ANTES DE TUDO, preciso avisar que esse capítulo não tá leve (e isso nem é a piadinha). Há abordagem de estupro e cenas fortes. Leiam com calma e, se acharem que não devem, não leiam, por favor.Tragédias acontecem o tempo todo, todos os dias.
Enquanto você toma seu café da manhã, centenas de pais, mães e filhos são mortos no Oriente Médio. Enquanto posta no instagram uma foto do seu almoço, dezenas de mulheres são agredidas por seus companheiros. Ao mesmo tempo em que você reclama pela demora do ônibus, crianças vivendo isoladas lamentam a chuva que vai impedir que o transporte as leve para a escola, mais uma vez.
Nós vemos as fotos no facebook, acompanhamos as hashtags temporárias no twitter e, por um momento, questionamos o que há de errado com o mundo. Ou melhor, com as pessoas fazendo ou permitindo que essas barbaridades aconteçam. E então, pouco tempo depois, voltamos a nossa rotina, afinal de contas, o mundo não pode parar de girar... Certo? A comoção temporária que leva o mundo inteiro a compartilhar, tuitar, reagir, pedir orações e esquecer. Em não mais que um dia – uma semana se derem sorte – nossas vidas estão correndo como sempre estiveram e aqueles cuja vivência foi afetada por n acontecimentos são deixados sozinhos para recolher os cacos. É mais fácil dessa maneira.
Só quando nos vemos inseridos no meio da tragédia que acordamos para a real gravidade. Quando ela está bem em frente aos seus olhos, com o rosto vermelho e inchado por todas as lágrimas que derramava e que já derramou, de roupas rasgadas e marcas roxas distribuídas por todo o seu corpo, não existe botão para fechar a aba nem bloqueio de tela para levar a imagem embora.
Sentindo como se eu sido jogada em uma outra realidade de repente, eu fiquei observando a cena parada por alguns segundos, na tentativa de absorver tudo que acontecia ali. Uma policial estava sentada ao lado da Katy se esforçando para acalmá-la enquanto seu parceiro permanecia afastado. Ao redor, uma casa inteira de garotas, tão preocupadas que pareceram esquecer a regra n° 1 em qualquer situação estressante como aquela: deixar a vítima respirar.
— Acho melhor eu ir embora... – Thomas disse baixinho ao meu lado, para que apenas eu ouvisse.
— É, é melhor.
Antes de sair, ele se inclinou para deixar um beijo em minha bochecha. Mais tarde, eu acharia o ato doce, porém naquele momento eu estava atônita demais com a cena a minha frente para sequer notar. Eu sabia o que havia acontecido. Torcia com toda a força do meu ser para que estivesse errada, mas todos os sinais apontavam fortemente para um lugar.
Alguma coisa estava extremamente errada. Na minha mente, era improvável que uma pessoa tão boa, sorridente e carinhosa como a Katy passasse por algo tão ruim a ponto de deixa-la daquela maneira, derrubando uma lágrima atrás da outra.
Engoli em seco, nervosa. Queria tanto fazer algo, tentar ajudar de alguma maneira, mas não tinha ideia de como. Porque uma coisa era ler notícias sobre, um textão no facebook, documentários, pesquisas... Outra completamente diferente era ter parte dos dados ali, na minha frente, na carne e osso de uma das minhas pessoas preferidas naquela casa. Alguém que eu poderia passar dias dando apenas bom dia e boa noite, porém no momento em que nos sentávamos para conversar, sentia ter ali uma verdadeira amiga. Uma amiga que não merecia chorar por... Não conseguia nem queria pensar na palavra.
— April, o que tá acontecendo? Não é o que tô pensando, é? – sussurrei, desviando meus olhos por apenas alguns segundos. Ela encolheu os ombros, ainda encarando com dor a sua frente.
— Nós ainda não temos certeza. Ela não soltou muita coisa, mas estava numa festa da Sigma Nu, então... Eu não sei, não sei! – exclamou, tão nervosa quanto eu.

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VERSUS
Fiction généraleJessica Corinne nunca soube lidar bem com suas emoções. Por isso, quando ela e seu melhor amigo decidiram ter um relacionamento sério, todos pensaram que ele sairia como o machucado da história. Não foi bem o que aconteceu. Agora, ela quer vingança...