de mim
E eu quero dançar, dançar assim
E eu quero cantar, cantar assim
O meu coração
E você em mim
Como você me deixa, Fragmentos

Eu realmente não faço ideia do que havia dado em mim. Hoje eu sequer consegui ouvir um jingle, mas ontem, naquele restaurante com Gabe, me deixei levar pelo som que saia da jukebox. Talvez fosse aquela música que eu conhecia e sempre havia achado muito animada. Talvez fosse a companhia do meu vizinho. Por algum motivo incompreensível até para mim, tudo que eu queria era tornar a noite dele interessante. Não era exatamente a necessidade de impressioná-lo. Era muito mais profundo. Eu queria aplacar aquela tristeza que, embora ele tentasse esconder com sorrisos e conversas, eu via em seus olhos.

Resolvo não sair para correr hoje. Estou exausta e tudo que faço é dormir até a hora de ir à revista. Antes, porém, passo na academia e faço minha inscrição. A moça da recepção passa os horários e fico contente ao descobrir que meu instrutor será o Tales.

Assim que chego à revista, não é nenhuma surpresa ver que Emmeline me segue até minha sala. Ela mal espera que eu me sente e se joga na cadeira e a gira para ficar de frente para mim, enquanto eu me ponho na tarefa de ligar meu notebook.

- Vocês se beijaram? - ela pergunta cheia de expectativa.

- É sério isso, Emme? - Eu reviro os olhos para ela. - Esse é seu primeiro interesse, saber se a gente se beijou no nosso primeiro encontro? - enfatizo a palavra primeiro, procurando causar algum efeito moral em minha amiga que apenas bufa como se aquilo fosse um mero detalhe.

- Ok, tudo bem... - ela diz e solta o ar pelo nariz. - Como foi o encontro? Aonde é que ele te levou?

- Como saímos um pouco tarde havia poucos lugares abertos e ele me levou... - Faço um pequeno suspense. - Numa lanchonete estilo anos 80.

Narro para Emmeline todos os detalhes da noite, desde a conversa que tivemos até a hora em que nós dançamos juntos. Enquanto faço meu relato, os olhos dela se arregalam um pouco como se não fosse de mim que eu estivesse falando.

- Você dançou e... cantou? - Emmeline se inclina para frente, apoiando os punhos na quina da mesa.

- Exatamente. - Dou de ombros.

Sei que é estranho, mas me sinto um pouco desconfortável com a maneira como Emmeline faz aquilo soar. É quase como se eu fosse uma chata monótona incapaz de apreciar um bom momento.

- E você gostou? - Minha amiga franze as sobrancelhas ruivas com ar de curiosidade.

- Sim.

- Você detesta fazer essas coisas. - Emmeline se recosta na cadeira e a gira um pouco para o lado, tamborilando o dedo indicador no queixo e exibindo uma expressão pensativa.

Eu conheço Emmeline bem o suficiente para saber o que ela vai dizer, então não me surpreendo quando ela bate palminhas e conclui como uma amiguinha de colegial:

- Você está apaixonada!

- Vamos com calma - peço. - Gabe é interessante e mexe comigo, mas não exagera.

Eu fico ereta em minha cadeira e puxo meu notebook para mais perto, esperando que minha amiga entenda a deixa, mas a minha vida parece interessante demais para ser ignorada.

- Vocês vão sair hoje de novo?

- Sim - respondo e continuo fingindo ver algo interessante, enquanto na verdade só estou olhando para velhas planilhas.