No dia seguinte perguntei se ele tinha conseguido saber se iria poder ir.
- Talvez! Pedi ajuda ao meu tio, ele disse que vai tentar pegar a Michelle para ficar com ele e a noiva, mas meu pai ainda tem que concordar.
- Uhu! Mas então é quase certeza que você vai!- E pulei no seu pescoço o abraçando, ele ficou meio sem jeito com meu abraço repentino e nos olhamos por alguns instantes. Me veio a curiosidade sobre a mãe dele.
- Alex...
- O que?
- E... a sua mãe?
Ele parou por um instante, estava pensativo.
- Ela faleceu a 5 anos- disse por fim, fiquei surpresa.
- Eu...sinto muito- pela primeira vez eu estava falando isso para alguém e não os outros para mim.
- É... eu também senti, ela era incrível e quando se foi, a vida da minha família ficou de pernas para o ar.
- Como ela morreu?- Queria saber sobre ela.- Quer dizer, se estiver tudo bem para você falar sobre ela.
- Está tudo bem... ela morreu de câncer terminal, não conseguiu tratamento e acabou falecendo. O pior era que minha irmã ainda era pequena, ia completar dois anos de idade... passamos essa data sem minha mãe.
- Oh, Alex nem sei o que dizer... Você parece ter amado ela demais.
- Sim, ela foi a pessoa que mais amei na vida. Era uma mulher maravilhosa, meiga, carinhosa, mas ao mesmo tempo forte e determinada... Um conselho que ela me deu e que sigo até hoje foi o de guardar tudo de bom que passamos, todas as mais belas lembranças, assim ela sempre estará comigo, dentro de mim.
Não era ruim ouvir ele falar da mãe, não parecia ser tão difícil para Alex contar sobre ela.
Ele parecia lidar com calma, no seu olhar não tinha sofrimento e sim ternura conforme ele ia descrevendo-a.
- Você fala com tanta leveza sobre ela, não é difícil para você?
- Já foi muito, sofri bastante quando ela se foi, mas aprendi com isso.
- Me conta mais...
E o sinal tocou, estava na hora das aulas começarem.
- Um outro dia te conto... É bom se abrir com alguém de vez em quando.- E me olhou, ele estava se refirindo a Charlie, abaixei a cabeça e seguimos para a sala.
Eu e Alex já nos considerávamos melhores amigos, mas ainda não sabíamos nada um do outro, eu não sabia se devia ou conseguiria contar sobre o que aconteceu, nunca soube lidar bem com a morte e justo uma das pessoas mais próximas de mim foi tirada... queria entender porquê essas coisas aconteciam com pessoas tão boas, Charlie nunca mereceu nada disso e a saudade dele doía amargamente.
Marcamos de sair só nós dois para conversarmos, acabamos indo no mesmo parque em que eu e Charlie frequentavamos direto. Me senti um pouco agoniada, muitas lembranças surgiam. Nos sentamos e observamos o por do Sol, já estava de tarde, Alex começou:
- Eu tinha 11 anos quando aconteceu. Nós sabíamos que ela não iria aguentar muito tempo, mas no fundo eu não queria acreditar... Achei que algum milagre podia acontecer- Eu escutava atenta. Ele pensou um pouco e continuou:
- Mas não aconteceu. Ela parecia entender que aquilo tinha que acontecer, por mais que ela ficasse triste com o nosso sofrimento ela nunca demonstrava. Sorria em qualquer situação, uma vez ela me disse que queria que eu me lembrasse dela assim, feliz pois era como ela sempre se sentiu desde que me segurou nos braços pela primeira vez.
Alex olhava para o Sol se pondo, ele parecia perdido em suas lembranças.
- Parecia que ela ia sentindo que o tempo estava acabando, cada dia minha mãe pedia para ver alguém ou escrever uma carta para as pessoas que não podiam ir ao hospital vê-la. Eu fui o último que ela pediu pra passar o dia inteiro com ela. Enquanto acariciava meu cabelo, dizia..."Vai ser difícil, meu querido. Mas quero que você seja forte, seu pai está desnorteado, vai sofrer muito por não entender a minha partida, mas vão precisar que se levantar... Vocês dois tem a minha garotinha para cuidar e eu preciso de sua ajuda filho, cuide da nossa família e se em algum momento se sentir cansado e sozinho... lembre-se que eu sempre vou estar com você."
Meus olhos se encheram de lágrimas, ninguém sabe as coisas que cada um já passou, sempre vejo Alex tão feliz que nunca imaginaria que isso tinha acontecido.
- Depois disso realmente foi muito difícil, eu chorava direto por saudade, não conseguia entender o porquê dela ter nos deixado, mas meu pai ficou muito pior... entrou em desespero, ele a amava demais e a única coisa que conseguiu fazer foi afogar suas mágoas na bebida, ele faz isso até hoje. Quando percebi que nossa família estava desmoronando em dor, comecei a querer me levantar, estava sofrendo mas não podia deixar isso tomar conta de mim como meu pai deixava, eu tinha Michelle para cuidar. Amadureci conforme o tempo foi passando, cuidei mais das coisas e da minha irmã do que meu próprio pai. Pedi ajuda ao meu tio, irmão mais novo da minha mãe, que nos ajudou para não faltar nada.
Ele é como um irmão mais velho para mim... Já meu pai, continua na mesma, brigavamos direto por causa da bebida, queria que ele saísse daquilo e quando eu tinha 14 anos a briga foi tão feia que acabei com um olho roxo!- fiquei espantada.
- Meu tio perguntou se queria que ele fizesse algo, mas eu neguei. Não queria que as coisas ficassem pior então seguimos, e continuamos até hoje.
Eu não sabia o que dizer, comparado a mim Alex sofreu mais e eu ainda nem tinha conseguido superar.
- Bom, essa é a minha história... qual é a sua?- Perguntou ele.
- Eu não sei se estou pronta para contar.
- Carol... Somos melhores amigos, não somos? Confie em mim.- e me olhou com ternura.
Isso me deu forças para contar a ele, comecei meio insegura, contei quem era o Charlie, descrevi como ele era, a nossa história e relatei como tudo tinha acontecido naquele dia.
- Eu e Charlie não éramos só amigos, ele era uma das pessoas que eu mais amava. Justo naquele dia ele se declarou pra mim e eu neguei por medo...- as lágrimas começaram a cair
- Ele foi minha primeira paixão, Alex! Estava comigo o tempo todo e do nada foi arrancado de mim... Ele não merecia morrer assim, não merecia! Fiquei pensando que depois de um tempo poderia acontecer algo entre a gente, mas esse dia nunca chegou, ele partiu antes disso. Nunca pude dizer a ele como eu me sentia...
Alex me abraçou, apoiei minha cabeça no seu peito enquanto soluçava e tentava dizer:
- Depois disso eu sofri, as lembranças dele e o pensamento de que podia ter sido diferente vinham a minha cabeça a todo instante, me culpei e culpei aos outros por quererem tirar ele de dentro de mim, não queria esquece-lo... Fiquei relutante por um longo tempo, mas depois que vi que nada ia mudar e que eu já não aguentava mais as pessoas a minha volta, comecei a fingir que tinha superado, que não me emportava mais com Charlie, até na escola eu mudei. Tentei cumprir minha promessa, ser gentil e alegre por mais que eu estivesse arrasada por dentro, eu me tornei uma pessoa falsa! Por que ele tinha que ter morrido? Por que?!
Ele acariciava meu cabelo enquanto eu desabafava, chorei bastante, nunca tinha contado a ninguém como me sentia.
Só depois de um bom tempo me acalmei, levantei o rosto e Alex secou minhas lágrimas, ele me olhava com tanto carinho, isso me trazia um grande alívio.
- Nem sempre a vida é como esperamos, como sonhamos... ela pode parecer até bem cruel, mas olhe ao redor... veja o quão complexo é tudo, cada parte se encaixa perfeitamente em outra, nascemos e vivemos, temos a possibilidade de ter tantos sentimentos e momentos maravilhosos, de aprender e amar. Quando passei pela morte da minha mãe, cheguei a conclusão de que tudo devia ter um sentido, por mais que eu não conseguisse entender, um dia iria. Talvez, por alguma razão, deviamos passar por essa perda para aprender, eu demorei mas aprendi a ser maduro, a lidar com a morte com naturalidade, afinal todos nós estamos caminhando para o mesmo lugar. Aprendi a amar e perdoar meu pai por ele não ser como eu queria que fosse e a cuidar da minha irmã, com o mesmo amor que minha mãe cuidou de mim.
Eu ouvia e absorvia tudo o que ele falava, me fazia bem.
- Não se preocupe, Charlie sabe o que você sente por ele, tenha certeza disso! Não deixe a saudade se tornar algo ruim Toda vez que pensar no Charlie, lembre-se dele no seu dia mais feliz, sinta felicidade por ter participado desses momentos com ele, sei que é difícil, Carol... mas pense, se Charlie puder ainda ver tudo o que acontece com você, ele iria querer que você sofresse?
- Não...- Respondi baixinho, Alex tinha razão, ele iria querer que eu fosse o mais feliz possível.
- Mas como vamos saber o que acontece depois da morte? E se não tiver mais nada?
- Do mesmo jeito que deve ter um motivo para tanta coisa acontecer, também deve ter para não sabermos o que tem depois da morte, eu busquei entender algumas religiões e todas levaram para a mesma coisa, aprender, amar, buscar a felicidade e a tão desejada paz. Então, duvido que a vida termine, seria algo muito injusto para um universo que consegue ser infinito.
Me senti tão bem, em dois anos eu não quis escutar ninguém, todas as vezes que queriam me aconselhar eu fugia, mas ouvir isso de alguém que também tinha passado por uma perda e superado era bem mais esclarecedor, queria ser como ele. Entender, mas não sabia ainda se conseguiria.
O abracei de novo, acabamos nos deitando na grama. Conseguia escutar seu coração, que por algum motivo ficava cada vez mais acelerado. Quis questionar o motivo mas desisti, apenas aproveitei o momento pensando se Charlie poderia mesmo estar presente nos observando da onde quer que estivesse.
Passamos o resto daquele dia assim, na segunda estava bem melhor, com uma alegria que dessa vez era verdadeira, me fez muito bem desabafar.
- Bom dia!- ele me disse com um sorriso enorme.
- Bom dia, Alex!- Falei também sorrindo e nos olhamos.
- Você está bem?
- Por incrível que pareça estou ótima!
- Que bom!- ele se aproximou de mim, segurou meu queixo e me deu um beijo na testa, não esperava por aquilo, fiquei corada e ele disse:
- Volto logo, vou procurar o Ronnie.
E saiu, Loren que estava bem próxima viu e disse:
- O que foi isso?
- O-oi Loren... Nem eu entendi.
- Ai meu Deus, ele anda muito carinhoso e grudado com você.
- Verdade, mas somos melhores amigos isso é normal, não é?
- E se ele começar a gostar de você? Não se esqueça que a Eleonor está apaixonada por ele.
- Ai, que besteira! Alex só está carinhoso, não quer dizer que esteja apaixonado. Ficamos muito íntimos nesses últimos tempos, é por isso!
Loren olhou pra mim com cara de espanto e disse:
- O que você quer dizer com íntimos?!
- Ai garota, de ter conversas profundas, não pensa besteira!
- Nossa! Você me assustou, daqui a pouco isso tá virando amizade colorida!
- Nunca!
Essa semana passou bem depressa, na próxima já seria feriado e o pai do Alex deixou a Michelle passar uns dias com os tios, ou seja, tudo confirmado! Iria eu, as garotas, incluindo a Jully, o casal, Alex, Ronnie e James, que também aceitou o convite de Alex.
Alex me perguntou na tarde de sábado:
- Vamos sair amanhã?
- Não posso.
- Por que?- pareceu desapontado.
- Porque prometi que iria ajudar a Jully, ela vai participar de um concurso de fotografia e... ela precisa de uma modelo!
- E por que ela não chamou sua mãe? Estava sem cache suficiente então vai usar a cópia barata?
- Haha! Muito engraçado, eu consigo ser charmosa igual minha mãe nas fotos, sabia?
- Hum- ele me observava- Vou poder ver as fotos depois?
- Só se você for um bom garoto.- Fiquei na ponta dos pés para acariciar o topo da sua cabeça, brincando, nossos rostos ficaram próximos, ele me fitou e disse:
- Estava brincando... Na verdade, te acho muito bonita.
Fiquei surpresa por um momento, me recompus e disse:
- Oh my God! Isso foi um elogio? Quem é você e o que fez com meu melhor amigo?
Ele revirou os olhos.
- Oi, amores! Está contando a ele que vou te roubar amanhã? Olha, pode ficar tranquilo, eu não vou roubar totalmente, não sou lésbica!- E Jully piscou para Alex, não entendi o que ela quis dizer mas tudo bem.
- Vamos, Carol?
- Ué, vão fazer agora?
- Não mas vamos nos programar direitinho, temos apenas um dia para fazer bom proveito- Eu respondi.
- Hum... tá bom!- Ele olhou para o lado e viu Loren e Eleonor vindo até nós- Loren, tudo bem? Tem compromisso amanhã?
Olhamos pra ele surpresas.
- Você vai sair com a Loren?- perguntei admirada.
- Qual o problema? Minha melhor amiga tem compromisso, tenho que me divertir de outras formas.
- Ah, é mesmo?- cheguei perto dele e cochichei:
- E o dinheiro?
- Dou um jeito- Sussurrou.
- Então Loren, topa?
- Ah...- Loren ainda estava meio perdida- Vamos sim!
Eleonor parecia chateada, ela com certeza queria estar no lugar da Loren.
- Vai me trocar mesmo? Tá bom, então!- E sai com a Jully.
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O meu melhor amigo
Fiksi RemajaCarolyne Payne é uma jovem de 16 anos que ao passar por um grande momento doloroso, muda seu jeito de ser, se mostrando as pessoas de um jeito mas se sentindo de uma maneira totalmente diferente por dentro. A vida lhe dá a chance de mudar isso quand...