PRÓLOGO

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Sabe aquelas cenas de filmes em que, de repente, o celular de todo mundo toca, avisando que uma nova mensagem chegou? Geralmente não é coisa boa, mas, ainda assim, todo mundo corre para ver porque a curiosidade sempre fala mais alto. Não que eu esteja julgando, afinal, eu era uma das que deixaram de lado as questões que o sr. Dawton nos passou para ver quem era a vítima da vez. A última, no ano anterior, havia sido uma garota da minha sala que saía dizendo por aí que esbanjava dinheiro e acabaram descobrindo que ela era na verdade bem pobre. Clichê? Sim. Cruel? Também, mas o ensino médio tem dessas coisas. Eu me lembro de passar horas imaginando como ela havia se sentido. Horrível, com certeza, tendo uma parte da sua vida - uma que ela não apreciava muito - exposta por aí por alguém que provavelmente não tinha muito o que fazer. Mas a realidade é que, mesmo depois de passar tanto tempo pensando nisso, eu estava bem longe de saber como realmente é. Ninguém nunca está preparado para algo assim.

No momento em que eu bati os olhos na foto, já senti os olhares se voltando para mim. Ouvi algumas risadinhas, sussurros, alguns "Uhhh", mas eu não conseguia parar de encarar aquela pequena imagem na tela do meu celular.

Primeiro eu senti um aperto no peito, uma dor tão forte que era como se alguém realmente estivesse enfiando a mão lá, puxando meu coração para fora e o esmagando. Depois raiva. Eu queria jogar o celular no chão, como se aquilo fosse fazer com que aquela foto não existisse. E então veio a pior delas, a decepção, que trouxe as lágrimas que eu lutei contra e não deixei cair. No final, foi como se tudo isso me atingisse ao mesmo tempo, eu queria matar ele, não queria ver ele nunca mais, queria ficar sozinha, trancada no meu quarto e chorar escondida.

Mas eu esperei. Esperei os 12 minutos que faltavam para que o sinal da saída tocasse. 12 minutos de olhares nada discretos, de sussurros que até tentavam, mas que eu ouvia cada palavra. Algumas eram de pena, outras zombativas ou achando graça da situação toda. Olhei rapidamente para Mark, meu amigo, sentado ao meu lado, e quando ele fez menção de que ia falar alguma coisa, eu balancei a cabeça para os lados, o impedindo. Naquele momento, eu só queria ouvir a voz de uma pessoa e não era a dele. Por isso, quando o sinal tocou, meu material já estava guardado e eu fui a primeira a deixar a sala, indo apressada para o estacionamento, onde sempre nos encontrávamos depois da aula.

Eu nem precisei procurá-lo. Logo que saí do pavilhão onde eu estudava, o avistei. Ele andava tão rápido quanto eu, expressão preocupada, postura tensa, olhando para os lados, provavelmente me procurando. Eu parei e logo ele me viu e se aproximou, hesitante. Fiquei olhando para ele com uma expressão vazia, sem dizer uma palavra. Ele demorou alguns segundos para se pronunciar, mas o fez, com a voz tremula, quase que num sussurro.

— Eu juro que posso explicar. - dei o sorriso mais irônico que consegui naquele momento, sem acreditar no que eu tinha acabado de ouvir. Não dava pra ser um pouquinho mais original?

— Não se dê o trabalho. A foto é auto explicativa, Thomas. - disse, seca.

— Não é o que parece, Jess! - soltei uma risada forçada. Era inacreditável.

— Ah não? Você vai me dizer que a Hailey fez uma montagem de vocês dois se beijando? Que aquilo nunca aconteceu? Nós dois sabemos que ela é burra demais pra fazer algo assim.

— Eu... - ele começou a falar, mas hesitou por um momento antes de terminar a frase. - Aconteceu, mas...

— Ótimo. - virei de costas e saí andando, já tendo ouvido tudo o que eu precisava. Mas não dei cinco passos e senti sua mão se fechar ao redor do meu braço, me impedindo de continuar.

— Jess, por favor, espera! - pediu e eu me virei novamente pra ele, me segurando para não meter a mão na cara dele.

— Tira a mão de mim! - exclamei, aumentando o tom de voz. Aos poucos, as pessoas iam parando para ver o que estava acontecendo. Notei nossos amigos juntos em um canto, olhando tudo preocupados e agradeci por não interromperem. Essa não era exatamente a nossa primeira briga e eles já sabiam que o bom era não se meter.

— Eu tiro, assim que você parar de fugir e conversar comigo! - bufei, puxando eu mesma o meu braço.

—Tá legal. Desembucha. - ele olhou ao redor, parecendo só então notar os olhares que se voltavam para nós.

— Será que dá pra gente ir conversar em um lugar mais privado? - perguntou.

— Não. - respondi simplesmente. Cruzei os braços no peito e olhei no fundo dos seus olhos, tentando mostrar para ele uma força que eu não tinha. Tentando esconder o quanto aquilo estava me machucando.

— Ok... - respirou fundo antes de começar a falar. - Você sabe que eu nunca te traí e que eu nunca faria isso.

— Tá falando sério? Caralho, Thomas, eu vi a porra da foto, você acabou de confessar, para de falar merda!

— EU PEDI PRA ME ESCUTAR, JESSICA! - ele gritou, sem conseguir se controlar. Eu não me assustava com aquilo e ele sabia disso. A verdade era que, depois de mais de dois anos, eu estava mais do que acostumada com os surtos dele. - Desculpa, eu... - "prometi que ia me controlar mais e não tô fazendo isso" se encaixava bem.

Ele levou as mãos à cabeça, puxando os fios de cabelo, como fazia desde pequeno quando estava nervoso. Eu sempre odiei aquilo, não queria que ele se machucasse, mas ali, eu achei ótimo. Queria que ele sentisse dor também, uma dor tão forte quanto a que eu estava sentindo.

— Você tem cinco minutos. Depois disso eu vou embora sem a sua explicação idiota. - seus olhos procuraram os meus e, quando encontraram, eu vi a dor. Eu não vou mentir, naquele momento, foi a visão do paraíso. Não parecia justo que só eu me sentisse uma merda.

— Não é uma montagem, eu realmente fiquei com ela. Mas foi em uma festa no sábado, você tinha terminado comigo, eu estava puto com você, acabei bebendo demais e aconteceu. Eu te amo tanto, nunca ficaria com uma garota estando com você.

Ouvir ele admitir o que tinha feito com todas as palavras doeu mais do que eu pensava que iria. Senti mais uma vez as lágrimas virem, mas, mais uma vez, não deixei com que acontecesse. Eu não daria esse gostinho a ele. Em vez disso, apertei meus lábios em uma linha reta e balancei a cabeça, continuando achando tudo aquilo inacreditável. Ele falava uma idiotice atrás da outra.

— Quando foi que eu terminei com você, Thomas? - perguntei.

— Sexta... - respondeu, hesitante.

— Você ficou com a garota que mais me irrita no universo um dia depois de terminar com a pessoa que você diz amar e você acha que tá tudo bem? - questionei, perdendo um pouquinho o controle também e falando mais alto do que eu pretendia. - É essa a merda de explicação que você tem pra me dar?

— Jess, me perdoa, por favor. Eu juro que não vai acontecer de novo. - foi tudo o que ele precisou dizer pra me fazer explodir. Eu tinha plena consciência do grande número de pessoas paradas acompanhando tudo, mas naquela hora eu não podia me importar menos com aquilo.

— Não! Para de falar, pelo amor de Deus, porque cada palavra que sai da sua boca só faz com que a vontade de te dar um soco no meio da cara aumente! Você fica com outra garota um dia depois da gente terminar, nós voltamos dois dias depois, você esconde isso de mim, espera que eu descubra junto com o resto do colégio, faz com que eu me sinta humilhada na frente de todo mundo e ainda espera que eu te dê uma segunda chance? Vai se foder, Thomas! Eu já aguentei sei lá quantas crises bestas de ciúmes suas sem nunca ter nem pensado em te trair, e você vai lá e se agarra com outra garota porque estava com raivinha de mim? Se eu fosse seguir o seu exemplo, eu já teria pegado a porra do colégio inteiro! Mas não, a idiota aqui pensou que, apesar de tudo, eu podia sempre confiar em você... Mas não é bem assim, é? Eu sempre deixei bem claro, traição eu não aceito, então faz um favor pra mim: não aparece mais na minha frente, não tente nem me dirigir a palavra, ou eu juro que vou fazer um belo estrago nesse seu rosto bonitinho.

Dito isso, virei de costas e saí andando para fora do estacionamento. Eu não sei dizer exatamente em que parte do caminho para a minha casa eu comecei a chorar, ou onde eu desisti de andar e me sentei na calçada e fiquei ali, sem saber o que fazer. Eu não me lembrava da última vez em que eu havia passado mais de uma semana sem ele por perto, a ideia dele estar completamente fora da minha vida me deixava meio perdida. Mas dessa vez não tinha volta. Eu não me importava se tinha sido só um beijo ou se eles tinham transado, traição é traição e eu com certeza não seria uma dessas que deixa alguém me fazer de boba e depois volta correndo pros braços dele. Isso não. Eu aprenderia a ficar sem ele, por mais impossível que aquilo parecesse naquele momento. Ele não era tão essencial assim.

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