Capítulo 42 - Tarde Demais

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Certas pessoas não sabem abraçar.

Esse era um fato que Clarice aprendeu durante sua vida. Ela cresceu numa família amorosa em que nem seu pai nem sua mãe se sentiam intimidados por um abraço e, por isso, sempre foi fácil para a garota oferecer carinho para as pessoas. Mas alguns erros mais tarde, outras ignoradas e, claro, pessoas que a magoaram, mostraram que nem todo mundo estava preparado para afeto de graça. Eduarda foi uma dessas pessoas.

João Gabriel também.

Ela podia senti-lo tenso enquanto o apertava em seu abraço, o modo como ele ficou parado como uma estátua por quase dois minutos antes de ter qualquer reação. O estranho disparar do coração de João que lembrava a Clarice um pequeno susto sem explicação.

Era só um abraço, ela queria dizer.

Mas não disse. Só ficou ali, abraçando uma pedra de gelo por tanto tempo que tudo o que vinha na mente da garota era como ela era uma tremenda idiota. Qualquer pessoa teria percebido a hora de soltar, menos Clarice que, como boa teimosa que era, não conseguia desistir das coisas tão fácil assim, mesmo que isso a fizesse se detestar no final.

Então, depois do que pareceram horas infinitas, João Gabriel tocou as costas dela. Foi um movimento tímido, um roçar hesitante de dedos, mas, ainda assim, o suficiente para voltar a encher o coração da garota de coragem. Ela o apertou com mais força, ainda com o rosto no peito dele, sem conseguir levantar o olhar para encara-lo. Clarice tinha medo do que veria nos olhos dele. Tinha medo de ver os fantasmas que ele carregava em si espelhados bem na sua frente.

Ela esperou. Se manteve firme no mesmo lugar, ignorando os pensamentos que a mandavam se afastar, e ficou. E, aí, João Gabriel a apertou mais forte, numa tentativa de abraço que ele parecia estar descobrindo também. Ele soltou um suspiro tão longo e cansado que quase deixou Clarice exausta, mas mesmo assim ela não se moveu. Ela desconfiava que, naquele instante, o mundo poderia acabar e ela ainda ficaria nos braços dele.

Ele a apertou mais forte, a trazendo contra o peito dele, quase a sufocando. E foi só então que a garota teve coragem de erguer o rosto para encara-lo.

— Tudo bem? – ela perguntou, num sussurro.

— Não sei – ele estava de olhos fechados – Não faço ideia do que você tem feito comigo, Clarice. E não acho que você vai me dar a resposta disso também.

A garota sorriu.

— Como se você nunca tivesse sentido nada parecido, não é? – ela questionou.

— A gente não se banha na mesma água do rio duas vezes – ele filosofou.

Clarice arqueou a sobrancelha, em silêncio. João abriu os olhos para encara-la. Os dois ficaram por alguns segundos se encarando, ela incapaz de desviar o olhar, ele quase sem piscar. Os dedos dele tocaram sua face, num carinho lento e suave, até chegar ao queixo.

— Você já se apaixonou? – ele perguntou.

Ela franziu o cenho, quase perguntando por que razão ele queria saber isso. Se ele não estivesse olhando para ela tão intensamente, talvez ela tivesse perguntado. Mas com aqueles olhos sobre ela era difícil se tornar questionadora sem uma grande razão.

— Algumas vezes.

— Alguma vez já deu certo?

Clarice se afastou um pouco, ainda mantendo as mãos na cintura dele.

— Eu namorei por quase dois anos, antes de vir para UFBelo. Acho que isso foi o mais próximo de dar certo que já vivi.

— Você o amava?

Diversas Formas de Nós [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora