Una-se ao clube.

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Princípios de Junho.

Chicago, Illinois.

Era o começo da Rota 66, o lugar aonde "A rua principal da América"
começava a viajar os Estados Unidos. A Fonte Buckingham, o coração de Grant Park, foi nomeado pelo irmão da mulher que doou a fonte a Cidade de Chicago.
Durante o dia, o jorro principal da fonte alcançava os 45 metros no ar, uma torre de água entre a extensão do Lago Michigan e a expansão do centro de Chicago. Mas agora já era tarde, e os jorros haviam sido desligados para a noite. O parque estava oficialmente fechado, mas isso não parou a um punhado de renegados de caminhar
ao redor da fonte ou de posar sobre as escadas que levavam até Lake Shore Drive para mergulhar nas escuras e brilhantes águas do lago Michigan.
Revisei meu relógio. Eram oito minutos passados da meia-noite. Estava aqui porque alguém havia me deixado notas anônimas. As primeiras mencionavam convites. A última havia me convidado para a fonte a meia-noite, o que significava que esse alguém misterioso estava oito minutos atrasado.
Não tinha nem idéia de quem havia me convidado ou porque, mas estava suficientemente intrigada para percorrer o caminho até o centro desde minha casa na Hide Park. Também era o suficientemente cautelosa para aparecer com minhas
armas - uma pequena adaga de madrepérola que estava escondida por baixo da minha jaqueta no lado esquerdo. A adaga havia sido um presente que o Mestre vampiro Ethan Sullivan deu para mim, a Sentinela de sua Casa de Vampiros.
Provavelmente não me parecia com um vampiro típico, com o uniforme da Casa Cadogan - umas finas e bem estilosas calças negras - não era exatamente material para os filmes de terror. Meu comprido escuro e liso cabelo estava recolhido em seu habitual rabo de cavalo, com a franja solta na minha frente.
Havia colocado um par de saltos pretos estilo Mary Jane, o qual independente da minha preferência por pumas pareciam bastante bem com o traje. Meu bip está preso na minha cintura em caso de emergência na Casa.
Como Sentinela da Casa, usualmente portava uma katana, cerca de trinta
polegadas de aço polido. Mas nesta reunião, deixei minha katana em casa, pensando que a visão de uma bainha vermelha sangue atada ao meu lado levantaria muita atenção entre olhos humanos. Estava, depois de tudo, em um parque a noite. Os membros do Departamento de Policia de Chicago iam estar suficientemente curiosos sobre disso, uma espada samurai de um metro de comprimento não ia inspirar muita confiança de que estivesse aqui apenas para apresentações e conversar.
E falando em conversar...
— Não estava certo de que viria. — disse uma voz de repente, atrás de mim.
Virei-me, meus olhos abriram-se ante o vampiro que falou. — Noah? — mais especificadamente, era Noah Beck, o líder dos Vampiros Rebeldes - aqueles não vinculados a uma Casa em particular.
Noah era musculoso - ombros amplos delineando um quadro musculoso.
Seu cabelo castanho projetava pontas afiadas. Seus olhos eram azuis, e esta noite seu queixo mostrava um rastro de barba crescida. Noah não era do tipo bonitão de modelos de capa de revista, mas com seu queixo quadrado, e nariz forte e um pouco torto, poderia chegar ao papel principal em um filme de ação sem nenhum problema. Estava vestido como de costume, todo de preto: calça cargo preta, bota preta, e camiseta preta reunida na altura das costelas para substituir a versão em manga comprida que se usava no frio.
— Você pediu para nos encontrar?
— Eu o fiz. — disse.
Quando passou alguns segundos sem entrar em detalhes, inclinei minha
cabeça.
— Porque simplesmente ligou e pediu uma reunião? — ou, melhor ainda, pensei, porque não ligou para Ethan? Geralmente ele estava mais disposto a me enviar aos braços de vampiros necessitados.
Noah cruzou os braços sobre seu peito, sua expressão tão séria que sua barbicha praticamente tocava sua camiseta.
— Porque você pertence a Sullivan e esta reunião não é sobre ele. É sobre você. Se eu assinasse essas notas, supus que se sentiria obrigada a dizer sobre a reunião.
— Pertenço a Casa Cadogan.—esclareci, fazendo-o saber que eu não pertencia; ao contrário da opinião popular, a Ethan. Não que não houvesse considerado. — Isso significa que não posso garantir que não divulgarei qualquer coisa que me diga. — adicionei, deixando um pequeno sorriso cruzar meus lábios.
— Mas isso depende do que me diga.
Noah descruzou os braços, deslizou uma mão dentro de um dos bolsos de sua calça, retirou um fino cartão colorido. Sustentando o cartão entre os dedos, o estendeu para mim.
Sabia que diria antes de pegá-lo. Teria as iniciais "GV" e a estampa branca de uma flor parecida a um lírio. Um cartão idêntico havia sido deixado no meu quarto na Casa Cadogan, mas ainda não sabia o que significava.
— Quem é GV? — perguntei devolvendo o cartão.
Noah o pegou, deslizando novamente em seu bolso. Logo olhou ao redor,
torceu um dedo para mim, e começou a caminhar para o lago. Com as sobrancelhas levantadas, o segui. Aí foi quando começou a sessão de história.
— A Revolução Francesa foi um momento crucial para os vampiros
europeus. — disse enquanto caminhávamos descendo as escadas que levavam do parque para a rua.
— Quando o Reinado do Terror bateu, os vampiros ficaram enredados na histeria, não muito diferente dos humanos. Mas quando os vampiros
começaram a entregar seus companheiros Iniciantes e Mestres aos militares, quando eles foram guilhotinados nas ruas, os membros da Conseil Rouge, o conselho que regia os vampiros antes que o Presídio Greenwich tomasse poder,
começaram a entrar em pânico.
— Essa foi a Segunda Aniquilação; certo? — perguntei. — Vampiros
franceses entregavam seus amigos para garantir sua própria segurança.
Infelizmente, os vampiros que eles entregavam as tropas foram executados.
Noah assentiu.
— Exato. Os vampiros do Conselho eram anciões, bem estabelecidos. Eles desfrutavam sua imortalidade, e não estavam ansiosos por converter-se em vitimas das tropas. De forma que organizaram um grupo de vampiros para protegê-los. Vampiros dispostos a receber uma estaca por eles.
— Um Serviço Secreto Vampírico?
— Essa não é uma má analogia. — concordou. — Os vampiros que foram pedidos para servir se nomearam a si mesmos de a Guarda Vermelha.
Daí as iniciais GV.
— E sendo que você me entregou um cartão, suponho que você é um?
— Um membro portador do cartão, literalmente.
Atravessamos a rua até o gramado em frente ao lago, depois caminhamos
todo o gramado até a margem de concreto. Quando nós paramos, olhei para Noah, me perguntando por que estava recebendo aulas de história e detalhes de sua vida secreta.
— Esta bem; interessantes lições de história, mas o que tudo isso tem a ver comigo?
— Impaciente; verdade?
Arqueei uma sobrancelha.
— Concordei com essa reunião secreta à meia-noite da qual nem meu Mestre sabe. Você está recebendo realmente muita contenção.
Noah sorriu lentamente em resposta, de forma lupina, seus lábios
gradualmente ampliando-se para revelar retos dentes brancos e caninos afiados como agulhas.
— Porque, Merit, me surpreende que não tenha adivinhado ainda. Estou
aqui para te recrutar.
Passou um minuto completo até que ele falou novamente. Enquanto isso
nós permanecemos em silêncio, os dois olhando o Lago e as luzes dos veleiros ancorados na costa. Não estou certa em que estava pensando, mas eu estava analisando sua oferta.
— As coisas mudaram desde que a Guarda Vermelha (GV) foi fundada. —disse finalmente Noah, sua voz ressonante na escuridão. — Nos certificamos de que o Presídio não sobreponha sua autorização, como uma revisão e balanço sobre o poder do PG. Também nos asseguramos de que o equilibrio de poder entre os
Mestres vampiros e seus Iniciantes mantenha-se relativamente estável. Às vezes investigamos. Em raras ocasiões, limpamos.
De forma, resumida, Noah queria que me unisse a uma organização cuja
meta principal era evitar que os Mestres vampiros e os membros do PG tivessem muito poder, ou de que utilizassem esse poder indiscriminadamente; uma organização cujos membros espionavam seus Mestres.
Soltei um suspiro pausado, algo tencionou em meu estômago.
Não conhecia a posição de Ethan sobre a Guarda Vermelha, mas não tinha dúvidas de que ele veria isso de eu me unir a eles como a traição de todas as traições. Servir como um da Guarda Vermelha me colocaria diretamente contra Ethan, cobrando a mim, uma Iniciante vampira, com a tarefa de observá-lo e julgá-lo. Ethan e eu não tínhamos uma relação simples; nossas interações eram um incômodo tiro entre ser confidentes e colegas. Mas isso ia muito além do nosso
habitual selo de irritação mutua.
De fato, era exatamente a classe de coisa que Ethan temia que fizesse -
espionar a Casa. Pode ser que ele não soubesse do convite da GV, mas sabia que meu avô Chuck Merit, servia como enlace sobrenatural para a Cidade de Chicago, e conhecia a minha família - os Merit (sim, Merit é meu sobrenome) - que estava
conectado com Seth Tate, prefeito de Chicago. Esses laços eram próximos o suficiente para preocupá-lo.
Envolver-me em algo como isto seria como a cereja no topo do bolo em um ataque de cólera.
E isso implicava em uma interessante pergunta.
— Porque eu? —perguntei a Noah.
— Tenho apenas dois meses de idade, não sou exatamente material para
guerreiro.
— Você se encaixa no perfil. — disse. — Foi transformada em vampiro sem consentimento, talvez a raiz disso, parece ter um tipo diferente de relação com seu mestre. É uma filha da riqueza, mas tem visto seus abusos. Como Sentinela, está se transformando em um soldado, mas é uma estudiosa. Fez seu juramento para Ethan, mas é cético o suficiente para não seguir ordens cegamente.
Era uma lista de atributos que provavelmente colocariam nervoso a Ethan diariamente. Mas Noah parecia convencido de que essas eram justamente o tipo de coisas que ele estava buscando.
— E o que é, exatamente, que eu estaria fazendo?
— Neste momento, gostaríamos de um jogador latente. Permaneceria na
Casa Cadogan, na posição de Sentinela e se manteria em contato com seu
companheiro.
Levantei minhas sobrancelhas.
— Meu companheiro?
— Trabalhamos em parceria. — disse Noah, logo moveu sua cabeça para
algo atrás de mim. — Bem a tempo.
Olhei para trás, no tempo que um vampiro nos alcançava pelas minhas costas. Era bem adequado para o espião; incluindo com minha audição aprimorada, não havia escutado se aproximar. Este vampiro era alto e magro, com cabelo castanho até os ombros, olhos azuis debaixo de longas pestanas, e um queixo esculpido. Levava posto uma camisa de mangas curtas, a parte de baixo enfiada dentro de seus jeans. Tatuagens circulavam cada bíceps - um anjo voando sobre um braço, um demônio escondendo-se sobre o outro.
Perguntei-me sobre o que estariam em conflito.
O recém-chegado assentiu com brusquidão para mim, logo olhou a Noah.
— Merit, Sentinela da Casa Cadogan. — lhe disse Noah, na continuação me olhou. — Jonah, Capitão da Guarda da Casa Grey.
— Capitão da Guarda? — perguntei em voz alta, abalada até a medula que o Capitão da mesma Guarda Da Casa de Scott Grey fosse também membro da Guarda Vermelha. Um vampiro em uma posição de confiança, cujo propósito na Casa era resguardar o Mestre, mantê-lo a salvo com um trabalho duplo para uma organização com uma desconfiança inerente para os Mestres? Supus que não era o tipo de coisa que Scott Grey estivesse emocionado de conhecer.
E sério, eu estava sintonizada com Ethan Sullivan ou o que?
— Se aceitar nossa oferta. — disse Noah. — Jonah será seu companheiro.
Olhei para cima a Jonah e encontrei seu olhar que estava sobre mim, seu
cenho franzido. Havia curiosidade - mas também desdém - em seus olhos.
Aparentemente ele não estava muito impressionado com o que havia visto até o momento da Sentinela de Cadogan.
Mas não estava interessada em ir para a guerra com Ethan e, portanto, sem
planos em me converter na companheira de Jonah, mas consegui evitar, não me importava.
Balancei a cabeça para Noah.
— É pedir muito.
— Compreendo sua relutância. — disse. — Sei o que significa tomar os
juramentos a sua Casa. Os tenho feito também. Mas para o bem e para o mal, Celina foi posta em liberdade. Eu coloquei baixa probabilidade sobre o nosso futuro sendo decididamente mais violento do que nosso passado recente.
— Não grandes probabilidades. — assenti de forma solene. Nós colocamos um fim a onda de assassinatos de Celina Desaulniers, ex Mestre da Casa Navarre. E
prometemos a Cidade de Chicago que ela havia sido enviada longe para um calabouço europeu, cumprindo pena por orquestrar esses assassinatos, mas o PG havia posto Celina novamente em circulação. Ela já não tinha controle da Casa de Navarre, e me culpava por esse inconveniente. Havia voltado a Chicago chateada
sobre seu encarceramento e ansiosa por vingança.
Noah sorriu com tristeza, como se compreendesse a direção dos meus
pensamentos.
— Os bruxos previram que a guerra virá. — disse. — Tememos que seja inevitável. Muitos vampiros têm muitas animosidades acumuladas contra os humanos para manter a paz eternamente - e vice versa - e Celina tem feito o trabalho de recrutá-los. Ela interpreta por desgraça a uma boa mártir.
— E isso sequer toca o assunto com os Metamorfos. — assinalou Jonah. —
Metamorfos e vampiros têm uma longa e sangrenta história, mas isso não tem detido as manadas a se dirigir a Chicago. — me olhou. — O que se diz é que eles estarão se reunindo essa semana. Isso encaixa com o que tem escutado?
Debati se deveria contestar; o que seria entregar uma preciosa porção de informação da Casa Cadogan, coletando informação, mas optei por contar. Não é como se a informação fosse manter-se escondida por muito tempo. — Sim. Temos escutado que eles estariam aqui na semana.
— Representantes das quatro manadas em Chicago. — Noah murmurou, olhando o chão. — Isso é como os Hatfields mudando-se com os MacCoys. Uma inimizade de séculos de antiguidade, e as partes em conflito acampando na mesma cidade. Cheira a problemas. — suspirou. — Olha apenas estou pedindo que o considere. O único que pedimos é um compromisso de continuar como Sentinela da Casa Cadogan em espera até que... Até que, havia dito como se acreditasse que um conflito de entrada fosse inevitável.
— Continuará ativa até que não possamos manter a paz por mais tempo. E nesse ponto, tem que estar preparada para unir-se em tempo integral. Deve estar pronta para abandonar a Casa.
Estou certa de que havia surpresa em minha expressão.
— Quer que deixe a Casa Cadogan sem uma Sentinela no meio de uma guerra?
— Pensa um pouco mais amplamente. — intercedeu Jonah. — Estaríamos
oferecendo seus serviços, suas habilidades, a todos os vampiros, mais além de suas respectivas afiliações de Casas. A GV lhe oferece a oportunidade de proteger a todos os vampiros, não apenas os Mestres.
Não apenas Ethan, quis dizer. Já não seria a Sentinela de Ethan, sua vampira.
Em seu lugar, seria um vampiro que se separa das Casas, dos Mestres, do Presídio, em virtude de manter ao universo dos vampiros a salvo..., e manter Celina e seus agitadores a raia.
Não tinha certeza do que pensar do pedido da GV.
— Preciso de tempo para processar isso. — lhes disse.
Noah assentiu.
— Essa é uma decisão séria, e merece uma profunda consideração. É sobre sua disposição de sair da sua Casa para garantir que todos os vampiros estejam bem protegidos.
— Como posso te localizar?— perguntei, e pensei se aquela pergunta apenas significava que havia cruzado uma linha da qual não seria capaz de retroceder.
— Estou na lista telefônica, listado como consultor de segurança. Enquanto isso não temos nos falado, e nunca tem conhecido Jonah. Não diga a ninguém, amigos, parentes, colegas. Mas considere isto Merit; Quem necessita mais de uma Sentinela? Os vampiros da Casa Cadogan, que tem corpos de guardas bem treinados e poderosos Mestres vampiros ao comando..., ou o resto de nós?
Com isso, ele e Jonah viraram-se e afastaram-se, desvanecendo na escuridão da noite.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora