Capítulo VII - Nosso Adeus (Parte II)

368 60 4
                                    

- Olá meu amigo, estava ansiosamente lhe esperando. O que tenho para tratar não é nada bom

- Eu imagino que não minha irmã

Olho para Ken e me sinto determinada. É a única forma de Gordon ter uma chance a mais

- Irmão, sabe que quando paramos para conversar é sempre um teor muito sério e de uma carga emocional intensa. Então o motivo pelo qual lhe chamei é de grande urgência e nesse momento você é o único que sei que não vai concordar com o que vou dizer, mas sei que vai entender meus motivos.

- Pelo seu tom de voz, sei que não me porta notícias agradáveis. E presumi que não queria que ninguém soubesse já que marcou em um Café próximo ao seu trabalho. O que está acontecendo Sol?

- Ken, preciso que tenha a mente aberta, pois não tenho muito tempo. Você será portador de duas cartas. Uma carta para Gordon e a outra para meus pais e amigos. - nesse momento a voz já está embargada

- O que pretende fazer minha irmã? O que realmente lhe aflige? Seu tom é de dor e pesar. Por que sinto que está se despedindo? - Como se tivesse um estalo, Ken pega minha mão e lágrimas vem aos seus olhos. 

- Gordon está morrendo aos poucos e suas chances são pequenas e o aparelho não toca indicando um doador para o transplante. O desespero estava me deixando louca e então há duas noites atrás eu tomei minha decisão e quero que entregue essas cartas quando Gordon já estiver operado. Me promete isso amigo?

- Sol, me perdoe mas não posso concordar com isso. Você não pode se matar. Como pode pensar em tirar sua própria vida?

- Você mais do que ninguém sabe o que sinto agora.

- Irmã, lembra que quase cometi essa loucura e você me fez enxergar a imbecilidade do meu ato. Você me fez acreditar na vida. Perdi tudo que amava Sol, mas aqui em Nova York aprendi a amar novamente. Tenho meu tio e tenho vocês. Tenho uma família. Você me falou sobre recomeços - Ken segura minha mão e me olha nos olhos esperando de mim uma reação

- Eu sei que disse o quanto a vida é incrível e o quanto podemos ser felizes se nos permitimos sentir esses sentimentos maravilhosos. Porque tenho pessoas que realmente se importam comigo. Mas, desde que conheci Gordon eu me pergunto porque o encontrei agora? Porque ele está sendo tirado de mim? Porque sonhei com ele antes mesmo de conhecê-lo? Porque meu amor é tão forte ao ponto de eu querer ceifar minha própria vida em detrimento dele? Porque o que sinto é tão intenso que talvez eu não tenha tempo o suficiente para demonstrar?

- Vocês tinham que se encontrar Sol, estavam predestinados um ao outro. Se pertencem de corpo e alma pela vida e também pela ausência dela. Entenda, que tudo deve acontecer exatamente como está ocorrendo. Não tome decisões precipitadas. Talvez, vocês já tenham escolhido em algum momento como tudo deveria acontecer. E já se perguntou se aparecendo um doador bem na hora que você está partindo, como Gordon ficaria? Você é a vida pra ele, é notório como se amam. Cuide dele e deixe que o destino faça o resto. Agora, tome essas cartas e as rasgue pois meu coração também não aguenta mais perdas.

- Por favor, as guarde pois ainda devo refletir sobre tudo isso. E de todo modo não sei se voltarei em minha decisão

- Sol, por favor deixe acontecer. Tem coisas que não dependem exclusivamente de nós

- Eu sei

- Então, apesar dessa loucura que tens em mente como pretendia se matar? - ele pergunta num tom baixo para não chamar atenção

- Na verdade, eu não vou me matar mas sei quem pode fazer isso - digo e Ken me olha assustado

- Sol? - mas não é Ken quem diz. Olho em direção a voz conhecida e sei que já devo voltar ao trabalho

- Oi Gerard, esse é meu amigo Ken você já o conhece. Mas o que faz aqui? 

- Sim, é claro - Gerard o cumprimenta e meu amigo ainda está absorto com o que disse - Como vai?

- É..É, vou ficar bem. Assim espero - Ken responde aturdido e me olhando de esguelha, mas me mantenho serena, pois não quero prolongar mais tudo isso. Aí Gerard diz

-  Vim buscá-la já que não atende o celular. Lembre-se hoje é o grande dia e devemos ir para o local do evento. O salão já está pronto e os convidados devem chegar a partir das dezenove horas. - Nossa! realmente deixei o celular no silencioso e me excedi no tempo.

- Irmão, obrigada por ter vindo. Foi muito bom conversar contigo. Precisava desse tempo. Mas, preciso ir. - Então ele me abraça e Gerard nos observa e diz

- Calma Ken, Soledade não irá muito longe. Vocês parecem que estão se despedindo

Ken e eu nos olhamos em total silêncio e sigo em direção a saída com um falante Gerard e olho rapidamente para trás e vejo meu amigo oriental sentado a mesa com o olhar perdido.  Enfim, as cartas já estão com o portador.




No fim do túnel tem açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora