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Cerca de dois anos antes...

— Você sabe que tá sendo um puta pé no saco agora, não sabe? – eu disse, com o telefone na orelha e um esmalte na mão. Ele havia perdido a minha atenção completa mais ou menos 15 minutos de reclamações atrás.

Thomas suspirou, aborrecido.

— Eu só tô tentando cuidar de você. – ele afirmou e eu quase ri de tão esfarrapada que era aquela desculpa.

— Engraçado... O Luke também quer cuidar de mim e não me liga sete vezes por dia. Você precisa parar! Eu tô bem e sei me virar, não preciso da proteção de ninguém. Até parece que não me conhece!

— Jess, você está na casa dele, no território dele!

— Meu Deus! O que você acha que ele é? Um estuprador? Um predador? É só o meu primo, porra! Meus pais estão aqui, não dá pra ninguém fazer besteira com eles por perto. Não uma besteira de verdade, pelo menos. – eu brinquei, mesmo sabendo que fazer piada quando ele estava assim era um grande erro.

Honestamente, ele estava me fazendo passar tanta raiva nos últimos dias que eu não me importava nem um pouco de brincar. Se eu não pudesse rir da minha própria desgraça, aí sim eu ficaria brava e quem me conhece sabe que toda vez que eu fico brava demais, Jessica e Thomas dão um tempo. Eu estava cansada daquilo. E isso porque estávamos a mais de 700 km de distância um do outro, era pertinho que a coisa ficava realmente feia.

— Será que você pode tentar não agir assim? Você sabe porque eu tenho um pé atrás quando se trata desse cara, não é ódio sem fundamento. – insistiu e eu revirei os olhos. Não era possível que ele realmente achasse ter razão nessa história.

— Caralho, Tommy! Isso foi há quatro anos. Eu já superei, por que você não pode fazer o mesmo?

— Jess, ele tentou te beijar e ele vai tentar de novo. Você sabe que vai.

Eu apostava que ia mesmo, lá na mente do Thomas, no teatrinho grego que ele inventou e vem desenvolvendo a cada dia que permaneço em São Francisco.

— Se ele tentar, vai levar um belo soco na boca porque agora eu sou uma moça comprometida. Ele sabe disso, não é o idiota completo que você faz dele.

— Eu não consigo confiar nele, Jess. Não consigo confiar na presença dele perto de você quando eu estou tão longe. – ele disse cabisbaixo. Suspirei.

— Não tô pedindo que confie nele, só que confie em mim. – ele ficou em silêncio. Eu não esperava que o que eu disse resolvesse todos os nossos problemas, mas também não imaginava que ganharia um silêncio completo. Isso me deixou chateada e possessa com ele, no entanto, ele estava longe demais para que eu pudesse esganá-lo até aprender como não ser um imbecil. – Eu nunca te dei um motivo para não confiar em mim, Thomas.

— E-eu sei... – ele começou a dizer, soando arrependido, porém eu finalizei a ligação e no segundo seguinte, desliguei também o celular, sabendo que ele ligaria sem parar pelos próximos dez minutos na tentativa de consertar a merda que fez.

A minha verdadeira vontade era de arremessar o celular na parede, mas eu era desempregada e meus pais não eram ricos, seria apenas burrice. Partindo desse ponto, apenas quebrar meu celular por causa do ciúme cansativo do meu namorado seria burrice.

Como a vidente genial que ela era – ou simplesmente intrometida por ficar ouvindo a conversa dos outros atrás das portas –, minha mãe logo apareceu do meu lado com o semblante preocupado.

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