CAPÍTULO XIV

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Capítulo XIV
Michael

Seis dias haviam se passado desde que chegáramos neste lugar. O tempo passou voando. Confesso que pensei que morreria de tédio, mas depois do primeiro dia eu percebi que se eu fosse morrer não seria assim, mas de cansaço.
Aquele tampinha tem levado muito a sério as coisas no quesito de "treinamento". Segundo ele os Sensitivies já sabem lutar, e se pudéssemos lembrar de nosso passado, grande provavelmente lembraríamos de já ter feito alguma aula de alguma arte marcial ou defesa pessoal, mas biologicamente falando, o gene também ajuda no treinamento corporal, porém ele precisa ser sobrecarregado de energia. E como ele faz isso? Exato! Uma terapia de choque a cada movimento errado. Noah não desmentiu as palavras de Bob, pelo contrário, até deu uma explicação mais aprofundada no assunto, a qual eu não prestei nem um pingo de atenção, mas as vezes acho que aquele baixinho nos dá choques só por diversão.
Brook e Allyson já evoluíram bastante nas lutas, Jackson nem tanto, mas podemos ressaltar que ele começou os treinos dois dias depois de todos nós porque estava na enfermaria se recuperando. O cara apanhou feio daquela menininha. Sempre rio quando lembro disso. Já eu, não sei ao certo o que estou fazendo. Quer dizer, eu sei lutar e me defender, mas não consigo fazer aqueles golpes surreais que Bob está cobrando. E o resultado disso é um tampinha gordo comendo cosquinhas e gritando comigo e mais choques para "estimulo genético". Posso não lembrar de nada do meu passado, mas tenho quase que absoluta certeza de que não aprendi nada disso em biologia na minha época de escola.
Sendo assim, nossos dias tem sido super rotineiros. Acordar, tomar café, treinar, almoçar, treinar, jantar, treinar, dormir e começar tudo de novo. Nossa alimentação mudou bastante também, Se não aguentava mais ver mato, agora não aguento mais come-lo. Não sabia que uma salada podia conter tantos ingredientes variados. Mas ainda assim, pouco daquilo me agrada.
Bob e o conselheiro passam boa parte de seu tempo livre conversando. Sobre o que? Não sabemos. Uma vez Ally tentou perguntar sobre os motivos pelos quais o baixinho havia ficado irritado com Noah na primeira noite, mas rapidamente os dois desviavam o assunto. Sinto e sei que ambos estão escondendo coisas de nós. Mas o que? E Por que?
- Por hoje é só pessoal! – Bob nos diz vindo em nossa direção.
Allyson e Brook, que estavam treinando na arena veem na direção de Jack e de mim, que estávamos observando-as no canto sentados no chão. Elas pegam as garrafas de água e tomam uns bons goles.
- Amanhã vamos avançar um pouco o treinamento. – Todos reclamamos em silêncio.
- Você ainda vai nos matar. – A loirinha gostosa fala entre um gole e outro. O tampinha apenas solta uma risada.
- Devo confessar que superaram minhas expectativas. Menos você, Michael. – Ele me diz. – Você ainda tem muito que aprender.
O que faço em resposta já é esperado. Reviro os olhos para ele e assim ele vai em direção a porta sorrindo.
- E vão tomar um banho. – Ele põe o dedo polegar e indicador em volta do nariz, prendendo a respiração. – São os pomgas mais fedidos que eu já vi.
E assim ele sai da sala.
- Finalmente – Digo pendendo a cabeça para traz.
Todos riem.
- Vamos, amiga. – Brook diz para Allyson. – Eu tomo banho primeiro desta vez. Até mais meninos.
- Até. – Respondemos.
- Vejo vocês no jantar.
E assim elas se vão.
- O último a chegar fica fedendo por mais tempo? – Jack me pergunta.
- Quer realmente fazer isso de novo? Ontem você quase foi parar na enfermaria mais uma vez.
- Ontem eu não estava preparado. – Ele diz alongando os braços. – Hoje eu estou.
- Está bem. – Me levanto e fico do lado dele.
- Pronto? – Ele se põe em posição de largada.
- Pronto. – Junto-me a ele.
- No três.
- Está bem.
- Um... Três!!! – E sai correndo na minha frente.
- EI!!! ISSO É TRAPAÇA!!!
- VAI CHORAR SEU POMGA FEDIDO? – O ouço gritar nos corredores.
Saio correndo em direção ao quarto.
Sim, eu sei. Eu não gosto dele, e muito menos da senhorita chatice, mas desde que chegamos eles tem sido legais comigo, e por incrível que pareça, me peguei sendo legal com eles também. Isso não muda o fato de eu ainda não suportar esses dois, eu acho. Prefiro acreditar que eu apenas aprendi a conviver com eles.
Quando cheguei no quarto a porta do banheiro já estava trancada e o chuveiro já estava ligado.
- TRAPACEIRO!!! – Esmurro a porta e grito esperando que ele me ouvisse.
De resposta tive apenas uma risada alta.
Joguei a regata preta que já havia tirado no caminho pro quarto na cama e fui ao guarda roupa separar uma roupa limpa. Quando voltei para pegar a camisa suja vi um vulto de canto de olho. Brook estava parada me olhando. Ambos esquecemos de fechar as portas do quarto. Ela estava enrolada numa toalha branca com detalhes azuis nas bordas e uma menor na cabeça, prendendo o cabelo. Aquilo era bem sexy. Podia comentar todos os pensamentos que passaram por minha cabeça naquele momento, mas prefiro deixá-los só pra mim.
Quando a olhei de volta ela desviou o olhar, mas logo o voltou. Sorriu de canto, se aproximou da porta de seu quarto e logo a fechou.
O borrão de seu corpo que ficou visível tirou a toalha enrolada e se aproximou da cama, onde pegou alguma coisa. Provavelmente sua roupa.
Malditos vidros translúcidos.
- O que foi? – Jack perguntou saindo do banheiro com uma toalha em volta da cintura e outra na mão secando o cabelo.
Não respondi nada. Desviei o olhar da porta das meninas mas acho que foi tarde demais.
- O que foi? – Desta vez o tom de sua voz era uma mistura de zuera com um sorrisinho trouxa estampado na cara.
- Nada. – Pego minha roupa e vou em direção ao banheiro, mas ele apoia o cotovelo no batente da porta e impede minha passagem.
-Quem? – Aquele sorrisinho estava começando a me irritar. – A loira ou a ruiva?
Sorrio de canto. Nunca me imaginei tendo uma conversa assim o Jack certinho.
- A loira! – Ele adivinha e ri mais um pouco.
- Sai da minha frente Jackson. – Empurro-o pro lado e ele sai.
- Desculpa ai irritadinho. – Ele debocha. – Se quiser, podemos deixar a porta aberta mais vezes.
Tranco a porta do banheiro.
- Eu posso fechar ela agora ou você ainda vai usa-la pra mais alguma coisa? – E ri como um retardado.
Que idiota.
Termino de tirar a roupa, jogo-a no sexto de roupa suja e entro no box para tomar meu banho.
[...]
Quando saio do banheiro com a toalha na cintura, Jack está sentado na cama ao lado de uma roupa social. Uma igual à que ele estava usando. Uma camiseta branca, uma calça e um paletó preto e uma gravata fina já pronta para se vestir. Na verdade a única coisa diferente entre a roupa que ele estava usando e a que estava ao seu lado era a cor da gravata. A dele era azul e a outra vermelha.
- Onde está a roupa que eu havia separado?
- Agora é esta aqui!
Rio dele.
- Você acha que eu realmente vou vestir isso? Sonha!
- O que foi? Não quer impressionar a gata?
- O que? Mas... Que droga Jackson. Vai se ferrar. – Ele ri de mim. – Eu não vou vestir isso.
- Você tem que vestir.
- Não sou obrigado a nada.
- Na verdade, é sim. – Ele se levanta.
- Como? – Não entendo o que ele diz.
- Segundo Bob, hoje é aniversário de Noah. E ele quer fazer algo para este dia não passar despercebido. Teremos um jantar diferenciado.
Eu não tinha nada contra o conselheiro, e também nem contra Bob. A não ser a pequena ira que guardava dele gritando no meu ouvido nos últimos seis dias quando não acertava o golpe no treinamento, mas fora isso, nada. Porém se eles estão pensando que vão me vestir com aquela coisa, estão muito enganados.
- Eu não posso vestir isso.
- Por que não?
- Por que... – Penso numa desculpa. – Por que eu nem tenho sapatos que fiquem legais com esta roupa. – Nunca me imaginei falando isso.
- Não tinha. – Ele me corrige mostrando um par de sapatos sociais. – Bob os deixou aqui assim que você entrou no chuveiro.
Reviro os olhos e resmungo.
- Mike. Faça isso por Noah, mas se não quiser, faça isso por Brook.
- Por Brook?
- É. Ela e Allyson vão estar vestidas ao caráter da noite. Eu e os outros também. Se você for com uma roupa qualquer ela pode pensar que você é apenas um cara chato que não pode fazer nem um sacrifício pessoal no dia do aniversário de alguém.
- Então se eu me vestir com isso ela vai pensar que eu sou um cara lindo, quer dizer, mais do que eu já sou né, e que se importa com os outros? – Digo irônico.
- Não. Você vai ser apenas o cara chato que não pode fazer nem um sacrifício pessoal no dia do aniversário de alguém mais arrumado que ela já viu. – Jack ri, mas logo se recompõe. – Anda logo, para de frescura! Veste essa droga.
- Ui – Me aproximo da cama. – Ficou bravo, é? – Debocho.
- Eu? Nunca. – Ele pega a gravata. – Se não estiver familiarizado com isso, é para se usar em volta do pescoço, como uma coleira pra cachorros. – Ele a joga sobre meu ombro esquerdo e ri da minha cara de novo. – Anda logo com isso Romeu. Estão todos na sala de jantar já. E não seria legal você chegar depois do aniversariante, levando em conta que a festa é surpresa. – E assim ele sai pela porta.
Eu não acredito que eu realmente estava fazendo aquilo. Por fim coloquei aquela roupa e segui para a sala de jantar. Esperava com todas as minhas forçar não estar tão ridículo quanto eu imaginava estar. Quando cheguei lá, todos já estavam. Exceto Noah. Até Lola estava lá.
Ah, verdade, Não contei sobre essa garota.
Há dois dias ela chegou na base. Era uma noite comum como qualquer outra. Todos estavam tão exaustos quanto todos os outros dias após os treinos. Já era madrugada e assim cada um já devia estar no décimo quinto sono quando batidas abafadas começaram a soar pelos corredores. Lembro que fui o primeiro a levantar. Acordei Jack e quando saímos do quarto as meninas vieram logo atrás de nós. Fomos cautelosos até a sala de comando aonde encontramos Bob e o conselheiro. Numa tela grande havia um vídeo ao vivo do interior da cabana a cima de nós. O carro não estava mais lá. Mas isso não é importante.
Uma garota suja e desesperada batia nas paredes e gritava por socorro. Bob tentou então conversar com ela antes de deixa-la entrar. Não sabia seu nome até então, mas já havia visto-a no Instituto. Lola disse que havia conseguido fugir com sua conselheira e com sua irmã de classe, mas após a morte da primeira ela e a irmã saíram em busca de um local dito nas últimas palavras dela antes da morte. E estas foram as coordenadas para chegarem à base em Nebraska. Lola estava desesperada na noite, porque estava sendo perseguida pelos Ônix que haviam acabado de "matar" sua amiga.
Quando Bob a deixou entrar ela estava mais que grata e insistia em enfatizar isso repetindo a palavra "obrigada" a cada termino de frase. No dia seguinte Noah ofereceu a ela a escolha de sair com a gente daqui três dias em direção ao Alaska, mas ela recusou agradecida.
Agora ela estava ali, sentada a mesa do grande refeitório vazio. Vestia um vestido longo rosa salmão com a parte de cima toda trabalhada em algum tecido brilhante. Ele era bonito, sim, mas parecia que um unicórnio havia vomitado gliter nele. O mais estranho era que ela ainda sim insistia em colocar algo em volta de seu pescoço. Na noite que chegara ela estava usando um cachecol velho. Pensei que era apenas por causa do frio, mas ao decorrer do tempo ela ainda sim continuava usando-o. o único momento que vi seu pescoço foi quando Bob cadastrou a identidade do ponto dela no sistema da base. Agora Lola usava um echarpe da mesma cor do vestido.
Ao lado da garota sentava Jack, e ao seu lado Allyson com um vestido branco cheio de enfeites e coisinhas que enchem o saco. O vestido batia na altura de seus joelhos, assim como o de Brook que sentava a sua frente. Ela usava vermelho. Exatamente o vermelho que estava na minha gravata. As vezes tenho mais vontade de esmurrar a cara de Jack do que nunca antes tive. Bob sentava-se em uma das extremidades estava vestido a caráter também. Todos esperavam Noah.
O tampinha teve um bom trabalho organizando aquela surpresa. O local estava todo decorado com luzes coloridas, balões de hélio e tudo mais. Por algum motivo, me senti um adolescente num baile de inverno se perguntando o que estava fazendo ali.
Sentei-me de frente a Jack e ao lado de Brook.
- Nunca pensei que te veria vestido assim. – Ela disse se inclinando de lado em minha direção.
- Nem eu. Acredite. – Rio.
- Está lindo, Mike. – Lola me elogia.
- Obrigado, Lola. Você... Você também.
- Obrigada. – Ela sorri.
Jackson apenas fazia caras e bocas para zombar da minha cara.
- Bob, porque você me obrigou a vestir isso? – Ouvimos a voz de Noah se aproximando. – Eu não sei dar um nó nesta... – E finalmente ele entra no local.
- SURPRESA!!! – todos gritam.
- é... Surpresa, eehh!!! – Finjo um ânimo.
- Feliz aniversário Noah! – Todos se levantaram e foram dar os parabéns a ele. Lola aproveitou sua vez para ajudá-lo no nó da gravata. Eu o abracei e também o parabenizei.
O resto da noite foi tranquilo. Comemos, bebemos... Finalmente bebemos, mas bebemos mesmo!!! Não água ou suco, mas alguma coisa boa, com álcool. Não era vodka ou tequila, mas ainda assim era algo bom. Vinho e champagne. A única que se contentou com refrigerante foi Lola, aliás ela só tinha quatorze anos.
Todos rimos muito, e com dor no coração devo admitir que me diverti. Acho que a única parte chata da noite foi ter que ouvir uma miniatura de homem dizer repetidamente para não exagerarmos nas taças porque ele não daria desconto por ressaca nos treinos do dia seguinte.
No final da noite Bob arrumou todo local e cada um foi para seu quarto. Trocaram de roupa e dormiram. Inclusive eu.
[...]
Acordei em meio a madrugada com a garganta mais seca que o deserto do Saara e com a bexiga mais apertada do que Noah vestindo uma calça de Bob.
Levantei ainda sonolento e cambaleando segui em direção a porta. Jack estava dormindo. Abri a porta e pisquei algumas vezes para tentar enxergar alguma coisa. Tudo estava escuro, a não ser por algumas poucas luzes fracas acesas ao decorrer dos corredores.
Fui em direção ao refeitório bocejando algumas vezes e com início de uma dor de cabeça. Se eu ficasse de ressaca não queria nem imaginar o que o tampinha faria comigo.
Quando passei pelo corredor principal, algo me chamou a atenção. Uma luz. Ela vinha da sala de controle. Pensei que Bob ou o conselheiro poderiam estar lá, mas nenhum dos dois estaria acordado nesta hora da madrugada. Decidi ir averiguar. Não devia ser nada alarmante ou demais, mas mesmo assim fui. Geralmente eu não faria isso. Lançaria um "dane-se" e continuaria meu caminho, mas... bom, dane-se o geralmente.
A porta estava entre aberta e mesmo próximo não ouvia vozes. Apenas dedos rápidos mexendo no sistema.
Me aproximei mais e coloquei a mão na porta automática. A empurrei devagar para o lado sem fazer barulho e o que vi me surpreendeu.
Nem Noah e nem Bob estavam ali, mas sim Lola. Ela parecia acelerada e corria com os olhos sobre as telas e com os dedos sobre o Touch Screen dos computadores.
- O que está fazendo aqui?
Ela se virou assustada para mim.
- Mike! Oi! – sorriu. – Não conseguiu dormir?
- O que está fazendo Lola?
- Ah... não... – Me aproximo. – não é nada. Só estava checando umas coisas que Noah havia pedido e...
Ela continuou falando, mas eu voltei minha atenção para a tela. Eu não entendia boa parte do que estava a mostra nelas mas o básico eu conseguia.
- você desativou a cyber defesa da base? – A empurrei para o lado e me debrucei sobre uma das telas. – Você está deixando que hackeiem-nos? O que está fazendo Lola?
- Eu? Eu... Eu... eu não estou fazendo nada. – Me viro pra ela.
Novamente ela começou a falar, mas minha atenção voltou-se para um pequeno risco preto em seu pescoço saindo do coberto pelo cachecol. O tiro de seu pescoço, e quando faço isso vejo seu ponto brilhando fraco num tom de vermelho e micro veias negras cercando-o.
- Você é uma deles! – Sua expressão muda. De assustada ela fica seria e raivosa.
- E você é um homem morto. – Ela me pega dela gola da blusa e me joga contra a parede.
Que garota forte.
- Lola, pare! – Tento pedir, mas ela volta a mexer nos comandos da base e em seguida para. - Meu trabalho aqui está feito.
- Que barulheira é essa? – Bob entra pela porta com todos os outros atrás dele.
Lola sai correndo por outra passagem.
- Mike, você está bem? – Ele ajuda a levantar-me.
- Estou. Lola... Lola é uma das de Raven. O ponto dela estava... ele estava estranho e tinha aquelas coisas pretas no pescoço dela...
- Está me dizendo que aquela garotinha é uma infiltrada?
- Sim.
- Ah, não. – Todos se preocuparam e quase se desesperaram.
- Aonde ela está? – Allyson perguntou.
- Ela foi por ali. – Aponto. Na hora eles correm na direção, mas eu os chamo a atenção. – Não!!!
- O que foi?
- Ela desativou a cyber defesa da base. Tem alguém nos hackeando. Acredito que seja Raven. – Bob e Noah se olharam e pareceram ter uma discussão séria entre olhares.
"Defesas externas desativadas" – Uma voz eletrônica feminina diz nos auto falante.
- Noah... – Bob diz em fim.
- Bob, eu não posso.
- Só você pode!
- Bob, eu... faz muito tempo.
- Noah!
- EU PROMETI QUE...
- DANE-SE A BOSTA DA PROMESSA SEU IMBECIL DESGRAÇADO!
- DO QUE RAIOS VOCÊS ESTÃO FALANDO? – Me junto a gritaria.
- PAREM DE GRITAR! – Brook.
"Defesas internas desativadas" – A voz diz novamente.
- TAH! TAH! TAH! TAH! – O conselheiro segue em direção ao painel de controle
Ele se debruçou sobre ele e fechou os olhos. Respirou fundo.
- ESTA NÃO É UMA BOA HORA PARA MEDITAR, NOAH!
- AAARRGGHH!
Ele arrumou seus óculos no rosto e começou a deslizar os dedos pela tela rapidamente. Rápido até demais. Seus olhos corriam de um lado para o outro, de cima para baixo, atentos, sem piscar, e sem olhar para o que suas mão faziam.
"Portas destravadas"
- NOAH!
- CALMA SEU PILOTO DE HOT WEELS APREÇADO! Esse cara é bom... Mas... – Ele pareceu se concentrar um pouco mais. – Nem tanto assim. – E deu um último toque na tela.
"Defesas operando"
Tudo ficou calmo. Ninguém dizia nada e tudo estava em silêncio.
- Vou procurar Lola. – Bob disse saindo correndo pela porta.
- O que foi isso? – Jackson perguntou.
- Um cyber ataque. De algum jeito Raven descobriu aonde estávamos e enviou uma infiltrada para conseguir desativar o firewall da base e deixar o caminho livre para um de seus hackers. Assim ela desativaria as defesas, abriria as portas e nos atacaria.
- Muito bem pensado, Noah. – Ouço uma voz dizendo entre uma palma e outra entrando na sala.
- C... Chloe?
- Ah, pelo amor de Deus! Essa desgraçada não morre nunca? – Me revolto.
- O que você quer aqui? – Brook diz autoritária e com raiva.
- Vim apenas trazer... um recado. De Raven.
- Virou escrava dela agora? Manda aquela cretina mostrar as caras, vagabunda!
- Cuidado com o que deseja, Brook. – Ela levanta a mão. Segurava um pequeno aparelho e em instantes este aparelho projetou um holograma a nossa frente.
O holograma não tinha cores, mas uma mulher com o cabelo bem curto, mas com uma franja grande caída era bem visível.
- Raven. – Noah tinha desgosto na voz.
- Olá, Noah.
- O que quer?
- Apenas conversar.
- Não temos o que conversar.
- Ah, temos. Temos sim. – Ela sorri. – Vim lhe fazer uma proposta.
- Uma proposta?
- Sim. Eu quero apenas que se entreguem. Sigam Chloe, rendidos.
- Nunca faríamos isso. Perdeu tempo enviando-a aqui.
- Ah, Noah. Sempre autoritário e orgulhoso. Não mudou muito desde a última vez que nos vimos. Não é mesmo?
O que? Do que ela está falando?
Acho que essa reação foi a mesma para todos os outros ali, pois todos o olhavam surpresos.
- Cale a boca!
Ela sorriu novamente.
- Receio que não tenha muita escolha, querido.
- O que quer dizer com isso?
O Holograma mudou. Agora via-se Lanna. A até então conselheira morta das meninas. Todos ficamos espantados ao vela. Ela estava viva, mas em péssimo estado. Estava amarrada a uma cadeira e amordaçada.
- Lanna... Você está...
- Viva? – Raven ri. – Claro que está. Fiz questão de conservar este rostinho lindo. – Ela se aproximou da cadeira da conselheira e se colocou atrás dela. – Agora, se esse rostinho vai continuar assim ou não, depende de você, Noah.
- Raven sua...
- O que foi? Confesso que pensei que não ia demorar até achar outra garota depois que fugiu de mim, mas não imaginei que seria alguém assim. – Ela deu uma pausa. – O que foi Noah? Vai me dizer que aquela noite não significou nada para você?
Eu realmente estava perdido agora...
- Solte-a!
- Eu quero, fazer isso. Acredite querido, eu quero. Mas não posso, a menos que se rendam. Se fizerem isso, pode ter sua Julieta de volta, Romeu. E quem sabe – ela aproximou seu rosto do de Lanna. – Possamos brincar junto de novo com uma convidada? – A cena que se seguiu foi repugnantemente nojenta. E se eu levei para o lado certo o sentido da frase, foi mais nojenta ainda. Raven dei uma lambida na bochecha da conselheira.
- CALE A BOCA!
Ela riu alto, soltando uma boa gargalhada.
- Se não quiserem acompanhar Chloe, tudo bem. Mas lembrem-se que eu dei a vocês uma escolha e vocês fizeram uma. Em algumas semanas eu vou conseguir o que preciso para meu plano. E vocês não serão mais importantes. E se vocês não forem mais importantes, ela também não será.
- Tudo... Tudo isso por vingança? – Allyson disse com raiva. – Vingança do seu irmão?
- CALADA! – Raven gritou. – Não sua garota ingênua. Meu irmão realmente me humilhou e manchou meu nome em nossa família, mas ele já pagou o preço por ter me enfrentado. Pagou com a vida dele. O que quero agora é bem maior. Com meus autônomos e com as habilidades da raça evoluída eu conseguirei tudo. Códigos nucleares, bancos mundiais, ogivas nucleares, armamento cibernético, mas a cima de tudo. Respeito. Reverência.
- Você é maluca. – Noah diz.
- Você acha? – Ela ri novamente. – A sorte foi lançada. Façam suas escolhas, Planejem suas jogadas. E boa sorte.
O holograma de desfez e Chloe guardou o aparelho em seu bolso.
- Vão vir?
- Nunca! – Noah disse novamente.
- Que pena. – Seus olhos ficam brancos e suas mão começam a eletrocutar-se. – Acho que vou fazer um bom estrago aqui, então.
Quando pensei que estaríamos literalmente fritos, a garota cai desacordada no chão.
Atrás dela Bob estava de pé em cima de uma cadeira segurando um taco de baseball. A julgar pelo barulho e pelo ocorrido, ele havia feito um Home Run bem na nuca de Chloe.
- Acho que isso vai deixar uma marca. – Ele diz descendo da cadeira.
- O quanto ouviu?
- O suficiente pra querer que aquela vaca calasse a boca.
O conselheiro se aproxima do baixinho.
- Me ajude a prende-la.
- Acha que consegue reverter...
- Creio que sim. Se eu realmente estiver certo e conseguir reiniciar o...
- Olá, ainda estamos aqui! – Digo.
- Ah, sim. Vão dormir. Amanhã conver...
- Nada disso! – Brook diz.
Todos estávamos compartilhando do mesmo sentimento. Não sei se estava confuso, com raiva, abismado, surpreso, ou assustado com tudo que vi e ouvi. As meninas cruzaram os braços e pareciam com mais raiva do que qualquer outro dos sentimentos que já senti. Jack aparentava estar perdido assim como eu.
- Brook está certa. – Allyson disse.
Nessa hora, Bob olhava Noah assustado esperando alguma reação. Não só ele, mas todos nós.
- Você nos deve explicações. – Brook continuou. – Comece a falar. Agora!

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