Você não sabe o que é tensão. Pelo menos, não até morar em uma casa com dezenas de outras garotas insatisfeitas com o rumo que as coisas haviam tomado. E quando eu digo isso, quero dizer: a Lambda Chi Alpha tentou sabotar um dos projetos mais importantes da Kappa Kappa Gamma naquele ano, duas semanas haviam se passado e nada havia acontecido. Eu não fui a única a receber uma ordem diretamente da Nikki para abaixar as armas, todo o resto da casa recebeu a mesma mensagem. Como consequência, os rapazes continuavam andando por aí como se nada tivesse acontecido, como se todos aqueles animais e nós não tivéssemos passado um baita perrengue por causa deles. Aquele foi o caminho que a nossa líder encontrou para acalmar as coisas, mas eu diria que o efeito estava sendo o completo oposto. A raiva, impaciência e senso de justiça das garotas estavam aumentando, dia a dia, e não é como se pudéssemos dar uma festa e beber para esquecer.
Havia se tornado comum andar pela casa e dar de cara com grupinhos discutindo o que aconteceu, suas ideias sobre o que a Nikki realmente deveria fazer, entre outras coisas. Ela fazia questão de não ouvir nada sobre o assunto, o cortando no mais leve sinal de que estava prestes a surgir novamente. Ninguém ali concordava que aquela situação era justa, nem ela mesma, mas todas nós sabíamos, lá no fundo, que aquele era o único caminho possível. Esquecer. Mesmo que tivéssemos que engolir tantos sapos, era a única maneira de nos certificar de que nenhum outro projeto nosso correria riscos. Nós havíamos salvado aquele a tempo por muita sorte, seria besteira arriscar... Certo? Mas e se? Esse vai e vem de pensamentos corria pela cabeça da maioria das garotas naquela casa.
Diria que até eu, Jessica Corinne, a garota decidida, estava dançando entre os dois lados. Depois de tudo que aconteceu na cachoeira, decidi dar uma chance a trégua. Isso não significava que Thomas e eu éramos amigos, é claro. Nós não nos falávamos há um total de 15 dias. Bom... Aconteceram algumas provocações verbais nesse meio tempo, a maioria vindo da minha pessoa, mas não era realmente minha culpa o dom que o garoto tem de dizer coisas estúpidas de vez em quando. Apesar daquela ser uma fase consideravelmente boa, eu ainda queria matar ele na maior parte do tempo. Era quase natural que todas as minhas paredes de defesa subissem no momento em que ameaçávamos ter uma conversa normal e eu não acho que nada mudaria aquilo tão cedo. Eu sentia como se não tivesse a capacidade de não odiá-lo mais depois de tudo o que aconteceu.
Mas, em relação a mim e a Julie, as coisas iam bem. Surpreendentemente, nós não brigamos nem uma vez sequer nesse tempo. Até porque eu estava ocupada demais tentando compreender tudo que eu perdi, o que significava entrar em leves depressões aqui e ali, mas me colocava um pouco mais perto de entender por que é que ela havia escondido sua homossexualidade de mim por tanto tempo. Apesar de saber ser errado, as vezes eu jogava tudo para o alto e simplesmente me deixava sentir a frustração por aquilo. Outras vezes eu tentava ao máximo olhar as coisas pelo ponto de vista da minha amiga. Era difícil, pois eu não tinha a menor ideia de como realmente era ter uma parte tão importante da minha vida, socialmente falando, destruída dessa maneira para ser cuidadosamente remontada depois. Eu estava pensando naquilo tudo como um processo, um que, mais cedo ou mais tarde, eu finalizaria.
— Ah! E aquele dia na festa de iniciação que você pareceu estar super interessada naqueles caras que te davam mole? Eu não fiquei para ver, mas jurava que você tinha tirado um pedacinho dos dois. – questionei com o queixo apoiado em minha mão. Eu estava sentada no chão encarando a Mina que apoiava a cabeça no colo da Julie no sofá.
— A Julie me pediu para agir como se eu fosse solteira, então... Aquela era a Mina solteira. E eles eram bem bonitos, mas não se preocupem. Me livrei deles logo depois que você saiu, Jess.
— Certo. – murmurei, tentando pensar em mais alguma coisa. Rapidamente, uma nova informação brotou no meu cérebro. – Ah, meu Deus! Aquela história do banheiro que vocês contaram no jogo da memória... O que vocês estavam fazendo lá? – perguntei, minha expressão já deixando mais que claro o que se passava na minha cabeça.
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VERSUS
Fiction généraleJessica Corinne nunca soube lidar bem com suas emoções. Por isso, quando ela e seu melhor amigo decidiram ter um relacionamento sério, todos pensaram que ele sairia como o machucado da história. Não foi bem o que aconteceu. Agora, ela quer vingança...