Noite de Garotos.

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— O que você usar se vai bancar a segurança de Metamorfos alfas?
Eu estava na frente da porta aberta do meu armário, em um roupão, mas
olhei de volta para Lindsey, que estava sentada de pernas cruzada na minha cama, um saco de alcaçuz de morango no seu colo.
— Nada? — ela disse com um sorriso.
— Eu vou usar roupas.
— Esportivas. Mas se você vai bancar a puritana, pode muito bem bancar a puritana sexy. Você não disse que Gabriel mencionou couro?
Colocando a piadinha de lado, ela tinha um ponto. Apesar de tudo, eu tinha couro preto que tinha sido um presente de Mallory e Catcher pelo meu vigésimo oitavo aniversário – calças justas, um corpete curto, e uma jaqueta de motoqueiro em bom estado. Era uma roupa fabulosa, mas era muito capa de livro de fantasia
urbana.
— Vampiros em couro é tão clichê. — eu disse.
— Eu não estou discordando de você, mas Metamorfos apreciariam. Eles
gostam de couro.
— É, eu entendi. — mas aquela quantidade de couro, e com tanta pouca cobertura no torso, não era meu vestuário de luta favorito, então eu folheei através de algumas blusas regatas, procurando por algo que pudesse substituir o sutiã de couro. Por outro lado, calças de couro e uma regata pareciam um pouquinho Linda Hamilton demais.
— Quem sabe um acordo. — eu murmurei, puxando a jaqueta de couro do seu cabide de madeira. Eu coloquei-a na cama, juntamente com a minha calça Cadogan social e uma regata preta simples, então me afastei para dar uma olhada.
A jaqueta adicionava um elemento definitivo de chuta - traseiro para as
calças justas e a regata. O conjunto ainda era para negócios, mas o tipo de negócios que prometia repercussões se o acordo não fosse fechado. Com uma katana vermelha na minha cintura, e um pingente dourado de Cadogan ao redor do meu pescoço, eu posso até ser capaz de passar por isso.
— Bem. — Lindsey disse. — Essa é uma Merit que eu posso acompanhar. Experimente.
Quando eu estava vestida, eu peguei um elástico preto de cima da minha
escrivaninha e puxei meu cabelo em um rabo de cavalo. Já que eu estaria com Ethan, eu não prendi meu bip de Cadogan, mas deslizei meu celular dentro de um bolso da minha jaqueta, e peguei minha katana.
Vestuário montado, eu me virei para que Lindsey pudesse dar uma olhada.
Ela assentiu e se levantou.
— Só uma pergunta: você pode trabalhar essa roupa? Você pode possuí-la?
Eu olhei de volta para o espelho, absorvi o couro e a espada, e sorri.
— Sim. Eu acredito que posso.
Eu encontrei Ethan no porão, do lado da porta que levava ao
estacionamento subterrâneo. Eu literalmente rebolei descendo as escadas, pronta para levar o Sr. Elogio ao silêncio.
Como uma deixa, eu que fiquei surpresa, porque eu não tinha sido a única que reconsiderou minhas roupas: Ethan aparentemente seguiu a instrução de ir “sem Armani” de Gabriel até o coração . Ele desceu as escadas em jeans. Jeans perfeitamente ajustados que serviam em seus
quadris, então caíam até botas pretas. Ele tinha combinado-os com uma camiseta cinza justa que praticamente modelavam seu peito. Seu cabelo dourado estava solto, emoldurando maças do rosto altas e olhos verdes de matar. Eu sou forte o bastante para admitir. Eu encarei.
Ethan me deu um escrutínio lento, com uma sobrancelha levantada,
apreciação masculina em seus olhos. Quando ele finalmente assentiu, eu assumi que tinha passado no teste.
— Você está vestindo jeans.
Ele olhou para mim com diversão, então teclou no teclado do lado da porta da garagem. A Mercedes preta conversível de Ethan, e alguns outros veículos de vampiros de alto escalão (i.e ., não são novatos como eu.) estavam estacionados lá
dentro.
— Eu sou capaz de me vestir de acordo com o que a ocasião exige.
— Aparentemente. — eu murmurei; irritação na minha voz. Era uma
emoção infantil, claro, mas o homem não era para parecer melhor que eu. Ele deveria ficar surpreso pelo meu novo estilo maneiro.
Não que eu me importasse com o que ele pensasse, eu menti para mim
mesma.
Ethan destrancou seu sistema de segurança, então abriu a porta do
passageiro para mim.
— Que graça. — eu disse enquanto entrava no carro, arrumando minha
katana dentro do espaço confinado.
— Eu tenho meus momentos. — ele disse; seu olhar na garagem ao redor
dele, então fechou a porta atrás de mim.
Quando ele estava igualmente abrigado, nós dirigimos pela rampa até a porta de segurança, que se levantou com a nossa aproximação, então saímos na noite escura de verão, passando pelos paparazzi que estavam em um canto do estacionamento, câmeras prontas. Já que éramos um grupo cativo – quase um terço dos vampiros na Casa, voltavam para o poleiro antes de cada nascer do Sol – eles ainda não tinham se incomodado em nos seguir quando deixávamos o Hyde Park.
— Onde exatamente estamos indo?
— Um bar chamado Little Red. — Ethan disse. — Em algum lugar no meio da Aldeia Ucraniana. — ele assentiu em direção à tela do GPS, no painel do carro. Já estava apontando nosso caminho pela vizinhança, que era em um pedaço de Chicago conhecido como Cidade do Oeste.
— Little Red. — repeti. — O que isso significa?
— É uma referência à Chapeuzinho Vermelho, eu acredito.
— Então os Metamorfos estão envolvidos? Jeff disse que suas formas têm alguma coisa a ver com seu poder.
— Eles não são todos lobos. Cada Metamorfo se transforma em um animal, e o animal corre na família.
— Então se um dos Brecks fosse um texugo, todos os Brecks seriam texugos?
Ethan riu entre dentes.
— E dado nossas experiências com Nick Breckenridge até agora, eu ficaria feliz em aprender que ele é um texugo.
Nick tinha sido um participante de má vontade no esquema de chantagem de Peter. E no processo, ele tinha se transformado de um ex-namorado a um sério pé no saco. “Texugo” parecia inteiramente adequado.
— Concordo.
— Infelizmente. — Ethan disse. — As famílias geralmente não anunciam
seus respectivos animais. Então se você não estiver muito, muito relacionado com um Metamorfo, o único jeito de um estrangeiro saber que animal você é , é ver sua
transformação. Isso significa, eu presumiria, que os membros mais poderosos do Bando – Ápice e Parecidos – são predadores. Maiores, piores, mais violentos que o resto.
— Então, lobos ou ursos ou alguma coisa, melhor que comadrinhas.
— Comadrinhas?
— Eles são reais. — confirmei. — Eu vi um deles em um centro natural, uma vez. Carinhas pequenos. Então Gabriel, o que sabemos sobre ele?
— A família Keene, o pai de Gabriel, tio-avô, avô, e mais adiante, tem liderado o Bando Central da América do Norte por séculos. Nós temos confirmação independente de que eles são lobos.
— Independente? Isso veio da sua fonte vampírica secreta? — meu avô
tinha representantes de três grupos sobrenaturais à sua disposição, Catcher para os feiticeiros, Jeff para os Metamorfos, e uma terceira fonte secreta vampírica, que mantinha seu perfil oculto para não deixar seu Mestre puto. Anonimato à parte, meu avô, algumas vezes, compartilhava a informação que recebia com Ethan.
Ocorreu-me que Malik, o segundo no comando de Ethan, poderia ser o
vampiro anônimo. Malik sabia tudo que acorria na Casa, mas geralmente mantinha em segredo. Ele era intenso, mas parecia estar no lado da verdade e justiça.
Providenciando segredos, mas cruciais, para o escritório de Ombud, informação ultimamente usada para manter a paz sobrenatural em Chicago, parecia bem o seu feito.
— Independente. — Ethan disse.
— Como em não vir de um vampiro. Eu acredito que estamos te jogando aos lobos. — ele adicionou depois de um momento. — Embora você não seja exatamente o tipo que vai caminhando pela floresta, cesta na mão, para a casa da vovó.
— Não. — eu concordei. — Eu não sou. Mas sou o tipo que pega o Volvo até o escritório do meu avô, com um balde de frango na mão.
— Parece uma boa viagem.
— Foi. Você sabe que eu amo comida. E o meu avô. Mas não necessariamente nessa ordem.
O trânsito não estava ruim quando fomos para o norte, mas ainda levou
vinte minutos para alcançar a Cidade do Oeste. Ethan ficou confortável para a viagem – um braço pendendo na porta, um no volante, ás três horas.
Eventualmente, nós saímos da I-95 e entramos em uma vizinhança, então
fizemos mais algumas voltas em uma rua comercial, cheia de prédios de tijolos que provavelmente tiveram seu ápice nos anos 60. Agora eles estavam largamente vazios, exceto por algumas lavanderias industriais e padarias internacionais. Nessa hora da noite a rua estava vazia de pedestres...
...Mas cheia de motocicletas.
As motos, eu pensei, era um marcador para os Bandos. Nesse caso, era uma fileira de tanques de guerra antigos – motocicletas baixa e curvas com um
monte de cromo e couro vermelho – estacionados uma ao lado da outra, uma dúzia mais ou menos. Elas estavam todas alinhadas em frente a um edifício de tijolos que estava em um canto. Uma placa branca, brilhante e redonda – como uma lua cheia no meio do Wicker Park – comportava as palavras LITTLE RED, escrito em letras vermelhas simples.
— Deve ser isso. — eu disse enquanto Ethan manobrava a Mercedes em
uma vaga paralela ao quarteirão. Nós emergimos do carro e entramos na batida da música rock’n roll, que se espalhou na rua quando a porta abriu. Um homem vestido de couro com barba curta e um rabo de cavalo louro escuro montou em uma das motocicletas, deu partida e dirigiu para longe.
— Um Metamorfo a menos que vamos ser capazes de conhecer. — eu
sussurrei para Ethan, que fez um “humph” em resposta.
Nós prendemos nossas katanas nos cintos, então descemos o quarteirão,
em direção à porta, para dentro do bar.
As motocicletas não eram a única indicação de que alguma coisa diferente estava acontecendo na Aldeia Ucraniana. Quando nós alcançamos a esquina, onde a porta da frente estava no cruzamento da rua, eu avistei um trio de ranhuras na parede de tijolos. Eu parei e observei mais atentamente, então levantei meus dedos até os tijolos. Eles eram marcas claras, longas, levemente separadas, e profundas nos tijolos e argamassa.
Eles não eram ranhuras, eu percebi. Eles eram marcas de garras.
— Ethan. — Eu disse, e gesticulei em direção aos arranhões.
— É um sinal. — ele explicou. — De que esse é um lugar do Bando.
E aqui estávamos nós, vampiros entrando na toca deles.
Mas já que estávamos aqui, e não tinha mais nada para fazer, eu tomei a liderança e abri a porta. O bar era um quarto apertado – algumas mesas em frente a uma janela de vídeo larga, um bar de madeira do outro lado. A música estava alta o bastante para machucar meus tímpanos, e eu recuei da sua batida. O som explodia de jukebox em um canto, aquela máquina a única decoração que não
envolvia propagandas sobre cerveja, uísque, ou Malort , a versão estranhamente forte de absinto de Chicago.
Homens em jaquetas com CAM em letras gigantes e embromadas nas costas, sentados nas mesas, de algum jeito conseguindo conversar, mesmo com o barulho do jukebox. Eu assumi que CAM era em relação a “Bando Central da América do Norte”.
Os pelos na minha nuca se levantaram. Havia algo inquietante sobre o lugar, sobre a agitação de magia que preenchia o quarto, como se o próprio ar estivesse eletrificado.
Os Metamorfos olharam para cima quando entramos, suas expressões não eram exatamente de boas-vindas. Aparentemente nenhuns deles muito excitado sobre os vampiros perto deles, se levantaram e empurraram as cadeiras de volta.
Meu coração disparou; minha mão se movendo até o cabo da minha katana, mas os Metamorfos se direcionaram a porta da frente. Em questão de segundos, eles se foram, nos deixando no meio do bar, rock‘n roll ainda fluindo ao nosso redor.
Ethan e eu trocamos um olhar.
— Talvez a comida seja ruim? —pensei em voz alta, mas esse não poderia ser o caso. Tirando a vibração ruim, os cheiros no bar eram fabulosos. Debaixo da fumaça de cigarro, havia algo delicioso, repolho e carne cozida, como se rolinhos de repolho estivessem fumegando nos fundos. Meu estômago roncou.
— Posso ajudar?
Nós nos viramos para olhar o bar. Atrás dele estava uma mulher pesada, usando uma camiseta com LITTLE RED e uma garota de desenho animado em uma anágua e capuz na frente. O cabelo louro-pálido e curto da mulher cortado bem abaixo da cabeça, e havia suspeita em seus olhos. Deve ter sido Berna.
— Gabriel. — Ethan, indo para o meu lado, disse sobre a música. — Nos
pediu para encontrar com ele aqui.
Uma mão no bar, uma no seu quadril, a mulher indicou uma porta vermelhade couro perto do fim do bar. — Lá atrás. — ela meio que gritou, então arqueou uma sobrancelha enquanto me olhava de cima a baixo. — Muito magra. Precisa comer.
Eu só tive uma chance de abrir minha boca para responder – que dado o
cheiro de carne e vegetal do lugar, teria envolvido um “sim” ressoante – quando Ethan sorriu educadamente para ela.
— Não, obrigado. — ele respondeu.
Ela torceu o nariz com a resposta de Ethan, mas se voltou para o seu bar
bem engomado, e começou a limpá-lo com um pano molhado. Ethan foi até a porta vermelha.
Os rolinhos de repolho já eram, eu pensei, mas o segui.
Antes de abri-la, sua mão no couro estufado, ele iniciou a conexão telepática entre nós.
Sentinela? — ele silenciosamente perguntou, checando antes de fazermos o mergulho final. Eu empurrei para longe a vertigem repentina, porém refrescantemente breve. Talvez eu esteja ficando acostumada à sensação.
— Eu estou pronta— eu disse a ele, e nós entramos.
Eu estava grata pelo quarto estar mais quieto do que o resto do bar, mas o
ar estava espesso com magia velha. Eu não tenho certeza se normalmente poderia ser capaz de separar velho de novo, mas isso parecia diferente da magia que eu sentia ao redor de vampiros ou feiticeiros. Era a diferença entre o sol e a lua. Isso era magia antiga; magia da terra; a magia de solo úmido e raio cortante, de
planícies gramíneas expostas ao vento em dias nublados; a magia de pó e pelo e tocas de animais e folhagem úmida. Não era desagradável, mas a diferença clara entre esse formigamento e a magia que estava acostumada me inquietou.
Também era exponencialmente mais poderoso do que a agitação que eu sentia ao redor dos poucos feiticeiros que conhecia.
Quatro homens – quatro Metamorfos – estavam sentados ao redor de uma
mesa velha de vinil com pernas de alumínio. Quatro cabeças se ergueram quando entramos pela porta, incluindo a de Gabriel Keene. Ele me olhou de cima a baixo, e ofereceu um sorriso lento que levantou os cantos da sua boca. Eu supus que ele gostou do couro.
Depois de me avaliar, Gabe moveu seu olhar até Ethan; sua expressão se tornou; todo-negócios.
Eu tentei manter meus olhos em Gabriel, para dar ao resto dos alfas tempo para avaliar os vampiros que entraram no seu território. Mas meus olhares ocasionais me deram detalhes básicos – todos os três tinham cabelo preto e ombros tensos de pessoas não animadas por estarem no quarto dos fundos de um bar na Aldeia Ucraniana, com vampiros no meio deles.
Finalmente, Gabriel assentiu e gesticulou em direção a uma parede que estava vazia, exceto por um par de pôsteres de filmes baratos, pequenos e emoldurados. Eu segui Ethan até lá e fiquei ao lado dele. Eu não estava esperando problema imediato, mas segurei o cabo da minha katana com a minha mão
esquerda, esfregando meus dedos pela corda de couro, a fricção de algum modo confortante.
Eu não tive que esperar muito tempo pela ação.
— O nome do jogo. — Gabriel disse, pegando uma pilha de cartas do centro da mesa. — É sacada de cinco cartas. — ele embaralhou as cartas duas vezes, e colocou a pilha de volta na mesa. O alfa à sua direita, que tinha cabelo preto curto e maxilar quadrado, o resto do seu rosto escondido por sombras de aviador, se inclinou para frente e bateu suas juntas contra a pilha.
Com movimentos tão suaves que você teria pensado que ele era um profissional, Gabriel começou a distribuir cartas para os outros.
— Nós estamos aqui. — ele disse. — Porque, tirando as objeções, nós
estaremos nos reunindo daqui a dois dias. Nós estamos aqui para discutir ConPack.
O alfa à direita de Gabriel, que estava com má postura em sua cadeira, tinha barba de alguns dias no seu rosto, olhos castanhos estreitos, e cabelo negro na altura do ombro que tinha sido colocado atrás de suas orelhas. Ele lançou um olhar suspeito em nossa direção.
— Na frente desses dois? — ele perguntou. Ele deu a Ethan um olhar
derrisório de alguns segundos, então me deu uma avaliação de cima a baixo maliciosa. Alguns meses atrás, eu teria corado um pouco, talvez parecido bem desconfortável. Dado que ele era um Metamorfo e, pelo jeito, um valentão, eu provavelmente deveria ter corado. Mas mesmo minhas habilidades de batalha
precisando de melhoras, eu ainda era uma vampira, e blefar era uma das
primeiras lições que Catcher tinha me ensinado. Eu sabia como devolver a
arrogância que outras pessoas infligiam a mim.
Lentamente, serenamente, eu arqueei uma sobrancelha negra para ele e
ergui os cantos da minha boca em um quase sorriso. O visual, eu esperava, era igualmente de determinação vampírica, e perspicácia feminina. Se ele estava intimidado, eu não sabia, mas ele finalmente olhou para longe. Isso era bom o bastante para mim. Gabriel, sua expressão completamente indiferente, pegou sua pilha de cartas e balançou-a na sua mão.
— Você concordou com esses arranjos, Tony, lembre-se disso.
Então o valentão era Tony, líder do Grande Bando do Noroeste, e o homem que liderou a retirada de Metamorfos na Aurora.
— Besteira. — Tony cuspiu em resposta. Ele poderia ter sido lindo, mas a postura nos seus ombros endurecia suas feições de um modo não lisonjeiro.
— Meu tenente-coronel. — Tony continuou. — Concordou com os arranjos porque era o único modo de nós podermos conversar por detrás dos panos. Você chamou a reunião, Keene. Não eu, não Robin, não Jason. Você. Falando por mim mesmo, nós não a queremos. — ele suspirou. — O mar Bering estava bonito e azul quando o deixamos. As coisas estão bem em Aurora, e nós estamos felizes em mantê-las desse jeito.
— É o seu trabalho mantê-las desse jeito. — disse o terceiro homem.
Esse é Jason. — Ethan silenciosamente me disse.
Jason era brutalmente lindo; olhos verdes, cabelo negro levemente
ondulado, maças do rosto de matar, lábios curvos, um arrasto sulista mínimo naquela voz melada. No geral, era uma combinação perigosa.
— Você é o protetor do Refúgio.
— E esse é exatamente o meu ponto. — Tony murmurou, jogando algumas cartas na mesa com um giro de seu pulso.
— Eu sou o protetor do Refúgio. E
quando chega a hora de ir até o dito Refúgio, nós vamos. Nós não nos reunimos para “discutir”. Isso é besteira política e estratégica. — ele olhou para Ethan. —Besteira de vampiros. Com todo o respeito, vampiro.
— Igualmente. — Ethan disse, uma quantidade surpreendente de veneno na sua voz. Eu segurei um sorriso orgulhoso; ele parecia estar adotando um pouquinho do meu sarcasmo.
— As coisas em Chicago... — Gabriel começou, mas foi interrompido por
Tony, que levantou uma mão.
— As coisas em Chicago não nos preocupam. — Tony disse. — Não existe nenhum Bando em Chicago, e tem uma razão malditamente boa para isso. Chicago não é uma cidade de Metamorfos.
A animosidade de Tony mudou o ar no quarto, aquele formigamento de
magia agora forte o bastante para erguer os pelos nos meus braços. Eu me mexi desconfortavelmente, meus pulmões apertados enquanto a pressão no quarto mudava; um efeito colateral mágico do crescimento da tensão de Metamorfo.
— Chicago é uma cidade de poder. — Gabriel disse quietamente, jogando
uma carta na mesa, pegando uma nova carta da pilha restante, e adicionando aquela para o leque de cartas em sua mão.
Pelo menos, foi o que eu o vi fazer, mas aqueles movimentos simples
cortaram através da magia no ar. Eu tomei uma respiração, o peso saindo do meu peito. Ápice, mesmo.
— E nós não somos uma presença oficial aqui. — Gabe continuou. — Não significa que não seremos afetados. Os vamps estão lá fora. Eles estão nos olhos do público, para melhor ou pior, e nós não podemos esperar os humanos ficando satisfeitos com a noção dos sangrentos sendo os únicos seres sobrenaturais no mundo.
— Então essa é a sua posição? — perguntou Jason. — Você nos trouxe aqui para, o que, concordarmos em nos anunciar? — ele balançou sua cabeça. — Eu não vou fazer isso. Os vamps saíram do armário, e conseguiram piadas e audiências
Congressionais. Nós saímos, e o que ganhamos?
— Nós ganharemos experiências científicas. — disse o quarto e final
Metamorfo, que deve ter sido Robin, líder do Bando do Nordeste. Ele era o Metamorfo com os óculos de sol escuros.
— Nós seremos encarcerados em instalações militares, transportados para Deus sabe aonde, onde oficiais militares possam descobrir como nos usar como armas. — ele ergueu uma mão e levantou seus óculos; Eu quase recuei à visão dos seus olhos, azul leitoso, olhando inexpressivamente na nossa direção. Ele era cego?
— Não, obrigado. — ele disse quietamente. — Não conte comigo, e não conte com o resto do Bando do Nordeste. Nós não estamos interessados.
— Eu aprecio o fato de você ter adivinhado meus planos e estar pronto para votar. — Gabriel disse secamente. — Mas essa não é a reunião, e eu não ofereci uma resolução, então vamos manter a adivinhação para nós mesmos, que
tal?
Houve alguns “humphs” da mesa, mas nenhuma objeção direta.
— O que eu quero. — Gabriel continuou. — É estabelecer uma pergunta e fazê-la aos Bandos. Esse é o meu plano. Nós ficamos e encaramos a maré que está vindo? — ele olhou para cima e ergueu seu olhar até Ethan. Os dois se encararam, medo, poder e raiva combinada na expressão de Gabriel. A “maré que está vindo”,aparentemente relacionada aos vampiros.— Ou nós partimos agora?
— Qual dessas decisões é mais segura? — Tony perguntou.
— E qual. — Jason colocou. — É mais irresponsável?
— Instabilidade. — disse Robin. — Morte. Guerra. E não entre Metamorfos. E não entre os Bandos. Assuntos de vampiros não são nossos assuntos. Nunca foram.
E esse é o atrito. — Ethan silenciosamente me disse. — Sua relutância em ir em frente.
Não, a relutância deles de se sacrificarem, sacrificarem suas famílias, em nosso nome, eu corrigi, mas mantive o pensamento para mim mesmo. Era uma decisão que eles tinham feito antes, durante a Segunda Limpeza. E mesmo simpatizando com os vampiros que tinham sido perdidos, eu entendi o desejo dos
Metamorfos de proteger a si mesmo do caos. Eu deixaria os filósofos decidirem se o que eles haviam feito tinha sido moralmente repugnante.
— A viabilidade desse mundo é assunto nosso. — Gabriel disse. — Os
Bandos são grandes. Redes sociais. Empresas. Interesses financeiros não era um assunto há duzentos anos. Mas eles são agora.
Tony colocou uma carta na mesa com um tapa decisivo, então puxou uma
nova da pilha.
— E quanto da sua nova atitude amigável tem a ver com os nossos camaradas de espadas, ali? — ele olhou para mim, com o lábio retraído, ódio e um tipo estranho de desejo em seus olhos.
— Especialmente a garota?
Gabriel ofereceu um rosnado baixo que fez os pêlos no meu cabelo se
arrepiarem. Eu segurei minha katana mais forte e olhei de volta com uma ameaça que não precisava fingir.
— Porque você é um visitante nessa cidade. — Gabriel disse. — Eu vou
oferecer a você uma oportunidade de se desculpar com Merit, comigo, e com Tonya.
— Minhas desculpas. — Tony cuspiu.
Gabriel revirou seus olhos, mas talvez em consideração à situação de Tony,
deixou passar. Ele olhou para Robin. — Infantilidade de lado, eu entendo seu ponto, irmão. Eu somente trago o assunto para os Bandos. Eles decidirão como desejarem.
O quarto ficou silencioso. Depois de um tempo, Robin assentiu. Jason seguiu o gesto.
Passou um tempo longo e quieto antes de Tony falar novamente.
— Quando nós nos reunimos em Tucson. — ele disse. — Nós juramos aderir à regra dos Bandos. Deixar a maioria decidir o destino dos outros. — baixou o olhar para a mesa, balançando sua cabeça rudemente.
— Que droga, se tivéssemos pensado na possibilidade daquela decisão resultar em nossos filhos e filhas sendo mandados para a guerra.
Quando ele olhou para cima novamente, seus olhos giraram com algo profundo e insondável. Era a mesma revelação mística que eu tinha visto nos olhos de Gabriel quando nos conhecemos, bem antes de ele fazer uma observação críptica sobre nossos futuros interligados. De algum modo, era uma expressão visual de uma conexão às coisas que ele havia visto, os lugares que ele havia estado, as vidas que ele havia conhecido..., e perdido.
Eu não sabia o que ele tinha visto, ou porque sua reação foi tão forte. Eu
sabia o que estávamos pedindo para os Metamorfos – Gabriel tinha explicado bem o bastante na noite anterior. E Gabriel tinha mencionado as reclamações dos humanos infelizes sobre as sanguessugas entre eles. Mas havia uma fenda bem grande entre reclamações e violência, e nós ainda não tínhamos chegando a esse ponto.
Independentemente da profundidade da sua emoção, ou o quanto não
autorizado seu medo parecia hoje, ele também parecia entender que os números estavam contra ele. Finalmente, ele cedeu com um aceno.
— Nós nos reuniremos daqui a duas noites. — Gabriel concluiu. — Nós
vamos oferecer uma solução, ficar ou retornar, e vamos deixar as cartas caírem onde devem.
ConPack estava decido, então o jogo recomeçou.
Eles jogaram cartas por quase duas horas, duas horas quase silenciosas, na qual suas decisões de convocar ou dobrar ou erguer foram às únicas palavras ditas. Ethan e eu ficamos atrás deles, um Mestre vampiro e um guarda novato, assistindo quatro Metamorfos jogando em um quarto dos fundos surrado de um bar cheio de repolho.
— Como havíamos concordado para a reunião. — Gabriel disse; seu olhar
nas suas cartas quando ele interrompeu o silencio.
— Se a decisão tomada é ficar em Chicago, pode ser hora de considerar uma aliança com uma das Casas.
Eu senti o puxão afiado de magia ao redor do quarto, e ela não era
completamente de Metamorfos. Quando eu olhei para Ethan, seus olhos estavam arregalados, seus lábios separados. Havia esperança na sua expressão.
— Nunca houve uma aliança entre Bando e Casa. — Jason disse.
— Não formalmente. — Gabriel concordou. — Mas como uma colega
recentemente apontou; as Casas não tiveram os tipos de poder político e
econômico que elas têm agora.
Eu fiquei um pouco mais ereta, percebendo que eu havia sido a colega a quem ele estava se referindo.
Jason inclinou sua cabeça para o lado. — Você está sugerindo uma aliança
que realmente nos beneficiaria, e não somente os vampiros?
— Eu estou sugerindo que se nós ficarmos; amigos serão inestimáveis. Eu imagino que as Casas estariam dispostas a considerar esse tipo de ideia. — Gabriel olhou para Ethan, que estava tentando muito, eu podia dizer, não parecer muito impaciente.
— Não, você está sugerindo que nós façamos algum tipo de arranjo permanente com vampiros. — Tony literalmente jogou as palavras, a magia ao redor dele se tornando apimentada, vigorosa, como se sua fúria mudasse seu sabor.
— O mundo está mudando. — Gabriel contrapôs. — Se nós não acompanharmos, nós arriscamos acabar como os Duendes; criaturas de sonhos e fantasias e contos de Fadas. Ninguém pensou que eles teriam tal fim, pensaram? E no fim, correr de volta para a floresta não os salvou.
— Não somos fodidos Duendes. — Tony murmurou. Aparentemente cheio de pôquer e políticas de vampiros, ele jogou suas cartas na mesa, e se levantou. Eu segurei minha katana mais forte, mas Ethan gesticulou para eu recuar.
— Reunião é uma coisa. — ele disse, pressionando um dedo na superfície
da mesa para dar ênfase. Raiva passou em seus olhos como um fogo recém-aceso.
— Mas eu não vou bancar o legalzinho com os vampiros, eu não vou perder minha família, porque você sente culpa por algo que aconteceu há duzentos anos, algo que nenhum de nós estava envolvido. Foda-se isso.
Tony juntou suas mãos e as jogou para cima como um comerciante, deixando a mesa. Então ele desapareceu pela porta de couro vermelho, deixando-a balançando raivosamente atrás dele.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora