Capítulo V

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CAPÍTULO V
Jackson

Acordei ainda na enfermaria. De acordo com o relógio sobre uma mesinha ao lado da maca, era exatamente 7h30mim am. O lugar estava iluminado, com as luzes acesas. Talvez um pouco frio por causa do ar condicionado que estava ligado, mas ainda sim estava bom. Fiquei um tempo moscando olhando pro nada e me obrigando a despertar, mas meus olhos estavam me nocauteando. Deitei a cabeça para o lado direito e vi outras macas vazias, o balcão da enfermaria sem ninguém e o silêncio ecoava por todo lugar. Até então eu parecia estar sozinho, mas me enganei.
Quando olhei para o outro lado, na maca paralela a minha havia um garotinho sentado com pernas de índio, sem expressão e olhando fixamente para mim. Confesso que me assustei um pouco.
- Oi. – Digo com calma.
O garotinho não me respondeu. Apenas continuou me olhando. Parecia tímido e um pouco assustado.
- Sou Jackson. Tudo bem?
E novamente eu ganhei o vaco do silêncio como resposta.
Ele aparentava ter uns sete ou oito anos. Tinha cabelos loiros escuro que caiam sobre a testa, bochechas rosadas e olhos castanhos. Percebi em sua mão dois aviões de brinquedo, ambos do mesmo tamanho, mas um com detalhe vermelhos e outro azul.
Acabei percebendo que ele estava tímido demais para conversar, então tentei puxar um assunto que interessasse mais à ele.
- Você gosta de aviões? – Ele balançou de leve a cabeça e desviou o olhar para seus brinquedos.
- Eu também.
O garoto pareceu gostar daquele comentário. Levantou o olhar e deu um sorriso fraco.
Retribuo a ele com um sorriso largo e simpático enquanto me sento em minha maca, ficando de frente para ele.
- Quer alguém pra brincar com você? – Desta vez ele não demonstrou nenhuma reação ou expressão. Aproximei minha mão de um dos aviões de brinquedo, mas antes de pega-lo pedi a permissão dele. - Posso?
O garotinho apenas afirmou com a cabeça.
Peguei o brinquedo azul e girei as duas miniaturas de hélices nas asas do pequeno Beechcraft King Air, simulei um barulho escroto de turbina de avião com a boca e fiz o aviãozinho subir e descer no ar.
- Vruuuuummmm! – O pequenino acompanhava com os olhos os movimentos. – Oh, não! Comandante, vamos bater numa montanha com formato de nariz! – Levei o brinquedo até perto de seu nariz. – Precisamos de ajuda!!!.
Ele deu um sorrisinho rápido, mas ainda não havia feito nada. Encostei a ponta do avião no nariz dele e de pois recuei de novo.
- Rápido! – Insisto fazendo o movimento de novo.
O pequeno acaba soltando um sorriso largo e uma gargalhada baixinha. Depois pega seu avião e faz o dele salvar o meu.
Me levando de minha maca e me sento na dele, com as pernas para o lado. Acabamos ficando ali por bons minutos. Ele ria quando eu imitava o barulho do avião e balançava a cabeça me falando que não era daquele jeito que se fazia, me fazia seguir o brinquedo dele com o meu enquanto íamos juntos para uma missão secreta, e deixava a imaginação rolar.
- Vruuuummm. – E novamente ele ri da minha cara. – O que foi? Não é assim que um avião faz?
Ele balança a cabeça negativamente ao mesmo tempo que solta um largo sorriso.
- É claro que é! – e ele insiste. – Então como é?
- VUUUMM. – simula enquanto passa o avião a minha frente.
- Mas eu estava fazendo isso!!! – Brinco com ele.
Apenas o vejo apertando os olhos em meio a uma risada e negando com a cabeça mais uma vez.
- estava sim! – Faço uma cosquinha fraca em seu pescoço e percebo que ele ri alto. – Ah!!! Então o comandante tem cosquinha! Bom saber. – Aprimoro o movimento e ouço a gargalhada mais fofa do mundo.
Paro quando percebo a aproximação de alguém.
- Dr. David. – Digo.
- Bom dia Jackson, está se sentindo melhor?
- Muito melhor! Obrigado.
- Vejo que conheceu o pequeno Simon. – Ele sorri.
- Ah, então ele é Simon. – O olho. – Comandante Simon. – Arranco dele um sorriso tímido.
- Simon sempre vem aqui pela manhã, traz seus brinquedos e fica brincando. Ele é tímido. Até onde eu vi, você foi a pessoa que ele mais se abriu, até agora.
Sorrio. Aquilo era bom.
- Bom, - Ele continua. – Seu conselheiro, Noah, está te esperando na Hall Principal. Ele disse para você ir para seu dormitório, tomar um banho e se arrumar. O horário do café da manhã é das 9h00min am. às 10h00min am. seus outros horários ele te informará quando se encontrarem.
- Ah, sim. Está bem. Obrigado.
- Aliás, seu dormitório fica no corredor G, porta número 12, terceiro andar.
- Ok. – David sorri e se despede.
Quando ele sai Simon me olha meio triste. Sabia que ele estava assim por que eu teria que deixa-lo.
- Não fica assim, amigão. Eu tenho que ir, mas eu prometo voltar. Ai a gente brinca mais. Tudo bem?
O pequenino concordou com a cabeça, mas ainda sim possuía uma expressão de tristeza.
- Vem cá. – Me levanto e fico de frente para ele.
Simon me olha confuso, mas se levanta na maca, ficando de pé e quase da minha altura.
- Vamos dar uma volta Sr. Comandante Simon! – O pego por debaixo dos braços e o sento sobre meus ombros. – Abra a asas comandante! – Ele sorri e abre os braços como se fosse as asas de um avião.
- Lançar voo! – Seguro firme em seu quadril e corro com ele pelo quarto da enfermaria. – VVUUUUUUMMMM. – Faço-o subir e descer, fazer umas curvas só para ser retribuído com aquela gargalhada maravilhosa. O pequeno Simon ria e também fazia barulhos de avião enquanto o vento batia em seu rosto, dividindo sua franja ao meio.
Por fim, cuidadosamente o jogo na maca aonde estávamos e o faço rir um pouco mais com uma cosquinha rápida.
- Então, - Apoio meu peso sobre cotovelos que estavam sobre o colchão. – Nos vemos mais tarde.
Ele sorri e confirma com a cabeça.
- Até mais, Comandante. – Faço uma posição de sentido e saio em direção a porta da enfermaria com os braços esticados, fingindo ser um avião.
Quando estava prestes a sair, algo inesperado acontece. Ouço uma voz falando dentro de minha mente. "Até mais, Jack." Olho o pequeno Simon e sorrio. Era ele? Bom, acho que terei que descobrir isso mais tarde.
Saindo da enfermaria e pego o elevador, que já estava no andar, em caminho ao dormitório G12 no terceiro andar. Quando cheguei lá, não foi difícil encontra-lo.
Ao lado da porta havia uma fechadura eletrônica com leitor de digital. Pus meu indicador no leitor e ouvi a porta se abrindo.
Uau, que legal.
Quando entro me deparo com um garoto deitado numa cama e com um livro na mão. Ele me olha sem expressão.
- Olá. – Digo tentando ser social.
Porém, sou ignorado. Ele volta a ler se livro.
- Sou Jackson. Prazer. – Tento novamente.
Desta vez ele abaixa o livro e me fita, mas novamente me deixa falando sozinho.
Naquele momento eu pude ver melhor seu rosto, e senti que já havia o visto antes. Ele tinha cabelos escuros e meio bagunçados postos para trás, seu olhos eram num tom castanho escuro e sua pele bronzeada. Ele era grande e robusto, e confesso que dava um pouquinho de medo. Não gostaria de deixa-lo irritado.
Já sei! Aquele era Michael Halhill. O outro garoto que estava em sono criogênico comigo e com Ally no dia anterior.
- Michael? – Arrisco seu nome.
Creio que havia acertado já que ele me olhou com uma expressão de surpresa.
- Como sabe meu nome? – Sua voz soou grossa e forte.
- Fomos iniciados na mesma sala. Vi seu nome em sua câmara criogênica.
- Estava xeretando meus dados enquanto eu estava adormecido? – Naquele momento percebi um tom de ira em sua voz
- Ah... Não! Quer dizer, talvez. Mas essa não era a intenção. – Acabo me embaralhando. – Eh que eu estava curioso para saber quem estava lá dentro. – Ele fecha seu livro e o põe na escrivaninha ao lado da cama. Se levanta e vem em minha direção.
Ferrou.
- Eu não sabia que você iria se aborrecer, desculpa cara.
Achei que voltaria a dar uma visitinha ao doutor David antes mesmo da hora do almoço, mas me surpreendi. Michael começou a rir e a gargalhar da minha cara enquanto eu não estava mais entendendo nada.
- Você tinha que ter visto a sua cara!!! – Ele gargalhava voltando para sua cama. – "Eu não sabia que iria te aborrecer." – E mais risos. – Você é engraçado, irmão! – Por fim, respirou e me olhou.
- Hehe... – Digo desconfortável.
- Noah já havia me falado de você, Jackson.
- Noah?
- Sim, também temos o mesmo conselheiro.
- Nossa...
- Pois é, além de sermos iniciados na mesma sala, somos colegas de quarto e temos o mesmo conselheiro. Juro que se você for meu irmão de classe eu vou reclamar com o destino. – Ele solta uma risada enquanto pega seu livro novamente.
- Eu te ajudo. – Brinco. – Bom, vou tomar um banho e descer para encontrar Noah, está bem?
- Ah sim, vai lá. Eu te espero aqui, ai descemos juntos para o café.
- Está bem.
Abro o guarda-roupas do dormitório na expectativa de ter algo, e por incrível que pareça, tinha. Peguei uma calça e uma blusa de moletom cinza e uma camisa branca. Dentro de uma gaveta havia roupas intimas, então pequei uma cueca boxer e uma toalha na prateleira de cima. Entro no banheiro.
Um banho naquele momento era tudo o que eu precisava. Deixei a água quente cair sobre minhas costas enquanto apoiava minha cabeça em meu braço apoiado na parede. E fiquei pensando em tudo que havia acontecido em menos de 24h.
Depois de me ensaboar e me enxaguar, me seco e saio do box com a toalha na cintura. Visto minha roupa e passo a toalha no cabelo para seca-lo. Quando me olho no espelho, rio de mim mesmo. Eu precisava de uma foto daquilo, meu cabelo estava muito engraçado.
Passo o pente que estava sobre a pia do banheiro nele para arruma-lo, mas ainda assim o bagunço um pouco passando os dedos entre ele.
Quando saio do banheiro, Michael estava ainda deitado, lendo seu livro.
- Vamos?
- Está pronto?
- Sim.
- Então vamos. – Ele marca a página que estava e põe o objeto sobre a mesma escrivaninha de antes.
Se levanta e então saímos do dormitório.
- Então, - Ele diz fechando a porta. – Qual sua classe, Jackson?
- Me chame de Jack, por favor. – Digo pondo as mãos nos bolsos da calça.
- Ah, sim. Jack.
- Bom, a verdade é que eu ainda não sei. – Começo a andar pelo corredor em direção ao Hall Principal e Michael me acompanha.
- Como assim? Ainda não descobriu suas habilidades? – Ele pareceu surpreso.
- Não.
- Entendo...
- Mas, e você Mike? Posso te chamar de Mike?
- Pode sim. Bom, sou um classe B.
- Uau. E quais são suas habilidades?
- Possuo Atmocinese.
- E o que exatamente é isso?
- A capacidade de alterar o clima, ou até mesmo criar uma condição climática em um espaço isolado da natureza.
- Tipo a tempestade, dos X-men?
- É... – Percebo que ele estranhou minha comparação, mas foi a primeira coisa que me veio à cabeça. – porém ainda não sei fazer tempestades em si. Bom, sobre sua classe... Não se preocupe. Mais cedo ou mais tarde você irá descobri-la.
- Embora não queira. – Digo baixo.
- Por que não? É ela quem te faz alguém nesse instituto.
- E é exatamente por isso que tenho minhas dúvidas se quero ou não ter uma classe ou uma habilidade.
- Não compreendo.
- Veja, até o ponto que você é iniciado e fica todo perdidão por ai você ainda não tem uma classe, ou seja, todos, por mais que sejam estranhos, ainda te veem como uma pessoa como elas. Mas a partir do momento que você é reclamado para um grupo específico de pessoas outras se tornam rivais, ou superiores, ou inferiores. É como se vivêssemos numa hierarquia de classe desiguais.
- Isso foi bem analítico.
- Ah, Desculpa.
- Não, não. Tudo bem.
O resto do caminho seguimos em silêncio.
Ao chegar no refeitório Michael se despediu e foi se sentar com alguns irmãos de classe dele. Peguei uma bandeja, próximo ao balcão dos alimentos, e comecei a escolher o que iria comer. Bacon, ovos mexidos, uma caixinha de suco, e uma maça. Não estava mais com aquela fome de dragão de antes.
Subo para a plataforma e vou em direção a uma mesa vazia no fundo, porém acabo esbarrando em alguém acidentalmente.
- Perdão. – a garota se vira.
- Ai meu Deus. – Ela diz e me abraça. – Jackson! Você está bem?
Era Rebecca.
- Oi, - ela se afasta. – Estou sim.
- Desculpe-me pelo Érik ele é um cretino, eu sei.
- Tudo bem. – sorrio. – Sobre essa parte final, concordamos.
Ambos rimos.
- Então o pequeno Jackson está de volta? – Ouço Erik dizendo enquanto se aproxima de mim e de Rebecca.
- Érik, já conversamos sobre isso! – Rebecca diz autoritária. Naquele momento, o refeitório já estava silencioso e todos olhavam em nossa direção.
Ele simplesmente ignora ela.
- E então, você ainda não descobriu mesmo qual sua classe, ou apenas não quer passar vergonha dizendo que é inútil. Jackson Carter. Classe Z
Risadinhas ecoam pelas mesas dos ouvintes.
- Érik! – Ela bate o pé.
- Não fala assim comigo. – Ele investe contra ela a segurando no braço dela com força e autoritário.
- EI! – Tento defendê-la.
- O que foi, classe Z? – Ele se aproxima de mim com os punhos fechados. Sua mão estava começando a ser coberta por uma camada de gelo. Um soco com aquilo e eu passaria boas longas noites conversando com David.
Foi então que Rebecca tomou uma atitude que surpreendeu a todos. Ela segurou a mão de Érik e a inflamou, derretendo o gelo. Ele a olhou indignado e a socou na cara.
Todos do refeitório ficaram imóveis e surpresos. Pude até perceber uma movimentação pequena dos guardas do local. Mas aquilo havia sido a gota d'agua pra mim. Se ninguém ia fazer nada, eu ia. Mesmo que eu corresse o risco de ficar na enfermaria por um mês.
- EI! – O empurro. – Não bata nela!
- Não se intrometa, seu bosta. – Ele investe contra mim para me socar.
Como por impulso, levei meus braços na altura de meu rosto para me proteger, mas o que eu não esperava era ouvir Érik gritando e o ver cambaleando para trás.
Havia jorrado chamas de minhas mãos que queimaram levemente o rosto de Érik.
- Então temos mais um Pirocinético. Por que você e essa vadia ai não se juntam para fazer o clube dos Sensitivies mortos por mim? – Ele solta uma rajada de gelo em minha direção que me faz voar para o outro lado do refeitório.
Me levanto com dificuldade e me perco em meus pensamentos.
Como eu havia feito aquilo? O fogo simplesmente havia saído de meu corpo? Tentei me concentrar. Pude então sentir algo diferente, como se meus instintos aguçassem. De uma hora para outra eu pude sentir as moléculas de calor presentes no ar e então facilmente inflama-las apenas querendo que isso acontecesse.
Levei os punhos pechados até a altura de meu rosto e então os joguei para baixo e abri as mãos. Na mesma hora elas estavam cobertas de flamas dançantes, mas minha pele não queimava e eu não sentia nenhum ardor.
Estiquei a mão lançando uma bola de fogo na direção de Érik, mas ele a congelou antes de chegar em si e a segurou, depois a jogou em minha direção, me abaixei e deixei ela bater numa coluna fazendo-a se quebrar em milhares de pedaços.
Ele havia aproveitado minha distração para se aproximar. Quando olho novamente para frente ele já está perto de mim e acerta um soco na lateral de meu rosto. Eu acabo me desequilibrando pro lado e ele pega minha cabeça e bate minha testa na quina de uma da mesas. Caio no chão com uma dor de cabeça horrível. Ele sobe sobre mim e tenta me bater mais, mas eu seguro com toda força que tinha em seus punhos. Tento inflama-los, mas naquele momento eu não consigo mais. Não sentia mais as moléculas de calor, agora estava diferente. Podia sentir o frio ao meu redor.
E é então que eu me espanto. Seus punhos estavam congelando. Quando ele percebeu isso o gelo já havia coberto quase que toda sua mão. Ele aproveita que eu também estava tento a mesma reação e livra uma de suas mão, me socando. Sinto-o se levantar.
Também me levanto com dificuldade mas um dos capangas dele me segura por trás.
- Como você fez isso? – Érik pergunta irado.
- Fiz o que?
- Argh! Não importa! - Ele bate as duas mãos uma na outra, quebrando o gelo. - Você está morto do mesmo jeito!
Estica a mão tentando lançar alguma coisa em minha direção. Eu estava esperando uma estalactite de gelo afiada ou até mesmo uma outra rajada de gelo, mas o que eu recebi foi um grande nada. O gelo não saía de seu corpo.
Aproveito a deixa e seguro na parte de baixo da camiseta do garoto que estava me prendendo, me curvo o jogando por cima de minhas costas e fazendo-o bater a cabeça no chão. Quando me vejo livre tento criar gelo e sentir as moléculas frias do ar, mas o que sinto é diferente. Pude perceber todo o ar em cada milímetro quadrado do Hall Principal. Era como se o vento estivesse forte como o de um furacão, mas ele não estava se movendo.
Quando estendo a mão na direção de Érik, que até então ainda estava espantado por não conseguir fazer nada. Ele voa para o alto de uma coluna e bate a cabeça no teto. Depois cai lá de cima.
"PPPPPIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!" – Ouço um apito soar alto e os guardas sobem apreçados a plataforma. Um segura a mim, outro ao capanga de Érik, e outro mais tarde sobe na plataforma com o próprio.
- O que está acontecendo aqui? – Um homem de preto diz autoritário.
Todos ficam em silêncio.
- Eu perguntei: O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Ele grita.
- Comandante Drake, - Ouço Rebecca. – Perdão, comandante. A culpa não é de nenhum deles.
O que?
- Érik acidentalmente me machucou e Jackson achou que havia sido de propósito.
O QUE?
- Eles acabaram entrando numa briga.
- Ah, sim. Senhorita Garden. Acidentalmente?
- Sim, senhor.
- Então tudo não passou de um pequeno mal entendido?
- Isso mesmo, senhor.
- Muito bem então. Soltem-nos. – Ele ordenou para os guardas. – menos você. Ele apontou para Érik. Vamos bater um papo. – Ele puxa o garoto para fora da plataforma e os guardas o seguem. Todos voltam a seus afazeres como se nada tivesse acontecido.
Me viro para Rebecca.
- O que você fez? Aquilo não foi acidental!
- Jackson, você não entenderia...
- É! Eu realmente não entendo.
- Apenas me deixe. Você descobriu suas habilidades, deve ser um classe B. se sim, você é irmão de classe meu e dele. E irmãos de classe protegem um ao outro. Independente se ele é ou não um mala.
- Rebecca...
- Vá procurar seu conselheiro, Jackson. – Ela se vira e sai andando.
Olho em volta indignado. Ninguém fazia exatamente nada!
Desço as escadas de acrílico transparente da plataforma e saio em direção ao meu dormitório, em passos largos e pesados.
- Ei! Jackson! – Ouço Noah atrás de mim. O ignoro e continuo andando. Eu estava estressado demais para conversar com alguém. – Jackson! – Ele toca em meu ombro e me vira.
- O que é?
- Aonde vai?
- Para meu dormitório! – Me viro e volto a andar.
- Não quer saber o diagnóstico que seu ponto fez de sua habilidade? – Ele repete o mesmo movimento me virando.
- Sou um classe B. faço parte dos mesquinhos metidos a besta. Feliz? Controlo um ou outro elemento.
- Seu Gene Sensitive não é sensível a nenhum elemento, Jackson.
- Como assim? – Começo a me interessar.
- Seu Sensitive é sensível ao próprio Sensitive. Você não controlou o fogo ou o gelo ou o ar porquê seu Gene é sensível a esses elementos. Você roubou a Pirocinese, a Criocinese e a Aerocinese de Rebecca, Érik e Dean.
- O que? – Por isso Érik não conseguiu me atacar.
- Seu gene tem a capacidade de drenar a energia genética de outro gene quando você toca nela. Isso é Mimetismo Empático. - Noah estava bem animado.
Aquilo era informação demais para mim. Desviei o olhar para o chão para tentar entender tudo aquilo.
- Jackson. – Ele me chama fazendo-me olhar em seus olhos. – Você é um classe A.
Aquelas palavras foram como uma explosão no meu cérebro.
Noah me acompanhou até meu dormitório e lá ele me contou tudo que eu precisava saber sobre os classe A. O que era pouco, pois de acordo com ele a prova mais concreta de um classe A foi uma tal de Violett Wright. Os estudos eram hipotéticos e as especulações eram nulas.
Justo eu, o garoto que não queria pertencer a classe nenhuma, sou um classe A? o único depois de séculos? Por que?
Depois de ter que aturar a empolgação de Noah por um tempo, ele me diz que eu posso descansar o resto do dia e que ele cuidaria dos possíveis problemas que causei hoje.
Fiquei deitado na cama por longas horas, tentando entender o que havia acontecido. Não sai para o almoço e nem mesmo para a janta, apenas tomei um banho quando eram 6h00min pm. E segui para a enfermaria para ver se Simon estava lá.
Evitei lugares com muita gente. Naquela altura do campeonato, os boatos de Jackson Carter ser um classe A, já deveriam ter se espalhado por todo o instituto. Mas mesmo pegando rotas com poucas pessoas, as que me encontravam por ai me olhavam como se eu fosse um monstro de sete cabeças.
Resolvi ignorar e apenas continuei o meu caminho de cabeça baixa até a enfermaria.
Quando cheguei lá, o local estava escuro. Iluminado apenas por algumas luzes laterais próximas às paredes. No balcão da enfermaria, debruçado sobre ele, David olhava para o garoto loiro sentado numa maca e brincando com seus aviões de brinquedo.
- Então é verdade? - O ouço falar baixo quando me aproximo.
- Já chegou à você?
- Já chegou à todos, meu caro.
- Ah, que péssimo. - Me encosto na parede ao lado do balcão e apoio minha cabeça.
- Por que? Você é um dos mais indicados para poder ser a cura para a humanidade! - David falava sereno e baixo. Não como se estivesse animado ou surpreso, mas como se fosse algo normal. Confesso que aquilo me fez sentir melhor.
- Mas agora todos vão ter medo de mim, ou tentar se aproximar de mim por causa de minha classe.
- Alguns sacrifícios devem ser feitos Jackson. São apenas comentários e gente interesseira, em troca de milhares de vidas salvas.
- Mas eu não pedi para fazer esse sacrifício. Eu não...
- Você não escolheu ser escolhido.
- Exato. - Digo baixo.
- Eu sei Jackson. Muitos não temos escolhas. E sei que é frustrante. Mas você tem duas opções. Apenas duas.
- E quais seriam?
- Ficar se lamentando, ou encarar a realidade. Pagar uma de criança mimada, ou ser um orgulho para a humanidade.
Fiquei pensando em suas palavras.
- Bom. - ele continua. - Você pode não ter escolhido ser quem você é, mas essa escolha, é você quem faz. - Ficamos em silêncio por um tempo. - Agora vá! Simon está te esperando já faz um tempo. Você realmente fez a diferença para o garoto.
- Como assim?
- Desde que fora iniciado, Simon nunca demonstrou afeto nenhum com ninguém. Muitos nem ao menos encostaram nele. Mas ele deixou que você fizesse isso, e muito além! Ele te escolheu.
- Escolheu pra que?
- Para ser a família dele. - O Dr. pega seu casaco e o põe. - Vou ter que dar uma saída. Logo estarei de volta. Vocês dois podem ficar aqui.
- Obrigado Dr.
Para ser a família dele? Eu? Por que? Creio que era a pessoa que menos entendia de laços familiares em todo o instituto.
- "Jack?" - o ouço em minha mente.
- Sou eu, amigão! - Respondo em alta voz enquanto me aproximo. - Pronto pra brincar de novo?
Ele sorri e nós ficamos lá por um tempo.
[...]
Alguns minutos depois de algumas risadas, ouço o pequeno falar novamente em minha mente.
- "Ei, Jack. Tem uma garota se aproximando!" - Com isso, ele me fez olhar para ver quem era.
- Calma, ela é amiga.
- Oi. – Allyson diz se aproximando devagar de nós dois.
- Olá, Ally. - Respondo.
- Está melhor?
- Muito.
- Que bom.
- Oh, não, Comandante! - Digo brincando com Simon e fazendo-o rir. - Temos um problema. Uma outra nave está voando a nossa frente! O que fazemos agora?
Ally se sentou na maca ao lado a que estávamos.
- E esse pequenino, quem é? – ela se dirige ao pequeno Simon, mas ele não responde.
- "Não quero falar com ela, Jack". - o ouço.
- Simon. - Digo por fim. - Ele é bem tímido e não gosta muito de falar.
- Oh, tudo bem. Eu acho que não me dou bem com crianças.
- Eu disse que ele não gosta de falar, não que ele não se comunica.
- Como assim?
- Ei, amigo. Mostre pra ela.
- "Mas Jack, eu estou com vergonha dela."
- Não precise ter vergonha. Ela é minha amiga.
- "Você confia nela?"
- Claro que confio!
- "Está bem então."
Depois disso o silêncio reina por um tempo.
- É ele? – e ali estava a confirmação de que Simon tinha falado com ela.
- Sim.
- Oi. – Ela responde animada ao garotinho. – Sou Allyson, mas pode me chamar de Ally, se preferir. - Ela termina com um sorriso.
Voltamos a brincar. Simon estava se divertindo. Ria e fazia piadas enquanto subia e descia com seu aviãozinho.
- Jackson... - Ouço ela me chamar
- Jack. Pode me chamar de Jack.
- Ok. – Ela sorri – Então, Jack, onde esteve durante o dia?
- Creio que foi um dia normal. Acordei, tomei café, - Até então era verdade. - depois treino, testes, almoço, mais treino mais testes, jantar - Minto. - e ai estou aqui.
Não queria falar sobre o ocorrido, mesmo sabendo que grande provavelmente ela já havia ouvido os boatos. Pensei que dizer que sou um classe A não adiantaria de nada. Não mudaria a vida de ninguém, e eu gostava daquela garota, ela era até que legal. Não queria que ela pensasse que eu era um metido.
- Curioso, não te vi hoje.
- Nossos horários provavelmente não foram iguais.
- Deve ser.
- Alias, aonde estava você? Quando acordei, não te vi.
- Minha conselheira me chamou para fazer um teste para descobrir minha classe.
- E como foi? - Pergunto interessado.
- Horripilante.
Rio baixo de seu comentário.
- É sério – Ela brinca.
- Está bem. Mas conseguiu descobrir sua classe?
- Sim. Faço parte dos deslocados da classe D.
- Não fale assim. - A conforto. - Se todos forem como você, eles são legais.
- Obrigada – Ally diz em meio a um sorriso.
- "Simon é classe C. Simon gosta da letra 'C'. Chocolate começa com 'C'. Simon gosta de chocolate. Imagina só um avião de chocolate! Esse eu ia deixar entrar na minha barriguinha." – Ouço o pequenino falando em minha mente.
- Seria incrível, não é, amigão? – Respondo o garoto, divertido.
Ele balança a cabeça confirmando e volta a brincar com seus brinquedos.
- Já jantou? – Ela me pergunta.
- Ainda não. – A verdade é que eu não queria ir para o refeitório. Estou evitando aquele lugar desde o café da manhã. Não estava preparado para enfrentar todos aqueles olhares e comentários.
- Eu também não. Quer ir comigo? – Eu estava temendo aquela pergunta.
- Não estou com muita fome.
- Eu também não. – Ela ri. – Mas Brook já jantou e eu não queria ir lá sozinha.
- Brook?
- Minha colega de quarto.
Não queria deixar Ally na mão, mas também não queria ir para lá. O pior é que eu sabia que cedo ou tarde eu teria que enfrentar aquilo, afinal eu não conseguiria viver de fotossíntese.
- Está bem. Eu vou.

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