Pacotes da Lua.

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Até que Gabriel sentou-se em uma poltrona no meio do living dos Breck, parecia, como Adam disse como se fossemos convidados de uma reunião familiar.
Até esse momento. Gabriel chamou a atenção da multidão com um profundo apito que quase fez estalar meus tímpanos. Esse som foi seguido por uma cacofonia de toques, centenas de garfos de prata ao longo de centenas de copos, que só parou quando ele saltou da poltrona e levantou as mãos no ar.
— Manada. — gritou, e a sala explodiu com o som de cem vozes, gritos, assobios, uivos. E junto com os sons detonou uma súbita carga de magia. O ar crepitava com o elétrico zumbido da mesma, tudo em uma, reafirmante e ameaçadora. Afinal, esta era uma energia predatória que não era minha.
Incitava-me a necessidade de me mover, e praticamente saltar fora da
minha pele até que Ethan se aproximou o suficiente para alinhar a lateral dos nossos corpos. Não estava certa de se ele estava se movendo para mim ou se afastando dos membros da Manada ao nosso redor, mas sabia algo inatamente reconfortante sobre a sensação de tê-lo ao meu lado. Era tranquilizador, algo familiar em meio de sensações que meus instintos vampíricos não estavam muito interessados em sentir.
— Fique quieta. — disse silenciosamente, expressando as palavras não de um amante e sim a ordem de um Mestre a um Novato vampiro para se acalmar. E como se o ordenasse, meu pulso começou a desacelerar.
Jeff no seu caminho para frente do salão parou ao nosso lado.
— Está chamando a Manada. — explicou. — Até aonde sei, vocês são os primeiros vampiros a presenciar.
— Em Chicago? — perguntei.
— Na história. — disse, e continuou avançando.
— Somos a Manada! — Gabriel anunciou, e os Metamorfos começaram a se juntar, agrupar-se em frente a ele. No momento em que o salão se esvaziava vi Nick, de pé apenas no limite da multidão, uma posição que presumi que ele tomou
por estar distante de Gabriel, supus, era como estar se distanciando da Manada.
O restante deles abraçados, os braços entrelaçados bem apertados em um
laço ao estilo rúgbi. Mas desta vez a magia não fluiu para fora. Se condensou à medida que se reuniam, apenas o limite tangível desde nossa posição a borda da multidão. Entrelaçaram os braços em anéis ao redor de Gabriel, e então os uivos
começaram novamente. Alguns eram constantes, como uma harmonia em quatro tempos de sons animais; outros eram gritos ao azar. Os sons se elevaram ao uníssono em um frenesi crescente, as várias linhas de Metamorfos se balançando em bandos alternados enquanto cantavam.
A realidade bateu: estas não eram simples vocalizações; eram comunicações, reafirmações entre os membros da Manada de que estavam juntos, de que suas famílias estavam a salvo e que a Manada estava segura.
— É formoso. — disse a Ethan, e me considerei afortunada de ser testemunha de algo que nenhum vampiro tenha visto antes.
O chamado continuou por outros dez ou quinze minutos, os Metamorfos
lentamente se desintegrando, um anel por vez, até que estiveram separados novamente.
Gabriel ainda estava parado sobre a poltrona, mãos no ar, com sua apertada camiseta escura empapada de suor. Convocar a Manada, talvez reunir toda essa magia, deve ter sido um trabalho duro.
— Bem vindos a Chicago. — disse, sorrindo esgotado e recebendo outros uivos da audiência.
— Logo convergiremos. Tomaremos nosso destino coletivo para a Manada, e decidiremos se nós ficamos ou iremos.
A multidão tranquilizou.
— Chegará o momento de realizar essa decisão. — disse. — Mas esse
momento não é essa noite. — se agachou, e quando se ergueu novamente, sustentava um pequeno de bochechas rosada em seus braços. Pressionou um beijo na testa do menino.
— Nosso futuro é incerto. Mas perseveremos, sem importar o resultado. A Manada é eterna, inextinguível. — se agachou e entregou o menino novamente aos
braços estendidos de sua mãe, e se levantou para enfrentar outra vez a multidão, mãos sobre seus quadris.
— Esta noite, damos as boas vindas a estranhos a nosso seio. Os chamamos vampiros, mas os conhecemos como amigos. Eles têm cuidado de um dos nossos, por isso os convidamos aqui esta noite em nome da amizade.
Gabriel gesticulou para nós, e em resposta os membros da Manada se
voltaram para enfrentar Ethan e a mim. Alguns levavam um sorriso. Outros levavam expressões de absoluta desconfiança e desprezo. Mas inclusive aqueles homens e mulheres assentiram, aceitando de má vontade aos vampiros no meio
deles, vampiros que haviam salvado um dos seus.
— Graças a Deus por Berna.— silenciosamente disse a Ethan.
— Graças a Deus que você foi veloz o suficiente para avançar.—respondeu.
— Todas as nossas vidas estão entrelaçadas. — disse Gabriel. — Vampiro ou Metamorfo, homem ou mulher, nossos latidos são o eco do mesmo pulso da terra. E os nossos não são os únicos corações que estão interligados. — olhou para Ethan e
logo olhou para mim. Alguém lhe passou uma taça, e Gabriel a levantou para nós.
— Lhes oferecemos nossa amizade.
Os olhos de Ethan se ampliaram instantaneamente, mas encobriu a emoção e ofereceu uma humilde reverencia aos Metamorfos ao nosso redor enquanto faziam os brindes.
— Mas não convocaremos esta noite. — disse Gabriel. — Esta noite, vivemos e respiramos, amamos e desfrutamos da companhia dos nossos amigos e familiares. Esta noite... — disse piscando um olho.
— Comemos.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora