Capítulo VII - Nosso Adeus (Parte I)

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Não adianta pensar em mais nada. Já se passaram duas semanas e nenhuma pista de onde Rick possa estar. Apenas, observo as conversas dos investigadores com Gordon e nelas sempre falam as mesmas coisas - " Assim que tivermos notícias serão os primeiros a saber".

Meus pais estão inquietos e preocupados ao extremo, muito mais com a saúde de minha tia do que com informações sobre o paradeiro de Rick. Não os culpo, pois Rick já é de maior e sabia desde o inicio no que estava se metendo.

E além de tudo isso tem a situação de Gordon. O estado de saúde dele se agrava ainda mais e o aparelho não toca. E a cada noite que passamos juntos sinto em seu olhar uma despedida silenciosa da vida. Nesse momento só o amor que sinto por ele é capaz de nutrir as fibras do meu coração com mais esperança.

Choro todas as noites escondida no banheiro, não quero que ele me veja assim, tão quebrada. Preciso ser forte por nós dois. Ele precisa de mim mais do que nunca. Não consigo acreditar que a morte queira me arrancar meu anjo de olhos azuis. E até o ultimo segundo vou brigar por ele e por sua vida.

Tenho ido regularmente ao Hospital para conversar com Brian e saber se tem novidades e sempre saio de lá com uma fé inabalável de que iremos conseguir um doador e que não será tarde demais.

E não posso me esquecer que dentro de dois dias teremos a festa de lançamento dos novos empreendimentos. Só faltam pequenos ajustes, mas já está tudo encaminhado graças a ajuda de Amber e Gerard, sem eles nem sei como tudo ficaria já que não tenho cabeça pra nada. Enfim, espero que tudo corra bem. 

Agora estou aqui parada no banheiro me olhando no espelho às 21:30 da noite com um olhar vazio observando cada detalhe da mulher no reflexo, penso em meus pais e em meus amigos e tento tomar a decisão mais difícil de toda minha vida. No fundo sei que todos ficarão bem e que não entrei na vida de Gordon por um acaso do destino. Sempre foi ele, o motivo maior de tudo isso e agora eu sei exatamente o que tenho que fazer. Nesse momento, uma lágrima já conhecida escorre pelo meu rosto e tudo fica borrado no espelho quando passo meu antebraço sobre meus olhos na tentativa de secá-los e quando me reconheço novamente no espelho não estou mais sozinha.

- Já estava preocupado amor. O que você tem? - Gordon está parado na porta, usando apenas uma calça de moletom preta e seu peito nu me faz arfar. Nunca serei ilesa ao seu efeito. O desejo dispara no ato

- Nada meu amor. Não tenho nada. Não se preocupe - respondo me virando para olhar para ele. Como o amo, e sinto cada vez mais minha decisão pesar nesse momento. Gordon precisa viver

- Não acredito em você Sol. Não quando você diz vários nãos para tentar me acalmar - ele rebate

- Gordon, por favor acredite quando digo que não tenho nada. Estava apenas pensando no evento que acontecerá em dois dias. Sei o quanto é importante para você, para a empresa como um todo.

- Vem cá. - Ele me chama e caminho em direção aos seus braços

 - Por que as mulheres tem a mania de fugir do assunto colocando outro em foco? - diz isso me dando um beijo na testa. - Vamos dormir, quero que descanse. Você tem trabalhado muito ultimamente e tem a situação do seu primo e ainda um moribundo lhe enchendo o saco. 

- Nunca mais repita isso - falo zangada

- Sol, para de fingir que não tem nada lhe afligindo. Só preciso que seja forte. Meu tempo tá esgotando e precisamos encarar os fatos. Não pense que não sei que vem ao banheiro com mais frequência a noite e que chora. Sempre que volta para o quarto seus olhos estão inchados. Não esconda sua dor de mim. Sou um filho da puta egoísta, pois não consegui deixá-la longe de mim e lhe privo de uma vida. - Eu não consegui me conter e lhe dei um beijo, pois doía demais o meu peito e ele sabia o quanto eu lamentava por toda sua tristeza. Quando nossos lábios se separaram eu disse

- Eu te amo Gordon Spencer Sanders e minha vida está bem aqui diante dos meus olhos. Não quero que fique chateado comigo e que confie em mim. Sim, choro as escondidas pois preciso por tudo isso pra fora. Me sinto impotente e o pior ser humano do mundo pois torço para que aquele aparelho toque logo mesmo que isso signifique que alguém vai perder alguém, então eu também sou uma grande egoísta. Quero você o tempo todo, a cada segundo.

- Você consegue me amar tanto assim? - Ele pergunta me dando pequenos beijos e me levando para o quarto. 

Nos deitamos e o trago para meus braços, encosto sua cabeça em meu peito e faço um cafuné. Conversamos sobre vários assuntos e ao perceber que já está cansado levanto para pegar seus remédios. Sempre deixo uma jarra com água na mesinha ao lado da cama. Entrego a ele o copo e os comprimidos, ele os toma e então o deito, coloco mais um travesseiro para que fique com a cabeça um pouco mais alta e então ele me olha pega minha mão e aproxima do seu peito. Sento ao seu lado e beijo seu coração. E então ele adormece, enquanto faço carinho em sua linda face. O amo tanto que não tem mais volta a minha decisão.

Dou um beijo em sua testa e antes de me afastar o ouço falar em meio ao sono

- Eu te amo

- Eu estarei com você para sempre - respondo antes de apagar a luz do abajur




No fim do túnel tem açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora