O Inimigo do meu amigo é meu... Iniamigo?

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Tony pode ter saído fora, mas ele deixou um rastro grosso de tensão atrás dele. Nós todos olhamos para o Gabriel, esperando pela sua direção.
— Deixe-o ir. — ele disse, e então começou a empilhar as cartas que o Jason e o Robin haviam deixado em cima da mesa. — Ele vai se acalmar.
— Ele normalmente se acalma. — Jason murmurou, e eu presumi que esta não era a primeira vez que o Tony havia dado um chilique. Suas preocupações eram compreensíveis, os riscos eram reais. Mas o drama todo não estava ajudando.
— Eu não sei. — Robin disse, seus olhar sombrio na porta. — Mas isso
parece diferente.
A porta se abriu novamente, e um homem que possuía o mesmo cabelo com mechas do sol e os olhos dourados olhavam para dentro, uma divertida sobrancelha arqueada. Ele usava uma confortável camiseta preta e jeans, seu corpo longo e magro. Seu cabelo era na altura dos ombros e era um tom mais loiro que o do Gabe, mas o seu pelo facial de uma semana era um tom mais escuro. Deixando essa diferença de lado, não havia como negar a semelhança. Ambos tinham olhos profundos e rostos brutalmente bonitos, e ele exalava a mesma aura de poder e de masculinidade não adulterado. Este era um Keene mais novo, eu supus.
— Confusão, mano? — ele perguntou.
— Drama. — Gabriel respondeu, e então olhou para nós. — Ethan, Merit, este é o Adam. Adam, Ethan e Merit. Adam é o mais novo dos irmãos Keene.
— O mais novo e de longe o mais suave. — Adam disse, conferindo o Ethan e depois eu. Quando ele chegou em mim, eu vi um lampejo de interesse em seus olhos, a apreciação pelo couro elegante e o aço desembainhado. Seu olhar se
levantou, encontrando o meu, e eu senti o mesmo soco de poder e história que eu tive quando conheci o Gabriel. Mas o soco do Adam, talvez porque ele fosse mais jovem, possuía um toque mais verde, cru.
De qualquer forma, levei um momento para arrastar o meu olhar do Adam Keene e daqueles hipnóticos olhos, e eu obtive um olhar de repreensão de olhos verdes quando eu finalmente os olhei.
Bem, repreensão e ciúmes.
Eu arqueei uma sobrancelha de volta para o Ethan, e então me virei para o
Gabriel.
— Irmãos?
— Eu sou o mais velho. A mamãe queria uma família grande, e ela pensou que seria engraçado se nós fôssemos nomeados alfabeticamente. Ela foi até o bebê Adam, aqui, antes que ela aprendesse.
— Olá, bebê Adam. — eu disse.
Ele sorriu; uma covinha profunda se formando do canto esquerdo de sua
boca. Meu estômago hesitou um pouco.
Ah, sim. Este aqui era perigoso.
— Se acalme garoto. — Gabe disse.
— Se ela tiver que ser conquistada por um Keene, não vai ser você. Ele olhou de volta para mim e piscou. Se eu não tivesse visto ele com a sua esposa e futuro filho e não soubesse que ele era felizmente casado, eu teria pensado que ele estava flertando comigo. Mas, eu presumi que ele estava só se mostrando para o irmão menor.
Sem avisar, Gabriel empurrou a sua cadeira e ficou de pé, e então andou até a porta de couro vermelha. Sua expressão era severa. Confusa, eu olhei para o Ethan. O que está acontecendo? Eu silenciosamente perguntei para ele. Ele olhou para a porta por um momento e, pela primeira vez desde que eu o conheci, parecia incerto sobre o protocolo.
Mas então outros Metamorfos seguiram o Gabriel de volta para o bar, Ethan seguiu. Eu segui em fila atrás dele. Nós encontramos os alfas e o irmão menor na janela da frente do bar, seus ombros largos de costas para nós, os olhares deles na rua escura do lado de fora. O bar estava silencioso – a música agora desligada – e a linguagem do corpo deles era tensa, a magia no ar pinicava e se debatia como se eles estivessem esperando que algo fosse acontecer.
— Robin? — Gabriel perguntou, sem se virar para encará-lo.
Robin balançou a cabeça.
— Eu não o sinto. Eu não sinto ninguém.
— Eu não gosto disso. — Gabriel disse. — Algo está estranho. E está muito
quieto aqui.
— Sentinela. — Ethan disse. — Você está sentindo alguma coisa?
— Que tipo de coisa? — eu perguntei.
— O Metamorfo que saiu. — Gabriel disse. — Você o sente..., esperando?
Eu fechei os meus olhos, e com alguma trepidação eu baixei minha guarda contra os sons e cheiros do mundo. Eu mergulhei em uma grossa e quente coberta de sensações, de magia latente, do calor e do cheiro dos corpos próximos.
Mas não havia nada de anormal. Nada fora do comum – presumindo que um bar cheio de Metamorfos cheios de magia muito intensa vazando deles fosse comum.
— Nada. — eu disse, abrindo os meus olhos novamente. — Não há nada
anormal lá fora.
Eu falei muito cedo. Foi então que eu ouvi – o murmúrio de canos de escape.
O cabelo na base do meu pescoço ficou de pé, algo no ar do lado de fora de repente atiçando meus instintos vampíricos, algo que vibrava o ar de uma maneira que não dava para explicar pelo ronco do porco. Um cheiro enchia o ar - o forte, adstringente queimar dos gases de escape e mais alguma coisa..., pólvora?
Talvez por causa daquela última dose de treinamento, minha boca e corpo
estavam se movendo antes que o meu cérebro tivesse uma chance de acompanhar.
— Se abaixem! — ordenei, dando os passos necessários para frente, minhas mãos nos ombros deles, empurrando-os para baixo, e quando eles não se moveram, eu gritei novamente. Eles atingiram o chão na mesma hora que o martelo bateu lá fora, milissegundos antes das balas arrebentarem o vidro da janela panorâmica. Adam havia caído em cima do Gabriel, seus braços em um
casulo protetor em cima da cabeça do Gabriel. Ethan havia feito a mesma coisa comigo. Seu corpo sobre o meu, seus braços em cima da minha cabeça, seus lábios em minha orelha. O contato me fez tremer com desejo, até o caos se espalhar ao nosso redor. E eu não estava contente pela inversão de papéis; eu era a segurança dele, afinal de contas. Eu tinha que proteger ele. Mas a minha posição como Sentinela não o impediu de me envolver com o seu corpo e gritar, - Fique parada! - mesmo eu lutando embaixo dele, tentando reverter nossas posições para mantê-lo fora de qualquer perigo.
Fique quieta. Ele silenciosamente repetiu, enquanto eu me acotovelava no chão, encoberta pela sensação e o calor e o perfume dele.
— Que porra é essa? — Gabe gritou, sua voz grossa com fúria, magia
salpicando o ar cheio de fumaça e vidro.
— Todo mundo atrás do bar! — Jason disse, olhando para cima, a mesma
ameaça nos olhos. Eu havia apenas visto dois Metamorfos bravos: Nick
Breckenridge e seu pai, Michael. Naquela época, eles estavam putos comigo e o Ethan, pensando que nós oferecíamos uma ameaça contra eles. Eles estavam protegendo a família, instinto de Metamorfo. Agora eu via a mesma ferocidade nos olhos do Jason – a raiva ao ser ameaçado, a necessidade de proteger a família.
Eu acenei para o Jason, puxando uma das mãos do Ethan comigo, e dei um
empurrão instrutivo no corpo dele.
— Bar. — eu gritei para ele enquanto as balas continuavam a chover ao nosso redor, uma tempestade de aço. A proximidade delas me formigando os meus instintos ainda mais, fazendo-me querer lutar e caçar – e não só porque o meu Mestre, aquele que me fez, estava na linha de fogo.
Não, eu queria lutar porque eu era um predador, dois meses desde a
primeira vez eu sentia o sujeito do voe-ou-lute. Eu temperei a minha espada com o meu próprio sangue..., e eu estava pronta para alimentar aquele aço com o sangue de outro.
Ethan manobrou o seu corpo para longe do meu, e então me deixou puxá-lo para ficar de pé. Nós meio que corremos, meio que nos arrastamos para o bar, e então caímos atrás dele, nos movendo para o final para dar espaço aos Metamorfos para se juntar a nós. Eles se arrastaram atrás, e então colocaram suas costas no bar, sacando armas para responder a cavalgada de balas.
— Guardem as armas! — Gabriel disse no meio da escuridão. — Isso vai ser
o suficiente para chamar a atenção da porra da polícia. Nós não precisamos que as nossas balas sejam analisadas também.
Armas foram devidamente abaixadas, mas os celulares rapidamente o
substituíram; ligações foram feitas, eu presumi, para as matilhas dos respectivos alfas. Eu me virei para o Ethan, dando uma olhada em seu corpo. — Você está bem?
Eu silenciosamente perguntei para ele, e então levantei o meu olhar para os seus olhos. Eles tinham ficado pratas.
Meu estômago se afundou, meu primeiro pensamento era que um dos Metamorfos havia sido atingido e o Ethan estava se transformando. Não havia uma hora pior para uma mordida. Mas então ele levantou uma mão para a minha bochecha, suas pupilas prateadas verificando o meu rosto, como se ele estivesse se assegurando que eu estava bem.
Eu estou bem, eu disse para ele.
Foi aí que o Gabriel, do meu outro lado, soltou uma linha de palavrões. Eu imediatamente olhei para a esquerda oferecendo meu próprio julgamento – Berna havia surgido de uma porta do outro lado do bar, choque na sua expressão.
— Que infern...
Alguém gritou.
— Berna. — abaixe-se! Volte!
Ela olhou na nossa direção, mas ela estava muito surpresa para processar a ordem, mesmo enquanto as balas voavam pelo ar. Alguém tinha que alcançá-la.
Alguém com velocidade.
Eu estava de pé e me movendo antes que o Ethan pudesse me parar,
pulando por cima dos alfas no meu trajeto para o lado dela. Balas ainda se apressavam entre nós – o atirador bem armado e aparentemente preparado para um ataque prolongado, mas eu os ignorei.
Afinal de contas, eu era imortal.
Ela não era.
Eu senti o rasgar das balas enquanto eu corria em direção a ela, dor igual a uma faca quente rasgando a pele e o músculo. Havia pânico nos olhos dela quando eu a alcancei, uma nuvem de um medo extremo marcando a sua localização no bar.
Tenho certeza que os meus olhos ficaram pratas, não de fome, mas da adrenalina – e a visão disso deve ter assustado ela. Mas nós precisávamos nos mover, e eu não tinha tempo para acalmar ninguém.
Eu também tinha menos de um segundo para decidir se eu movia ela de volta para o local de onde ela tinha saído ou levava ela para o bar. Eu não tinha ideia para onde – ou para quem – aquela porta levava. Para a cozinha? Para a saída traseira? Se fosse, haveria um ataque secundário ao prédio?
Não, obrigada. Eu optei pelo bar e os demônios que já conhecia. Eu me
coloquei entre o corpo da Berna e a janela, e então usei a velocidade e a força que eu havia sido dada para meio correr, e meio levá-la de volta para o bar.
Quando nós nos enfiamos atrás da barricada, eu a coloquei no canto, que eu pensei oferecer mais proteção das balas que ainda voavam. Ela olhou para mim, seu rosto pálido, mas a sua expressão só parecia irritada. Sangue floresceu de seu ombro.
— Tiros! — ela disse, repuxando o seu queixo em direção ao machucado.
— Em mim!
Eu ignorei a picada interna de interesse, a angústia repentina de fome que apertou o meu estômago. Não era só o sangue, era o sangue de Metamorfo. Como a diferença entre o suco de tomate e um Bloody Mary*, o cheiro carregando um cheiro penetrante extra de algo, algo animalesco. Algo inebriante.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora