EPÍLOGO

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(Cinco anos depois)

Clarice, de cabelos mais curtos, saiu da USP com um sorriso no rosto. Sua defesa de Mestrado havia sido um sucesso, e ela estava tão aliviada quanto apreensiva, do mesmo jeito que ficara no dia da sua defesa de Trabalho de Conclusão de Curso. Ela sabia que tinha pessoas para avisar sobre sua conquista – mas ela queria guardar aquele momento só para si por mais um tempo. Queria ficar um pouco com a glória de ter terminado mais uma coisa. De ter dado mais um passo para o futuro escolheu.

Porque, no final, a vida era isso: uma sucessão de escolhas, boas e ruins, que te levam a algum lugar.

— Minha mestra – Larissa comemorou – nessa coisa chata que é linguística, mas ainda assim minha mestra.

As duas ainda eram amigas. Era estranho como a faculdade trazia coisas tão distantes para dentro de nós, Clarice pensou, que não muda nem com o passar dos anos. De tudo que a UFBelo ofereceu, as amigas foram as coisas mais importantes que ficaram para ela. Não era das aulas que ela lembrava, nem do nervosismo dos trabalhos, nem dos parabéns dos professores. Era das amigas. Que ainda estavam lá, para qualquer coisa, por mais que cada uma estivesse num canto do sudeste.

— Por favor, você já é quase doutora – Clarice revirou os olhos.

— Ai, por favor, não me fala nisso. Falta um ano pra minha defesa e eu já quero morrer – ela prendeu os cabelos loiros e lisos num rabo de cavalo – Vamos tomar um café? Quero ver se o Mundo da Lua paulista é tão bom quanto o original. Eu ainda estou esperando, de verdade, que Luana abra uma filial no Rio de Janeiro. A cidade ia ficar muito melhor depois disso.

— Aliás, como tem andado Eduarda?

A sua segunda amiga não conseguiu ir para São Paulo, mas Clarice não se sentia magoada por isso. A vida de Duda era complicada demais para ela abandonar tudo no meio da semana e apoiar as amigas. Não era que ela não estivesse lá. Ela estava. Sempre estaria, com seus palavrões e verdades cuspidas. Mas sua presença era mais sentida do que vivida.

— Do mesmo jeitinho escroto de sempre. Eu queria que ela trabalhasse no Eliodora, é claro, mas é claro...

— O mundo acabaria se ela aceitasse.

— Com certeza. Além disso, escola é pouco para ela. Ainda espero vê-la dando aula na UFBelo. Que também é pouco para ela. Mas ela adora aquele lugar.

— Ela conseguiu o que queria, eu acho – Clarice franziu o cenho – Ela agora pertence a Ponte Belo. E é sempre bom pertencer a algum lugar.

— Dizem que é. Escuta. Agora que você já virou mestre, e tudo o mais, eu tenho uma coisa para você.

— Hm? – franziu o cenho – Espero que não seja um presente, porque não é mesmo necessário.

— Hm, não. Não acho que seja. Na verdade, não é meu. Me mandaram entregar. Mas a gente pode esperar chegar no Mundo da Lua?

Clarice franziu mais o cenho, um pouco confusa. Não era do feitio de Larissa fazer mistério sobre as coisas.

As duas resolveram dividir um Uber, para chegar mais rápido, e por todo caminho Clarice ficou se perguntando o que sua amiga tinha para entregar a ela. Não lhe vinha nada a mente. A amizade das duas não era compartilhada com mais ninguém, além de Eduarda, e Clarice tinha certeza de que Duda não mandaria nada para ela além de um "nerd do caralho".

Quando as duas subiram a escada para o Mundo da Lua, ignorando a loja que havia embaixo, Larissa disse:

— Certo. Então... bem, na verdade eu não queria fazer isso. Porém... não tive muitas escolhas. Sabe o Pedro? Meu primo.

Diversas Formas de Nós [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora