A volta do meu (ex) namorado.

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O escritório de Morgan era uma ampla sala retangular que tinha vista para o pátio traseiro da Casa Navarre, um pequeno, mas bem cuidado espaço espremido entre os edifícios do quarteirão. A parede inteira do fundo era uma placa de vidro, o jardim atrás, bem iluminado para facilitar ao Mestre, uma visão do espaço, e para facilitar a qualquer vampiro Navarre do lugar, uma vista de seu Mestre. Era, definitivamente, o tipo de arquitetura de Celina, seu escritório, um cenário para o público de vampiros no jardim traseiro.
Altos tecidos de seda vermelha caíam de cada extremo da janela, provavelmente para ser fechada nas horas de luz. O resto do escritório era elegante e moderno, e muito menos feminino. No fundo da sala havia uma mesa de vidro, sobre a qual se encontrava um computador branco e uma grande variedade de acessórios de escritório também brancos. Duas cadeiras pretas ultramodernas de aço estavam apontadas frente a ele, e uma área de estar com modernos móveis,
que meus pais, provavelmente teriam apreciado - boa linha, mas não parecendo muito confortáveis – estavam dispostas no outro extremo da sala. O escritório estava praticamente vazio de enfeites, livros e objetos de coleção. Não estava certa se era devido ao moderno desenho, ou simplesmente porque Morgan, quem apenas tinha setenta anos, não tinha tido tempo para colecionar muito.
O Mestre vampiro estava em pé com suas costas para a porta, de frente ao
vidro. Nadia disse suavemente, respeitosamente.
― Liege. A comitiva da Casa Cadogan.
Ele olhou por sobre os ombros.
Seu cabelo escuro parecia ter crescido polegadas desde a última vez que o
tinha visto, apesar de que, isso tinha sido só uma semana atrás. Agitavam-se ao redor de seus profundos, escuros olhos azuis e longas sobrancelhas negras sobre eles. Tinha um monte de homens bonitos no mundo, e um monte de homens com
lindos olhos. Mas os de Morgan eram diferentes.
Sonhadores, eu os tinha chamado, porque seu olhar parecia fundir-se em você, te convidando, te provocando, com sua profundidade.
Esse olhar tocou em Nadia, então escureceu quando viu Ethan e se ofuscou completamente quando me viu. Morgan tinha uma personalidade dramática, mas apagou as emoções em seu rosto, raiva, traição, tristeza, suficientemente rápido.
Talvez estivesse mudando para o modo Mestre depois de tudo.
Virou-se.
― Obrigado Nadia. ― disse; e Nadia assentiu e abandonou a sala.
Desde suas reações diferentes, estava tendo a sensação que o Mestre vampiro de Navarre, ocupava um diferente tipo de posição que o Mestre de Cadogan. Ou quem sabe, a diferença era apenas parte de ser o segundo de um Mestre vampiro – ser tolerante até que a coroa fosse entregue a você. Malik, depois de tudo, geralmente parecia evitar Ethan.
E falando de Ethan, coroa firmemente na mão, ofereceu sua tática de
abertura.
― Merit não teve contato com Nicholas Breckenridge no que se refere a historia. Nenhum contato em absoluto, de fato, desde o incidente.
Morgan me olhou. ― É verdade?
Assenti.
Caminhou até sua mesa, depois sentou. Ethan fez um gesto para as janelas.
― Posso?
― Seja meu convidado. ― Morgan disse secamente. Eles mudaram de lugar, o que ainda me deixava de pé entre eles.
Poético, pensei.
― Você sabe que Gabriel nos visitou depois que a chantagem foi esclarecida? ― Ethan perguntou; seu olhar para o pátio detrás.
― Eu sei agora. Também sei, graças ao Sun Times, que você e Merit aparentemente realizaram uma visita a um bar no bairro Ucraniano. Você se importaria em esclarecer-me?
Ethan virou; braços cruzados sobre o peito. Imaginei que não tinha inteirado tanto a Morgan, sobre nossas interações com os Metamorfos. Não é que isso me surpreenda: ele tinha a tendência de manter os detalhes para si mesmo.
― Gabriel nos pediu para que estivéssemos presentes em uma pré-reunião dos Alfas. Fizemos-lhe um favor.
Morgan recostou-se em sua cadeira e cruzou suas mãos atrás da cabeça.
― Porque ele os queria lá?
― Por segurança, fundamentalmente. Também queria que vampiros
estivessem presentes, indivíduos que lembraram aos Metamorfos o propósito da convocação.
― Mmm-hmm. ― Morgan disse, então levantou uma cópia do Sun Times.
― Parece que não conseguiram a melhor segurança.
A mandíbula de Ethan tencionou.
― O ataque foi externo. Um dos lideres da Manada se foi. Disparos alcançaram o bar, uns poucos minutos depois disso. É possível que essas duas coisas estejam ligadas, mas Gabriel parece ter suas dúvidas. Eles estão investigando. ― Ethan parou e baixou os olhos, como se estivesse pensando no quanto dizer a Morgan.
Ethan, eu sabia, tinha suas dúvidas sobre o temperamento de Morgan, sobre sua habilidade para manter a calma e tomar o tipo de decisões políticas difíceis que precisavam ser tomadas.
Levantei os olhos para Morgan e encontrei seu olhar preso em mim, sua cabeça inclinada para um lado. Poderia ter falado silenciosamente comigo; mesmo que apenas um Novato e o Mestre que o fez, supõe-se, tem a capacidade de falar telepaticamente. Morgan e eu tínhamos estabelecido essa conexão quando ele tinha desafiado Ethan por uma ofensa imaginária contra Celina. Talvez não queira falar...
Ele simplesmente tinha seus próprios quebra cabeças para montar.
O olhar de Morgan pulou repentinamente de volta a Ethan.
― Portanto, os Lobos convidaram as ovelhas para dentro de sua toca. ― agitou o jornal no ar.
― Eu te pouparei do discurso sobre a necessidade de manter todos os Mestres de Chicago informados Ethan, já que duvido que isso faça alguma diferença.
Um ponto para o Mestre novato; pensei. Mesmo que tivesse razão – e um tanto sem sorte. Um discurso de Morgan não iria deter Ethan de esconder informação devido a suas estratégias.
― Sim, os ajudamos. ― Ethan disse; cansaço em sua voz, provavelmente
porque que não estava acostumado que suas decisões fossem questionadas por aqueles da mesma categoria que ele. ― E é o que faremos; mostraremos-lhes nossa
disposição a agir como uma comunidade sobrenatural unificada. Fazemos-lhes um favor, e nós, talvez, tenhamos um favor em troca.
― Sim, eles realmente precisam de segurança. ― Morgan disse. ― Poderia ter razão. Mas os Metamorfos podem se cuidar. Dois vampiros com espadas não mudará isso, inclusive se a virem em pele de prostituta.
Tive que me esforçar para manter a raiva longe de meu rosto. Ethan podia certamente, ser frio, mas Morgan podia ser francamente, detestável.
― Sua opinião está anotada. ― Ethan disse planamente. ― E nós agiremos
como considerarmos o melhor interesse para nossa Casa.
― Oh! Somos conscientes disso. ― Morgan respondeu; então jogou o jornal através da sala. Com a ajuda da força vampirica de Morgan, voou através do ar, apertado como um Frisbee, finalmente descansando nos pés de Ethan.
Ethan baixou os olhos até o jornal, depois levantou seu olhar para o Mestre Navarre novamente.
― Nada neste artigo foi nosso feito. ― disse. ― Não tínhamos ideia do que estava sendo escrito, e não tivemos comunicação com o autor. ― deu
um passo ameaçador para frente, seus olhos frios e brilhantes. ― Mas, o mais importante. ― disse; sua voz um tom mais baixo. ― Nada desta informação no artigo é errada. É possível que você queira se esconder atrás de sua posição como Mestre, mas lembre de que Casa da qual você surgiu. Celina é responsável pela morte de humanos; mortes não relacionadas com sua necessidade de sangue. Mortes, que ao que parece, ela provocou porque os humanos eram peões convenientes em sua busca de poder. Você pode achar que a negação seja conveniente, mas ela era o Mestre desta Casa, e esta Casa levará o peso das decisões que ela tomou, por mais horríveis que sejam essas decisões; por mais pesadas que seja esse peso. Se você quer mudar a percepção pública da Casa, então mude a Casa. Faça-a Sua Casa de honra, uma Casa que se expande a outras comunidades, uma Casa que defende a todos os vampiros em vez de levantar as armas para essa que não tem dado prejuízo a todos com seus atos. Um profundo prejuízo. ― acrescentou.
Morgan sentou-se em sua cadeira por um momento, depois engoliu em
seco.
A sala ficou em silêncio, pelo menos até que o celular de Ethan tocasse.
Abriu os bolsos de sua jaqueta até que o encontro, depois o pegou e olhou o visor.
Levantou os olhos para Morgan.
― Eu poderia me retirar para atender esta ligação?
Morgan ficou quieto por um momento. A porta do escritório abriu-se e Nadia entrou.
― Liege? ― perguntou.
Ele deve tê-la chamada telepaticamente.
― Ethan precisa atender uma ligaç~o. O levaria até seu escritório?
― É claro. ― disse. Sorriu e fez um gesto para a porta.
Ethan caminhou para fora e ela fez o mesmo, então fechou a porta, deixando a mim e a Morgan sozinhos no escritório.
Juntos.
Mantive meus olhos para o chão, tentando me fazer invisível.
Sem mais preâmbulos , Morgan falou. ― Como estão as coisas entre vocês
dois?
Tendo em conta o rubor de minhas bochechas, me alegrei de ter me virado para a janela, mas ignorei o nó em sua garganta.
― Acho que temos um bom relacionamento de trabalho.
― Isso não é ao que eu me referia.
― Não . ― corrigi; não disposta a responder respeitosamente, quando ele não conseguia ter uma conversa civilizada comigo. ― Isso não era o que você queria ouvir, mas isso responde a sua pergunta.
― Ouvi que você o atacou. Isso foi provocado por nossa conversa?
― Foi provocado por Celina me atacando na rua. ― não dei detalhes,
pensando que Ethan, pelo menos, o tinha colocado a par da volta de sua ex Mestre para Chicago.
Houve silêncio por um momento, suficientemente longo, que olhei para Morgan.
Tinha arrependimento em sua expressão.
― Você sabia. ― adivinhei, virando-me para ele. ― Você sabia que ela estava de volta, e não disse para ninguém. ― e então, eu lembrei o que tinha visto quando Celina me atacou. ― Ela estava usando uma nova medalha Navarre. Ela passou por
aqui. ― eu disse com repentina compreensão. ― Ela veio na Casa e você a viu. Foi assim que ela obteve a medalha.
Morgan baixou os olhos para o chão, seu olhar mudando da direita para a
esquerda enquanto preparava sua explicação . ― Ela construiu esta Casa. ― ele disse tranquilamente. ― Ela é minha Mestra, e ela construiu minha Casa. Pediu-me uma medalha para substituir a que haviam lhe tirado.
Quando levantou seu olhar até o meu, pude ver o conflito em seus olhos. Ele realmente queria honrar o vampiro que havia lhe dado a imortalidade, fazer o certo para ela. Mas não estava certa que, dar refugio para uma criminosa – Mestre ou não – era o modo certo de fazê-lo.
E com pensamentos como esses, talvez eu estivesse pronta para pensar sobre a filiação na Guarda Vermelha...
― Ela ainda está em Chicago?
― Não sei.
Agi como Ethan, levantando uma sobrancelha em resposta a Morgan.
― Honestamente. ― disse; as duas mãos levantadas. ― Disse-lhe que não podia ficar aqui. Disse-lhe que não contaria ao PG, mas que não podia ficar aqui. ― e então, algo interessante aconteceu – houve um repentino brilho em seus olhos, um sinal de digna estratégia de Mestre.
― Mas não prometi não dizer a você.
Amável de sua parte colocar essa carga sobre mim, mas não tinha nada o que fazer sobre isso agora.
― Alguma ideia de onde ela possa estar?
Morgan recostou-se em sua cadeira. ― Nada especifico. Mas é Celina, ela
ama moda, eleg}ncia. ― sinalizou o escritório ao seu redor. ― Um exemplo, este lugar é praticamente um museu.
― Uma homenagem em seu nome?
Morgan me olhou, humor em seus olhos, e por um momento vi a coisa que tinha me atraído em Morgan em primeiro lugar. Mesmo que Ethan se queixasse sobre Morgan sendo “muito humano”, era a humanidade que despertava seu precoce sentido de humor e que alimentava sua compaixão por sua ex Mestre,
ainda que ela não tivesse merecido.
― Algo como isso, sim. ― disse. ― Se ela decidiu acampar em Chicago, você tem que esperar que seja em um lugar agradável.Não dividiria um fourplex*. Você tem que procurá-la em Hyde Park, Gold Coast, Streererville. Algum lugar com porteiro, um ascensorista, vista. Um penthouse. Um condomínio no Lago. Uma mansão dos anos dourados. Algo como isso. Mas não acho que tenha ficado aqui.

(*O mesmo que Duplex, mas para mais pessoas.)

Seu rosto esteve por toda televisão, e há simplesmente muitos olhos na terra.
Não estava certa de acreditar no argumento, de que tinha viajado de volta ao Estado para me ferir e logo depois saído para Europa novamente. Mas então, Celina não estava exatamente agindo sob as mesmas regras que o resto de nós.
― Então aonde você acha que ela está?
Morgan deixou escapar uma respiração .
― Honestamente? Apostaria na França. Lá é de onde ela vem, e permanecendo na Europa, mantêm a Policia e ao PG fora de seu caminho.
Deixando minhas dúvidas de lado, ele tinha razão .
― Bom, aprecio a inteligência.
Encolheu os ombros. ― O que você fará agora?
― Eu direi ao Ethan. ― não estava certa do que Ethan iria querer fazer,
mesmo que o fato de que havia uma chance, não importando quão pequena, de que Celina estivesse ainda em Chicago era algo que provavelmente ele iria querer
investigar depois da convocação. Mas por hoje, teríamos o suficiente em nosso prato.

― É claro que o fará . ― Morgan disse. E ali estava o inconveniente de sua
humanidade, essa sarcástica petulância de adolescente.
― Você deveria lembrar que ele é meu Mestre. Portanto todo esse respeito
que você mostra a Celina, eu mostro a ele. Morgan sentou-se reto novamente, então virou sua cadeira de frente aos papéis esparramados em sua mesa.
― E estou certo que sua relação é
completamente profissional, já que sempre se coloca ao seu lado.
― Me coloco do lado de Cadogan. Esse é o ponto de ser Sentinela.
― Que seja. ― disse. ― Você atacou Ethan.
― Sim, o fiz.
― E sem dúvida, você está aqui. ― olhou-me de cima abaixo, o olhar que uma vez havia achado inegavelmente atraente assumindo uma inclinação
incomodamente, sensual. ― Não houve castigo para a mascote do professor?
― Fui castigada. ― assegurei-lhe, inclusive estava de acordo em que ser nomeada a Presidente Social da Casa, até para um introvertido, era leviano. Por outra parte, Celina estava livre depois de um ataque violento. Quem sabe as normas de castigo vampírico eram simplesmente baixas.
― Mmm-hmm. ― ele disse
― Entendo que você não esteja feliz, mas podemos tentar trabalhar juntos sem os ataques?
Morgan abriu a boca para retrucar, mas antes que saíssem as palavras, a
porta do escritório se abriu. Ethan entrou, colocando o celular no bolso.
― Temos algumas coisas do que nos encarregar. ― disse; olhando entre
nós. ― Terminamos aqui?
Morgan me olhou por um momento antes de finalmente vira-se para Ethan.
― Aprecio que tenham passado por aqui.
― Talvez todos nós precisemos nos lembrar de que há três Casas em
Chicago. ― Ethan disse. ― E que essas Casas não são inimigas. ― com isto se virou para mim, me segurou e fizemos nossa saída.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora