CAPÍTULO XII
BrookNaquele momento o que eu queria fazer era sair correndo em direção a ela e abraça-la por dias, mas algo me impedia e eu não sabia o que. Poderia ser o fato de minhas pernas não estarem respondendo ao meu comando, ou o medo que por algum motivo estava sentindo; eu a vira morrer numa explosão e agora ela está em pé a minha frente como se nunca tivesse ao menos mexido em um isqueiro; e até mesmo a dúvida de que, se eu fizesse um movimento a mais, um daqueles Ônix enfiaria uma bala na minha cabeça e eletrocutaria todo meu corpo.
Aquilo era uma mistura de sentimentos e de pensamentos. Eu estava feliz por ver Chloe, mas por que ela estava ali? Quer dizer, eu realmente a vi sendo coberta pelas cortinas de fogo no dia anterior. E ainda mais estranho que isso, por que ela estava acompanhada dos soldados autômatos que estavam atrás de nós?
Eu queria poder fazer alguma coisa, mas eu apenas consegui encher meus olhos de lágrimas que recusavam-se a cair e dizer uma palavra.
- Chloe...
Logo após, um homem surgiu atrás dela. Um homem alto, musculoso, de cabelos escuros e curtos, com um rosto forte.
- Olá, de novo, meus Sensitivies detestáveis. – Quem era aquele homem? Ele passou por Chloe, que ainda mantinha silencio e não se movia e foi para mais perto de nós.
- Quem é você? – Jack pareceu ler meus pensamentos.
- Desculpe, quando nos vimos eu não estava com essa cara, mas é tão difícil imaginar quem eu possa ser?
- Tenebris. – Mike disse com raiva e desgosto na voz.
- Parabéns, temos um campeão! – O homem abriu os braços em uma falsa expressão de felicidade.
- O que faz aqui seu amontoado de lata de alumínio? – Ally pareceu se estressar.
- Que palavras de baixo calão são essas Srta. Allyson? – Ele ri. – Mas respondendo sua pergunta, eu já disse a vocês que nunca algum Sensitive conseguiu me deter. Estou impressionado em ver que realmente acharam que uma explosão daquelas poderia acabar comigo. Pobres crianças. – Todos se calaram. Naquele momento, pude ver Franklin abraçando Chloe, mas ela o reprimia e o olhava com nojo, afastando-o, como se não reconhecesse o pai. – Porém – Tenebris continua. – Devo admitir que vocês foram os primeiros a fugirem de minhas mãos, e isso é de se admirar. Sendo assim, trouxe um presente. – Ele aponta para Chloe. – Como memória do que houve.
- Chloe – Em fim consigo dizer algo. Meus olhos já quase não conseguiam segurar as lágrimas, mas recusava-me em chorar na frente daquele robô inútil. – Você está bem?
- Ela não a responderá.
- Cala a boca sua lata velha desgraçada! – Eu estava desesperada. - Chloe? Chloe!? – Ela não me respondia. – O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?
- Calma estressadinha. – O Marechal faz um sinal com a mão e seus soldados prendem a cada um de nós, incluindo Franklin, com as mãos nas costas. Seu sorriso irônico estava começando a me irritar. – Lamento informar que eu não fiz nada com sua cara amiga, mas não posso dizer o mesmo de Raven.
- Raven? O que...
- Brook – Noah me chama. – Olhe o ponto de Chloe.
Eu nunca pararia para prestar atenção nisso, mas ele tinha razão. Perto do pescoço dela, onde estava seu ponto colocado no Instituto, uma luz fraca e quase impercebível brilhava em vermelho, e pequenas "veias" negras eram percebíveis sobre sua pele naquela região.
- Sabia que era atencioso e detalhista Noah, Mas não tanto assim. – O Ônix riu.
- Filha, o que fizeram com você? – Sr. Martins não parecia estar entendo nada, mas seu foco naquele momento era sua filha que não via há anos. Eu não conseguia imaginar o quão confuso e dolorido isso estava sendo para ele.
- Filha? – Gargalhou Tenebris. – Então estamos num reencontro familiar? – Pela primeira vez eu não me importaria de quebrar minhas unhas, desde que fosse esmurrando a cara de metal daquela lata velha. – Chloe! – Ele disse após um curto tempo de silêncio.
- Sim, Tenebris. – Sua voz era confiante e autoritária.
- O que devemos fazer com esses aqui? Eu adoraria poder tortura-los um pouco.
- Raven não gostaria disso. – Ela se aproximou firme e começou a andar a nossa frente. Possuía um olhar escuro. Um olhar que nunca antes vi nela. – Devemos leva-los, apenas. A chefe vai gostar de conhece-los. Principalmente o gatinho aqui. – Ela para em frente a Jackson e passa a mão em seu rosto. – Um classe A.
Aquela definitivamente não era Chloe.
- Andem seus cabeças de lata! Levem-nos para o caminhão! – Ela disse se virando e parando perto da porta de saída.
- Vocês a ouviram! Vamos! Movimentem-se!
Imediatamente os soldados empurraram um a um em direção à porta do hotel.
Era difícil processar tudo aquilo, por que ela estava ajudando eles? Por que ela está agindo estranho?
Naquele momento minhas esperanças foram embora. Apenas abaixei a cabeça e deixei que me guiassem. A minha frente estava Ally e Mike, e logo atrás vinham Jack, Noah e Franklin.
- AAH!!! – Ouço um grito atrás de mim. Me viro para ver o que aconteceu.
Jackson havia derrubado o Ônix que o segurava e empurrado Chloe. Ela estava no chão, caída e ele se aproximou rapidamente e a tocou no pescoço.
Aproveitando o momento de distração, Ally conseguiu se soltar também, Michael levantou voo com o soldado e bateu as costas dele no teto, fazendo-o solta-lo e despencar no chão. Noah também foi rápido e estratégico e conseguiu libertar a mim e a Franklin. Todos nós corremos para o outro lado do Hall, enquanto Chloe se levantava e Tenebris e seus capangas se recuperavam do que aconteceu.
- Acho que as crianças querem fazer isso do jeito mais difícil. – Ele ameaça ir para cima de Jack.
- NÃO! – Chloe o interrompe. – Desse eu cuido. Pegue os outros.
O Marechal fez mais um sinal com as mãos e os soldados vieram em nossa direção, mas pareceram me ignorar. Allyson e os garotos subiram correndo as escadas para fugir de seus perseguidores e eu continuei imóvel.
- Hora de fritar, fofinho. – Minha antiga amiga diz atirando um raio rápido em direção a Jackson. Por uma fração de segundos eu achei que aquele era o fim, mas ele me surpreendeu quando fez o mesmo que ela e manteve uma competição de força. Os feixes se encontravam e um empurrava o outro freneticamente. As luzes do local não suportavam a quantidade de energia que emanava deles e então começaram a falhar. Do encontro de habilidades, raios menores se deslocavam de seu curso e eletrocutavam objetos de metal, prata, e até mesmo quadros e decorações por todo o Hall. As luzes estouravam uma por uma quando recebiam aquela quantidade e energia e soltavam faíscas por todo local. Em frações de segundos a única luz que iluminava ali era a que irradiava-se da descarga elétrica entre Chloe e Jack.
- Agora, você é minha. – Tenebris disse vindo em minha direção com passos firmes e pesados, decidido em quebrar meu pescoço provavelmente.
Corri pelo corredor a minha esquerda, o mesmo corredor grande e decorado, com um quarto em seu fim. Entrei apressadamente nos aposentos do Sr. Martins e fechei a porta, trancando-a.
Minha respiração estava muito acelerada, podia sentir a pulsação em meu pescoço e eu tentava pensar em algo pra me livrar do Ônix, rapidamente.
O quarto estava como antes, com sua iluminação á velas e intocado. Me desloquei dificilmente, pois minhas pernas tremiam, e me escondi dentro do armário da outra extremidade do quarto. Fechei a porta de madeira que deslizou por seu encaixe me fechando lá dentro, mas me dando uma visão precária do lado de fora por conta de seus detalhes vasados.
O Marechal arrombou a porta do local e entrou já com a arma nas mãos. Eu estava assustada, então obriguei-me a ficar calada. Pressionei os olhos e os lábios para não dedurar meu esconderijo, o que infelizmente não funcionou. Ele abriu ferozmente a porta do armário e me puxou para fora.
- Pensei que era mais esperta, gatinha. – Ele força a me prender, mas me debato para me soltar. – Quieta!
De alguma maneira consigo socar seu rosto de metal, mas me arrependi. Tenebris me acertou no nariz com seu cotovelo e me chutou na barriga, fazendo-me cair para trás. Me aproximei da parede recuando, mas ele apontou a arma em minha direção.
- Desculpe, é realmente uma pena estragar um rostinho tão lindo.
Não sei o que deu em mim, mas percebi um vaso caído perto de seu pé e desejei que as raízes crescessem e se enrolassem em seu tornozelo. Sabia que a raiz de uma planta pequena não o prenderia, mas o distrairia e me daria tempo.
Passei por debaixo da cama quando ele voltou sua atenção para sua perna e ao chegar do outro lado, sai pela porta que ele havia arrombado e corri novamente pelo corredor.
No Hall de entrada Chloe e Jack ainda brigavam, mas não mais disputando poder. Ele parecia cansado e exausto, com sua roupa chamuscada e toda ferrada. Aquele uniforme era tão brega que se eu fosse Chloe também faria aquilo.
Jack foi jogado pro outro lado da sala com uma descarga feita por ela e percebi que ele não conseguiria mais se levantar. Instintivamente peguei um pequeno vaso de cerâmica sobre uma mesa e joguei em direção a ela, o vaso quebrou ao acertar sua cabeça, o que infelizmente não a fez desacordar, mas apenas ter um novo alvo para acertar.
Sai correndo rumo à escada de cima com Chloe e Tenebris atrás de mim.
Ao chegar lá, encontrei o resto do grupo no final do corredor.
- Onde estão os soldados? – Pergunto
- Presos.
- Tenebris e Chloe estão vindo!
- Eu tenho um plano. – Noah diz. – Michael, Fique aqui com Brook. Ao meu sinal você a segura e sai voando com ela até o Hall de entrada. Ally e Franklin, vocês vem comigo. – Eles seguem para uma porta pouco atrás de onde eu estava vindo e entram no quarto.
Eu olho Mike com desespero, mas nossa conversa silenciosa foi interrompida quando meus perseguidores chegaram ao andar.
- Vocês dão trabalho, admito. – A menina diz andando em passos curtos, com o autômato mirando a arma para nós. Eles se aproximavam lentamente.
- Você nem imagina. – Mike provoca.
- O menino voador. – Ela ri. – Onde estão seus amiguinhos?
- Não te interessa.
- Que falta de educação.
- Chloe... – Tento apelar para a emoção. – Por que está fazendo isso? Nós somos seus amigos, EU sou sua amiga!
- Você nunca entenderia, Brook. Mas o jogo já está ganho! Raven é a vencedora.
- E qual é o prêmio? Ela já matou o irmão que tanto odiava, por que não nos deixa em paz?
- Raven é poderosa, e seu foco nunca foi seu irmão inútil! Ela quer mais, e com tudo que ela tem e está conquistando, logo chegará aonde quer.
- E onde é?
- Minha cara, um dia verás.
- Mas por que a ajuda?
- Chega de perguntas! Tenebris, acabe com isso!
- Com todo prazer – Ele aponta a arma para mim.
Nessa hora Noah e Allyson saem do quarto logo atrás deles e os nocauteiam com candelabros de prata na nuca. Eles caem no chão enquanto Franklin corre para o Hall.
Michael me abraça e voa comigo pelo corredor e depois pousamos próximos ao corpo de Jackson. Após o Sr. Martins descer as escadas, atrás dele vinha apressadamente os outros dois, que ao chegarem no final, derrubaram os dois grandes vasos ao lado da dela.
Os soldados que antes estavam presos pularam lá de cima até em baixo, fazendo o chão tremer. Chloe apareceu no último degrau superior, olhando-nos com desdém enquanto Tenebris juntava-se a seus capangas.
- Desistam! – Ela disse autoritária.
Noah se pôs a frente enquanto Ally e Mike erguiam Jack.
- Por quê? – Ele se dirige a ela. Os soldados todos apontavam suas armas para ele. – Não consegue nos pegar se não desistirmos? – Ele estava provocando-a? Aquilo era coisa do Mike.
- Como é que é?
O que ele estava...? Entendi. Noah estava querendo que Chloe disparasse energia em sua direção, naquele momento o chão onde o exército autônomo pisava já estava coberto de água que esparramaram dos vasos derrubados.
Logo, então, o plano funcionou. A garota descarregou em direção a ele, que pulou rapidamente para fora da área molhada, fazendo o raio acertar a água e eletrocutar os robôs. Essa foi nossa deixa para sairmos pela porta.
- Vamos senhor Martins! – Disse me virando para o homem que estava atrás de mim, mas me arrependi de ter feito isso.
Quando ele se dispôs a correr, Chloe o acertou, fazendo seu corpo tremer, mas não parou por ai. Ela continuou, bradando de raiva. E com meus olhos, pude ver a pele do homem começar a escurecer por causa das queimaduras e eu quase pude ouvir seu coração desistindo de bater.
- Brook! – Noah me abraçou e me puxou para fora do hotel. – Vamos!
Quando entrei no carro Allyson e Michael arrumavam o corpo de Jackson no banco traseiro. Fiquei encarando a fachada do estabelecimento enquanto a imagem de Franklin fixava-se em minha mente. As luzes do local piscavam e estouravam, energia percorria até o lado de fora. O asfalto, ainda molhado pela chuva, era um campo minado por receber tal carga elétrica. E assim a aconchegante pousada se transformou numa bateria prestes a explodir.
- Vamos sair logo daqui! – Noah dá a partida no carro e saímos aceleradamente dali em direção a Nebraska.
Era impossível tentar raciocinar tudo o que aconteceu. Eu ainda não entendia como Chloe pode trair a nós e escolher ficar ao lado dos assassinos de Raven. Era muita informação.
[...]
Depois de horas calados, Ally e Mike já dormiam no banco traseiro, mas o sono tardava a vir a mim novamente.
- Durma um pouco Brook. – Noah disse sereno.
- Não consigo.
Ficamos quietos novamente.
- O que aconteceu lá? – Aquela pergunta estava me matando! Não sabia se ele tinha as respostas, mas precisava tentar.
- Raven. Foi isso que aconteceu. – Ele suspirou. – De algum jeito insano ela conseguiu criar um tipo de vírus que consegue afetar o ponto instalado em vocês e controla-los.
- Como?
- Eu não faço a menor ideia, não sei nem se minha teoria está certa.
- E o que fazemos a respeito?
- Nada. Apenas tentamos não ser pegos. – Por mais tempo, o silêncio fez seu reino. – Mas talvez possamos tirar algo bom disso tudo.
- O que?
- Se Chloe Martins está viva, significa que talvez, uma boa parte dos Sensitivies que achamos estarem mortos no massacre do Instituto, também estejam.
- Mas se estiverem...
- Estão todos sendo controlados pela mente mais brilhante e maligna já existente.
- Raven Hughes.
- Exato.
Aquilo definitivamente me assustava. O que faríamos agora? Como chegaríamos ao Alaska com um exército de autômatos e Sensitivies furiosos, muito mais fortes e inteligentes que quatro jovens recém iniciados, atrás de nós?
Noah estava tão preocupado quanto eu, mas resolvi deixa-lo quieto.
Por um instante senti algo que não sentia a tempo. Cansaço. Toda aquela correria e confusão realmente foram desgastantes. Cada músculo meu estava dolorido, e graças a isso, o sono veio a mim como nunca.
Dormi após um tempo olhando as árvores passarem por nós do lado de fora e a lua ainda luminosa no céu, mas meu único desejo era não sonhar com absolutamente nada. Principalmente com Chloe, matando seu próprio pai.
Aquela imagem seria mais uma das muitas que me assombrariam por muito tempo.
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Sensitive - Iniciados
Science Fiction"Dizem que existem pessoas que não estão nesse mundo por acaso. Que algumas nascem diferentes pra fazer a diferença, e por mais que tentem esconder-se, o universo da um jeito de revela-los. São esses são os chamados "escolhidos". Após uma nova ordem...