Casa da Dor.

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Eu encontrei o Luc empoleirado na beirada da mesa de conferência que
tomava o meio da Sala de Operações. Lindsey estava na baia do computador do lado oposto ao Luc, onde ela podia monitorar as câmeras de segurança de dentro e em volta da Casa ou pesquisar qualquer drama sobrenatural que estivesse ameaçando estourar em Hyde Park.
Os dois olharam para cima quando eu entrei.
— O quão ruim foi? — Luc perguntou. Eu acho que ele e o Ethan haviam
falado sobre o que tinha acontecido nos Brecks.
— Não foi maravilhoso.
Lindsey se virou na cadeira.
— Há algo mais sobre o que você queira conversar? — sua voz soava levemente preocupada.
— Na verdade não.
— Ethan parecia estranho. — ela disse. — Ele não nos contou nada sobre você e ele, mas ele parecia realmente estranho. — eu quase dei uma resposta cínica, mas quando eu vi a preocupação na expressão dela, e escutei a inquietação em seu tom, eu dei uma chance.
— Eu fui largada, e eu gostaria de pensar um pouco sobre outra coisa por um tempinho. — apontei para os documentos espalhados na mesa de conferência.
— O que é tudo isso?
— Eu..., ele fez o quê?
Eu apreciei o choque e a consternação na voz da Lindsey, mas balancei
minha cabeça.
— Negócios, por favor.
— Seu show, Sentinela. — Luc disse, e então pulou para fora da mesa e se virou para encará-la. — Este é o trabalho preparatório para a sua viagem para a convocação, os mapas da Catedral de St. Bridget.
A porta atrás de nós se abriu, e Ethan entrou. Ele me deu um pequeno aceno de reconhecimento antes de colocar o seu olhar sob a mesa.
Eu lembrei a mim mesma que eu havia conseguido manter um relacionamento profissional com o Ethan todas as noites exceto uma desde que nós nos conhecemos. Se ele iria me rejeitar por medo de misturar o pessoal e o profissional, eu podia interpretar a vampira só negócios também.
— Planos? — Ethan perguntou.
Luc acenou.— Pergunte e deverás receber.
— Tecnicamente. — Lindsey disse, se virando para o seu monitor.
— Cheque o seu e-mail e deverá recebê-los do Vértice da Central Norte Americana.
— Detalhe. — Luc disse. — Eles estão aqui agora.
Ethan andou ao redor da mesa de conferência para parar perto do Luc. Eu o segui e tomei posição do outro lado do Luc.
— Sua análise? — Ethan perguntou.
Luc colocou sua máscara de jogo.
— Eu tenho dois objetivos principais. Um: identificar os pontos problemáticos. Áreas que atiradores poderiam se espreitar buracos dos párocos, esse tipo de coisa.Dois: identificar as saídas.
— E o que você descobriu? — Ethan perguntou.
Luc começou a folhear as plantas-baixas.
— Há duas partes principais na igreja. A primeira em cima, a estrutura original, construída no século dezenove. Construções religiosas antigas em Chicago significam anomalias arquitetônicas. Este arquiteto era aparentemente paranoico, então há bastante buracos para esconderijos.
— Metamorfos. — Ethan e eu adivinhamos simultaneamente.
— Possivelmente. — Luc disse. — Nós encontramos dois alçapões na parte
principal do prédio. — ele os apontou nos mapas, um no próprio santuário, logo atrás do púlpito, e um nos bancos do coral atrás do púlpito.
— Que mais? — Ethan perguntou.
Luc folheou mais algumas folhas.
— Nos anos 1970, eles remodelaram o prédio e acrescentaram uma ala com salas de aula. Naquela época, eles adicionaram o que parece ser um quarto do pânico. — apontou para o quarto nas plantas. — É no porão. Parece que começou como um abrigo antibomba, mas na reforma eles o reforçaram com concreto e adicionaram cabos. Então estes são as suas interrogações.
Ethan acenou. — Saídas?
Luc folheou de volta para a planta do piso principal da igreja.
— Portas da frente, obviamente. Há também uma saída dentro do santuário à esquerda. — apontou, e então traçou o seu dedo pelo longo e estreito santuário, e então pela porta à esquerda para outro conjunto de cômodos. — Estes são os escritórios e as salas de aula. — apontou a saída no final do corredor. — Ponto de saída é aqui, apesar de que termos janelas em todos os cômodos no caso das coisas saírem completamente erradas.
Eu me inclinei em direção a Lindsey, que estava de pé e havia se juntado a nós na mesa, ainda usando o fone fino e sem fio que mantinha ela em comunicação com a patrulha de guarda da noite (ou era a Kelley ou a Juliet, já que elas eram as únicas guardas que sobraram) e as Fadas do lado de fora do portão. — Ele parece
estar se divertindo. — eu disse para ela.
— Ele está no paraíso dos porcos. — ela sussurrou de volta. — As coisas
estão pacíficas há tanto tempo, que ele não precisava fazer este tipo de trabalho avançado. De repente, nós ganhamos uma Sentinela, e Metamorfos que querem que os vampiros saiam para brincar.
— Sim. — eu disse secamente.
— Claramente esta ideia toda de convocação está focada em me conhecer melhor. É a festinha que você sempre sonhou.
— Mas com mais pêlos. — ela disse. — Muito mais pêlo.
Ethan esfregou uma mão na mandíbula.
— Que mais nós precisamos saber?
— Sobre a arquitetura é isso somente. — Luc disse. Ele puxou uma cadeira e se sentou. Ethan e eu fizemos o mesmo. Lindsey retornou para a baia de seu computador.
— Mas se vai ser vocês dois contra trezentos e poucos Metamorfos, nós
precisamos falar sobre contingências. Na pior das hipóteses.
Ethan cruzou uma perna em cima da outra, se acomodando para uma
conferência estratégia.
— Suas ideias?
— Três hipóteses vêm à mente. Primeiro, um ataque do lado de fora da conferência, algo similar com o que vocês viram no bar. Segundo, os Metamorfos estão putos que vocês estejam lá, e eles atacam vocês.
— Bons tempos. — Lindsey sussurrou. Eu acenei meu estômago fazendo um pequeno nó. Acocorando-se atrás de um bar para evitar balas, ou até um pouco de mano a mano com um intimidador da Matilha, era uma coisa, enfrentar grupos de quatro Matilhas de Metamorfos era algo totalmente diferente.
— Terceiro, os Metamorfos não conseguem tomar uma decisão, eles ficam putos uns com os outros, e as coisas magicamente vão para o brejo.
Ethan olhou de relance para o Luc.
— Brejo? Esta é a sua conclusão oficial?
— Assinado e selado. Eu presumo que você entendeu a ideia principal.
Ethan soltou o ar.
— Eu entendi. Eu não estou contente com isso, mas entendi. Bem, o que nós podemos fazer para manter as coisas calmas?
— Quão proativos nós podemos ser nisso? — perguntei.
Cabeças se viraram para mim.
— O que você está pensando, Sentinela? — Ethan perguntou.
— Vampiros possuem a habilidade do glamour. Eu acho que não consigo
fazer. — virei meu olhar para o Ethan. — Mas eu aposto que você pode.
O cômodo ficou em silêncio por um momento.
— Você está pensando em enfeitiçar uma igreja cheia de Metamorfos para mantê-los calmos? Anestesiados?
— Pode ser feito?
Luc debruçou-se sobre a mesa, colocando um cotovelo em cima dela, e colocando o queixo na mão.
— É teoricamente possível, mas nós nunca vimos nenhuma evidência que os Metamorfos são especificamente suscetíveis ao glamour. Eles são seres mágicos. Eu temo que eles possam sentir. E se eles suspeitarem que nós estejamos tentando manipulá-los...
— O inferno sobe a terra. — Ethan terminou. — Proposta interessante,
Sentinela, mas vamos ficar com o blefe básico. Vamos ficar lá com as nossas espadas e sorrir educadamente, e alcanças as nossas bainhas se as coisas ficarem feias.
— Ah, e por falar nisso. — Luc disse, sentando-se novamente e empurrando sua cadeira para trás. Ele andou para a sua cadeira, onde ele pegou uma pequena e cintilante caixa branca. — O final do ano fiscal está chegando, e nós temos umas moedinhas extras no nosso orçamento.
— Obrigado por retorná-lo a tesouraria da Casa. — Ethan murmurou, mas eu pude ver o brilho de prazer juvenil enquanto o Luc abria a caixa e tirava dois fones minúsculos.
— Os menores fones do mercado. — Luc disse, deixando os fones na mão
dele e andando de volta para nós. Ele esticou sua mão e os colocou na mesa. — Receptor, microfone, transmissor sem fio. Há um para cada um de vocês. Nós ouviremos vocês pelos receptores. Se as coisas forem, de fato, para o brejo, só dê a palavra e nós teremos uma dúzia de guardas do lado de fora da igreja.
— Uma dúzia? — eu perguntei surpresa. — Nós estamos com menos um guarda, e mesmo se você, Lindsey, Juliet, e Kelley estiverem lá, isso nos deixa faltando ainda oito vampiros e ninguém guardando a Casa.
— Desde a sua ida até a Navarre. — Luc começou. — Nós falamos com os
Capitães da Guarda da Navarre e da Grey. Eles nos emprestaram vampiros no caso de uma emergência.
Eu me sentei reta ao mencionarem o Jonah, meu futuro parceiro da Guarda Vermelha. Eu acho que ele não estava acima de oferecer uma ajudinha à Sentinela da Cadogan, mesmo se ele não botasse muita fé em suas habilidades.
Ethan virou sua cabeça para mim.
— Você está bem, Sentinela? Você parece um pouco vermelha.
— Estou bem. — eu cobri, sorrindo fracamente. — Só surpresa sobre a
cooperação interescritórios.
Ethan balançou a cabeça.
— Nós ainda não liberamos guardas adicionais com o Gabriel. Eu não tenho certeza se eles gostariam de ter por perto uma dúzia a mais de vampiros na convocação deles.
Luc deu de ombros.
— Pode ajudar. Pode ter certeza que eu não vou te mandar sem qualquer possibilidade de ajuda. Além disso, se isso ficar ruim o bastante para que nós precisemos mandar uma dúzia de amigáveis, eu aposto que o Gabriel não estará muito preocupado.
Ethan concordou.
— Nós não teríamos muito tempo para negociar os detalhes de um
contrato completo, mas eu poderia fazer também uma ligação para as Fadas para ver se elas estão interessadas em posicionar alguns sentinelas ou atiradores ao redor da igreja.
Franzindo as sobrancelhas contemplativamente, Ethan cruzou os braços.
— Eu acho que o custo de recrutar e negociar com as Fadas nesse momento custa mais do que os benefícios, especialmente agora que não há garantia de que vamos precisar delas.
— O que você achar ser melhor, Liege. — Luc disse com um sorriso astuto.
— Eu tenho opiniões nessa área. — Ethan disse claramente, aprovação em sua voz. — E a nossa palavra de segurança?
— Wonderwall.
Lindsey se virou para dar ao Luc um olhar sarcástico.
— Sua palavra de segurança é o nome de uma música do Oasis?
— Loirinha, eu sou o árbitro de todas as coisas estilosas nessa Casa. Por que não música?
Lindsey fungou, e então se virou novamente para o seu monitor e começou a digitar e passar pelas telas dos computadores.
— Falou o homem que está usando
as botas de caubói. Tipo, sério. Quem usa botas de caubói?
Ethan e eu olhamos os nossos sapatos. Ele estava, na verdade, usando botas
bem usadas de pele de jacaré.
— Epítome da moda. — Luc disse. — Eu assisto a MTV. Eu sei o que os
jovens estão usando.
— Os jovens são uns séculos mais novos que você, chefe.
— Crianças. — Ethan interferiu, apesar do divertimento claro em sua voz,
— Vamos nos manter no assunto. Eu tenho assuntos para tratar.
Lindsey, exasperada, voltou para o seu monitor. Eu tinha a mesma urgência
para ir embora, mas sem computador para ir. Eu estava acostumada aos flertes de brincadeira, e normalmente participava deles. Mas hoje me deixava sentindo vazia. Era muito casual, e eu ainda estava tentando me manter emocionalmente de pé. Ajudava-me um pouco que o Ethan parecia igualmente desconfortável;
metade de suas perguntas haviam sido duas palavras, e ele mal poupava uma palavra sobre a preparação para a convocação. Isso era negócio, claro, mas até o Ethan tinha um senso de humor. Bem, de vez em quando.
— Nossos planos no caso de um imprevisto? — Ethan perguntou.
Luc se levantou novamente, moveu as plantas-baixas, e puxou um mapa da
Vila Ucraniana. — Se as coisas forem para o brejo, saia do prédio da forma como vocês puderem. — ele disse. — E então se encontrem aqui. — apontou um local no mapa há duas quadras da igreja, e nós nos inclinamos para ver.
— Nós nos encontraremos no Joe’s Chicken and Biscuits. — Luc disse.
— Como o nome sugere é uma das melhores fornecedoras da Cidade dos Ventos de frango e biscoitos. Este é o ponto de encontro de vocês. Se qualquer coisa acontecer, volte aqui. Nós pegaremos vocês. Eu só vou pedir para vocês pegarem um especial de lá para mim e para a senhorita aqui.
— Se as coisas derem errado, nós lutamos para nos defender?
Ethan olhou para mim.
— Alguns desse Metamorfos já suspeitam de nós. — eu disse, deixando a probabilidade sem palavras que eles estariam ainda mais suspeitosos depois dessa noite. — Eu não quero piorar as coisas.
Ethan fez careta e esfregou a sua testa. — A GV tem uma declaração de
posição sobre os Metamorfos.
— Não atire até que atirem. — Luc ofereceu.
Ethan concordou solenemente.
— Nós não usamos as armas a menos que nós sejamos ameaçados, ou a menos que eles estejam ameaçando ferir o Gabriel.
Nós ficamos em silêncio por um momento, talvez pensando se eu tivesse sido suficientemente ameaçada para justificar a reação do Ethan..., ou se a GV fosse querer algumas palavras com o nosso Mestre.
Nós todos pulamos um pouco quando o celular do Ethan tocou. Ele o puxou de seu casaco, checou a tela, e então empurrou a cadeira para trás e se levantou.
— Você pode responder se necessário, mas nós estaremos lá para oferecer apoio, não para fazer inimigos sem provocação. Há alianças possíveis lá dentro com as Matilhas da mesma forma que há fora delas, e nós não queremos entrar em contato com todas as linhagens lá.
Eu havia nascido em uma das famílias mais ricas de Chicago. Eu fui treinado para interpretar indiferença.
— Eu tenho uma reunião. — Ethan disse, e então deslizou o telefone de
volta para o seu casaco. — Vocês estão dispensados. Nós nos reuniremos aqui duas horas antes da meia noite amanhã.
— Liege. — eu respeitosamente disse, e peguei a revirada de olho da
Lindsey para a minha Grande Condescendência – o termo vampírico extravagante para puxar saco. Quando o Ethan estava fora do cômodo, provavelmente no caminho para alguma importante reunião, e a porta foi fechada atrás dele, ela fungou.
— Eu não posso acreditar que você está se fazendo de educada depois de ele ter te abandonado
— Eu te avisei antes, sem comentários pessoais.
— Uma ou duas perguntas? Elas são bem específicas. Biologicamente
específicas, quer dizer.
— Luc, sua empregada está sendo petulante.
— Bem vinda ao meu mundo, Sentinela. Bem vinda ao meu mundo.
Faltavam poucos minutos para o amanhecer, Lindsey e Luc haviam fechado os controles da Casa e oficialmente entregado a proteção da Casa para as Fadas mercenárias que guardavam a casa enquanto nós dormíamos. Ela ofereceu me levar para o andar de cima para um apoio moral; mais provavelmente, ela queria me encher de perguntas sobre a decisão do Ethan do por que não podemos namorar.
— Eu só preciso de um detalhe ou dois. — ela disse logo que nós fechamos a porta da Sala de Operação atrás de nós.
— Não há detalhes para oferecer. Nós tivemos um caso; ele decidiu que não podia lidar com namorar comigo, então agora eu estou trabalhando na minha vibração Eu Vou Sobreviver*.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora