Capítulo 7 - Prenúncio

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- Babaca! - Clarice cuspiu assim que a porta se fechou as suas costas - Não amasse meus livros. São edições muito caras. Blá-blá-blá - imitou a voz dele - Babaca! - repetiu - Devia pagar imposto por ser tão desnecessário e idiota, ao invés de apenas desperdiçar oxigênio com sua inútil existência.

E a garota foi assim, marchando, aos tropeços com o peso dos livros, descendo as escadas enquanto resmungava dezenas de impropérios sobre seu novo orientador.

Francamente! - ela pensou, exasperada, sentindo bastante necessidade de jogar as mãos para o alto com esses pensamentos. Ela provavelmente faria isso se não tivesse com cinco livros em suas mãos - Quem é que ele pensava que era? James Joyce?

Nem o irlandês era tão maluco quanto ele, faça-o favor!

- Clar! - Lari chamou, a voz doce um pouco esganiçada com o grito - A gente tá aqui! - mexeu as mãos, as unhas compridas pintadas de vermelho.

Clarice caminhou até a mesa da cantina onde ela e Duda estavam, enquanto bebiam um suco aguado de laranja e comiam o que a faculdade chamava de salgado. A garota tinha lá suas dúvidas se aquilo poderia ser considerado comida, mas, em todo caso, era o que eles tinham se não tinham tempo para sair do campus para comer fora.

- Eu quero matar aquele desgraçado! - declarou, colocando os cinco livros sobre a mesa de plástico com força.

O copo de plástico com o suco balançou e a garota arregalou os olhos, porque só faltava mesmo aquilo acontecer e o líquido derramar pelos livros daquele imbecil para sua vida poder ser sinônimo completo e integral de verdadeiro inferno.

Mas nenhuma gota alaranjada caiu do copo e ela soltou um suspiro aliviado antes de perceber.

- Caralho! - foi só o que Duda disse, ao ver a amiga desabar na cadeira de plástico em frente a ela.

- Ele é um idiota! - colocou as mãos em frente o rosto, os dedos fechados em soco - Puta merda, eu quero socar a cara dele até ele ficar deformado!

- Ia dar um pouco de trabalho - Larissa disse, abrindo sua barra de cereal - Ele é bem bonito para ser deformado...

- Você é tão obtusa! - Clarice afundou na cadeira - Como é que te aguento?

- Me faço essa pergunta todos os dias - Duda abocanhou seu salgado pingando óleo.

- Ora! Você aguenta comer isso aí, garota, é claro que aguenta qualquer outra coisa - revirou os olhos verdes.

- Vomita aí sua raiva - Duda ignorou Larissa e encarou Clarice - Aproveita que nossa aula de literatura brasileira foi cancelada mesmo e temos todo tempo do mundo.

- E mesmo assim estão comendo aqui? Você é masoquista.

A negra deu de ombros e mordeu mais um pedaço do salgado.

- Suspeitei que você precisaria de ajuda quando saísse da sala do Maluco. Mas até que você saiu inteira. A Roberta, nossa veterana, na primeira reunião, saiu aos prantos daquela sala.

- Como é que você sabe? - Lari olhou pra ela.

- Estava no banheiro na hora que ela irrompeu, soluçando, carregando dois livros e praguejando todos os nomes feios que deve ter conseguido pensar para xinga-lo. Claro que a ajudei a pensar em mais nomes.

- Depois eu sou a fofoqueira.

- É que diferente de você eu não saio por aí espalhando as coisas que sei sobre os alunos - Duda revirou os olhos.

Diversas Formas de Nós [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora