Passando isso, Alex me perguntou:
- E você? Aonde vai passar o natal e ano novo?
- Vou viajar com meus pais para fora.- Respondi.
- Sério?... A gente não vai poder se ver.
- Infelizmente! Queria que você pudesse vir conosco.
- Acho que isso não agradaria o meu nem o seu pai.
- Verdade...
Durante as aulas daquele dia, fiquei pensando direto no Charlie, iria passar mais um final de ano sem ele. Os outros dois foram bem difíceis, nem consegui me divertir, então pensei no que Alex tinha dito sobre seguir em frente e decidi que eu precisava fazer aquilo. Na saída, perguntei a ele:
- Você lembra que me ofereceu ajuda para lidar com o que aconteceu com Charlie e que era para te avisar quando eu estivesse pronta? Bom... acho que o momento chegou, você ainda vai me ajudar?
- Claro que vou! Eu disse que podia contar comigo.
A partir disso Alex começou a planejar como me ajudaria, perguntou como eu lidava com algumas situações e também sobre coisas que eu fazia e pensava antes do Charlie partir que não fazia mais. Ficou marcado então algumas coisas que eu devia fazer que ele achava que me ajudariam a superar, Alex prometeu que me acompanharia a qualquer lugar que eu precisasse ir, então em um domingo de manhã sai cedo de casa com ele e seguimos até a casa da Cecília, a mãe de Charlie.
Quando cheguei em frente a casa dos McCartney senti um arrepio, eu tentava evitar ao máximo passar por ali e nunca mais tinha falado com ninguém da família dele. Alex, percebendo a minha agonia, segurou a minha mão, suspirei e toquei a campainha.
Quando Cecília apareceu, seus olhos chegaram a brilhar.
- Carolyne! Oh, meu Deus! Como você cresceu, está tão bonita!
- Oi, Cecília!- Falei e nos abraçamos com carinho, só naquele instante percebi o quanto eu sentia falta dela e daqueles bons momentos que passei naquela casa.
- E esse belo rapaz, quem é?
- Meu amigo, Alex! Ele está me acompanhando em algumas coisas hoje...
E se comprimentaram, ela disse:
- Vamos, entrem! Estava com tanta saudade!
Entramos e nos acomodamos no sofá, Cecília pediu para a empregada trazer um suco para nós e começamos a conversar. Ela me perguntou dos meus pais, depois eu perguntei sobre seu marido, ficamos relembramos algumas coisas boas que passei na infância e conversando animadas.
- Ah, mas a Carol era uma criança tão fofa! Vivia correndo por essa casa com o Charlie.
Meu coração apertou ao ouvir o nome dele, Cecília percebeu. Ficou um pouco pensativa, foi até uma gaveta da instante e pegou um álbum de fotos, se sentou entre mim e Alex e começou a mostrar:
- Veja, Alex! Esse são eles com 5 aninhos... Lembra dessa, Carol?- Era uma foto nossa abraçados no jardim da minha casa.
- Lembro...- Falei sorrindo- Nesse dia eu queria andar de bicicleta sem rodinhas pela primeira vez e ele tentou me ensinar, mas eu era tão difícil de aprender!- E nós duas rimos.
Folheamos mais algumas páginas do álbum, a cada foto, inúmeras lembranças apareciam na minha mente. Paramos na do meu aniversário de 14 anos, a última comemoração que passei com ele. Meus olhos se encheram de lagrimas e não aguentei, comecei a chorar e a dizer:
- Me perdoe, Cecília! Me perdoe por ter desaparecido quando mais precisou de mim! Eu senti tanto a partida dele... apenas fugi de tudo...
- Calma, minha querida...- Ela disse com uma voz doce e me abraçou, deixou que eu chorasse no seu abraço.
- Está tudo bem! Sei que também deve ter sido muito difícil para você, Charlie era um garoto especial, impossível de se esquecer!- Levantei o rosto e ela secou minhas lágrimas- Mas ele também não iria querer que sofressemos! Foi nisso que me apeguei depois de muito tempo deixando a tristeza me dominar. Percebi que só o meu querido Charlie faria o que ele fez...
- O que ele fez?- Perguntei.
- Não chegaram a te contar? A pessoa que assassinou Charlie não estava apontando a arma para ele... Estava mirando em Carlos, o motorista.
Me lembrava de Carlos, ele era motorista dos McCartney desde antes de nós dois nascermos, Charlie adorava ele como uma pessoa da família.
- Charlie entrou na frente, o ladrão fugiu em desespero depois que viu o que tinha feito, mas a polícia acabou pegando ele pouco depois... Já Carlos? Nossa! Ficou sem chão, veio falar chorando para mim que meu filho o tinha salvado, que graças a Charlie ele iria poder ver o bebê que sua mulher estava esperando, na época.- Cecília agora também estava chorando.- Como posso sofrer por meu filho ter sido o melhor do mundo?
Estava muito surpresa, não sabia dessa parte da história. Ela continuou:
- Esta vendo aquela foto, Carol?- Perguntou me apontando um porta retrato que tinha uma foto dela e do marido junto de um bebê- Adotei uma criança! Eu não podia mais ter filhos, a gravidez de Charlie já foi de risco, então decidi adotar. Ele sempre quis ter um irmão, dizia que uma criança alegrava a casa. Uma vez até me falou "Você vai ver mãe, ainda vai querer adotar uma criança e vai ser quando menos esperar"... Eu não esperava mesmo, me perguntei muito se não o estaria substituindo assim, no fundo eu sabia que não, Charlie era único mas meu coração de mãe sentia saudade de dar amor, então segui seu conselho e adotei Christian. Aprendi a ama-lo demais como amo Charlie, que sempre será meu filho querido...
Terminamos de conversar, tudo ainda rodava na minha cabeça, mas me fez um enorme bem conversar com Cecília e saber da história.
- Volte mais vezes, Carol. Hoje Chris saiu com meu marido, mas gostaria que você o conhecesse! Também adorei te conhecer Alex, cuide bem da Carolyne, ok?- Disse para ele piscando, que concordou e sorriu.
- Eu volto logo para uma visita!- Falei sorrindo alegre.
E seguimos para o próximo passo que era ir comprar flores...para depois irmos ao cemitério. Nunca mais fui lá depois do enterro, queria apenas afastar as lembranças horríveis que eu tinha de lá, mas eu tinha que lidar com aquilo.
Na entrada, Alex pegou minha mão de novo e entramos, seguimos para aonde estava a lápide de Charlie. Ele ia soltar minha mão, mas a agarrei e disse baixinho, deixando as lágrimas cairem em silêncio:
- Preciso de você...
Ele me observou e ficou ao meu lado, olhei o nome escrito e deixei que todas as memórias viessem a mim, cada sorriso e lágrima que tive com Charlie. Depois de um tempo, Alex me disse:
- Vou deixa-la por uns minutos. Desabafe, Carol...
Ele se afastou um pouco e eu fiquei lá, comecei a dizer baixinho:
- Não sabe o quanto sinto sua falta, Charlie. É incrível como você foi uma pessoa tão boa, até no último instante... Quis tanto dizer o quanto te amava, mas nunca falei por vergonha, agora só espero que saiba disso esteja onde estiver... Você sempre foi quem cuidou de mim, quem estava lá comigo quando eu mais precisava de ajuda... sempre sendo o meu melhor amigo!- disse soluçando, com as flores na mão, deixando inúmeros sentimentos me invadirem. Parecia que eu sentia sua presença ali ao meu lado. Depois de alguns minutos, me agachei e coloquei as flores lá. Olhei para o lado e vi Alex que estava um pouco distante, distraído olhando o Sol quase se pondo, continuei:
- Mas não precisa se preocupar comigo... parece que a vida sempre me manda um anjo para cuidar de mim em forma de melhor amigo...
Alex me olhou e eu sorri para ele. Me levantei e esperei que viesse até mim, perguntou:
- Está tudo bem?
- Sim... Nós podemos ir.
Segurei seu braço e fomos andando até a saída.
Paramos em um parque próximo e falei para meu motorista seguir, não sabia que hora íamos voltar. Lá era muito bonito, florido, com várias árvores e lagos, ficamos um longo tempo falando sobre o dia, sobre a vida e seus diversos caminhos, enquanto observávamos a paisagem. De repente, senti uma gota cair na minha cabeça, depois outra, logo começou a chover.
- Ai, Alex! Vai molhar tudo!
- Perai... Tire os sapatos!
- O que?
- Anda, Carol!
E tirei os saltinhos que estava usando, ele os pegou, segurou minha mão e corremos pela grama.
- Vai sujar meus pés!
- Ah, é só grama! Vamos, nunca correu na chuva?- E sorriu para mim.
Na verdade, eu nunca tinha feito aquilo, os pingos caiam sobre mim, parecia que me aliviavam e lavavam por dentro e por fora, os raios de Sol ainda apareciam, fazendo a combinação Sol e chuva. Sorri enquanto corriamos feito loucos para acharmos uma parte coberta, nos sentamos cansados no chão mesmo, olhamos um para o outro e rimos.
- Nossa, você está encharcado!
- Você também! O celular molhou?
- Graças a Deus que não, estava na bolsa.
- Que bom!
Liguei para o meu motorista e pedi para ele vir nos buscar, ele se desculpou e disse que tinha acabado de deixar minha mãe na casa de uma amiga e estava no trânsito por causa da chuva.
Pelo jeito ele ainda ia demorar um tempo, depois de alguns minutos comecei a ficar com frio por estar toda molhada, sempre fui muito frienta.
- Encosta aqui, Carol! Vai acabar ficando gripada.- Disse Alex.
Me aproximei, ele levantou o braço e eu me encostei ali, entre seu braço e peito.
- Do que adianta? Você está todo molhado também!
- Eu sou mais quente do que pareço!- disse com um sorriso maroto, eu ri e disse:
- Aham, sei...
Me encostei mais nele e esperei para ver se esquentava um pouco.
- É sério! Você só não tem como saber porque nunca teve nada comigo...
- Ah, é? Quantas garotas já encostaram em você sem camisa ou já te viram de toalha?
Ele pensou um pouco, a resposta seria só eu, então perguntou:
-Você ficou me olhando enquanto eu estava de toalha?
- Isso... Não vem ao caso!- Falei ficando corada.
- Imagina se a minha toalha tivesse caído, então!
- Alex!
Ele riu e disse:
- Estou brincando, bobinha! Só queria te fazer sorrir um pouco...- Alex me observou e ficou pensativo, decidiu me perguntar:
- A sua visão não vai mudar, não é?
- Como assim?- Falei levantando a cabeça, fitei ele nos olhos, estavamos próximos.
- Você sempre vai me ver apenas como seu melhor amigo?
Ele me olhava intensamente, fiquei quieta, sentindo meu coração disparar sem saber o porquê daquilo. Eu estava fixa no seu olhar assim como ele também estava no meu, parecia que estavamos conectados, Alex olhou para minha boca e disse baixinho:
- Carol, eu...
E nos assustamos com o celular tocando no meu colo, atendi meio sem jeito, era o motorista avisando que já estava na entrada do parque. Alex levantou meio emburrado e resmungou baixinho:
- Merda! Parece que a vida não quer que fique com ninguém...
- O que disse?- Não consegui ouvi-lo, ele sorriu forçado e disse:
- Nada, não! Vamos?
E seguimos até o carro, a chuva já havia se acalmado e estava apenas caindo uma garoa fina.
E os dias foram se passando, pensei em tudo o que tinha acontecido na minha vida naquele ano, realmente Alex chegou para fazer mudanças, depois de encarar aquilo a dor parecia estar anestesiada, toda vez que pensava em Charlie e batia uma tristeza tentava seguir os conselhos dele. Devagar eu transformava a dor do passado em apenas uma saudade boa de se sentir, finalmente conseguia ser 100% eu mesma.
Novembro foi um mês animado, todos nós estávamos ansiosos para que terminasse logo o segundo ano do ensino médio, teríamos pela frente apenas mais um ano e depois estaríamos livres para correr atrás dos nossos sonhos.
Por milagre, cheguei antes do Alex na escola, todos já estavam reunidos. Comprimentei cada um e perguntei:
- E o Alex? Será que ele vai faltar?
- Acho que você vai ter que sobreviver sem o gatinho por hoje, Carol! Isso que dá não se desgrudarem, quando estão longe um do outro se sentem incompletos!- Comentou Jully.
Incompleta? Estranho, mas ela achou a palavra exata para definir como me sentia quando não estava com ele. Ficar sem Alex se tornou algo estranho.
- Olha lá ele!- Disse Ronnie.
Alex vinha apressado pelo atraso, assim que eu o vi um sorriso instantâneo apareceu no meu rosto, o mesmo aconteceu com ele.
- Cansei... Ufa! Oi, galera!- Falou Alex recuperando o fôlego.
- O senhor certinho se atrasou? Mas que milagre!- Eu falei
- Pois é! Michelle é meu motivo de atraso, ela consegue ser quase pior que você nessa parte.
- Nossa, até parece! Sempre me atraso só uns cinco minutos!
- Só se for no seu mundo que mais de meia hora são cinco minutos!
Jogamos mais um pouco de conversa fora, até que Alex saiu de perto de mim e foi ver a Eleonor que estava distraída lendo, quando ela o viu, sorriu e começaram a comentar sobre o livro. Senti uma sensação estranha, uma inquietação que não sabia de onde vinha. Alex e ela já tinham voltado ao normal, mas ele comentou comigo que iria com calma. O que estava sentindo, então?
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O meu melhor amigo
Ficção AdolescenteCarolyne Payne é uma jovem de 16 anos que ao passar por um grande momento doloroso, muda seu jeito de ser, se mostrando as pessoas de um jeito mas se sentindo de uma maneira totalmente diferente por dentro. A vida lhe dá a chance de mudar isso quand...