Capítulo XI

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CAPÍTULO XI
Brook

"How could a heart like yours, ever love a heart like mine..." Aquela música. Eu sabia que deveria reconhecê-la , mas não me recordo o porquê. Se nem mesmo da letra eu lembrava, imagine então o motivo pelo qual eu senti aquilo.
Eu estava no banco da frente do carro que Noah alugou em Denver. Ele dirigia tranquilo ao meu lado, e logo atrás Mike dormia com a cabeça encostada no vidro. Não conseguia ver Ally e nem Jack de onde estava, mas todos estavam muito quietos.
Confesso que depois de tudo que aconteceu todos devem estar muito abalados, assim como eu. Desde a invasão do instituto, em menos de dois dias, nós mudamos bastante. Eu por exemplo, estava bem desanimada e abalada sentimentalmente, não só pela invasão, mas também por Chloe.
As palavras de Michael ainda ecoavam em minha cabeça. Eu realmente conhecia Chloe a pouco tempo, mas ela foi uma das primeiras pessoas com quem eu falei após ter sido iniciada. Fora ela quem me enturmou com os Sensitivies da classe B, e também foi o vínculo mais próximo que tive de alguém. Fiz uma amiga boa e incrível em tão pouco tempo, porém a perdi tão rápido quanto.
O céu estava escuro, não somente pelo chegar da noite, mas também pelas nuvens pesadas de chuva que se formavam. O frio já começava a se mostrar, mas dentro do veículo estávamos aquecidos.
Durante boas horas ficamos todos em silêncio. Ninguém ousava dizer uma palavra. Mike ainda dormia, percebi que Ally e Jack também haviam tirado uns cochilos, mas Noah continuava alerta e não parecia cansado. Já eu, nem mesmo se quisesse conseguiria descansar.
- Estamos na estrada há três horas. – Ele disse ao meu lado. – E ainda temos longas três ou quatro horas de viagem, sem falar no temporal que está prestes a despencar do céu. E como já são quase 9h00m pm. Acho melhor pararmos para descansar.
- Sugere algum lugar?
- Tem um pequeno hotel a mais ou menos um quilômetro daqui. Podemos nos hospedar lá.
- Está bem. – todos concordaram, a não ser Michael que estava no décimo nono sono.
Naquele momento a chuva já começou a cair. Algumas gotas finas começaram a molhar os vidros do carro e Noah ligou o limpador de para-brisa, mas depois de um tempo nem na velocidade máxima aquilo estava dando conta.
- Estamos quase lá. – Ele disse tentando enxergar por entre a chuva.
Deitei minha cabeça no vidro do carro e observei o vidro molhado. A paisagem passava rápida do lado de fora, a água caia ferozmente no asfalto e as árvores se alegravam com a chuva. A cima de tudo que nos aconteceu, àquelas horas, talvez, foram os momentos mais calmos e pacíficos que tivemos juntos.
[...]
- Chegamos. – Noah estaciona o carro numa ala coberta. – Acordem o Michael, por favor.
- Ei vacilão – Allyson cutuca ele com o cotovelo. – chegamos. Acorde!
Me arrumo e abro a porta do carro. O barulho da chuva batendo no teto da cobertura e no chão era alto e praticamente não se dava para ouvir a voz dos outros.
O pessoal saiu do carro e o conselheiro já estava pegando nossas bolsas no porta-malas. Ele entregou uma pra cada um e indicou com a cabeça para o seguirmos. Noah saiu correndo na frente com os meninos logo atrás, eu e Ally demoramos um pouco. Colocamos nossas bolsas sobre a cabeça, para nos protegermos da chuva, e então os acompanhamos.
O hotel era simples, mas ainda sim lindo. Quando entramos, estávamos todos praticamente encharcados.
- Oh, meu Deus. – Disse um homem de rosto forte com uma barba rala bem feita e curtos cabelos grisalhos arrumados num topete, saindo de trás de um balcão e correndo para algum lugar longe de nós.
Eu tentei não imaginar o estrago que estava. Minhas roupas estavam encharcadas e meu cabelo deveria estar pior que um gato molhado.
- Aqui. – O homem voltou com algumas toalhas e nos entregou.
- Obrigada. – Digo pegando uma.
- Obrigado, Senhor...
- Franklin, Franklin Martins.
Ele sorriu e voltou para onde estava.
- Desejam se hospedar?
- Sim. Por favor.
- Quartos separados, ou de casais?
- Gostaria de ficar com Allyson, se não tiver problema. – Digo.
- Está bem. Dois quartos com camas separadas .
- Muito bem. – Ele diz mexendo no computador.
- Quantos dias?
- Somente essa noite.
- Inclui Café da manhã?
- Sim.
- Nomes, por favor.
- Noah Greene, Jackson Carter, Michael Halhill, Allyson Clark e Brook Hundy.
Ele realmente sabia nossos nomes completos?
- Muito bem senhor Greene. Aqui estão suas chaves. – Ele entrega a Noah as chaves dos quartos. – Quarto 112 e 113. Segundo andar no final do corredor.
- Obrigado.
Seguimos para os quartos. Os meninos entraram pela porta do cento e dose e eu a Ally ficamos com o cento e treze.
- Quer tomar banho primeiro? – Pergunto fechando a porta do quarto.
- Não, tudo bem. Pode ir.
Sorrio em forma de gratidão e entro no banheiro. Quando me olhei no espelho, quase tive um surto. Meu cabelo estava horrível!!!
O local não era grande nem todo claro e branco como o banheiro do instituto, mas era aconchegante. Me despi e joguei a roupa molhada no cesto de roupa suja. Logo em seguida entrei no box do chuveiro e tomei um bom e relaxante banho quente. O bom era que shampoo, condicionador e sabonete tinham de graça lá dentro. Quando sai, vesti minha última troca de roupa da bolsa que trouxe do instituto e usei o secador de cabelos que também estava disponível no hotel, para me arrumar.
- Brook? – Ouço a voz de Allyson do lado de fora.
- Já estou saindo! – E foi o que fiz, depois de guardar minhas coisas. – Sua vez.
Ela sorriu e entrou no banheiro com a troca de roupa na mão. Quando me encontrei sozinha naquele enorme quarto, parei para olhar em volta, e uau! Que quarto!
As paredes eram de madeira envernizadas de um jeito que realçava sua cor natural, elas também eram trabalhadas e talhadas, como se fossem cuidadosamente feitas à mão. No teto branco, um pequeno lustre de cristal sustentava quatro lâmpadas de tom amarelado e luminosas, mas a iluminação seguia também pelas divisórias, com algumas luminárias de parede em formas de castiçais acesos de ouro. O chão era do mesmo material que o resto do quarto e, diga-se de passagem, bem enseirado. No centro havia um tapete persa muito grande com desenhos e representações lindos num tom de branco, cinza e azul. Duas camas encostadas com a cabeceira na parede de frente a porta do banheiro estavam arrumadas com lençóis que combinavam com o tapete. A porta de saída ficava a esquerda de onde eu estava, e ao seu lado um sofá divã estofado das mesmas cores. Toda aquela decoração contrastava a as cores naturais da madeira que o local era feito e apenas o deixava mais lindo ainda.
Ao lado direito uma grande janela estava fechada e sendo molhada pelas gotas de chuva. Um grande guarda-roupa de madeira fosca se estendia na parede ao meu lado, de frente as camas, e entre elas, um pequeno criado mudo do mesmo material com um abajur aceso sobre ele.
Ally havia arrumado nossas coisas perto do pé de nossas camas, mas junto a uma, havia duas mochilas. Chloe.
Me direcionei a essa cama e me deitei, olhando fixamente para o teto e pensando em várias coisas por vários minutos.
- Tudo bem? – Ally pergunta saindo do banheiro.
- Tudo sim, amiga.
- Certeza?
- Uhum.
Ela se aproximou e sentou-se na cama ao lado. Me arrumei, também sentando com as costas encostadas na cabeceira de madeira.
- Eu sei que hoje deve ter sido um dia bem difícil para você por que... – Tinha certeza de que ela ia falar de Chloe, mas o último assunto que eu queria tocar naquela hora era ela.
- Não. Por favor. Não vamos falar sobre isso.
- Está bem. – Ela pega um livro que estava sobre sua cama e o põe no criado mudo.
- Este é o livro que comprou hoje?
- Sim.
- E por que o comprou?
- Eu não sei. Quando entrei na lojinha do antigo pos... Bom... Eh...
- Do antigo posto de gasolina. Eu sei, Ally.
- Isso... Bom, eu quase que por instinto me dirigi à pequena prateleira de livros. Isso me fez sentir ligada ao meu passado, mas nada com o que eu pudesse me lembrar.
- Te entendo. – Creio que ela sentira o mesmo sentimento que eu quando estava ouvindo a música na rádio.
- E que livro é esse? – pus animação na voz para quebrar o clima mórbido e tenso que pairava no ar.
- Não me lembro de alguma vez ter ouvido falar nele, mas a capa me chamou a atenção. Era a melhorzinha entre os outros.
- Mas e o ditado de "Não julgue um livro pela capa"?
- Nem sempre dá pra se seguir ele – Ela ri e eu a acompanho. – Bom, se chama "Os símbolos de libertatem", conta uma história mística e fantasiosa que envolve magia medieval. Merlin, Morgana, Rei Artur e essas coisas todas.
- Parece ser interessante.
- Sim. – Ela sorri. – Por algum motivo, a leitura me ligou com alguma coisa do meu passado. Só não sei o que.
Ficamos em silêncio por um tempo.
- Mas... – Ela continua. – Já deve ser tarde. Vamos dormir um pouco. Está bem?
- Okay.
Nos levantamos e puxamos os lençóis e cobertores brancos e azuis para nos deitarmos. Ally abaixou os dois interruptores perto da cama e o lustre e as luminárias de parede se apagaram. Apenas o abajur continuava aceso.
- Boa noite, Brook. – Ela disse pronta para apaga-lo também.
- Boa noite, Ally. – E então o quarto fica escuro. Pouco iluminado, apenas pela luz de fora que entrava pela janela de cortinas de renda semifechadas.
(...)
Creio que horas se passaram. Allyson já dormia na cama ao lado, e não ouvia barulho algum vindo do quarto dos meninos. Nem de lá e nem de nenhum lugar. Todos já deveriam estar adormecidos, mas eu não. Por mais que tentasse ficar com os olhos fechados, o sono não vinha a mim. Naquela hora, até mesmo a chuva já havia acalmado. Ainda chovia, mas não uma tempestade como antes.
Até as paredes de madeira trabalhada pareciam dormir ao som da água que caía lá fora.
Percebendo que não conseguiria dormir, resolvi me levantar e dar uma volta por aí. Beber um copo de água, talvez.
Me levanto devagar e sigo para a porta, com cuidado para não fazer barulho e acordar Ally. Destranco a porta e saio cautelosamente do quarto.
Toda estrutura do hotel não fugia do padrão. As paredes trabalhadas, o chão bem enseirado, os tapetes persas, tudo dava ao local algo especial. Segui pelo grande corredor, passando por vários quartos, num ponto à frente uma escada se mostrava no meio do caminho. Seus degraus eram cobertos com a mesma decoração que o chão dos quartos, seu corrimão era também trabalhado nos mínimos detalhes, típico do local. Desci devagar por ela, com uma rangida ou outra na madeira de sua composição, mas nada alarmante que acordasse o hotel inteiro. Quando finalmente cheguei ao Hall de entrada eu só consegui pensar em uma coisa.
Pra que lado fica a cozinha?
O local estava todo escuro, o que deu de se entender que até mesmo o senhor Martins havia se deitado. Tentei acender as luzes no interruptor perto da porta de entrada, mas foi uma ação falha. As luzes não se acendiam. Acredito que a energia havia caído graças ao temporal.
Que ótimo!
Minha sorte era que em alguns lugares, em castiçais de parede, haviam velas acesas iluminando o caminho. Me aproximei de um e retirei uma, já no protetor.
Muito bem Brook, Pra que lado agora?
Ao longe, pude ver uma luz, vindo de algum lugar, e como eu não tinha nada melhor para fazer, resolvi segui-la. Talvez alguém pudesse me indicar o caminho para o refeitório.
Andei por um corredor largo e extenso. Não havia portas por onde passava, apenas quadros com pinturas pendurados e mesas encostas com pequenas toalhas, velas e decorações sobre elas. No final do corredor, uma janela fechada, e a direita uma porta semiaberta.
- Com licença... – Digo abrindo-a um pouco mais. E fazendo-a ranger.
Para minha surpresa não havia ninguém no quarto.
O local não era muito diferente do padrão. As cores e a decoração eram praticamente as mesmas, mas aquele aposento era mais particular e pessoal. Velas iluminavam todo o recinto e fotografias enquadradas estavam penduradas nas paredes em diferentes locais. Parei em frente a uma mesa pequena encostada em uma das paredes. Haviam alguns retratos em cima dela, retratos que mostravam três pessoas. Tive certeza de reconhecer uma delas, mas outra fiquei em dúvida. Não podia ser.
- O que está fazendo aqui? – Uma voz me assustou. Virei para a porta, na direção da qual a voz veio. O dono do hotel estava parado lá, segurando uma vela numa mão e um bule na outra.
- Senhor Martins! Me perdoe – Abaixo a cabeça em sinal de arrependimento. – Eu não queria entrar assim e bisbilhotar. Não sou assim. Perdão.
- Brook, não é?
- Sim, senhor.
. – Ele suspirou indiferente - Não consegue dormir?
O olho nos olhos. Seria tão óbvio assim?
- Não.
- Eu te entendo. – Ele diz indo em direção ao criado mudo ao lado de sua cama e pondo o bule e a vela sobre ele. – Chá? – Ele me oferece.
- Sim, por favor.
- Raramente tenho uma companhia amigável pelas madrugadas, não são muitos hóspedes que sofrem de insônia. – Ele sorri enquanto pega duas xícaras em um armário.
- Por que não consegue dormir, senhor Martins? – Ele me olha apreensivo. – Ai, me perdoe novamente. Estou sendo intrometida, eu...
- Não. Tudo bem. – Ele me corta e volta a colocar chá nas xícaras. – Meus problemas para dormir começaram há alguns anos atrás, por vários problemas... Familiares.
- Ah, sim. – Ele me entrega uma xícara e um pires.
Os pego e volto a observar as fotografias. O chá era de camomila, provavelmente para ajudar no sono.
- Lindas, não? – Ele diz, entre um gole e outro, ao meu lado. Provavelmente estava se referindo a mulher e a garota nos quadros.
- Sim. – Concordo sinceramente. – Quem são?
- Esta – Ele aponta para a mulher mais velha que ele abraçava em uma das fotos. – É minha esposa, Amy.
- Que nome lindo.
- Sim, eu costumava dizer que ela fora batizada assim por minha causa.
- Como assim?
- Amy, significa "Aquela que é amada", Vem do francês antigo, língua nativa de seus bisavós, e diz referência a "Amée" é particípio passado do verbo "Amer" que significa amar. E por isso eu dizia isso. "Porque, assim como seu nome, ninguém te amará mais do que eu".
- Que lindo.
- Obrigado.
- E onde ela está? Seria uma honra conhece-la.
- Amy morreu há quatro anos.
- Me... Perdoe-me, eu não...
- Tudo bem, garota. Eu estou bem.
- Meus sentimentos.
- Obrigado. – Ele bebeu um pouco mais de chá. – Todo esse local é herança da família dela, que acabou ficando comigo.
- Entendo. E a garota?
- Ah, – Ele sorri com um brilho no olhar. – Minha doce filha. Essas foram as fotos mais recentes que pude tirar dela antes dela partir.
- Ela morreu?
- Não. – Ele ri baixo da situação. – Pelo menos, eu espero que não.
- Como assim?
- Há cinco anos, antes de Amy começar a passar mal, ela foi convocada pelo governo para realizar alguns testes. Durante alguns meses não recebemos notícias, mas depois de um tempo ela começou a nos escrever cartas, dizendo que havia sido aprovada em uma seleção e que trabalharia para o país por alguns anos. E após a morte de sua mãe, ficamos apenas eu e este lugar cheio de boas memórias. Nunca imaginei minha pequena sendo uma pessoa tão importante, mas ela é uma guerreira. Sei que deve estar bem.
- Ela nunca mais te escreveu?
- Não. O cargo deve ser corrido.
Naquele momento, senti pena de Franklin. Ele havia perdido o amor de sua vida e sua filha havia ido trabalhar para o país. Não podia imaginar a solidão que ele sentia. Isso sim era uma boa razão para não conseguir dormir à noite.
- Como ela se chama?
- Ah, minha pequena Chloe.
O que? Eu sabia que já havia vido aquela garota antes, mas não queria acreditar. Aquela era Chloe Martins, só que um pouco mais jovem do que eu a conhecia. Aquele era seu pai.
Eu não sabia o que fazer. Depois de tudo que ele havia me contado, depois da morte de sua esposa, eu me senti culpada pela morte de Chloe. Se eu, que a conhecia há tão pouco tempo, estava totalmente abalada, imagine seu pai, que não a vê há cinco anos.
Tudo veio à tona em minha cabeça. A cena da explosão, Seu corpo sendo eletrocutado, ele caído sobre o asfalto enquanto eu me distanciava dela. Por que, Brook?
- Brook?
- Sim? – Me assusto um pouco quando percebo que ele estava falando comigo.
- Está tudo bem?
- Sim, senhor. Eu apenas me perdi em alguns pensamentos.
- Quer mais chá?
- Não, obrigada. Acho que ele já fez efeito. Voltarei para meu quarto.
- Oh, está bem. – Ele pega a xícara e o pires da minha mão. – Tem certeza que não quer mais um pouco?
- Sim, Obrigada.
- De nada, garota.
- Boa noite, senhor Martins.
- Boa noite, Brook.
Saio do quarto um tanto apressada.
Meu Deus do céu, o que está acontecendo? Por que isso está acontecendo comigo? O que é isso? Por que me persegues? Por que eu não posso simplesmente ficar em paz? Seria ironia do destino ou uma infeliz coincidência? O que fazer? Seria obrigação minha contar ao homem que está nos hospedando que, assim como sua esposa, sua filha está morta? Por que eu?
Meus pensamentos viajavam longe enquanto meus pés descalços corriam apressadamente sobre o carpete e a madeira fria do chão. Rapidamente subi as escadas para o segundo andar e quando cheguei lá em cima, acabei acelerando um pouco mais o caminhar pelos corredores.
- Brook? – Quase bato de frente com Allyson.
Ela estava de pé perante a mim e olhava-me preocupada. Atrás dela Jack e Noah espelhavam o mesmo olhar e expressão.
-Ally, Jack, Noah! O que estão fazendo aqui?
- Ally não te encontrou quando acordou a noite e então preocupada foi nos procurar. Está tudo bem?
Olho para trás para ver se ninguém nos observava.
- Precisamos conversar.
- Estamos ouvindo.
- Aqui não. – Passo por eles e indico para seguirem-me. – Venham.
Entrei no quarto e esperei-os entrar também. Após isso, fechei a porta e a tranquei. As luzes já estavam acesas novamente e a chuva havia passado.
- Brook, o que está acontecendo? – O conselheiro parecia preocupado, não só ele, mas fora o primeiro a perguntar.
- Chloe.
- Chloe? – Ally pergunta. – O que tem Chloe?
- Eu não estava conseguindo dormir à noite, então resolvi dar uma volta. Acabei encontrando os aposentos do senhor Martins. Ele me viu olhando algumas fotografias, mas disse que eu podia ficar.
- Espere! – Jack, até então calado, resolveu se manifestar. – Você invadiu o quarto do dono do hotel?
- Não, o quarto estava aberto. Eu apenas entrei.
- E começou a bisbilhotar?
- Não! Quer dizer... talvez, mas não! O foco não é esse.
- Então qual é?
- Ele me contou sobre a história do hotel e sobre as meninas que estavam com ele nas fotografias. Uma delas é sua falecida esposa, Amy.
- E o que isso tem a ver com Chloe? – Ally pergunta cruzando os braços.
- Chloe é a outra menina nas fotos. A filha do senhor Martins.
- Como? – todos, exceto Noah, pareciam surpresos.
- Já suspeitava. – Ele disse. – Sabia que já havia visto aquele homem em algum lugar. No dia da seleção, Chloe Martins foi uma das jovens escolhidas. Um grande potencial de gene curativo.
- E você não disse nada? – Pergunto.
- Eu não sabia! Quer dizer, eu não tinha certeza.
- E o que faremos agora? – Jack pergunta.
- Temos apenas duas opções. – O conselheiro parecia nervoso ao falar isso. – Dormimos, acordamos amanhã, tomamos café e vamos embora como se nada tivesse acontecido, ou contamos ao senhor Martins sobre sua perda.
- O que? Nenhuma dessas duas opções me parece boa.
- Mas somos obrigados a escolher uma.
Cada um foi para um canto do quarto e começaram a pensar. Ally se sentou na cama, Noah foi para perto da janela e Jack começou a andar de um lado para o outro. Creio que todos estavam compartilhando do mesmo sentimento que eu neste momento. "O que fazer?".
Depois de alguns minutos em silêncio, o conselheiro o quebrou dizendo:
- Eu vou falar com ele.
- O que? Não pode fazer isso!!! Ele vai ser destruído por dentro.
- Então dormimos e vamos embora amanhã.
- Mas ele tem o direito de saber da morte de sua filha.
- Então voltamos à estaca zero.
"Toc-Toc-Toc"
Todos nos calamos imediatamente ao ouvirmos as batidas na porta.
- Quem é? – Pergunto.
- Quem você acha que é? Sou eu! Michael.
Suspiro de alívio e abro a porta.
- Que gritaria é essa às quatro horas da manhã?
- Não estamos gritando.
- Shiiiii! Fala baixo! Minha cabeça dói!
- Mas eu estou falando baixo! Você que exagerou na bebida.
- Está bem, mas o que está acontecendo? Reuniãozinha dos trouxas?
- Longa história. – Digo.
- Resumidamente estamos hospedados no hotel do pai da Chloe. – O conselheiro esclarece rápido as coisas.
- Pera... A Chloe...
- Sim, a falecida Chloe.
- Uou...
- Não podemos simplesmente ir embora e deixar o senhor Martins pensar que sua filha ainda está viva, sendo que ela não está! – Jack retoma a discussão.
- Por que não? Me parece uma boa. – Mike diz coçando a nuca.
- Mas se falarmos para ele... – Ally inicia sua fala.
- Jack tem razão. – interrompo Allyson e faço todos se calarem e me olharem. – E se alguém tem que contar isso para ele, não é você, Noah. Sou eu.
- Brook, você não precisa...
- Sim! Preciso! Chloe era minha amiga. E se for para seu pai ficar ciente de sua morte, gostaria que fosse através de mim.
Todos se calaram. Até mesmo Michael estava quieto, sem fazer uma piadinha se quer. Talvez por causa da ressaca que estava sentindo, mas por um minuto quis acreditar que era por que se preocupava com a situação. No final, todos concordaram.
[...]
- Mas se vai fazer isso – Ally diz no mesmo tom preocupado de antes. – Me prometa que isso não vai te afetar tanto quanto eu acho que vai.
- Não sei se posso prometer isso. – Ela me abraça forte e então saio do quarto.
Os quatro me seguiram devagar pelo corredor e pela escada, e por ironia do destino, o senhor Martins estava no Hall de entrada, que já estava todo iluminado novamente.
- Meninos? O que fazem aqui está hora da matina?
- Senhor Martins. – Digo receosa. – Precisamos conversar.
- Pode falar, Brook. Está tudo bem com o quarto?
- Sim, ele é perfeito. O assunto é outro...
- E qual seria?
- Meu nome é Brook Hundy... – Respirei fundo. – Há alguns anos também fui recrutada pelo governo americano e... – Forcei-me a olhar em seus olhos. – Fui amiga de sua filha, Chloe.
Meu Deus! Aquelas foram às palavras mais difíceis de pronunciar em toda minha vida! E mesmo assim ainda havia muito o que dizer. O pior de tudo foi ver a esperança no olhar do homem a minha frente ao ouvir falar de sua querida filha.
- Quer dizer que tem notícias dela? – Ele se encheu de alegria a dizer essas palavras.
- Sim, mas temo que não sejam boas.
- Como assim? Ela está bem? Ferida?
Naquele momento minhas pernas tremeram e quase que não me seguravam em pé. Mas mesmo assim eu ainda sentia uma vontade enorme de sair correndo daquele lugar e nunca mais voltar. Meu coração estava acelerado e as palavras tardavam em sair por meus lábios. Mas foi naquela hora que eu tive que ser mais forte do que eu jamais fui.
Calma, Brook. Calma.
- Sua filha, Chloe, está...
"Din-don" A campainha soa pelo hotel. Quem a essa hora se hospeda em um hotel?
- Um minuto por favor. – Ele segue para a porta. – Podem ir para meus aposentos, Brook sabe aonde é. Logo apareço lá.
Estava quase o obedecendo quando a porta se abriu, mas depois disso meus pés simplesmente não conseguiam sair do lugar. Naquele momento meu cérebro já não pode raciocinar o que estava acontecendo. A última coisa que consegui ver foram homens vestidos com uniformes pretos e armamentos entrando e cercando o hall de entrada. E a última coisa que meus ouvidos ouviram após eu entrar em uma discussão interna comigo mesma foi a voz de Franklin dizendo algo que até mesmo vendo, eu não conseguia acreditar.
- Chloe! Minha filha!

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