Capítulo IV - Diagnóstico Ruim (Parte II)

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O momento tem sido tão difícil, a dor em meu peito é alucinante, excruciante eu diria, mas ele precisa que eu seja forte por nós dois.

Desde aquele dia no hospital, Gordon me mantêm afastada, me evita e me dirige poucas palavras. E como prometi me mantenho perto, observando cada passo. Mas, sei o que ele está fazendo, é tão teimoso até mesmo para admitir que me ama tanto quanto eu e que não me quer por perto para poupar-me. Quando será que ele vai entender que eu não quero ser poupada?

Enfim, não posso ser intransigente, não somente pelo seu estado de saúde, mas principalmente por que ele ainda é meu chefe.

Hoje também não posso esquecer que Amber fará um teste para compor o elenco de uma peça na Broadway e tanto eu quanto os rapazes prometemos que iriamos para lhe dar apoio. Ela se preparou tanto para esse momento e tenho certeza que irá compor esse elenco. Desde pequena Amber faz cursos de dança, é formada em Balé Clássico, participou de grupos de Street Dance, teve um período na Espanha e fez dança flamenca, ela também foi ao Brasil para aprender o famoso samba. Sempre a achei destemida e a admiro muito por isso. Ela sempre correu atrás daquilo que ela queria, sempre. Mesmo que tivesse uma negativa em audições para alguma peça, algum grupo, empresários, artistas, ela nunca se abalou e continuava em frente. E quando eu perguntava sobre o assunto ela me respondia "Um dia eles cansam Sol e então essa será minha chance. Nunca perca oportunidades, nunca minha amiga". Esse é o lema dela, é o que a faz seguir pelos seus sonhos.

Nós também temos bons amigos como o Delroy e o Ken, somos praticamente inseparáveis. Delroy é formado em Marketing e trabalha em um pequeno escritório que dá suporte a exportações aqui próximo ao centro. Já o Ken, conheci cinco dias depois de conhecer Amber e Delroy no colégio. Ken é norte coreano, ele nasceu na capital PyongYang, ele e seu tio fugiram para a Coréia do Sul e de lá vieram para os Estados Unidos, desde então se adaptam a nossa cultura. O verdadeiro nome de Ken é Chung Hee que em uma livre tradução significa "justo", ele não gosta de lembrar do passado e pouco sabemos sobre isso. Já o seu nome me confidenciou dizendo que confiava em mim acima de tudo e pediu que não comentasse com mais ninguém, nem mesmo Amber e Delroy, não que ele não confie neles, mas de fato são bem loucos quando querem e por um deslize podem deixar escapar esse segredo. Ele fala que sou sua irmã ocidental e isso me deixa imensamente feliz pois somos tão diferentes e tão iguais e isso é maravilhoso, nem Ken e muito menos eu, ligamos para essas ditas diferenças culturais, religiosas, políticas e tantas outras ditadas pela sociedade mundial. Ele sempre diz que tudo isso traz muita dor e sofrimento ao homem e quando está absorto em seu mundo particular percebo um sofrimento desmedido em seu coração e seus olhos perdem o brilho. Queria muito poder ajuda-lo mas sei que o ajudo mais ainda não perguntando nada em absoluto. Amber e Delroy, sempre o levam a shoppings, boates e restaurantes para tentar distraí-lo. Ele trabalha com seu tio, que tem uma loja de artigos importados lá no Bronx há mais de dez anos, pelo que me lembro. Ken, me mostrou a foto de sua família, nela estão seus pais e uma irmã, mas sempre que vai falar sobre eles não consegue terminar, sempre o abraço, pois se emociona demais. Eu imagino o quanto é duro para ele, tê-los deixado para trás.

Lembro como se fosse hoje o dia que conhecemos o Ken, era seu primeiro dia e infelizmente ele não foi muito bem recebido, era trancado em armários, tinha seus livros e cadernos jogados ao chão, tropeçava no pé de algum babaca assim como eu fiz em meu primeiro dia de aula. E mais uma vez ela entrou em ação. Amber estava ensaiando uma dança bem sensual para apresentar em um teatro naquele fim de semana. Foi então que ela teve a brilhante ideia de na frente de todo mundo daquela escola ligar o som do seu microsystem, andar em direção a Ken, jogá-lo no chão e começar a dançar para ele. Os babacas que se achavam os gostosões do pedaço ficaram boquiabertos pois, não havia um garoto daquela escola que não fosse a fim da minha amiga, dos nerds aos valentões ou de algum time de futebol, basquete.

No fim do túnel tem açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora