Capítulo IV

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CAPÍTULO IV
Allyson

Confesso que demorei a dormir. Passei algumas horas acordada olhando para o teto e processando tudo o que havia acontecido em menos de seis horas, mas depois de um tempo o cansaço me venceu.
Naquela noite, pensei que dormiria bem e descansaria bastante, porém havia me enganado drasticamente. Um sonho muito realista me atormentou durante aquela madrugada.
Então estava eu no Hall Principal. Jovens e adolescentes corriam de um lado para o outro desesperadamente. Vi alguns deles levando crianças consigo, mas outras estavam apenas chorando ou gritando sentadas com os joelhos recolhidos próximos ao corpo e com as mão nos ouvidos. O lugar estava escuro, as luzes piscavam repetidamente. Partes do grande teto branco haviam sido quebradas. Fios caiam lá de cima como cipós e soltavam faíscas. No centro no Hall, o refeitório estava todo revirado, com mesas caídas, cadeiras jogadas e até então eu ainda não havia prestado atenção, mas também haviam corpos caídos sem vida pelo chão, nas mesas e apoiados na parede. Eu estava enlouquecendo. O que estava acontecendo?
Foi então que vi a mim mesma. Eu vinha em minha direção com velocidade, segurando firme na mão de Brook. Nós parecíamos assustadas, mas também não é pra menos. Eu estava paralisada, não simplesmente pelo fato daquele pesadelo ser tenebroso, mas também pelo fato de parecer tão realista. Quando percebi a proximidade do eu do sonho a mim, tentei desviar, mas acabei não conseguindo, pela quantidade de pessoas correndo de um lado para o outro. E então o eu do sonho simplesmente me atravessou, como se eu fosse um espirito, um fantasma, ou algo do tipo. Quando isso aconteceu eu senti como se um ar passasse por todo o meu interior.
Até aquele momento, no sonho, eu ainda não estava ouvindo nada, mas a partir dali o som do local se fez nítido a mim. Ouvi tiros, gritos, choros, súplicas e algumas explosões. Foi então que meu coração disparou. Fiquei tão assustada que minhas pernas se moveram sozinhas. Sai correndo atrás de meu eu do sonho.
Subimos as escadas, que por incrível que pareça estava vazia. Às vezes cruzávamos com três ou quatro outros Sensitivies que desciam-na correndo e também me atravessavam, mas nada além disso.
Tiros ecoaram pelos corredores estreitos dali, vindos de algum andar a cima de nós.
"Rápido" – O eu do sonho disse a Brook.
Elas entraram na porta do quarto andar e viraram a direita, mas depois voltaram correndo para o lado esquerdo. Aquele andar estava um pouco mais iluminado do que o Hall Principal, mas as luzes ainda falhavam e uma grande quantidade de pessoas corriam de lá pra cá. Eu ainda tentava acompanha-las.
Viramos a direita num corredor mais vazio e acabamos vendo ao longe Jackson, Noah e mais um garoto.
"Jack!" – O eu do sonho grita chamando a atenção de Jackson.
Ele nos olha assustado e então nos aproximamos dele. Eu deveria prestar atenção na conversa deles? A questão é que não sabia a resposta. Ouvi um barulho alto de explosão em algumas salas mais a frente e resolvi ver o que estava acontecendo. Passei pelo grupo e segui cuidadosamente até a fonte do som. Ele veio de dentro de uma porta fechada. Aparentemente ela não parecia estar trancada, mas minha mão atravessou a fechadura como o ar, então resolvi me arriscar. Respirei fundo, o que já era difícil naquela ocasião, e passei meu corpo pela porta.
Me arrependi de ter feito isso.
Ao entrar na sala vi um homem. O lugar estava escuro, então não pude perceber detalhes de sua face, mas mesmo sem vê-la ele já me assustou. Ele era alto e forte. Usava uma camiseta escura e uma jaqueta sobreposta a ela, o que dava a impressão dele ser mais forte do que aparentava. Sua calça era da mesma tonalidade sombria, ela era larga e amarrota e sua barra entrava por dentro de uma bota preta de cano, que aparentava ser forte e resistente. Seja como for eu não gostaria de ter a péssima má sorte de ser chutada por aquilo. Em volta de sua coxa, sobre a calça, estava preso uma bainha com duas facas. Em suas mãos, cobertas por luvas com os dedos cortados, havia uma arma, parecida com uma Scar-L Custom, porém mais futurística.
Minha primeira reação foi ficar imóvel. Mas ouvi um gemido vindo de algum lugar da sala. Alguém deveria estar escondido ali. O homem assustador também deve ter percebido isso, pois rapidamente olhou em minha direção e atirou.
Pensei que ali acordaria, mas quando abri os olhos depois do susto, o tiro não havia sido em mim, mas sim em um Sensitive camuflado com a parede do meu lado. O tiro o acertou no peito, mas não era uma bala qualquer. Um pequeno projetil ficou exposto em seu peito, e ele soltava grandes quantias de fortes ondas elétricas que percorriam como raios o corpo do garoto. O vi tremer, seus olhos revirarem completamente e seu corpo cair no chão.
Meu Deus, o que era aquilo tudo?
"Entre à direita!" – Ouvi a voz de Noah.
Imediatamente ele, Brook, Jackson, o garoto que eu não conhecia e o eu do sonho entram na sala. Eu estava na frente. A última coisa que vi foi o homem apontando a arma para mim e apertando o gatilho.
Acordei suando e agitada. Minha respiração ofegava e conseguia sentir a pulsação dolorosa em meu peito. Minhas mãos tremiam junto aos lençóis da cama.
- Ally? – Ouço Brook ao meu lado. – O que houve amiga.
Não sei se deveria contar a ela o que sonhei. A final de contas, deveria ser apenas um pesadelo horrível resultado de um dia estranho.
- Allyson! – Ela insiste.
- Oi. – Respondi meio distante e sem foco. – Ah... Nada. Foi só... Um sonho ruim.
- E põe ruim nisso em, amiga. Você está péssima!
- Ah, sim. É...
- Quer falar sobre ele?
- Sobre quem?
- O pesadelo, Allyson. O pesadelo.
- Ah, sim. O pesadelo. Quer dizer, não. Eu... nem me lembro dele direito.
- Tem certeza?
- Sim.
- Tudo bem então.
A porta do quarto é destrancada e Lanna entra no local.
- Bom dia garotas.
- Bom dia Conselheira Lanna. – Eu e Brook falamos em uníssono.
- Espera... – Brook comenta. – Lanna também é sua conselheira?
- Sim.
- Ah, não!!! – Ela disse já animada demais para quem acordou pela manhã. – Além de amigas de Iniciação e amigas de quarto, também somos amigas de conselheira?
Que?
- Aahh!!! Que incrível. – Ela continuou.
- Bom, garotas. – Lanna diz sorridente. – Tomem banho, se arrumem e desçam para o Hall Principal. O horário do café da manhã é das 8h00min am. às 9h00min am. Após isso iniciaremos seus treinos, testes e exames. Pausa para o almoço às 12H00min pm. O intervalo se lazer se prolonga até às 1h00min pm. Mais atividades e então o jantar às 6h00min pm. E o resto da noite livre.
Levo a mão a cabeça porque estava começando a sentir dor.
- Está tudo bem, Allyson?
- Ah... sim.
- Certeza? Parece cansada.
- Não dormi bem, apenas isso. E estou com dor de cabeça.
- Oh... Passe na enfermaria depois do café e tome alguns medicamentos, está bem?
- Ok.
- Então vamos, vamos, vamos!!! Temos um dia corrido hoje. – Ela sai e fecha a porta.
- Bom, - Brook diz se levantando. – Vá pro banheiro, tome um banho quente e tente relaxar. Eu arrumo as camas.
- Sério?
- Claro.
- Obrigada.
Ela sorri para mim e eu me levanto. Sinto minha visão escurecer por levantar apressada, mas ela logo volta ao normal. Ainda não tinha parado para notar, mas o quarto não possuía janelas, mas assim como todo aquele lugar, ele era fresco e ventilado.
Sigo para o banheiro, fecho a porta e tiro a roupa. O banho quente até que foi reconfortante. Saio de lá, pego uma toalha branca na prateleira do banheiro, me seco, visto uma roupa intima que Brook havia deixado para mim e ponho o moletom que estava junto com as outras peças. Desta vez a calça estava mais justa, havia uma camisa branca com o símbolo do instituto bordado no peito e um blusão cinza, com o mesmo símbolo bordado, que não era três vezes o meu tamanho. Seco meu cabelo e faço higiene bucal. Enfim saio de lá.
- Melhor?
- Sim. – Respondo sinceramente.
Ela entra no banheiro e fecha a porta. Espero-a sentada na cama.
Aqueles foram os momentos mais tediosos da minha vida, até onde me lembro.
- Brook! – grito para ela me ouvir. – Nós vamos perder o horário do café! Vamos logo.
- Querida, - Ela abre a porta do banheiro. – Uma dama como eu precisa estar apresentável.
- Brook, Só iremos tomar café da manhã.
- E daí? Você já deu uma olhada em alguns garotos desse instituto?
Rio dela.
- Ah, ok. – Ela abre a porta do quarto. – Vamos, Sra. Apressada.
Reviro os olhos e saio pela porta.
- Ally! – Ela me chama. – Um minuto!
- De novo?
Ela entra no quarto e pega alguma coisa. Quando sai, após alguns segundos, a fecha e acelera o passo para me alcançar.
- Havia esquecido o rímel.
Depois daqueles longos momentos de espera, chegamos no refeitório.
Me senti aliviada em perceber tudo normal. Um lugar claro, cheio de pessoas socializando com outras, alguns risos aqui, outros ali, crianças correndo e se divertindo. E não aquele inferno de meu sonho.
- E ai? – Brook disse pegando uma torrada no balcão de alimentos. – Como que é aquele tal de Jackson?
- Como assim?
- Ele é gatinho? fofinho? Um sonho?
- Ele é... Normal.
- Hhhmmm, Allyson se amarra nos normais. – Ela sai com sua bandeja para a plataforma.
- Por que você insiste em achar que eu estou afim dele? – A sigo com minha bandeja em mão.
- Não sei, eu sou assim. – Ela ri e pega mastiga uma uva.
Comi quase que toda minha comida ouvindo Brook falar de como o garoto da mesa ao lado era fofinho, de como um delineador faz a diferença numa maquiagem e de como meu cabelo ficaria maravilhoso se eu usasse babyliss.
Peguei uma maça para comer, e quando a levantei na altura de meus lábios, uma faca a perfura do nada. Solto a maça automaticamente e a deixo cair sobre a mesa.
- Allyson, certo? – Um garoto moreno de olhos azuis disse se sentando a mesa junto a mim e Brook.
- Sim. Foi... Foi você quem atirou a faca?
- Sim! Acertei em cheio, não? – Ele se mostra feliz.
- Você está louco? Poderia ter me acertado!
- Acredite gatinha, se eu quisesse ter te acertado, eu te acertaria. Eu não erro nunca.
- Ah... – Ainda estava um tanto indignada.
- Kyle. Kyle Butler. Classe D. Sou seu irmão de classe.
- Oi. Sou Allyson...
- Clark. – Ele completa.
- Isso. Como você...
- é um lugar pequeno, e embora haja muitas pessoas aqui, as notícias voam. Os quatro recém iniciados estão na lista de conversas de todos os Sensitivies.
-Oh...
- Pois é, ser discreto aqui é meio difícil.
Concordo com ele com a cabeça.
- E o que te fez vir aqui?
- Bom, dois dos recém iniciados são classe B, um deles ainda não sabemos, e você faz parte da minha classe. E como eu sei que os classe D não são muito aceitos socialmente por aqui, achei que gostaria de se sentir bem vinda.
- Ah, obrigada.
- Que isso. – Ele sorri largamente. – Eu e um pessoal vamos jogar uns jogos depois do jantar, se tiver a fim de passar um tempo com a gente, estarei por ai. Qualquer coisa, só chamar. Está bem? – Ele sorri de lado.
- Está bem.
- Ok então. – Kyle pega minha maça e retira a faca. A joga pra cima numa altura mínima e a pega mordendo-a. se levanta da mesa e pisca se virando e indo para a sua.
- AI, MEU CORAÇÃO!!! – Brook sussurra alto para mim.
- O que?
- Como assim o que? Você vai deixar essa oportunidade maravilhosa passar?
- Do que está falando, Brook?
- Você está brincando? Você viu aqueles olhos? Aquele cabelo lindo? E aquele sorriso maravilhoso? Ou melhor ainda, você viu aqueles braços?
Rio baixo de sua reação, não acreditando que ia começar tudo de novo.
- Sem falar que ele estava total dando em cima de você, né amiga!
- Nada a ver, Brook.
- "Queria que se sentisse bem vinda", "Se quiser passar um tempo com a gente", "Se precisar de mim, só chamar". Hm! Hm! Hm! Por favor, né.
- Ele é só um garoto simpático que queria que eu me sentisse encaixada no meio deste monte de pessoas desconhecidas.
- Queria eu um garoto simpático desse na minha vida. Já pensou? Jogaria qualquer jogo com ele.
- Brook!!! – A repreendo brincando.
- O que é? Até parece que você não gostou da piscadinha dele pra você.
- Aqui, - Pego uma torrada e enfio na boca dela. – Come, vai!
Ela mastiga a torrada e ambas caímos na gargalhada.
O resto do dia foi praticamente rotineiro. Todos já estavam acostumados com a política de horários e com as regras, então me adaptar não foi difícil. Depois do café nossa conselheira levou a mim e a Brook para salas separadas. Eu fui para o cubo, mas não para descobrir minhas habilidades, e sim para treina-las. De acordo com Lanna, se eu conseguisse aprimora-las eu poderia começar um curso de artes marciais no instituto, assim poderia até mesmo prever os movimentos do oponente.
Porém os treinamentos foram cansativos e consequentemente dolorosos. Na hora do almoço a única coisa que me importava era recarregar minhas energias e descansar. Mas Brook me fez ouvir a parte II de seu discurso de como o batom ideal realçava a maquiagem, além de continuar insistindo que eu deveria jogar umas indiretas para aquele tal de Kyle. Depois disso voltamos as atividades com Lanna. Treinamento e mais dores. Se continuasse naquele ritmo, amanhã eu não levantaria da cama de tanta dor muscular que estaria sentindo.
E finalmente chegou as tão esperadas 6h00min pm. Fui direto para meu quarto e tomei um banho relaxante e merecido. Estava exausta e a noite passada, mal dormida, não havia melhorado a situação.
Quando terminei de sair do banho e de me trocar minha colega de quarto entrou no quarto.
- Aonde pensa que vai?
- Eu vou sair.
- Com o cabelo desse jeito?
- o que tem de errado com ele?
- Nada disso! No meu turno, não! – Ela adisse me virando e me fazendo voltar para o banheiro.
- Brook, o que você...
- Shhhiiiii – Ela põe o dedo indicador em meus lábios. – Fica quietinha. – Ela me virar de costas para o espelho.
Brook acaba fazendo babyliss em meu cabelo e me maquiando. Não me lembro de ser contra isso, até porque eu mesma gostava de me maquiar um pouco, mas não chegava aos pés de Brook.
- Olha, você é linda naturalmente. – Ela diz. – De verdade! Seu cabelo ruivo é perfeito, sua pele não tem nenhuma imperfeição, seu nariz é lindo, seus olhos também, e você por inteira é fofa. Mas comigo aqui, você não vai encontrar o Kyle daquele jeito.
- Brook, eu vou na enfermaria. Pegar uns remédios.
- E daí? Nunca se sabe quando seu príncipe encantado estará passando pelos corredores, pequena Rapunzel. – Ela me vira de frente para o espelho. – Voilá.
Ual... devo admitir que Brook tem um talento natural.
- Nossa...
- Eu sei. Eu sou incrível. – Ela sorri atrás de mim fazendo-me rir ao ver seu reflexo no espelho.
- Eu não acredito. – Zombo e saio do banheiro.
- O que? – Ela ri baixo. – Teoria da Branca de Neve. Não se contente apenas com os sete anões, vai atrás do príncipe também.
- AH, NÃO! – rio alto desse comentário.
Depois de ambas rirmos bastante eu me preparo pra sair.
- Vai lá e arrasa.
Sorrio e saio da quarto.
Eu sabia que Brook tinha feito um ótimo trabalho, mas não esperava que a cada menino que passasse ao meu lado no corredor me olhasse daquele jeito.
Segui meu caminho até a enfermaria e então chamei o elevador para me levar até lá. Quando chegou ao andar, por ironia do destino Kyle estava lá dentro olhando para baixo. Ele ergueu a cabeça quando a porta se abriu e ficou sem reação ao me ver.
- Allyson?
- Oi... – Digo tímida e entro.
- Eh... Uau... Você está... linda.
- Obrigada. – Eu deveria estar mais vermelha que um morango naquele momento.
- Vai para a enfermaria? – ele pergunta.
- Sim.
Kyle aperta o botão do andar e as portas se fecham.
- Então... – Ele puxa assunto. – Você vai nos jogos hoje?
- Não sei, Talvez. – Paramos no andar dele.
- Bom, se estiver afim, passa lá no meu dormitório daqui meia hora. Ai vamos juntos para o dormitório da Jean. Os jogos vão ser lá essa semana.
- Ok. – sorrio meiga.
- Corredor G dormitório 03, terceiro andar.
- Ok. – Repito no mesmo tom de antes.
Ele me olha de novo e sai do elevador. A porta se fecha e eu subo até a enfermaria.
Ao chegar lá encontro o Dr. David, o mesmo Dr. Que havia atendido Jackson.
- Olá.
- Olá... Allyson, certo?
- Isso.
- No que posso ajudar?
- Bom, hoje foi meu primeiro dia de treinamento e...
- Relaxantes musculares saindo em um minuto. – Ele me entende antes que eu termine a frase.
- Obrigada.
- De nada.
- Ah! Pode acrescentar umas aspirinas, para dor de cabeça?
- Claro.
Em instantes David volta com os remédios e os põe em uma pequena bolsa transparente.
- Aqui está – Ele me entrega a bolsa.
- Obrigada.
Antes de virar as costas e sair, vi de relance, aonde ficam as macas, alguém sentado sobre uma delas junto a uma criança.
- Jackson?
- Sim, - O Dr. Responde. – Ele saiu daqui hoje pela manhã para as atividades, mas por algum motivo voltou hoje para ver aquele garotinho.
- E quem é ele?
- Simon Moon. Classe C. Ele é um Psicocinético e Telepata.
- Quantos anos ele tem?
- Oito.
- E por que ele está aqui?
- O pequeno Simon sempre vem aqui. Ele traz dois de seus brinquedos favoritos, se senta naquela maca e brinca até se sentir cansado.
Sigo para perto dos garotos cautelosamente.
Simon olhou para mim e parou de brincar com seus brinquedos, depois olhou para Jackson, que logo em seguida olhou para mim e disse a ele:
- Calma, ela é amiga.
- Oi. – Digo.
- Olá, Ally.
- Está melhor?
- Muito.
- Que bom.
- Oh, não, Comandante! Temos um problema. Uma outra nave está voando a nossa frente! O que fazemos agora? – Jackson diz mexendo um aviãozinho de metal e fazendo o pequeno dar uma risada fofa.
Rio e me sento na maca ao lado.
- E esse pequenino, quem é? – me dirijo a Simon, esperando ele falar comigo, mas ele não responde.
- Simon. Ele é bem tímido e não gosta muito de falar.
- Oh, tudo bem. Eu acho que não me dou bem com crianças.
- Eu disse que ele não gosta de falar, não que ele não se comunica.
- Como assim?
- Ei, amigo. Mostre pra ela.
O garoto fica quieto, apenas.
- Não precisa ter vergonha, - Jackson continua falando sozinho. – Ela é minha amiga.
Silêncio novamente.
- Claro que confio!
- "Oi..." – Ouvi uma voz a ecoar na minha mente. Acabo me espantando um pouco.
- É ele? – Pergunto a Jack.
- Sim.
- Oi. – Respondo animada ao menininho. – Sou Allyson, mas pode me chamar de Ally, se preferir.
- "Oi, Ally. Sou Simon, mas pode me chamar de Simon se preferir."
Ele era muito fofo.
Fiquei um tempo ali os observando enquanto brincavam.
Simon era tão lindinho. Seus cabelos loiros escuro caiam sobre a testa numa franja arrumadinha. Seus olhos eram escuros, mas ainda sim lindos. Ele tinha bochechas rosadas e carregava consigo uma expressão tímida, mas cativante.
Até aquele momento ainda não havia parado para prestar atenção em Jackson, e como aquele momento estava me sobrando, continuei observando-o enquanto brincava com o pequenino.
Jackson tinha cabelos escuros curtos e lisos, penteados para cima, mas com alguns fios rebeldes caídos sobre o rosto naquele momento. Seus olhos eram cinzas e claros como cristal, o que se destacava em sua pele bronzeada. Magro, alto, e por mais que aparentava ser sério, percebi que amava brincar com um aviãozinho de brinquedo.
- Jackson...
- Jack. Pode me chamar de Jack.
- Ok. – Sorrio – Então, Jack, onde esteve durante o dia?
- Creio que foi um dia normal. Acordei, tomei café, depois treino, testes, almoço, mais treino mais testes, jantar... e ai estou aqui.
- Curioso, não te vi hoje.
- Nossos horários provavelmente não foram iguais.
- Deve ser.
- Alias, aonde estava você? Quando acordei, não te vi.
- Minha conselheira me chamou para fazer um teste para descobrir minha classe.
- E como foi?
- Horripilante.
Ele riu baixo.
- É sério! - Brinco.
- Está bem. Mas conseguiu descobrir sua classe?
- Sim. Faço parte dos deslocados da classe D.
- Não fale assim. Se todos forem como você, eles são legais.
- Obrigada – digo em meio a um sorriso.
- "Simon é classe C. Simon gosta da letra 'C'. Chocolate começa com 'C'. Simon gosta de chocolate. Imagina só um avião de chocolate! Esse eu ia deixar entrar na minha barriguinha." – Ouço o pequenino falando em minha mente.
- Seria incrível, não é, amigão? – Jackson responde ao garoto que provavelmente deve ter dito a mesma coisa a ele.
Ele balança a cabeça confirmando e volta a brincar com seus brinquedos.

Sensitive - IniciadosOnde histórias criam vida. Descubra agora