Capítulo 33 - Reação Em Cadeia

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A segunda parte da viagem foi... estranha. Essa era a única coisa que vinha na mente de Clarice, quando ela tentava compreender o que havia acontecido depois do almoço. Efetivamente, não ocorrera nada de diferente. Pedro e Vênus continuaram o resto do caminho tendo pequenas brigas no banco de trás, João Gabriel continuava sorrindo e respondendo a algumas piadas, e ela, vez ou outra, era incluída na dinâmica deles. Ela não tinha nada para reclamar, porque tudo continuava igual.

Ao mesmo tempo, tudo estava diferente.

Era estranho. Talvez fosse só a loucura ganhando espaço dentro da garota, ela pensou, abrindo seu livro na porta da UFMG. Já era quase seis horas da tarde, ela já havia feito a entrevista de emprego, e só esperava no ponto de encontro, marcado com João Gabriel, que ele saísse da sua banca de mestrado.

A noite começava a cair e o lugar era mais escuro que Clarice achava que era, mas pelo menos havia uma pequena luz de um poste, onde ela ficou sentada embaixo, para poder ler seu livro em paz. Pelo menos, era o que ela esperava que acontecesse. Se mergulhasse de vez no enredo do romance talvez ela parasse de pensar que alguma coisa havia acontecido entre o momento logo após ela beijar seu professor e sentar na sua mesa para almoçar.

Ela não podia estar ficando louca.

Não era coisa da sua cabeça.

Alguma coisa havia acontecido.

Ela só não sabia o quê.

Seus olhos leram o mesmo parágrafo duas vezes, e ela suspirou de cansaço. O vento agora era um pouco mais forte e a garota se arrependeu de não ter levado nenhuma blusa de frio na sua mochila cheia de coisas. Não que fosse fazer alguma diferença – Clarice havia deixado a mochila dentro do carro de João Gabriel.

— E aí, gatinha – alguém disse, parando ao lado dela – Tá sozinha, é?

— Não – ela falou, sem tirar os olhos do livro.

— Que estranho, porque não estou vendo ninguém por aqui.

— Estou esperando alguém – ela se levantou, abraçando o livro e recuando um passo.

— Aposto que sim – o rapaz sorriu, piscando os olhos – Vou esperar com você.

— Não, obrigada – ela disse, mais bruscamente.

Não, obrigada – ele a imitou – E você vai fazer o que para me expulsar daqui, gatinha? – se aproximou dela.

Clarice se afastou, olhando para todos os lados, a procura de alguém que pudesse tira-la daquela situação. Mas não havia uma alma por perto e a garota sentiu a garganta se fechar e as mãos suadas colar no seu livro, que ela pressionava com força contra seu peito, para tentar se proteger.

— Assim que eu gosto, gatinha – o cara continuou avançando, até que ela bateu contra a parede do muro as suas costas – Quando vocês ficam mansinhas.

— Me deixa em paz – ela pediu, fechando os olhos com força.

— Ah, eu adoraria. Mas você é bonita demais para eu te deixar sair daqui – ele tocou no braço dela, fazendo carinho. Mas a única coisa que Clarice conseguiu sentir foi nojo. Ela grudou seu corpo com a parede, desejando que ela se movesse num passe de mágica.

— Eu não quero.

— Ah, você quer sim. Quando você me provar, gatinha, você só vai querer isso.

O rapaz grudou o corpo no dela, e Clarice largou o seu livro no chão, tentando empurra-lo com toda força que tinha. Mas ele era muito mais alto e mais forte do que a garota, e tudo o que ela conseguiu foi uma risada dele.

Diversas Formas de Nós [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora