Capítulo VI

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CAPÍTULO VI
Jackson

- Quer alguma coisa do refeitório, Simon? – Pergunto ao pequeno enquanto ele continua brincando.
- "Uma sobremesa de chocolate"
- Está bem, amigão! Uma sobremesa de chocolate saindo em alguns minutos. – Me levanto.
- "Você vai voltar, né?"
- Vou sim! Prometo.
Ele sorri e volta a brincar com os aviões, então eu e Ally saímos da enfermaria.
Ao chegar ao corredor, um lugar bem mais iluminado, pude perceber que Allyson estava... diferente. Ela havia se maquiado, e embora isso não seja surpresa, porquê afinal ela é uma menina, nunca pensei que veria ela com esse tipo de maquiagem.
- O que aconteceu com sua cara?
- Ah! Foi minha colega de quarto, Brook. – Ela diz desviando o olhar. – Está... Está tão ruim assim?
- Não, não está ruim. Só está diferente. – Percebi que ela estava meio cabisbaixa. – Um diferente bom.
Allyson sorri, mas a expressão de confusão ou tristeza ainda não sai de seu rosto.
- O que aconteceu? – Pergunto por fim.
- como assim? – Ela põe o cabelo para trás da orelha.
- Você está com uma cara preocupada, e sei que não é efeito da maquiagem.
- Ah, - Ela ri do comentário. – Eu não sei explicar.
- Tente.
- Foi só um dia corrido e cansativo junto com uma noite mal dormida. Nada de mais, eu estou bem. Não precisa se preocupar.
- Tem certeza?
- Tenho sim.
Entramos no elevador e descemos até o Hall Principal. A partir dali meus pés pediam para voltar para meu dormitório ou para a enfermaria, mas eu sabia que não poderia agir assim. Allyson sai à minha frente e eu a sigo. Assim que saímos do elevador, já pude perceber os olhares das pessoas. Elas passavam conversando, mas assim que me viam ficavam mudas e me olhavam como se eu fosse uma aberração, outras cochichavam nos ouvidos de seus acompanhantes e assim seguiam as coisas.
- Como foram suas atividades? – Ela pergunta enquanto pega uma porção de batatinhas na bancada de alimentos e põe em sua bandeja.
- Foram boas. – Minto. – Incrivelmente boas. – Acompanho-a também pegando batatinhas.
- Sério? Porque as minhas foram cansativas e exaustivas.
- Ah, sim. Nem me fale. As minhas também.
Depois de pegar o que íamos comer, subimos as escadas de acrílico transparente da plataforma.
Sabe, eu já estava à espera de um pouco de atenção, mas não imaginei que seria tanta atenção. Assim que pisei meu pé na área das mesas, o local ficou totalmente silencioso. Todas as conversas paralelas cessaram e todos os olhares se voltaram para mim. Eu estava literalmente envergonhado, como se fosse uma criança que tem medo de palco e está fazendo o papel do personagem principal na peça da escola.
Aquilo seria mais uma memória?
- Por que está todo mundo me olhando? – Allyson perguntou baixo a mim enquanto caminhávamos devagar em direção a uma mesa vazia.
Os olhos de todos seguiam-nos sem ao menos piscar. Percebi uns falando algumas coisas para outros, ouvi comentários aleatórios e fofocas soltas pairando sobre as bocas das pessoas.
- Não estão olhando para você. – Abaixo a cabeça e acelero meu passo até chegar à mesa. – Estão olhando para mim. – Me sento e as pessoas voltam a conversar.
- Então por que estão olhando para você? – Ela se pergunta sentando a minha frente.
- Por algo que aconteceu hoje.
- O que aconte...
- E ai, Jackson! – Um garoto da classe B disse batendo em meu ombro e se sentando do meu lado. – Amigo, eu sei que o Érik é meu irmão de classe, - Ele pegou uma batatinha de minha bandeja e a mastigou. – Mas hoje você deu a ele o que ele merecia.
- Como assim? – Allyson perguntou espantada, para o garoto.
- Não está sabendo? Na verdade eu não esperava muito de uma classe D mesmo.
- Não fale assim com ela! – Respondo-o autoritário.
- Foi mal cara. – Ele se desculpa. – Eu só pensei que...
- Pensou errado. Agora me de licença. – Uma das vantagens de ser um classe A, é que ninguém se atreveria a me enfrentar de novo.
- Sim, claro. – Ele se levanta. – Me desculpe, de novo. – E então sai.
- Por que agiu assim com ele? – Allyson diz ainda espantada.
- Ele estava te ofendendo. Zombando de você.
- Sim, mas como uma classe D, já tenho que começar a me acostumar.
- Não! Não tem! Você não é pior do que ele, e nem ele é pior do que você. Essa hierarquia de classes é apenas uma desculpa inútil para pôr um contra o outro e fazer um se sentir melhor ou pior do que o outro!
- Jack, por que está tão revoltado com isso?
- Nada. Me perdoe.
- É porque ainda não descobriu sua classe?
Me calo.
- Está bem. – Ela se rendeu e comeu um pouco da lasanha em seu prato. – Me desculpe.
- Não, tudo bem. Eu quem fui um idiota mesmo. – Como um pouco de minha comida.
Depois de um tempo em silêncio entre nós, Ally por fim puxou assunto.
- Você brigou de novo com Érik?
- Sim. – Respondi com a cabeça baixa.
- Você está bem?
- Desta vez foi ele quem precisou de ajuda médica.
- Como assim?
- Por que acha que as pessoas estavam me olhando? Elas tem medo de mim.
- Você deu uma surra num dos mais fortes da maior classe do instituto? – Ela realmente pareceu surpresa. – Uau!
- A classe B não é a maior classe do instituto, Ally. – Sabia que uma hora ou outra ela escutaria as fofocas, sendo assim preferi que ela soubesse por mim.
- Aonde você quer chegar?
- Eu sou um classe A, Ally.
- O que? – Pude perceber o espanto em seu tom de voz. Ela parecia mais surpresa do que todos ao nosso redor.
- De acordo com Noah, meu ponto fez um diagnóstico meu hoje pela manhã, logo após eu usar algumas habilidades para dar uma surra em Érik. Classe A, esse foi o resultado.
- Jackson, você sabe o que isso significa? – Ela pergunta animada.
- Que todos vão ter medo de mim ou tentar fazer amizade por interesse.
- Não! Isso significa que você é o milagre encarnado em pessoa! – Seu sorriso brilha de fora a fora. – Já pensou na quantidade de gente que você pode ajudar? As milhares de crianças que podem estar, nesse momento, morrendo por alguma doença crônica e a salvação delas está bem em você!
- É, Allyson. Eu sei. Os conselheiros, os médicos, estão todos falando a mesma coisa para mim desde de manhã, enquanto paralelamente eu não posso sair num corredor sem ouvir algum comentário imbecil de alguém que não tem nada de melhor para fazer da vida.
- Me perdoe. – Ela se desanima e volta a comer.
- Não... – Tento me desculpar. – Não queria parecer grosso. É que eu só quero passar um tempo com alguém que não me lembre o quão importante eu sou, ou com alguém que não tenha medo de mim.
Ela pressiona os lábios um contra o outro e volta a comer.
- Podemos apenas não tocar mais nesse assunto?
Ela concorda com a cabeça.
Aquela frase abrangeu bastante no quesito de "assunto", pois o resto do jantar foi quase que por completo silencioso entre nós.
- Não se distanciará nem terá medo de mim, não? – Pergunto cabisbaixo.
- Você pode ser um classe A, Jackson, Mas já vi que tem uma queda por criancinhas fofas que gostam de aviões de brinquedo. – Ela brinca se referindo a Simon. – Medo é a última coisa que sentirei por você.
Aquilo, mesmo que sem razão, fez-me sentir melhor. Feliz.
- Eu, acho que vou indo. – Ela diz quando termina de comer.
- Eu também. – Nos levantamos.
Antes de sairmos, pego uma sobremesa para Simon. Um pedaço de bolo de chocolate.
Nós pegamos o elevador e Allyson apertou o botão do andar da enfermaria. Esperamos quietos a chegada. Quando as portas se abriram, antes mesmo de eu sair, duas meninas no final do corredor começaram a cochichar e a me olhar.
- Deixa que eu levo. – Allyson disse estendendo a mão, para eu entregar-lhe a sobremesa. – Vá para seu dormitório e descanse.
- Não, tudo bem. – Me proponho a sair da máquina, mas a garota me barra.
- Jackson. – Ela acaba me convencendo com um olhar.
- Está bem. – A entrego o pedaço de bolo de chocolate.
- Nos vemos amanhã? - Ela pergunta.
- Claro! – Nos despedimos e então desço para o andar do dormitório masculino. Terceiro andar.
O que eu queria mesmo era deitar na minha cama e nunca mais levantar dela. Apodrecer lá até meus ossos se fundirem com o colchão. Mas infelizmente sabia que isso não seria possível.
Ao entrar no quarto, Michael estava novamente deitado em sua cama e lendo seu livro.
- Jack... – Sua expressão foi de espanto. – Eu...
- Ei, vamos combinar uma coisa, - O corto. – Nem tudo que você ouviu é verdade. Sim, a parte de minha classe é, mas eu só quero ficar em paz, e não pensar nisso. Eu sou um cara normal, não vou te bater porque você não falou comigo direito ou algo do tipo. Eu só quero que você, por ser meu colega de quarto, me trate como se eu fosse uma pessoa normal, e não o bicho de sete cabeças que estão falando por ai.
Ele assentiu com a cabeça e eu simplesmente me joguei na minha cama.
- Dia difícil? – O ouvi perguntar.
- Uhum! – Minha voz saiu abafada por eu estar com a cara enfiada no travesseiro.
- Quer conversar sobre?
- Não.
- Tudo bem, então.
Silêncio. Provavelmente Michael deve ter voltado a ler seu livro. A única coisa que sei é que adormeci, ali mesmo, do jeito que estava.
[...]
"Tum! Tum! Tum! Tum!"
Acordo com alguém esmurrando a porta.
Eu estava deitado de barriga para baixo, então apoiei o braço no colchão e ergui o corpo em alerta. Michael acordou assustado e se sentou na cama.
- O que houve? – Ele perguntou.
- Não sei.
"Tum! Tum! Tum! Tum!"
As pancadas se repetem.
- MICHAEL! JACKSON! ACORDEM! – Ouço Noah pelo lado de fora. – ABRAM A PORTA! A FECHADURA ELETRONICA ESTÁ DESLIGADA!
Michael se levanta e vai em direção a porta para abri-la. Eu me sento na cama.
- Rápido. – Noah entra apressado e fecha a porta atrás de si. – Se arrumem. Estamos de saída.
- Como assim? – Pergunto estranhando as coisas.
- Perguntas depois. Agora se arrumem e peguem o que acham que vão precisar! Estamos saindo do instituto.
O que? Como assim? Michael põe sua camisa apressadamente e veste o moletom também. Eu ponho os sapatos.
Noah segue até uma parte de uma das paredes do quarto que não estava coberta por nenhum móvel. Põe sua mão e a parede abre um pequeno compartimento.
- Aqui. – Ele retira duas pequenas mochilas brancas lá de dentro e nos entrega. – Ponham pelo menos duas trocas de roupas. Rápido!
Obedecemos, e logo já estávamos com as mochilas nas costas e atrás de nosso conselheiro, enquanto ele abria a porta.
O corredor estava um caos. Meninos corriam de um lado para outro, gritavam, caiam e em alguns momentos pude ouvir sons de explosão vindos de lugares distantes dali. O corredor estava escuro e apenas algumas luzes vermelhas iluminavam o local nas laterais do teto.
"Atenção! Código 09! Todos os Sensitivies devem procurar seu conselheiro para receberem instruções de evacuação." – Uma voz feminina ecoava por toda parte dizendo e repetindo essa frase.
- Noah! – Chamei-o enquanto o segui correndo em direção as escadas. – O que está acontecendo?
- Estamos sob ataque. – Foi apenas o que ele disse.
- Para onde temos que ir? – Michael pergunta assim que entramos dentro dos corredores da escada.
- Há uma rota de evacuação de emergência no andar de cima. É para lá que vamos.
Assim que começamos a subir as escadas, um homem vestido de preto com uma arma nas mãos mirou em nós. Ele estava pronto para apertar o gatilho quando foi jogado contra a parede e caiu desmaiado.
- Vão! Rápido! – O Psicocinético que vi no dia em que fui iniciado diz.
Nós apenas obedecemos. Noah nos guiou pelas escadas até o nível 4.
Era difícil entender o que estava acontecendo. O instituto estava literalmente uma bagunça. No decorrer dos corredores via-se guardas desacordados e jogados no chão, pessoas correndo desesperadamente para todos os lados, crianças chorando e gritando. Os corredores estavam sombrios. As luzes piscavam freneticamente, encanamentos estourados vasavam água e encharcavam o chão, fogo vinha de algumas salas, paredes estavam simplesmente destruídas, como se explosivos houvessem feito o trabalho, as fiações elétricas estavam pendentes e num estado semelhante ao de todo o lugar. Destruídas.
Seguimos Noah pelo corredor principal do quarto andar e então ele virou a direita num corredor mais vazio.
- Esperem aqui! – Ele diz a nós dois. – Não saiam daqui, entenderam?
Concordamos com a cabeça e ele correu até um painel no final do corredor e começou a mexer nele.
- O que raios está acontecendo? – Michael pergunta assustado.
- Não faço a menor ideia.
- Por que estamos sendo atacados?
- Olha, eu também estou com as mesmas duvidas que você, e eu não tenho as respostas.
Noah volta ao nosso encontro.
- A rota de evacuação de emergência está livre. O sistema ainda está funcionando, mas creio que não por muito tempo.
- Então o que estamos esperando? – Michael disse. – Vamos!
- Jack! – Ouço Ally gritar no fim do corredor.
Ela e uma garota loira se aproximam correndo até nós.
- Ally!
- Não, não, não, não, não – Noah diz tomando a frente. – Garotas, vocês tem que procurar sua conselheira. Lanna, certo? Ela ajudará vocês.
- Não dá. – A loira toma a palavra.
- Como assim?
- Lanna... – Ally diz tentando achar as palavras certas. – Lanna está morta.
- O que? – Noah pareceu paralisar por um momento.
- Noah, – Eu digo. – Não podemos deixa-las aqui.
- Está bem. – Ele pega um aparelho de seu bolço. Era como se fosse um smartphone, mas era todo feito de vidro.
Ele tomba a cabeça da garota para o lado.
- Brook. Classe B. Você vem com a gente.
Ele faz o mesmo em Ally.
- Allyson. Classe... D. – Ele a olha. – Eu não posso deixar você ir.
- O QUE? – Digo indignado.
Allyson fica imóvel e parecia amedrontada.
- Desculpe. – Noah se vira.
- Nada disso! – Eu digo. – Por que ela não pode ir?
- Jackson, você não entenderia. E nós não temos tempo para que eu possa te explicar. Vamos! – Ele pega meu braço mas eu o puxo de volta.
- Jackson!
- Porque Allyson não pode ir conosco? – Repito a pergunta.
- Ela é uma classe D, Jackson. Ela vai atrasar as coisas, vai causar problemas e além disso eu não tenho autorização para aconselhar uma subclasse.
Naquele momento eu queria voar em cima do pescoço de Noah e arrancar os olhos dele.
- Vamos! – Ele insiste e se vira.
- Não! – Retruco.
- Como é?
- Você me ouviu. – Me imponho.
- Qual é, Romeu? – Michael diz. – É hora de deixar a donzela.
- Eu não vou se Allyson não for.
- Jack... – Ela diz calma e serena. – Está tudo bem, eu...
- NÃO! – Insisto.
Olho Noah desafiador.
Uma explosão ocorre do corredor ao lado. Ambos nos abaixamos.
- ESTÁ BEM! – Noah diz. – VAMOS LOGO! VAI! VAI! VAI!
Allyson, Michael e a garota loira saem correndo na frente.
- Obrigado. – Digo.
- Não me agradeça. Não estou fazendo isso por ela. Estou fazendo por você.
Assenti com a cabeça e corri atrás deles. Noah veio logo atrás de mim.
- ENTRE Á DIREITA! – Ele gritou a eles que estavam na frente.
- NÃO!!! – Allyson parou e barrou todos.
- O que está fazendo? – Michael pergunta irritado.
- Não podemos entrar aqui.
- Por que não?
Allyson se cala.
- Ally, – A garota loira diz. – Você está sentindo algo?
- Eu... – Ally gagueja. – Eu SEI que não podemos entrar. Tem um cara de jaqueta preta e com uma arma que eletrocuta o alvo.
- E como você sabe disso? – Michael responde. – Você é uma classe D!
Noah me olha como se estivesse esperando que eu tomasse a decisão.
- E então? – Ele me pergunta.
Todos me olham, inclusive Ally. Não sei como poderia saber daquilo, a final era o caminho da rota de evacuação. Quase que pude ler a súplica no olhar dela, dizendo-me para acreditar.
- Noah, tem alguma outra rota?
- Tem. Porém é mais longe.
- Seguiremos por essa.
- Muito bem. – Ele diz. – Sigam em frente, RÁPIDO!!! – Começamos a correr. – VIREM NO CORREDOR DA ESQUERDA!
Segui ao lado de Noah no percurso, mas antes de chegarmos ao final do corredor acabo tropeçando num cabo jogado e caindo. Ele me ajuda a levantar, mas o que mais me espantou foi o que ambos vimos ao olhar para trás.
Da porta que iriamos entrar, saiu um homem vestido todo de preto. Ele era alto e forte. Usava uma camiseta escura e uma jaqueta por cima. Sua calça era da mesma cor, larga e amarrota. Em volta de sua coxa, havia bainha com facas. Ele usava uma bota preta e em uma de suas mãos, segurava uma arma futurística. Na outra, carregava arrastando o corpo eletrizado de um garoto desacordado.
Allyson estava certa.
Meu conselheiro pareceu ainda mais surpreso do que eu.
- Vamos! Vamos! – Ele me ajuda a levantar rapidamente para continuamos nosso caminho.
- JACK! – Ouço uma voz, alta e clara, me chamando.
Quando me viro, meu coração para.
Era Simon.
O garotinho vinha correndo em minha direção. Ele parecia assustado e seu rosto estava sujo de poeira e lágrimas. Suas pequenas pernas corriam o máximo que podiam e seus braços estavam abertos, esperando que eu o pegasse no colo.
- SIMON! – Tento correr em sua direção, mas Noah me segura.
No mesmo momento um projetil atravessa a cabeça do pequenino. Seu corpo treme e é coberto por grandes quantias de fortes ondas elétricas que o percorriam como raios. E então ele despenca em direção ao chão, desacordado. Um de seus aviões de brinquedo cai e escorrega até perto de meus pés.
- SIMOOOONN!!! – Aquela imagem nunca sairia de minha mente.
O homem de preto se aproxima devagar em direção ao corpo caído de Simon, provavelmente para arrasta-lo para algum lugar.
- Vamos! Ele se foi. – Noah me puxa para continuarmos.
Pego o brinquedo do chão e guardo no bolso de minha calça.
A rota alternativa era realmente mais longa. Esquerda, depois direita, direita de novo, esquerda, esquerda, direita, esquerda, direita. Até pararmos em um corredor vazio e escuro.
- Por que pararam? – Noah perguntou.
- Por isso. – A menina loira diz apontando para frente.
O chão estava encharcado de água, e fios elétricos vindos do teto encostavam nele.
- Vamos voltar. – Disse Michael já se preparando para dar meia volta.
- Não! – Allyson insistiu.
- Como assim, "Não!" ?
- Vamos continuar.
- Você está maluca? É suicídio!
- Não. Não há corrente elétrica percorrendo os cabos.
- Como você sabe disso.
- Eu não sei. Apenas sei.
- Eu acredito nela – Digo.
- Ah, pronto. Agora vocês vão entregar as nossas vidas nas mãos dessa garota?
Noah toma a frente e pisa na agua. Fazendo todos o olharem apreensivos.
- O caminho é seguro. – Ele diz olhando fixamente nos olhos de Allyson. – Prossigamos.
Os três se entreolharam e seguiram na frente. Eu e Noah fomos logo atrás. Ele ditava o caminho e eu apenas o seguia.
Por fim, chegamos a um corredor fechado. Numa porta, no final dele, lia-se "Área restrita. Uso exclusivo de funcionários." Meu conselheiro tirou um cartão de seu bolso e passou num leitor ao lado da porta. Não entendi o porquê, se toda a energia estava cortada, mas para minha surpresa, a porta se destrancou.
- Entrem. – Ele deu espaço para nós assim que abriu a porta.
Nós entramos e ele fechou-a, trancando-a novamente.
- Ai meu Deus. – A loirinha começou a se desesperar. – O que está acontecendo? Por que isso está acontecendo?
- Calma, Brook. Vai dar tudo certo. – Ally tenta ajuda-la.
- Quem são eles? O que eles querem? – Ela continua.
- Ei... – Michael se aproximou de mim e disse baixo. – Eu não sei se percebeu, mas nós podíamos ter morrido lá fora. Você fez tudo isso por causa de uma garota? Sério?
- Pra início de conversa foi essa garota que nos manteve vivos até agora. Ela estava certa sobre o homem na sala, e também estava certa sobre a corrente elétrica nos fios.
- Jackson tem razão. – Noah disse no mesmo tom baixo que estávamos falando para Michael.
- Mas ela...
- É uma classe D. – Completo. – Está bem, mas do que isso importa? Você é melhor que ela? Me desculpe, mas sendo um classe B você não foi capaz de guiar a gente sem querer voltar para a área da matança. – O enfrento.
- Está se achando só por que é um classe A, não é Sr. Jackson?
- Eu estou pouco me lixando para essa hierarquia de classes! O instituto está destruído! Nada disso importa mais!
- Senhores. – Noah nos repreende em alto tom e o silêncio reina naquela sala.
- O que fazemos agora? – Allyson pergunta, quebrando a tenção.
- Nós saímos do instituto. – Noah responde.
- Como? – Pergunto.
Meu conselheiro toca um canto de uma das paredes daquele local, assim como tinha feito no dormitório, e a parede se abre. Duas portas com uma espécie de tubo de vidro se revelam.
- O que é isso? – Pergunta Brook
- Capsulas de fuga. Cada andar tem quatro instalações com duas delas.
- Então quer dizer que só duas pessoas poderão sair daqui?
- Não. Existem milhares de capsulas prontas para uso no armazém do instituto. Estes são apenas os tubos.
- Ah, sim.
Noah mexe nos painéis de ambas as saídas e logo as capsulas aparecem.
- Quem serão os primeiros?
Michael e Brook se oferecem.
- Ally, – Brook diz com a voz tremula. – Vem comigo, por favor.
Ela concorda e entra na capsula de sua amiga, abraçando-a.
A última imagem que vejo deles, são as costas de Allyson, Brook apertando os olhos e afogando seu rosto no ombro da amiga, e Michael com os braços cruzados e com uma cara de quem estava furioso.
As capsulas desaparecem com velocidade.
- Como você está? – Noah pergunta afetivo.
- Bem. – Minto descaradamente.
- Sobre a Allyson, eu queria me desculpar com você.
- Não, tudo bem.
Ele assente com a cabeça e chama as outras capsulas.
- Sobre o garoto...
- Não. Não fale sobre isso. Não agora. – Ponho a mão no bolso e sinto o aviãozinho de Simon.
- Está bem.
Alguns minutos depois chegam novas capsulas.
- Vamos?
Concordo com a cabeça e entro em uma das capsulas.
Noah termina de mexer no painel de controle e então entra na outra. Logo as portas se fecham e caímos com velocidade para baixo do chão.
Meu corpo é jogado pra cima por causa da gravidade, mas logo consigo me ajustar. Ao meu redor, via tudo escuro. Apenas alguns feixes de luz passavam rapidamente pelo vidro, mas nada que me mostrasse aonde eu estava. Provavelmente deveria estar dentro de um túnel ou algo do gênero.
Após um tempo de espera sou expelido para fora desse tal túnel e também de minha capsula. Quando me dou conta, estou caindo em direção ao chão terroso de algum lugar. O impacto não foi grande, mas mesmo assim me fez sentir uma dor significante quando cai em cima de meu braço.
Quando me levanto, vejo Ally e Brook sentadas em um tronco de arvore caída e Michael olhando ao redor. Brook estava bem assustada. Ela acariciava seus braços com sua própria mão, mantinha a cabeça baixa e parecia chorar. Allyson estava a abraçando.
Alguns segundo depois, ouço o grito de Noah.
- AAAHHHHH!!! – Ele decolou do tubo que havia me expelido e foi parar em cima do tronco de uma arvore.
- Noah! – Me espanto.
- Acho que calibrei a pressão de minha capsula errado. – Ele diz penso com a barra de sua calça presa na alta arvore.
- Percebi.
Michael estava se segurando para não rir.
Naquele momento eu simplesmente quis desistir. As coisas que já estavam ruins, agora estavam indo de mal a pior. O que mais poderia acontecer?
Resolvi afastar esses pensamentos e pensar num jeito de tirar Noah lá de cima.

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