Eu senti minhas pernas bambearem e juro que teria caído de joelhos no chão se não tivesse cambaleado em direção a porta para me segurar. Meus olhos não acreditavam no que viam. Ou melhor, no que não viam, pois as divisões que deveriam estar preenchidas com um total de 38 cachorros e 14 gatos estavam completamente vazias, às moscas.
Era isso, então. O fim do nosso projeto, o fracasso total. Em seu um século e meio de história, a Kappa Kappa Gamma nunca falhou e tínhamos ali, sob meus olhos, a primeira vez. Nós temos que concordar que é um pouco difícil fazer uma feira de adoção sem os animais.
— Julie, por favor, me diga que isso é uma pegadinha. Uma pegadinha muito, muito, muito sem graça.
— Eu tenho cara de quem tá com humor para pegadinhas agora?
Eu a encarei na busca de uma confirmação, e a peguei olhando para o galpão vazio como se sua vida tivesse ido embora junto com os animais. Respirei fundo, tentando pensar numa solução para aquela situação toda, mas era extremamente difícil fazer aquilo quando eu não tinha a menor ideia do que é que tinha acontecido naquele lugar. Eles estavam bem, certo? Nós os resgatamos das ruas para garantir uma vida melhor com seus novos donos e não para piorar a situação toda.
— Tudo bem, nós precisamos pensar...
— TÁ TUDO ACABADO, JESS! – ela gritou, me assustando, e se sentando no chão sem nem se importar se estava sujo ou não (algo realmente impressionante) e deixando as lágrimas que segurava até agora cair.
Eu encarei a cena por alguns segundos sem saber o que fazer. Aquele devia ser seu inferno pessoal e eu duvidava que houvesse alguma coisa que eu pudesse dizer que a faria se sentir melhor naquele momento. Ainda assim, eu tinha que tentar, então obriguei meu corpo a sair do seu transe e me ajoelhei ao seu lado, puxando suas mãos para mim.
— Ei, calma, vai ficar tudo bem. Nós vamos descobrir o que aconteceu aqui e resolver tudo. – afirmei, esperando que aquilo não acabasse como uma mentira no final.
— COMO? Olha esse lugar, tá completamente vazio! – exclamou, seus olhos em pânico.
— Bom...
— Nós estamos perdidas! – me interrompeu.
— Olha aqui nos meus olhos, Julie, agora. – falei, segurando sua cabeça pelos lados e me aproximando o suficiente para beija-la, se eu quisesse. Ela lutou um pouco contra, mas não demorou muito para que parasse quieta. – Colabora comigo, tá bom? Eu tô tentando não surtar, mas você não tá me ajudando. – por sorte, ela continuou me olhando, esperando que eu continuasse. – Agora nós vamos parar e pensar no que fazer, com calma e clareza, certo? – levou algum tempo, mas ela assentiu lentamente. – Primeiro, você precisa parar de chorar. – disse, limpando o molhado de suas bochechas. – Eu sei o quanto isso significa para você e sei que você tá pirando, mas isso não vai resolver o nosso problema.
— Tá bom. – disse baixinho, então eu me afastei um pouco.
— Segundo: nós temos que ir atrás da Nikki. Ela vai saber o que fazer. Ela sempre sabe o que fazer.
Enquanto eu falava, a puxava para cima comigo. Eu sabia que ela se arrependeria mais tarde quando visse a cor do seu jeans claro, mas não trouxe aquilo à tona. Seria praticamente suicídio.
— Não, eu não quero que ninguém mais saiba, só você. Eu falhei, Jess, não preciso anunciar para a casa inteira. – resmungou.
— Falhou? Tá louca!? – eu não pude conter o tom inconformado nesse momento, mas tratei de consertá-lo. – Você não falhou coisa nenhuma. – disse, com a voz já suave novamente. – Tudo que sabemos sobre o que aconteceu aqui é que você não carrega nem um pouco da culpa, tá legal? A Nikki é a mais sensata de nós duas, ela vai dar um jeito em tudo, mas, para isso, ela precisa saber, Julie.

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VERSUS
Ficción GeneralJessica Corinne nunca soube lidar bem com suas emoções. Por isso, quando ela e seu melhor amigo decidiram ter um relacionamento sério, todos pensaram que ele sairia como o machucado da história. Não foi bem o que aconteceu. Agora, ela quer vingança...