Capítulo II

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CAPÍTULO II
Jackson

Não sei ao certo qual reação nós deveríamos ter, mas a de ficar paralisado olhando assustado para a cara daquele homem não foi a melhor ideia a julgar pela expressão dele.
- Oi... - Ele repetiu a fala passando a mão em frente a nossos rostos.
Allyson tentou dizer algo, mas acredito que o pânico não deixou as palavras saírem com clareza. Sendo assim, a menos que o cara entendesse a língua do "ahn..." e do "eh...", a gente não poderia se comunicar muito bem.
- Fiquem calmos. - Ele diz sorrindo. - Vocês não estão encrencados. Estou aqui para ajudá-los.
De relance notei a garota soltando o ar dos pulmões com alívio.
O homem a nossa frente parecia estar sendo sincero, e chutando que ele deve conhecer melhor esse lugar do que eu e Allyson, resolvi confiar nele.
- Meu nome é Noah. E se não me engano você é Jackson Carter. Certo? - Ele estende a mão para mim em forma de cumprimento.
- Isso. - Aperto sua mão.
- Prazer. Sou seu conselheiro.
- Meu o que?
- Logo, logo tirarei todas as bilhões de dúvidas que devem estar nadando em cérebro neste exato momento. - ele sorri. - Mas antes... - Noah olha para Allyson. - Desculpe, seu nome?
- Eh... - Ela ainda parecia meio travada, mas acaba por falar com ele. - Allyson. Allyson Clark.
- Olá Allyson. - Aquele cara era sempre tão sorridente assim? - perdão, mas você não faz parte da minha área de cobertura, porém ajudarei a achar sua conselheira. Venham. - Noah dá espaço no elevador para nós entrarmos.
Confesso que naquele momento meu cérebro simplesmente desistiu de tentar entender as coisas. Eram tantos questionamentos e dúvidas que quase podia ver fumaça saindo da minha cabeça.
Eu e a garota nos entreolhamos rapidamente e ela acabou entrando no elevador. Fiz o mesmo, embora ainda estivesse meio receoso.
Quando entramos, o tal de Noah apertou um botão escrito "Hall principal" e instantaneamente as portas se fecharam.
Eu tentei me impedir, mas se ficasse mais um minuto com todas aquelas dúvidas minha cabeça ia explodir.
- Aonde estamos? Quem especificamente é você? E por que não consigo me lembrar de nada?
- Calma, apressadinho. Uma coisa de cada vez. Já disse que vou responder todas as suas perguntas. - Percebo um sorriso desenhado na face dele. - Mas já que você está tão curioso assim... primeira pergunta: Estamos no Colorado - EUA. Numa instalação privada de pesquisas avançadas. Segunda pergunta: Como já disse, meu nome é Noah. Noah Hills. Sou seu conselheiro, ou seja, acompanharei seu desenvolvimento, realizarei exames e diagnósticos necessários e te ajudarei em tudo que precisar. Serei como seu melhor amigo. - Noah se volta para mim e sorri largamente. - Terceira pergunta: Não se preocupe com a perca de memória... acreditamos que há uma possibilidade dela ser temporária, vocês ficaram desacordados por alguns dias em sono criogênico... provavelmente é algum efeito colateral do gás.
- Alguns dias quantos? - pergunto assustado.
"Pin!" O elevador chega ao andar.
- Alguns... - Noah sai da máquina com Allyson atrás dele. Apenas os sigo.
Andamos alguns metros por um lugar aberto, muito bem iluminado e claro. As paredes eram brancas e não haviam janelas, mas apesar disso ali era bem fresco e o ar não era pesado. Também havia muitas pessoas lá, homens e mulheres vestindo moletons iguais ao meus e ao de Allyson, mas pareciam bem mais à vontade e bem mais familiarizado com tudo do que nós. Também haviam outros com a mesmas vestimentas que Noah empalhados e andando por toda parte. Não pude deixar de notar alguns homens próximos as paredes. Vestiam roupas escuras, eram corpulentos e sérios, olhando atentamente a todos os lugares.
-Lanna, minha querida. - Noah diz com os braços abertos a uma mulher que se aproximava. Eles se abraçam e então ele se vira para mim e Allyson que estava ao meu lado. - Lanna, Allyson, Allyson, Lanna. - ele as apresenta.
- Olá querida. - A mulher estende a mão para cumprimenta-la.
Allyson também faz o movimento, mas parecia meio hesitante. Por fim elas apertam as mãos.
- Como já deve ter percebido, meu nome é Lanna, Lanna Woldgan, sou sua conselheira. - Ela disse sorrindo simpaticamente para a garota.
Lanna era uma mulher muito bonita. Alta, magra, cabelos longos e escuros e olhos do mesmo tom. Se a visse nas ruas, provavelmente a julgaria como uma modelo.
- Então, aqui é aonde nos separamos. - Meu conselheiro disse para Allyson. - Foi um grande prazer conhecer-te.
Lanna sorri e sinaliza com a cabeça para a garota a seguir, ela sai logo atrás de sua conselheira após se despedir de Noah.
- Vamos. - ele pede para mim o seguir.
Seguimos na direção oposta à das meninas. Percebo Allyson me olhando e não dando ouvidos ao que a mulher estava falando.
- Não se preocupe. - Noah diz a minha frente. - Você à verá de novo.
Seguimos andando por aquele lugar que a cada segundo parecia ficar maior. Em pensar que aquilo era apenas um único andar.
- Está bem... eu sei que você quer me metralhar com perguntas. Pode começar. – Ele disse com uma voz sarcástica.
- O que é este lugar? Por que estou aqui? O que vim fazer aqui? Quem são essas pessoas? Por que estava dormindo dentro de uma câmara de sono criogênico?
-Calma... – Ele ri. – Respire! Não adiantará nada eu responder isso se você estiver morto por não ter respirado.
- Bem-vindo à Nova Genesis, o laboratório biológico privado mais avançado de toda América. – Enquanto Noah falava, continuávamos andando por ai. Ele parecia estar me levando para algum lugar. – Você está aqui por causa de um milagre que vive dentro do seu organismo. O Gene Sensitive. Graças a ele você e todos os jovens e crianças que pode ver aqui, são a chave para o futuro. Se conseguirmos ao certo, usar o mesmo material genético que vivem em vocês em outras pessoas, é possível gerar a cura para doenças inimagináveis, como por exemplo o câncer, a enxaqueca, o lúpus, a diabetes, a artrite reumatoide, a esclerodermia, a psoríase, a epilepsia, a hemofilia, a doença de Parkinson, a doença de Alzheimer e outras impensáveis! – Noah parecia se animar bastante a cada fala. – Mas, em mão erradas, também é possível criar doenças ainda piores e impossíveis de imaginar.
- Hm... – Tento traduzir tudo em minha cabeça. – Então todas essas pessoas são...
- Sensitivies. É assim que são chamados.
- Nossa... – Debocho. – Aqueles que possuem o Gene Sensitive se chamam Sensitivies. É realmente... Criativo, não?
- Nunca leu livros como Divergente, onde a personagem principal é uma divergente? Ou se não Shadowhunters, aonde a história se passa num instituto de Shadowhunters? – Percebo o sorriso de seu rosto em seu tom de voz. – A relatividade em relação a criatividade é mínima, praticamente nula.
- Eu não sei se já li... sabe... eu não me lembro de nada.
- Ah, sim. Verdade. Perdão. Após um nova ordem mundial aprovada unanimemente pela ONU, Organização das Nações Unidas, Todos os cidadãos de todas as classes sociais entre cinco e vinte e cinco anos, deveriam passar por um processo de seleção para identificar se tinham ou não a possibilidade de ser o futuro da humanidade. Aqueles que, por livre e espontânea vontade, se voluntariaram e foram selecionados foram encaminhados para o Centro de Pesquisas mais próximo.
- E o que isso tem a ver com o sono?
- O Gene Precisava ser estudado antes de ser usado, então alguns foram, por livre e espontânea vontade, adormecidos até os estudos concluírem.
- Por que você insiste em frisar isso?
- como?
- "Livre e espontânea vontade". Você insiste em dizer isso.
- Impressão sua. – Ele se vira para mim e sorri largamente e então continua seu caminho.
O segui em silencio mais um pouco por alguns poucos minutos até ele se virar novamente para mim.
- O mais surpreendente é que vocês, Sensitivies, possuem... peculiaridades ainda não estudas profundamente ou entendidas fora do mundo cientifico. Mas para um melhor... aperfeiçoamento, nossa unidade disponibiliza salas especiais para treinamento.
- treinamento?
- sim, treinar o corpo ou cérebro é muito importante. Principalmente se algum dia você tentar se esconder de alguém, tendo acabado de sair de uma câmara criogênica e deixado o chão todo molhado e a porta um pouco aberta, esperando que esse alguém não perceba essas coisas.
"Sua indireta foi recebida com sucesso!"
Noah para em frente a uma sala de esquina com as paredes que davam para os corredores feitas de vidro.
La dentro pude ver um menino de aproximadamente quatorze ou quinze anos, mas o que mais me assustou foi o que o vi fazendo. O garoto estava literalmente no ar. Ao seu redor havia mesas, cadeiras, vasos de flores, papeis, frutas, Objetos aleatórios e até mesmo uma bigorna, e tudo simplesmente flutuava.
- o que... – Tentei me expressar.
- Psicocinese. A capacidade mental de poder movimentar objetos físicos sem uma ação física.
- Isso é tipo... Poderes?
- Poderes é um termo muito... clichê. O termo cientifico aderido foi "Habilidades Especiais" ou até mesmo "Peculiaridades Biológicas".
Noah volta a andar e me deixa lá plantado, ainda olhando aquele garoto, com a boca entreaberta.
- Mas nem todos os Sensitivies possuem essas habilidades. – Percebo sua distância e corro para acompanha-lo. – Vocês são divididos em classes. Quanto maior a complexidade de suas habilidades, maior atividade genética, maior os estudos, maior as chances do Gene Sensitive dentro de você poder curar alguém, e maior a sua classe. Sendo assim, quanto maior a naturalidade e simplicidade de suas habilidades, menor atividade genética, menor os estudos,menor chance do Gene Sensitive dentro de você curar alguém e menor a sua classe.
- como assim "Maior ou menor chance de cura"?
- Infelizmente muitos Sensitivies possuem seu Gene inativo ou não evoluído, o que resulta numa não possível utilidade.
- ah... Mas, como essas... habilidades são possíveis?
- Como o próprio nome já diz, o "Gene Sensitive" é sensível a alguma coisa. - Ele explica. - A relatividade é muito grande.
- Como por exemplo?
- Charlie, esse garoto que você acabou de ver. Classe B. Seu Gene Sensitive desenvolveu uma capacidade cerebral avançada no garoto, fazendo-o ser sensível às moléculas presentes em seu corpo e em corpos externos. E isso o deu a capacidade de não precisar tocar em algo para movê-lo.
- Ah...
Depois dali fizemos vários passeios no elevador, passamos por muitos lugares, como o refeitório, a arena de treinamento de artes marciais, o dormitório, biblioteca e milhares e outros. Por fim, paramos de novo no Hall principal.
- Qualquer outra dúvida, é só me procurar.
- E como vou saber onde vai estar? – Pergunto.
- Pergunte a alguém. – ele sorri.
- Ah! Antes que eu me esqueça... - Noah tira de seu bolso um... sei lá o que era aquilo. Parecia uma caneta, mas mais encorpada e resistente.
Ele põe minha cabeça para o lado e fura meu músculo trapézio.
- AÍ!!! - Articulo levanto a mão até o local. - O que demônios é isso?
- Seu ponto. É como uma identidade. Com ele outras pessoas saberão quem é você, além de conter sua classe, uma atualização de status do seu Gene Sensitive, e... para mim, - Ele exibe o iPad que segurava. - Seus batimentos cardíacos, sua frequência nervosa, e outras coisas irrelevantes. - Ele ri divertido. - Então é isso. Até mais Jackson. - Noah se despede e sai andando.
Que?
Muito bem. Recapitulando. Eu estava num centro de pesquisas, cercado por milhares de crianças, adolescentes e jovens de até vinte e cinco anos, era a chave para o futuro da humanidade, junto com muitos outros, provavelmente poderia desenvolver algum tipo de habilidade especial, não lembrava de nada da minha vida antes de uma hora atrás, eu tinha um conselheiro que foi o vínculo mais próximo que tive com alguém até onde me lembro, ele havia me deixado plantado no meio do Hall Principal após furar meu pescoço, e eu estava morrendo de fome.
Ótimo.
Mais um dia normal.
Muito bem, é melhor eu tentar me alimentar primeiro antes de engolir tudo o que foi me dito.
Sigo para o centro do Hall Principal. Lá havia uma plataforma circular gigantesca elevada a aproximadamente um metro do chão. Ao seu redor, na parte de baixo, várias variedades de alimentos em cima de um balcão que percorria todo diâmetro da plataforma. Lá em cima estavam enfileiradas diversas mesas circulares com bancos também em volta de seu diâmetro.
Segui para a longa bancada com os alimentos, peguei uma bandeja e fui me servir. O que eu não esperava era que a minha fome fosse maior do que a fome de um tiranossauro rex que ficou um mês preso dentro de uma caverna. Quando parei pra notar minha bandeja estava ficando sem espaço. Bolo de carne, purê de batata, um suco de caixinha, um mini hambúrguer waffles, um porção pequena de batata frita, um especial nova-iorquino, um potinho com salada, e uma maça pra manter a forma. Quando eu estava chegando no final do balcão vejo uma parte de sobremesas.
Meu Deus, aquilo era... UMA TACINHA DE MOUSSE DE CHOCOLATE COM CHANTILLY E UMA CERAJA EM CIMA. MEU DEUS!!! Não sei por que, mas eu sentia que aquela era a melhor sobremesa de todas. Peguei duas tacinhas e subi as escadas de acrílico transparente para a plataforma. Senti vários olhos se fixando em mim e em minha bandeja lotada. Me senti meio envergonhado naquele momento e procurei uma mesa vazia. Com sorte achei uma no canto esquerdo e me sentei.
- Recém iniciado? – uma garota pergunta se sentando a minha frente.
Abaixo a cabeça e continuo comendo vergonhosamente.
- Não se preocupe, sempre que alguém é iniciado acorda com uma fome inexplicável.
Olho-a e sorrio entre uma colherada no mousse e outra. A garota tinha uma pele bronzeada mas clara, seus olhos eram num castanho claro quase mel, seus cabelos negros como carvão caiam até a altura do meio de suas costas e seu rosto fino destacava seus grandes lábios avermelhados.
- A propósito. – ela estende a mão para me cumprimentar. – Sou Rebecca. Classe B.
A cumprimento.
- Jackson. – Volto a comer minha sobremesa.
- Prazer, Jackson. – Ela diz roubando uma batatinha.
- Então... – Tento puxar assunto. – Você está "iniciada" a quanto tempo?
- Oito meses e meio.
O que? Quanto tempo eu dormi? Mais de oito meses? Ah, que ótimo... estava perdido de novo.
Rebecca pega uma batatinha e a levanta na altura de seus olhos, ela fita a batata com eles e em instantes ela pega fogo e depois se apaga. Como por instinto dei um pequeno pulo pra trás.
- Ainda não se familiarizou com as habilidades?
Balanço a cabeça negativamente.
- Imaginei. – Ela sorri. – Pirocinese. A capacidade de incendiar coisas.
- Uau!
- eu sei – ela sorri se gabando. – e você?
Seria vergonhoso dizer um "eu não sei"? Apenas continuei a comer.
- Você não sabe. - Ela adivinha. - Sério? - ela ri. - Relaxa, não são todos os recém iniciados que já descobrem suas habilidades na hora que acordam. Seu momento vai chegar. - ela sorri simpática.
Ela era doce e calma, suas características não tinham nada a ver com suas habilidades. Uma garota calma, delicada e simpática, com uma habilidade feroz, forte e agressiva. Ia demorar um pouco até me acostumar com tudo aquilo.
Pego a maçã, mas quando ia dar uma mordida saborosa nela, uma espécie de estalactite de gelo, pontiaguda e pequena acerta em cheio a fruta em minha mão.
- Ah não. - Rebecca deixa a cabeça pender pra baixo.
- Rebeca, meu amor. O que está fazendo aqui? - Um menino forte e com o rosto quadrado se apoia em minha mesa.
- Érik. Me deixa em paz.
- Por que minha pequena chama?
- Não me chame assim. Isso é patético.
Ele apenas ri da cara dela.
- E o que temos aqui? - diz se virando para mim.
- O nome dele é Jackson. Recém iniciado. Eu estava dando as boas-vindas. - Rebecca parecia incomodada e seca perto daquele cara.
- Um novato. - Érik diz sorrindo, mas ainda pude perceber o desprezo em seu tom de voz. - Por que não disse logo? Vamos dar as boas-vindas juntos.
Ele pegou a gola da minha blusa por trás e me suspendeu.
- ÉRIK! - A garota grita enquanto se levanta. - Põe ele no chão.
Naquele momento todos já estavam olhando para nós, e minhas expectativas de ser furtivo foram ralo a baixo.
- Seu pedido é uma ordem gatinha. - Érik me solta e eu despenco no chão.
- ÉRIK! - Ela tenta ir me ajudar, mas uns três caras a seguram no lugar.
- Calma minha linda, vou cuidar bem do seu novo amiguinho.
Os guardas de preto ao redor apenas olhavam. Pareciam estar esperando a coisa ficar feia para então entrar em ação.
Tentei me engatinhar de costas pra longe dali, mas meus pés congelaram. Sério. Literalmente estavam congelados no chão.
- Ei cara... calma! - Tento minimizar a situação.
- Eu estou calmo. Por enquanto.
Minhas mãos também ficaram congeladas e então Érik se pôs em cima de mim, fechou o punho e começou a me espancar.
Naquele momento eu não sabia o que fazer. Só senti como se estivesse de volta ao colegial numa manhã qualquer e sendo o saco de pancadas de Rubens. Espera... aquilo... aquilo era uma lembrança?! Eu ficaria feliz se não estivesse apanhando.
- Érik! Você vai matar o garoto! - Rebecca tenta me defender.
- Não vou não, isso é apenas para ele aprender a não mexer com a garota dos outros.
Depois de alguns socos ele se levanta. Forço a cabeça para cima para olhar ao redor e o que vejo é um monte de pessoas amontoadas. Umas rindo, outras espantadas e outras botando pilha no grandalhão. Deixo minha cabeça cair pra trás e sinto o sangue escorrer.
- Isso foi apenas um aviso novato.
O gelo que prendia meus pés e mãos derretem e eu me sinto livre novamente.
- Seu cretino! - A garota tenta se livrar dos rapazes que a seguravam, mas não consegue.
- Tirem-na daqui. - Érik diz e imediatamente seus capangas puxam ela pela plataforma.
- Me perdoe Jackson. - a ouço gritar ao longe.
Érik olha em volta e grita para os telespectadores.
- O que estão olhando? - todos recuam. - vamos! Circulando! - e logo todos voltam para suas mesas.
Vejo de relance ele pegar uma batatinha em minha bandeja e se agachar ao me lado.
- Estamos entendidos? - ele diz com a batatinha na mão.
Faço um barulho dolorido parecido com um "uhum" e engulo em seco.
- Ótimo. - ele bate com a batatinha em minha testa e se levanta. - Bem vindo, novato. - e essas são as últimas palavras dele antes de eu o ouvir descendo as escadas da plataforma.
Fiquei ali jogado por um tempo. Ninguém se prontinha em me ajudar, até que ouvi uma voz conhecida.
- Ah meu Deus!!! - Allyson se aproxima de mim e se ajoelha, ergue minha cabeça e a apoia sobre seus joelhos. - O que houve?
- Um... - tento me comunicar. - Um idiota.
- Não! Não! Não fale. Vou te levar pra uma enfermaria.
Temos uma enfermaria? Noah deve ter esquecido de mencionar isso.
- Onde está seu conselheiro?
Balanço a cabeça negativamente tentando dizer que não sei.
- Ali ele... - ela diz esperançosa. - EI!!! NOAH!!! - a vejo sinalizando com os braços.
Alguns segundos depois Noah já estava me erguendo junto com Allyson e me fazendo gemer de dor. Ele pôs um de meus braços em volta de seu pescoço e a garota fez o mesmo. Eu estava meio torto por causa da relação de altura entre um e outro, mas aquilo era o que menos me importava naquele momento.
- Vamos, é por aqui. - Ele diz me carregando para fora da plataforma do refeitório.
Entramos no elevador e ele apertou algum botão.
- quem te fez isso? - A garota me pergunta.
- É... Érik, acho... - digo com dificuldade.
- Érik West. Sensitive classe B. O quinto mais poderoso da classe. Ele só da dor de cabeça. - Noah diz.
- Imagina pra mim então. - Tento satirizar o momento.
Pude perceber um leve sorriso em meu conselheiro e então o elevador chega ao andar.
Sou carregado por eles até uma sala grande e clara, com várias macas enfileiradas uma do lado da outra em duas fileiras uma de frente a outra. Eles me deitam em uma maca vazia e Noah vai procurar um enfermeiro enquanto Allyson se põe ao meu lado.
- Como você está?
- Acabado. - digo meio óbvio.
- Pois é... deve ter sido uma surra daquelas.
- Eu teria acabado com ele se minhas mãos não estivessem congeladas.
- Teria sim, claro que teria.
- Eu estou falando sério.
- Uhum. - ela sorri.
Não tinha parado para prestar atenção em seu sorriso ainda. Ele era... lindo.
- Aonde? - ouço um homem dizer ao entrar pela porta.
- Ali... - e então a voz de Noah.
O homem se aproxima e começa a ligar uns aparelhos ao meu lado e a por fios em meu corpo.
Não entendi o porquê duma simples surra precisar de soro na veia, mas tudo bem.
Depois de um tempo já estava me sentindo melhor.
- Jackson, não? - O homem pergunta pondo curativos em minha testa e em todo meu rosto.
- Sim. - respondo.
- Sou o Dr. David. - Ele diz sério. - você está bem, mas sugiro que descanse um pouco. - Ele termina os curativos e me olha atenciosamente. - Fique aqui até o fim do dia. Durma um pouco, relaxe. No horário do jantar creio que já estará se sentindo novinho em folha.
- Obrigado, Dr. David. - Agradeço.
Ele sorri e vira as costas indo em direção a saída. Vejo Noah o seguindo e Allyson se aproximando.
- e aí... - digo. - como foi com sua conselheira?
- Bom, eu acho.
Sorrio.
- se fosse pra definir em uma única palavra, - ela continua. - eu diria: esclarecedor.
- Ela também te contou sobre o que somos e tudo mais?
- Sim.
- E você aceitou?
- Sim, por que não deveria?
- Sei lá, não acha que a história está meio incompleta? Meio sem pé e nem cabeça?
- Aonde quer chegar? - Ela diz tentando me entender.
- Quer dizer... Por que a ONU aprovou essa ordem mundial? Por que nós nos oferecemos pra esse projeto? O que de tão especial temos que podemos curar pessoas, digo... qual a origem desse tal Gene Sensitive? Nascemos com ele ou desenvolvemos ele? Se realmente somos voluntários para essas pesquisas, por que não há entradas, saídas ou janelas neste lugar? Por que não nos lembramos de absolutamente nada? Porque cá entre nós, a gente pode até ter esquecido de muita coisa, mas creio que nitrogênio líquido não causa perda de memória.
- O que? Está querendo iniciar um clube de conspiração?
- Não é isso...
- Bom... – ela me interrompe. – Seja como for, essas são perguntas que eu ainda não possuo as respostas, Jackson.
- Jack. - a corto. - pode me chamar de Jack.
- Está bem, Jack.
- Okay, mas e se o que eles nos falaram não for a verdade completa?
- Se for isso mesmo, esse assunto deve ser pensado depois. Primeiro, creio que você deve descansar.
A olho um tanto decepcionado.
- É... - por fim, acabo concordando. - Você tem razão.
- Então durma um pouco.
- E você?
- Vou ficar aqui um pouco.
Sorrio e apoio confortavelmente minha cabeça em meu travesseiro.
Pensei que demoraria horas para adormecer, mas me surpreendi quando, quase que instantaneamente, dormi.

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