Capítulo 47 - Crueldade

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— Que sorriso de trouxa é esse? – Larissa perguntou na segunda-feira, assim que Clarice chegou no corredor do curso de Letras.

Eduarda, que estava sentada, encostada à pequena mureta de proteção do andar, parou de encarar o livro para olhar para Clarice.

— Acho que já sabemos por onde andou Clarice Banda Meia-Boca dos Anos Setenta pelo fim de semana – e voltou a ler a página em que estava.

— Eu não posso sorrir, é isso?

— Numa segunda-feira fria pra caralho, com esse vento absurdo e nublada? Com certeza, não.

— Eu gosto do frio.

— Você é maluca e todo mundo sabe.

— Foco – Larissa estalou o dedo, chamando a atenção das duas – Que diabos aconteceu? Por que você ignorou nossas mensagens o final de semana inteiro? Era pra você ter ido tomar um banho de piscina na minha casa ontem. Deus sabe que você está precisando. E só Deus sabe quando vai ser o próximo sol nessa cidade.

— Estava... hm... ocupada.

— Claro que estava. Muitos capítulos da dissertação, né? – Eduarda revirou os olhos.

— Coitada da Clari – Larissa debochou – Será quantos centímetros de tese ela tem que escrever?

— Você é nojenta – Eduarda fez cara de nojo, acendendo um cigarro logo depois.

— Pelo menos, você conseguiu produzir muito? – Larissa piscou para Clarice.

— Tomara que não, né? Não deve ser uma boa ideia produzir a essa altura do campeonato, sua louca – Duda tragou um cigarro.

— Vocês estão me deixando com vergonha – Clarice disse, sentindo o rosto corar.

— Ora. E pra que raios servem os amigos se não é para deixar o outro envergonhado?

— Um final de semana inteiro, hein? Conta logo como foi – Larissa sorriu.

— Incrível – Clarice abriu um sorriso – E apaixonante.

E foi mesmo.

João Gabriel era um amante sensacional, e disso a garota não tinha dúvidas. Mas também era um bom cozinheiro, de um modo geral, e tinha bom humor pela manhã – algo que ela jamais imaginaria. É verdade que ele estava elétrico demais, e ela desconfiava que ele não dormira hora alguma durante o fim de semana. A garota havia acordado pela madrugada, com sede, e o encontrou rabiscando palavras desconexas no seu caderno manchado de tinta e café. Depois, quando acordou mais tarde para ir ao banheiro, João estava revirando a sala ao som de seus próprios assovios. E quando ela perguntou o que ele estava fazendo, o professor não soube responder. E foi exatamente nessa hora que eles fizeram sexo no sofá.

Eduarda bufou.

— O que foi?

— Você devia procurar uma terapia, antes que seja tarde demais.

— Hein?

— Nossa amiga não acredita no amor – Larissa deu de ombros.

— E você, que vem de uma família que compra amor, acredita, por um acaso, capeta?

Larissa deu de ombros.

— Só acho que o fato deu nunca ter visto não significa que algo não possa existir. Quer dizer, eu nunca vi um ET, mas acho que eles existem.

— Que comparação poética, o ET com o amor – Eduarda deu um sorriso – Embora eu ache que amor seja mesmo coisa de extraterrestre, em todo caso.

Diversas Formas de Nós [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora