O que há em um homem?

111 12 1
                                    

Congelei, em seguida olhei sobre meu ombro.
Jonah estava de pé sob a luz de uma lâmpada da rua, cabelo castanho curvando-se suavemente sobre seu rosto. Vestia uma camisa escura justa, abotoada até encima com jeans e botas marrons em seus pés.
— Merit. — ele disse.
Levantei minhas sobrancelhas.
— Jonah.
— Estava na vizinhança.
— A Casa Grey não está longe daqui, certo?
— Está pela Addison. — disse, depois inclinou sua cabeça para a esquerda.
— Um pouco mais longe, a oeste. É um armazém transformado.
— E você decidiu sair para dar um passeio e ver o que acontecia no bar da Casa Cadogan?
Jonah olhou para outro lado por um momento antes de encontrar meus
olhos.
— Pode ser que não seja inteiramente uma coincidência que eu esteja aqui.
Esperei que se explicasse. Quando não o fez, o incitei.
— E como, exatamente, não é coincidência?
Ele deu um passo até mim, mãos nos bolsos. Estávamos tão próximos, e ele era tão alto que eu tive que olhar para cima para ver seu rosto.
— Se te juntar a nós. — disse tranquilamente. — Você será minha sócia, minha companheira, meu apoio. A quem eu seguirei em batalha, quem se levantará com armas para me proteger. Não tomo essa responsabilidade ligeiramente.
— Você está cuidando de mim ou se assegurando que eu cumpra suas
normas.
— Bastante justo. — admitiu. — Um pouco de ambas as coisas, provavelmente. — sinalizou com a cabeça para um beco entre os edifícios, e caminhou até lá. Eu o segui. A lua estava alta o suficiente para iluminar o beco, mesmo que a visão apenas valesse a pena ser iluminada: ladrilhos, grafites, caixas
de madeira vazias e os esqueletos de metal enferrujado das saídas de emergência.
— Você tem feito um nome por si mesma. — Jonah disse, virando-se para me enfrentar novamente, braços cruzados sobre sua camisa. O anjo e o demônio em seus braços, olhando-me fixamente, ambos com olhos vazios como se nenhum estivesse contente com o lado que escolheram. — Com um perfil alto assim, os humanos podem ficar um pouco curiosos sobre a nova celebridade vampira. E curiosidade seria a mais amável das emoções.
— Eu não pedi imprensa. — sinalizei. — A historia foi um tipo de favor.
— Ouvi que você tentou se defender na Convocação dos Metamorfos.
Presumi que Luc havia dado aos outros capitães de guarda, um resumo, portanto assenti com a cabeça.
— E há rumores de que você gosta de Gabriel Keene.
Isso eu não confirmaria. Revisar o básico de nossos planos de segurança na Convocação era uma coisa, Luc já havia falado para Jonah sobre isso. Mas as coisas que tinha ouvido de Gabriel eram entre Ethan, a Manada e eu.
Além do mais, se ia trair Ethan, não ia fazer sem ser um membro da guarda
como todas as leis. Se eu ia desatar sua raiva, pelo menos ia obter um crachá de adesão por ele.
— Gabriel é um tipo amigável. — eu disse finalmente.
— Jogando com segurança?
— Eu não sou um membro da Guarda Vermelha.
— Ainda. — o tom de Jonah era pretensioso, havia tido suficiente pretensão hoje, então eu meio que virei para ir embora, sinalizando com meu polegar sobre meu ombro.
— A menos que tenha algo interessante para me dizer, volto para meus amigos.
— Poderia ser que não se una a nós. — disse; surpresa em sua voz. — Você
realmente poderia dizer que não.
Deixei que o silêncio respondesse por mim.
— Disseram-me que ninguém nunca disse não.
Virei novamente e sorri ligeiramente. — Então talvez, eu estabelecerei uma nova tradição de pensar por mim mesma, em vez de fazer algo apenas porque todos os demais o fizeram.
— Isso é desagradável.
— Estou tendo uma noite desagradável. Veja. — disse cruzando meus braços. —Não quero ser rude, mas tive uma noite longa e uma semana ainda mais longa. Não estou feliz de ser perseguida porque alguém com quem eu poderia trabalhar e quer saber se sou tão incompetente quanto se imagina.
Ele não protestou. Isso não era galanteador.
— Pelo menos você deveria solicitar outro companheiro. — eu disse. —
Você não me conhece e eu não te conheço. Com todo respeito, eu preferiria um companheiro que espere para me julgar até depois de ter tido três ou quatro diálogos.
— E eu preferiria ter um companheiro que leve a sério seu trabalho.
Eu quase rosnei para ele.
— Amigo, se você soubesse algo de mim, saberia o quão sério levo meu trabalho.
Ficamos em silêncio por um minuto, a pergunta não feita suspensa no ar.
Eu seria sua companheira?
— O que é que você vai fazer? — perguntou finalmente.
— Não sei. — respondi tranquilamente depois de um momento.
Olhei para as luzes da cidade e pensei em Ethan. Pensei no que nós tínhamos feito no que ele tinha querido no que podia ou não me oferecer. Imaginei que teria duas opções.
Um: eu poderia mostrar-lhe o dedo metaforicamente e me unir a Guarda Vermelha. Estaria estabelecendo uma saída rápida da Casa Cadogan quando os humanos dissessem que tinham tido o suficiente dos vampiros Cadogan (ou Celina decidisse por eles) ou quando Ethan soubesse e arrancasse a medalha Cadogan do
meu pescoço.
Dois: eu poderia mostrar o dedo metaforicamente a Jonah dizendo para Noah: — Não, obrigada. Eu estaria comprometendo a Casa Cadogan; comprometendo-me a Ethan. Não era irônico isso?
Não estava sentindo nenhuma das opções realmente. Ambas pareciam
táticas em um jogo sobrenatural e eu não estava segura de ter as peças corretas.
Definitivamente, eu não estava feliz de escolher uma ou outra, baseada em qual dos dois vampiros eu queria irritar mais, especialmente tendo em conta o que estava em risco, minha vida, meus amigos, a forma de minha imortalidade.
— Chamarei Noah quando eu tiver decidido. — eu lhe disse finalmente,
então me virei e me dirigi para o bar. Por razões obvias, mantive minha conversa com Jonah para mim mesma. Fingi um sorriso no Templo Bar, depois fingi um bocejo, assim poderia escapar da multidão e me dirigir de volta a Casa. Lindsey decidiu ficar, então peguei um táxi para casa, pronta para passar o pouco que restava de minha noite entre pilhas de livros. Digam o que quiserem sobre Ethan, mas o cara sabia mandar em uma biblioteca muito, muito bem.
Bom, poderia se dizer que isso não era a única coisa que havia mandado
bem, mas vamos nos manter no bom caminho.
A biblioteca era um espaço de dois andares que ocupava um pedaço do
segundo andar que aparecia a frente da Casa. O cômodo em si era de dois andares circulados por um balcão cheio de livros, o balcão rodeado por uma grade de ferro forjado em vermelho. Uma escadaria caracol do mesmo metal conduzia até ele.
Três janelas gigantes enchiam o cômodo com luz e filas de organizadas mesas de biblioteca enchiam o meio.
Historia longa feita curta era o esquisito sonho de um amante de livros.
Quando cheguei ao segundo andar, deslizei entre a porta dupla da
biblioteca, olhei ao redor com as mãos nos quadris. Não tinha uma tarefa de investigação, mas tampouco tinha o conhecimento que precisava para viver e trabalhar lado a lado com os Metamorfos.
Animosidade histórica ou não, tinha que ter material sobre os Metamorfos aqui.
Infelizmente mesmo que a biblioteca fosse grande e organizada, ainda era
antiga quanto a uma coisa: tinha um catalogo por títulos, e não apenas qualquer catalogo por títulos, e sim três enormes gabinetes de carvalho com finas gavetas, cada uma contendo milhares de títulos ordenados alfabeticamente.
Fui à fileira de M, tirei a caixa correspondente e a coloquei em uma estante saliente. Havia muitas entradas de livros sobre Metamorfos, desde a Enciclopédia Tractus - o ilustre Guia para os territórios dos Metamorfos pelo mundo – até Uma
vida em pele: A Viagem de um Homem. Copiei a numeração de um punhado de títulos não fictícios (menos as biografias e memórias), acomodando novamente em seu espaço, então revisei os papeis que tinha escrito para tentar averiguar em que partes da biblioteca estariam os livros..., e me choquei de frente com um vinte e poucos anos de cabelo marrom, quem franziu o cenho com obvia irritação.
— Oh! Deus, eu sinto muito. Não quis...
— Certamente você não pensou que era a única Novata que usava este
cômodo. Certamente você não pensou que os livros se organizavam sozinhos?
Pisquei para o garoto, baixinho, lindo, com uma expressão acusadora, que
havia me interrompido no meio de uma desculpa.
— Eu..., um..., não. Claro que não.
Gaguejando ou não, eu estava sendo honesta. A primeira vez que havia visto a biblioteca, presumi que deveria ter um bibliotecário que mantivesse as coisas organizadas. Pareceu-me estranho, na verdade, que não o havia visto, ele ou ela antes.
Adivinhei que era ele.
O bibliotecário pareceu relaxar um pouco ante a resposta. Depois passou uma mão por seu cabelo, o que fez com que arrumasse as pontas. Usava jeans e uma camisa polo preta, outro vampiro que era exceção do código de vestimenta todo preto de Cadogan.
— Claro que não. — repetiu. — Isso seria incrivelmente ingênuo.
— Apontou para os livros atrás dele. — Há dez milhões de títulos nesta biblioteca, você sabe, sem mencionar que somos o detentor oficial do Canon. — levantou suas sobrancelhas como se esperasse minha resposta - minha devida resposta.
— Sim. — eu disse. — Isso é Wow. Dez milhões de títulos? E o detentor
oficial do Canon? Também muito Wow.
Cruzou os braços sobre o peito, sua expressão toda cética.
— Está apenas falando ou está realmente impressionada?
Retorci meu rosto.
— Como você gostaria que eu respondesse a isso?
Um lado de sua boca curvou-se para cima.
— Linda e não beija bundas. Posso apreciar isso. Você é a nova Sentinela? A Investigadora.
— Ex - investigadora. — eu disse, oferecendo-lhe minha mão. — E você é?
— O bibliotecário. — disse aparentemente não interessado em oferecer um nome.
Tampouco pegou minha mão. Em vez disso, moveu seus dedos e inclinou
sua cabeça para os papeis em minha mão.
— Dê-me suas anotações e encontraremos o que precisa.
Fiz o que ele me pediu, depois o segui enquanto virava e se dirigia até a
sessão de Ciências Sociais. “Gracioso”, eu pensei, a maioria das bibliotecas
provavelmente colocariam livros sobre Metamorfos e criaturas desse tipo na sessão de Mitos e Fantasia. Mas aqui nos confins desta biblioteca pertencente a um vampiro, eram reais. Isso significava que os livros eram mais parecidos a Antropologia (ou Zoologia talvez) que a Mitologia.
Caminhamos até o canto traseiro direito do cômodo, os olhos do
bibliotecário em minhas anotações enquanto se movia. Não se preocupava em ler os cartazes ao final das estantes, aparentemente tinha memorizado a localização de todos os volumes.
— Os vampiros estão falando. — começou enquanto virava-se para um estreito corredor entre as estantes. Eu o segui, livros de todas as formas e
tamanhos, novos e velhos, com capas de papel e couro, estendendo-se sobre nós.
— Falando sobre o que?
— A Convocação. — parou no meio do corredor e virou de frente para uma
das estantes, então me olhou. — Diz-se que votaram não irem para Aurora, e que depois te atacaram.
As historias sobre a Convocação haviam viajado; a verdade infelizmente não.
— Votaram por ficar e nos ajudar, não fugir. — esclareci. — O ataque era
contra um dos lideres da Manada. Não atacaram a mim. Eu apenas o ajudei a se defender.
— Ainda assim. — disse. — Isso não demonstra como são? Volúveis? E
reunir-se para decidir seu futuro em Chicago. Quem pensaria que esse dia
chegaria?
Quando começou a passar a ponta dos dedos sobre os gomos dos livros,
presumi que o comentário era retórico. Mas eu ainda tinha uma pergunta.
— Porque eles são chamados de Simuladores? — perguntei. Tinha ouvido Peter Spender usar esse termo contra os Metamorfos também. Sabia que não era elogio, mas não estava certa de sua origem.
O bibliotecário tirou um grosso e alto livro de couro marrom da estante e
me deu. Era na verdade, uma pasta que continha desenhos de Metamorfos em forma animal. Os suspeitos de sempre estavam ali: lobos, gatos grandes, aves de rapina. Havia também umas quantas opções incomuns, incluindo focas. Talvez essa fosse à origem do mito dos Silkies.
— Os Metamorfos se fazem passar por humanos. — disse. — Eles simulam
ser humanos. Misturam-se entre eles, apesar de não serem verdadeiros humanos.
Tenho que admitir que o argumento me confundiu.
— Mas nós não somos humanos também; certo?
— Nós somos o que somos. Predadores. Humanos, mas com uma pequena reestruturação genética. Não mudados de forma para nos disfarçar. — deu um passo para trás e gesticulou para seu corpo com suas mãos. — Este sou eu. Isto somos nós. — frustração em sua voz, então se virou para as estantes de onde continuou tirando volumes.
— Sempre que os humanos tentarem desfazer-se dos Sobrenaturais, os
Metamorfos continuarão pretendendo serem humanos.
As engoli para não discutir que os vampiros haviam estado escondendo-se em plena vista durante séculos, pretendendo ser humanos para evitar serem atacados.
Francamente não acreditei que ele apreciaria a comparação. Este era o tipo de preconceituoso que não se dobrava ante a lógica.
— É isso o que fizeram no Segundo Extermínio? — perguntei em voz alta enquanto o bibliotecário começava a empilhar livros em meus braços.
— Simularam serem humanos e ignoraram os vampiros que estavam sendo mortos?
— Acredito que isso é o suficiente, você não? — perguntou tristemente.
Supunha que isso explicava o preconceito. Sabia que a ferida causada pela falta de ajuda dos Metamorfos aos vampiros durante o Segundo Extermínio - de colocar-se em linha para salvar aos vampiros, era profunda. E não apenas profunda, e sim rasgada e não curada, mesmo um século depois. Havia visto a
animosidade do lado dos Metamorfos; o haviam mostrado muito claramente. Sua urgência em fugir soava como se estivesse baseada no medo que tinham do que poderia vir, portanto, eu não estava certa do porque tantos Metamorfos estavam tão amargurados pelo passado. Se for assim para os tão cultos como Ethan, eu imaginava aos seus vampiros, a raiva, a amargura, estava presentes em nosso campo também..., inclusive se encontrassem neste arquivo de aprendizagem e conhecimento.
Finalmente terminou de tirar livros das estantes e me olhou novamente. — Isso deve ser tudo o que precisa. — disse. — Isto te dará o básico.
Concordei, trabalhando em manter meu sorriso neutro e o olhei enquanto me circulava para ir à sessão principal.
— Sei o que você pensa. — disse quando chegou lá, olhando-me, mãos nos quadris. Sua expressão havia se tornado dura, preocupação evidente ao redor de seus olhos. — Que eu sou um ignorante, ou que estou irritado sobre algo que aconteceu há centenas de anos atrás. — seus olhos repentinamente brilharam prateados e o pêlo da minha nuca eriçou, enquanto a magia se expandia no canto da biblioteca onde estávamos; filtrando-se enquanto suas emoções cresciam.
— Nós somos imortais, Sentinela. Este não foi um dano feito aos nossos
ancestrais, aos nossos antepassados. Foi dano feito a nós. Nossas famílias. Nossos amantes. Nossos filhos. A nós mesmos.
Com isso ele se foi.
Com uma pilha de livros de um metro de altura em meus braços, pestanejei para ele por um momento, pensando não apenas na ira em sua voz, na dor sombria das coisas que haviam acontecido, e sim também no medo, a inquietude de que sem vigilância tais coisas poderiam voltar a acontecer.
E pensei na paixão que havia ouvido na voz de Gabriel, seu desejo de
proteger aos membros de sua Manada. Pensei na ira que escutei uma vez na voz de Nick, seu desejo de manter a sua família a salvo.
Comparei todo esse desdém e confinamento juntos..., e ainda me perguntava quem era a maior ameaça.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora