O que acontece em Chicago... Fica em Chicago.

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Despertei de repente, ajeitando-me para cima em minha cama no quarto da Casa Cadogan, em meio a um monte de livros sobre Metamorfos americanos. Tirei a longa franja do rosto, percebendo que eu havia dormido de novo no meio da minha sessão de estudos. Isso era o difícil de viver durante a descida e subida do
sol, tratava-se de uma profunda, vertiginosa diminuição na inconsciência quando o sol começava a surgir, e um disparo quando o crepúsculo caia novamente.
― Bem vinda à vida dos vampiros. ― murmurei em voz alta, uma saudação que um ex-amigo - um ex-namorado – havia me dito uma vez. Organizei os livros em pilhas em minha cama, me coloquei de pé e me estiquei. Pelo menos tinha pensado em vestir o pijama antes de cair na inconsciência, minha blusa de –LICENSA PARA FERIR – ergueu-se quando levantei meus braços sobre a cabeça enquanto me espreguiçava. A blusa laranja não combinava exatamente com os shorts azuis que eu vesti, mas quem ia vê-lo? No que me diz respeito, dormir com
feios e desconfortáveis trapos era uma das principais vantagens de estar solteira.
E eu estava definitivamente solteira.
Havia estado realmente sozinha por um tempo, se não contasse as poucas semanas que passei quase saindo com Morgan. Havia “ganhado” o direito a sair comigo ao desafiar Ethan diante da metade da Casa Cadogan, Noah e Scott Grey.
Tínhamos tido uma série de meios encontros então. Infelizmente, enquanto o “meio” era final da minha parte, Morgan parecia ser o – todo dentro – desde o primeiro momento. Eu não sentia o mesmo e ele estava convencido que minha reticência tinha algo a ver com minha relação, física e vice versa, com Ethan. Podia
admitir que Ethan estivesse em minha mente, mas do que me fazia sentir
confortável, mas chamar a nossas interações de uma “relação” era como chamar a uma equipe de Softball de escritório de filhotes. Os morcegos se balançavam do mesmo jeito, mas simplesmente, não era o mesmo.
Tendo-me esticado, olhei para o relógio com alarme. Estávamos em meados de Junho, por isso os dias eram cada vez mais longos e minhas horas de consciência diminuíam um pouco a cada dia até que o solstício de verão* fizesse click no relógio até a outra direção.

(*Solstício de verão: Ocorre em 21 ou 22 de Junho e continua o verão no hemisfério norte e inverno no sul.)

Calculando que poderia atrasar minha inevitável sessão de treinamento com Ethan apenas por um tempo, coloquei as pilhas de livros no chão e em seguida os meus pés.
Não me preocupei em tomar banho já que ia treinar com Ethan, mas troquei meu sutiã para um esportivo e calças de yoga, e depois vesti uma camiseta justa de Cadogan. Eu estava com fome, então me dirigi ao café da manhã antes do treinamento porque não queria parecer em minha mínima capacidade para o treinamento.
Quando estava vestida, calçada e com minha Katana em mãos, peguei as
escadas para o quarto de Lindsey no terceiro andar. Ela havia se tornado minha companheira de comida. Seu quarto também era onde eu passada o tempo depois do trabalho. O valor da má televisão depois de uma noite de drama sobrenatural não deveria subestimar-se. O “indiscutível” tinha seu papel na vida de um vampiro.
Lindsey estava parada diante de sua porta aberta e com o celular na mão
quando cheguei. Já que ela era a residente psíquica do corpo de Guarda, supus que tinha adivinhado que eu me dirigia até ela. Ao contrário de mim, ela estava vestida com seu traje preto Cadogan, com o cabelo longo e loiro preso em um rabo de
cavalo elegante e baixo na base de seu pescoço. Dobrou um dedo para mim, então se dirigiu para dentro novamente.
— Bebê, eu tenho que ir. Minha companhia de café da manhã está aqui. Conversamos mais tarde. E não se esqueça dessas calças que eu adoro. Não. As de látex. Ok. Abraços. Adeus. — fechou o celular e depois me olhou, sorrindo ao que tenho certeza, era a expressão de horror em meu rosto.
Realmente eu não conseguia pensar em uma só coisa para dizer. Mas tinha mudado meu parecer, fora da cabana de amor Carmichael/Bell para a Casa de látex. Quero dizer, eu sabia que Lindsey tinha estado flertando com Connor. Era, assim como eu, um vampiro novato de Cadogan.
Mas “látex” não era uma palavra que precisava ouvir tão cedo da noite.
— Não posso acreditar que você não esteja me apoiando. — disse ela, com
seus olhos em branco. Colocou os chinelos pretos enquanto deslizava seu telefone no bolso de uma jaqueta.
— Eu..., eu te apoio. Yep, Lindsey. — meu tom era calmo, mas dei-lhe um
meio pedaço de ondulação.
Uma vez que estava calçada, colocou suas mãos na cintura, uma sobrancelha levantada.
— Encontrei o amor da minha muito longa e imortal vida, e tudo o que
consigo é “Yep Lindsey”? Que amiga você é?
— O amor da sua vida? Connor? Tem certeza? — desta vez minha voz
realmente arranhou.
Mordeu o canto de seu lábio como uma adolescente apaixonada, e depois colocou uma mão sobre o coração.
— Eu tenho certeza.
Nós ficamos em silêncio durante um minuto.
— Yep, Lindsey. — eu disse mais uma vez, quando as palavras me faltaram.
Ela suspirou e colocou os olhos em branco.
— Bem, bem. Não vou ter um luxurioso caso amoroso com um quente, inocente novato. Essa era minha tinturaria ao telefone.
Resisti a tentação de lhe perguntar como iria ela explicar “látex ” da próxima vez que falasse com sua tinturaria... Por outro lado, na verdade isso funcionaria.
— Graças a Deus. — eu disse. — Eu estava tendo uma volta ao passado
sobre Mallory e Catcher.
Ela me empurrou pela porta, depois a fechou atrás de nós. Começamos a
caminhada até o primeiro andar e ao Buffet de Cadogan.
— É realmente tão ruim? Quero dizer, Bell é quente. K-E-N-T-E, quente.
— Tão quente que você perdeu a noção sobre a ortografia?
— Yeap. Quente como a superfície do sol.
― Você sabe quem mais está quente? — eu perguntei.
— Não me diga. Luc.
— Oh! Meu Deus. — eu disse, colocando minha mão contra o peito com fingida surpresa.
— Você é psíquica.
Resmungou como fazia cada vez que dizia o nome do garoto que ela
deveria ter perseguido. Não é que eu fosse intrometida..., mas eles ficariam muito bem juntos.
E então ela atirou a artilharia pesada.
— Estarei pronta para discutir sobre Luc com você. — disse enquanto corria pelos dois lances de escadas até o andar principal. — Quando você estiver pronta para falar de seu plano para prender o segundo loiro mais bonito na Casa.
— Luc é o primeiro em sua eleição?
Lindsey bufou e depois tirou seu próprio rabo de cavalo. — Alô?
— Bom, não importa como você o ache, não tenho planos para prender a ninguém.
Pegamos o longo e principal corredor até a parte posterior da Casa, onde a
velha cafeteria-escola estava localizada. Mesas de madeira e cadeiras com encosto de couro estavam colocadas diante de um Buffet de aço inoxidável onde os
vampiros podem se servir por si mesmo. Não havia um pedaço de queijo fundido ou um pastel envolto em celofane a vista.
— Uh-huh. — disse Lindsey, liderando o caminho até o Buffet. Colocou-se na fila atrás de uma dúzia de vampiros Cadogan, todos vestidos de preto. A sala estava cheia deles, vampiros se preparando para uma noite de trabalho na Casa ou uma noite na Cidade do Vento. A Casa Cadogan se assemelha a uma companhia da
cidade, alguns dos vampiros eram empregados da Casa, como os Guardas, enquanto que outros trabalhavam na área metropolitana de Chicago e contribuíam com uma parte de suas admissões a Casa (Os vampiros da Casa Cadogan ganhavam uma remuneração por serem membros da Casa, portanto o trabalho não era tecnicamente necessário, mas os vampiros gostam de ser produtivos.)
De trezentos e dezoito vampiros da Casa (tendo perdido a Peter e a Amber), apenas em torno de um terço deles realmente vivem na Casa. O restante vive em outras partes, mas mantêm sua afiliação, tendo jurado seus Juramentos a Ethan e a sua fraternidade dentuça.
Lindsey e eu nos movemos lentamente através da fila, empurrando as bandejas de plástico ao longo do balcão de aço e pegando comida e bebida enquanto passávamos. Como eu já tinha lutado ontem e estaria lutando de novo
em alguns minutos: um pouco de sangue tipo O, e proteína (satisfeita pelas salsichas e hambúrgueres) e uma dose de carboidratos sólidos. Peguei um par de bolinhos de uma travessa quente e os coloquei em minha bandeja antes de agarrar um guardanapo e talheres e seguir Lindsey até uma mesa.
Sentou-se junto a Katherine e Margot, duas vampiras que havia conhecido
da primeira vez no quarto de Lindsey, em uma noite de pizza e reality show na TV.
Elas sorriram a medida que nos aproximamos, e arrumaram suas bandejas para se assegurar que tínhamos espaço para nos sentar.
— Sentinela. — disse Margot, empurrando uma mecha de seu brilhante cabelo curto, para trás da orelha. Ela era absolutamente linda, com cabelo castanho escuro que se dobrava em um ponto sobre sua testa, e longos olhos cálidos, cor uísque que teriam sido igualmente adequados em um tigre sedutor.
— Treinando está noite?
— Efetivamente. — eu disse, deslizando em uma cadeira e fazendo estalar um pedaço de biscoito em minha boca. — Depois de tudo, o que seria um dia na Casa Cadogan se Sullivan não pudesse me humilhar?
Lindsey assentiu com a cabeça.
— Ultimamente isso seria muito incomum.
— Triste, mas certo. — concordei.
— Você falava sério sobre a churrasqueira? — Katherine perguntou, seu cabelo longo e castanho caindo sobre seus ombros, uma mecha na parte superior caia para trás com um pequeno elástico. Kat é bonita de uma forma antiga – com seus grandes olhos e o rosto fresco de uma garota de alguma outra época. Ela tinha nascido em Kansas City, quando a cidade estava cheia de currais e gado. Seu irmão, Thomas, também era um membro da Casa.
— Mortalmente sério. As pessoas têm pedido uma mistura. — eu disse,
empurrando Lindsey com um cotovelo.
Ela soltou uma bufada e então tomou um gole de suco de laranja do copo.
— Não estou certa se você está consciente. — disse ela. — Mas não estou procurando mistura.
Todas nós paramos e a olhamos.
Margot curvou a cabeça.
— Isso é porque você se livrou de Connor, ou porque é um assunto oficial?
— Por favor, “se livrou”. — murmurei. — “Se livrou”.
Desta vez, ela quem me deu uma cotovelada.
— Já não somos um assunto. É só que ele é muito...
— Jovem? — as três perguntaram ao mesmo tempo.
— Às vezes. — ela disse. — Eu me pergunto como seria a vida como
vampiro sem todos esses vampiros ao redor.
Margot mostrou a língua para Lindsey.
— Sentiria muita saudade de nós. — eu lhe lembrei. — E sentiria saudade
de Luc. — ela ficou em silêncio.
— Não vou responder a isso. — ela disse finalmente.
Margot, Katherine e eu sorrimos uma para a outra, pensando que essa era
uma resposta suficiente.
Ethan já estava na Sala de Luta, já em suas calças Gi e uma jaqueta branca
com cinturão e com faixa de cor púrpura. Estava descalço no meio do Tatame, e com a Katana desembainhada em sua mão, lutando com um oponente invisível.
Levou a espada para trás dele, se virou e jogou a espada para trás, levou-a para cima, e a fez girar ao redor de sua cabeça. Quando a espada estava para baixo outra vez, ele executou um golpe de mariposa, pernas voando paralelas ao chão, a
ponta da espada seguindo uma mortal pontuação de movimento. Foi o
suficientemente rápido para que a velocidade de seus movimentos fosse nebulosos, fazendo dele uma neblina de cor branca e brilhante em meio as armas de aço e antiguidades de madeira da sala.
Era uma coisa para se contemplar, era Ethan Sullivan.
Lutou sozinho durante mais dois ou três minutos, então parou de joelhos, com a espada prateada diante ele.
Tirei minha camiseta Cadogan, e depois me situei na beira do tatame.
Levantou seu olhar para mim e nós ficamos por um minuto apenas nos
olhando.
Ethan sacudiu a cabeça. Colocou-se de pé e se moveu para mim.
— Você tem plateia, Sentinela. — ele disse em modo de advertência, como se tivesse havido um risco de que o agarrasse bem aqui no meio do chão da Sala de Luta.
Resmunguei. Já havia lhe dito “NÃO”, antes. Poderia fazê-lo de novo.
Mas isso não significava que estivesse emocionada em estar exposta de
novo. Levantei os olhos para o mezanino. Não era ts5o ruim como uma “platéia”,
apenas uma dúzia de vampiros nos assentos, mas isso era uma dúzia a mais do que o necessário.
— Maravilhoso. — murmurei. Comecei a deslizar a espada de sua
bainha, mas ele negou com a cabeça.
— Não há necessidade de desembainhar. Você não precisará de sua espada.
Deslizei a espada de volta e o olhei confusa. Imaginava-se que íamos
continuar de onde Catcher e eu havíamos parado. Já que claramente eu precisava trabalhar em minha técnica com a espada, tinha imaginado que era de onde tínhamos que começar. Agora estava simplesmente confusa.
Ethan voltou a embainhar sua espada e a colocou sobre o tatame, então
estendeu sua mão. Quando eu lhe entreguei minha bainha, fez o mesmo com ela.
Parou de novo e curvou a cabeça, sinalizando para alguém atrás de mim.
— Luc, por favor.
Eu não tinha percebido que Luc estava na Sala, então virei para
cumprimentá-lo. Mas antes que eu pudesse encontrá-lo, as luzes se apagaram, literalmente. A Sala estava de repente as escuras.
— Ethan?
— Estamos trabalhando a sua habilidade diferente hoje. — disse sua voz se afastando.
Apertei os olhos fechados, esperando que isso me ajudasse a me adaptar a
escuridão, voltei a abri-los quando ouvi seus passos me cercando. Devido a eu ser um Predador, minha visão era melhor do que normalmente poderia ter sido na escuridão, mas eu ainda não podia ver muito.
Assim foi como me surpreendi com um chute rasteiro que me enviou
através da extensão do colchonete.
— Sullivan! Que demônios? — do meu novo ponto no chão, tirei o rabo de
cavalo do meu rosto e me impulsionei de pé com as mãos. Coloquei-me de pé, mantendo meu corpo inclinado, minhas mãos a minha frente, meus joelhos flexionados, no caso de se precipitar de novo.
— Deve aprender Sentinela, a antecipar.
Coloquei meus olhos em branco. A primeira vez que o havia enfrentado, ele havia empregado todos os movimentos de Matrix. Agora estava usando Star Wars para as técnicas. Ele realmente não tinha algum método original em sua cabeça?
— E como posso antecipar?—  perguntei.
— Temos discutido o melhoramento dos seus sentidos depois de ter
completado a mudança.
Não respondi. Não sabia bem qual era sua visão, mas não ia delatar minha
posição e lhe dar outro golpe fácil. Sem demora, podia ouvi-lo se mover ao meu redor, esgueirando em circulo como um gato grande preparando para atacar.
— Tem trabalhado durante a semana passada em isolar o ruído do
ambiente. Para manejar o aumento da sensibilidade da sua audição, visão, e olfato.
Certamente, tanto conhecimento pode ser uma grande distração. Mas é um
vampiro. Deve aprender a utilizar todos os seus sentidos, para usar esse ruído, essa informação, ao seu favor.
Ouvi o chicote de sua calça ao arrancar. Agachei-me quando o algodão sibilava por cima da minha cabeça.
Então ouvi o suave golpe de seus pés quando aterrissou.
— Bem. — disse. — Mas não apenas se defenda. Ataque.
O ouvi se afastar. Levantei-me de novo e assumi a posição defensiva básica de novo. Se me convertia em membro da Guarda Vermelha, seria assim como Ethan e eu nos encontraríamos? Lutando no amparo da escuridão? Não inimigos de tudo, mas não amigos de tudo? Tenho adiado minha decisão sobre a Guarda Vermelha. Provavelmente era tempo de me dar um momento para pensar...
Mas não antes de ter aproveitado esta oportunidade para lhe chutar o
traseiro.
O ouvi caminhar ao meu redor, girando de novo, esperando seu momento para atacar. Podia ouvir tão bem como eu podia? As luzes estavam acessas para ele, metaforicamente, por isso podia detectar meus movimentos?
Bom, se podia ou não. Não importava, era meu turno. Dei a volta para
esquerda, dois ou três pés atrás de mim. Esperei até que ele estivesse a seis em ponto, desviei meu peso, levantei o joelho esquerdo, e dei um chute de revés feroz.
Poderia tê-lo golpeado se não houvesse antecipado meu movimento por completo e se houvesse deixado cair por debaixo do meu chute. No momento em que dei a volta e levei meu chute para baixo, se virou para cima e fora com um chute baixo. Não tive tempo para reagir, e assim como ele havia feito na primeira vez que o desafiei, tirou meus pés debaixo de mim. Golpeei a esteira de novo.
— Outra vez. — disse na escuridão.
Silenciosamente murmurei uma maldição, mas me levantei de novo. Desta vez, sem esperar que se preparasse. Quando o ouvi a minha frente, girei meus quadris e lancei um chute circular em sua cabeça. Falhei, mas o ouvi cambaleando para trás, seus pés tropeçando através do tapete enquanto se esquivava do movimento.
— Tão perto. — murmurei.
— Muito perto. — disse. — Mas assim é melhor. Está escutando os movimentos, o qual é bom. Mas isso não é tudo o que pode fazer. Luc. — disse de novo, meu coração batendo mais forte, me perguntando o que mais tinha reservado. Amarrar minhas mãos? Encher a habitação com água?
Luc respondeu um segundo mais tarde, desta vez com um som. Uma
cacofonia de ruídos, pessoas falando, gritando, assobiando, tocando coisas, chiados - começaram a chegar à sala. Foi muito ensurdecedor, o baixo foi forte o suficiente para sentir a vibração nos ossos, fazendo eco das batidas do meu coração.
Ethan nem sequer me deu um momento para me acostumar. Ele golpeou, mas havia subestimado minha localização, e seu punho rebateu em meu ombro, claro, ele continuava sendo um vampiro Mestre; e ele golpeou de toda forma. Se houvesse estado mais próxima dele, teria quebrado um osso. Perguntava-me se o som era uma distração pra ele, também.
Um segundo depois, estava em minha cabeça.
Não pode confiar apenas no som. — disse. — Deve silenciar os ruídos, ser
capaz de sentir ao inimigo ao seu lado, ser capaz de combater, inclusive na mais absoluta escuridão.
Como se supõe que aprenda isso? — perguntei em resposta, trocando meu peso da frente para trás enquanto esperava que atacasse de novo.
É uma predadora noturna. — disse. — Não precisa aprender a fazê-lo.
Apenas precisa aprender a confiar em si mesma.
Estava nesse caminho, esperava.
Tomei um momento e fechei os olhos. Tecnicamente, isso não tinha sentido, devido a profundidade da escuridão na sala, mas ajudava psicologicamente, como se estivesse trabalhando ativamente para deixar fora o ruído. Meus olhos fechados; concentrei-me no ruído e trabalhei para construir meu bloqueio mental.
Mas não tinha tempo para fazê-lo. Ele estava em mim outra vez. Desta vez,
pegou, mas não com o objetivo de me machucar, era uma piada. Seu punho golpeou meu ombro esquerdo, mas antes que pudesse me sacudir, havia ido. Logo seu calcanhar pegou minhas costas, não com força suficiente para me derrubar, mas com força suficiente para me empurrar. Tropecei para frente, agitando os braços enquanto tentava não tropeçar com meus próprios pés.
Graças a Deus, as luzes estavam apagadas. O Mestre Vampiro caçoando do Novato teria sido um bonito espetáculo cômico.
Não está se concentrando. — disse em silêncio, sua voz soando a uma
buzina de caminhão. Minha pele estava começando a picar de irritação. O som era muito forte, e estava escuro, e estava sendo empurrada por um Vampiro Mestre
que se baseava em filmes de ação para me ensinar a lutar.
Estou fazendo o melhor que posso. — lhe assegurei.
Chutou outra vez, a parte posterior de seu pé golpeando meu lado. Parei sua perna com meu antebraço, mas havia se afastado sem contato efetivo. Havia me esquecido de sua velocidade.. o fato que pode se mover com eficácia sobrenatural.
Era rápida em Katas, claro, mas esses eram movimentos praticados. Como
obviamente nós sabíamos combater era completamente um tipo de instinto animal.
Eu já vi você fazer melhor. — respondeu.
Uma cosquinha de magia se levantou no ar, talvez relacionado com o tom
brincalhão de suas palavras. Senti o formigamento - como uma brisa no ar - através do meu rosto.
Estava de pé diante de mim.
Levou-me um segundo para me dar conta do que havia feito - havia
determinado o lugar onde estava parado não com minha audição, nem com a vista..., sim com a magia. Deveria tomar vantagem.
Lancei um punho, mas me bloqueou com seu antebraço. Antes que pudesse protestar se voltou, e tinha suas costas contra a minha, sua mão estava em meu braço e usou como alavanca para me tirar do chão.
E ali estava eu, plana sobre minhas costas de novo.
A caída não havia sido especialmente dura, mas era o suficientemente dura para tirar o ar fora de mim. Quando pude voltar a respirar, ladrei uma maldição.
Você está apenas tentando. — foi sua resposta. Desta vez, não havia veneno em sua voz.
Levantei-me do chão.
Não sei o que você quer que eu faça.
Então ele estava diante de mim outra vez. Eu bati nele, mas ele segurou meu braço e me puxou para perto novamente. — Lute, porra.
Muito irritada para considerar a possibilidade de que ele havia me
derrotado, fiz exatamente isso. Girei meus pulsos para pegar sua mão e logo empurrei seu braço na altura do cotovelo. Voltei e logo usei meu peso corporal para empurrá-lo fora da balança e fazê-lo cair. Terminei o movimento, ele em um joelho.
Melhor. — afirmou, do solo, mas não houve muito tempo para
comemoração.
Antes que tivesse tempo de reagir, estava de pé novamente, me pegou em uma volta e terminei no solo sobre minhas costas.
Coloquei meus olhos em branco na escuridão.
Pronta para se render? — ele perguntou.
Não fiz caso de sua vantagem física e respondi com ação, levantando a perna esquerda em um chute de tigresa e usando a inércia para inverter nossas posições.
Consegui ficar por cima, mas não fiquei ali por muito tempo. Deu-me a volta outra vez, e logo o dei a volta novamente, e ali estávamos, dois vampiros, rodando pelo chão, como crianças. Fiquei grata de novo que as luzes estivessem apagadas e estar
fora da vista do resto da Casa (ou ao menos isso eu imaginei. Eram eles melhor que eu em ver na escuridão? Senão, estavam obtendo um espetáculo bastante mal.)
Finalmente consegui me livrar dele, logo me coloquei de pé e senti a ligeira vibração na esteira quando ele se colocou de pé. Nós nos rodeamos entre nós por um momento, mas quando levantei a mão para bloquear um golpe, que estava certa que se dirigia para minha cara, me agarrou o pulso, e logo me puxou para ele até que meu corpo estava ajustado contra a larga linha do seu.
Meu coração disparou.
Nós ficamos na escuridão, minha mente absorvida pela sensação de sua mão ao redor do meu pulso e a outra apoiada em minhas costas.
Ethan era alto o suficiente para que a parte superior da minha cabeça,
estava debaixo de seu queixo. Mantive meu olhar na altura de sua clavícula - com medo de que se olhasse para cima, ele utilizaria o movimento como desculpa para olhar para baixo. Nossos lábios se alinharem e seria o final para mim.
Lentamente - pouco a pouco – ele baixou a cabeça, seus lábios contra meu cabelo. Calafrios subindo por meus braços, meus olhos fechados; minha pele formigava com uma embriagadora combinação de luxuria e poder. Estávamos liberando magia outra vez, o nítido, brilhante cócegas dela enchendo o espaço ocupado entre Ethan e eu.
Foi então que meus olhos se abriram; ao me dar conta do que havia estado
tentando me ensinar.
Deixou me libertar as mãos e apertei uma palma contra seu peito para
empurrá-lo para trás alguns passos. Moveu-se de boa vontade e me deu espaço para aprender.
Não poderia ver na escuridão, e desde que não podia ouvir com o estridente ruído que nos rodeava..., mas justo como havia feito fazia um momento, pude sentir a magia no ar.
Esse golpe não havia sido um golpe de sorte. Detectar magia era uma forma
distinta de visão, mas era uma visão de todas as formas.
Ali, na escuridão, alguns passos diante dele, levantei uma mão e arrastei meus dedos sobre as correntes elétricas que nos rodeavam, sentindo os golpes e os picos de magia que se filtrava de nossos corpos. Podia sentir a mistura de nossa magia nodosa no espaço entre nós, e o lento desaparecimento da sensação causada pelos dedos esticados.
Deixei que meus dedos subissem e descessem enquanto a pressão mudava, não muito diferente de tirar uma mão fora da janela de um automóvel em movimento.
O mais importante, a corrente mudava a medida que ele se movia, criando uma cosquinha debaixo dos meus dedos. O senti se mover para minha direita, seu corpo reto enquanto me olhava e então direcionou um chute para meu rosto.
Era sua jogada favorita, e o havia levado a perfeição.
Deixei-me cair, e quando se aproximou de mim, ofereci meu próprio chute circular, um chute rasteiro que levou sua outra perna por debaixo dele.
Bateu no chão.
Como por sua ordem silenciosa, a música se apagou, e as luzes se
acenderam.
Pestanejei o vazio repentino do ruído e o brilho das luzes do teto.
A sala, o publico, estava completamente em silêncio, provavelmente absorvida pela imagem da Sentinela em seus pés - e seu Mestre no chão.
Eu não o chamaria de uma vitória. Depois de tudo, o único que realmente fiz foi deixá-lo sem equilibrio.
Mas isso era algo. Não era tudo, mas era um passo adiante.
Ethan pôs suas mãos atrás dele, levantou suas pernas, trocou seu peso e saltou sobre seus pés. Deslizou-me um olhar.
Traguei a saliva, não de tudo cômoda com ter posto ao meu Mestre no chão de novo, inclusive embora houvesse finalmente aprendido a lição que estava tentando me ensinar.
Logo sua expressão se suavizou.
— Melhor. — disse.
Inclinei-me respeitosamente, a estudante agradecendo ao professor por uma lição bem ensinada. Essa lição feita, já era hora de passar para a próxima crise.
— Quando nós vamos para a pré-convocação?
— Dentro de uma hora. Troque-se e me encontre no porão.
Assenti com a cabeça, logo me dirigi de novo a borda da esteira, agarrei a
camiseta, os sapatos, e o mais importante, minha katana. Supus que ia necessitá-la.

Mordida duas vezes 3Onde histórias criam vida. Descubra agora