o mauricinho inutilóide tenta se dar bem

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Quando o ultimo tempo de francês finalmente acabou, Nate Archibald deu um até mais apressado aos colegas de turma da St. Jude's School e correu pela Madison até a pizzaria na esquina 86, o local de trabalho de seu confiável traficante de maconha, Mitchell. Para a sorte de Nate, a St. Jude's era a mais antiga escola para meninos de Manhattan e tinha como tradição terminar as aulas de todos os meninos às duas da tarde, embora a maioria das outras escolas da cidade liberasse os alunos às quatro. O raciocínio da escola era que isso dava aos garotos um tempo a mais para praticar esportes e fazer as copiosas quantidades de dever de casa que levavam consigo todo dia. Também dava tempo para dar uns tapas e ficar chapado antes, durante e depois da pratica de esporte e fazer o dever de casa.
A ultima vez que Nate tinha visto Mitchell, o traficante engraçadinho que usava um chapéu Kangol disse que ia voltar para Amsterdã muito em breve. Hoje era a ultima chance de Nate conseguir o maior saco de erva peruana doce que Mitchell podia fornecer. Blair sempre reclamava do hábito de Nate fumar maconha quando estava, juntos, queixando-se de como era chato vê-lo encarar o tapete persa no quarto dela por dez minutos quando eles podiam estar se agarrando ou ir a uma festa em algum lugar.
Nate sempre sustentava que sua maconha era apenas um prazer, como comer chocolate - uma coisa que ele podia largar a qualquer momento. E só provar isso - não que ele precisasse provar mais alguma coisa a Blair - ele ia parar depois de fumar cada folhinha de maconha do saco gigante que ia comprar hoje. Se tivesse cuidado, o saco podia durar umas oito semanas. Até lá, ele preferiu nem pensar em largar.
- Duas fatias simples - disse Nate ao pizzaiolo careca que usava uma camiseta roxo berrante WELCOME TO LOSERVILLE. Ele pousou os cotovelos no balcão vermelho da pizzaria, afastando para o lado recipientes de sal e alho, flocos de pimenta vermelha e orégano. - Cadê o Mitchell?
O negocinho paralelo de Mitchell não era segredo no salão da pizzaria. O pizzaiolo ergueu as grossas sobrancelhas pretas. O nome dele bem que podia ser Ray, mas, mesmo depois de nos comprando pizza e maconha ali, Nate não tinha certeza.
- O Mitchell já foi. Você o perdeu.
Nate bateu no bolso traseiro de sua calça de sarja cáqui, onde havia enfiado a carteira Coach estufada, um tijolo amargo de pânico subindo pela garganta. É claro que ele não era viciado, mas não gostava de ficar sem maconha quando tinha planejado apertar um dos gordos para passar o resto da tarde. E a tarde de manhã, e de depois de amanhã...
- O quê? Quer dizer que ele já foi para Amsterdã?
Ray - ou talvez fosse Roy - abriu a reluzente porta cromada do forno e, num movimento de expert, puxou duas fatias quentes para pratos duplos de papel e os deslizou pelo balcão na direção de Nate.
- Lamento, cara - disse ele, só meio solidário. - Mas de agora em diante vendemos pizza e refrigerante, e só pizza e refrigerante. Sacou ?
Nate pegou o prato de pizza e o pôs no balcão novamente. Não conseguia acreditar na falta de sorte. Puxou a carteira e tirou uma nota de dez dólares do gordo maço dentro dela.
- Fica com o troco - murmurou ele, largando a nota no balcão antes de sair com a pizza. Na rua, Nate vagou meio sem rumo para o parque, sentindo-se um cachorro abandonado. Vinha comprando erva do Mitchell desde a sexta série. Numa tarde qualquer de maio, Nate e o colega Jeremy Scott Tomplinson foram à pizzaria para comprar uma fatia de pizza e Mitchell ouviu Jeremy dizer a Nate para roubar o recipiente de orégano para que eles levassem para casa e fumassem. Mitchell propôs vender a eles uma coisa que melhorava ainda mais o humor, e desde então Nate e os colegas voltavam lá. O que devia fazer agora, comprar trouxinhas baratas de um daqueles espertinhos do Central Park? A maioria daqueles caras vendia um bagulho do Texas, seco e quebradiço, e não as trouxas verdes e suculentas que Mitchell conseguia diretamente do tio dele no Peru. Além disso, ele soube que metade dos traficantes do Central Park eram policias da Entorpecentes só esperando para acabar com um garoto com ele.
Depois de atirar as fatias de pizza meio comidas na lixeira mais próxima, Nate vasculhou os bolsos do casaco naval Hugo Boss em busca de um baseado que tivesse sobrado. Depois de encontrar um ele atravessou a Quinta Avenida e se agachou um banco do parque para acender, ignorando a aproximação de um grupo de meninas da oitava série que davam risadinhas no uniforme azul-escuro da Constance Billard, lançando olhares sensuais para ele.
Com seu sorriso eu-sei-que-sou-gostoso, os cabelos dourados, os olhos cor de esmeralda, a pele sempre bronzeada e o conhecimento sexy de construção de barcos e regatas a vela, Nate Archibald era o cara mais cobiçado do Upper East Side. Ele não tinha de procurar pelas garotas. Elas caíam no colo dele. Literalmente.
Nate deu uma puxada forte no baseado aceso e tirou o celular do bolso. O problema era que os outros chapados da St. Jude's - Jeremy Scott Tompkinson, Charlie Dern e Anthony Avuldsen - também compravam com Mitchell. O cara era o melhor. Mas valia a pena ligar para saber se um deles tinha conseguido uma boa trouxa antes do sumiço do traficante.
Jeremy estava num táxi a caminho de um jogo interescolar de squash.
- Desculpa, cara. - A voz dele estalou na linha. - Fiquei tomando o Zoloft da mamãe o dia todo. Por que não compra uma trouxinha de um daqueles traficantes do parque ou coisa assim?
Nate deu de ombros. Comprar uma trouxinha no parque parecia tão... capenga.
- Deixa pra lá, cara - disse ele a Jeremy - A gente se vê amanhã.
Charlie estava numa megaloja da Virgin, comprando DVD's com o irmão mais novo.
- Que droga - exclamou ele quando Nate contou a situação. - Mas você está perto do parque, né? Então compra uma trouxinha lá.
- É, tá, deixa pra lá. - respondeu Nate. - A gente se vê amanhã.
Anthony estava numa aula de direção do novo BMW M3 esporte que os pais deram a ele no aniversário de 18 anos na semana anterior.
- Dá uma olhada no armário de remédios da sua mãe - aconselhou ele. - Os pais são o último recurso.
- Vou ver - respondeu Nate. - Mais tarde. - Ele desligou e deu uma puxada no insignificante baseado. - Droga! - praguejou ele, esmagando a bagana queimada na neve suja com o pé. Este semestre era para ser zoeira 24 horas por dia. Ele teve uma entrevista espantosa com a Brown em novembro e tinha certeza absoluta de que sua solicitação de admissão fora bastante boa o suficiente para colocá-lo lá dentro. Além disso, ele não estava mais saindo com a Jenny Humphrey, que era muito doce e tinha uns peitões ótimos, mas tomava muito tempo livre dele. No resto do terceiro ano, Nate pretendia fumar, relaxar e ficar calminho até a formatura, mas sem o traficante de confiança esse plano era no mínimo discutível.
Nate se sentou no banco de madeira verde e olhou para os suntuosos prédios de calcário que se enfileiravam na Quinta Avenida. À direita dele, podia ver o canto do prédio de Blair, na 72 leste. Na cobertura, o gato Russian Blue, Kitty Minky, provavelmente estava deitado na colcha rosa de Blair, esperando ansiosamente que a dona chegasse em casa e o coçasse no queixo com as unhas rosa-coral.
Impulsivamente, Nate pressionou os botões de discagem rápida para Blair no celular. Tocou seis vezes antes de ela atender.
- Alô- respondeu Blair numa voz fininha. Estava sentada no novo salão Garren na 57 Leste, decorado com um harém turco. Cachecóis diáfanos e seda rosa e amarela se penduravam do teto, e enormes almofadas de tapeçaria rosa e amarela foram atiradas aleatoriamente pelo salão para as clientes se encostarem e beberem café turco enquanto esperavam pela hora marcada. Diante de cada cabeleireiro havia um enorme espelho com moldura dourada. Gianni, o novo cabeleireiro de Blair, tinha acabado de pentear as mechas recém-lavadas e condicionadas de sua cliente. Com o celular encostado na orelha molhada, Blair olhou o reflexo no espelho. Era o momento decisivo: ela ousaria cortar curto ?
- Oi. Sou eu, o Nate.- Ela ouviu uma voz murmurar em seu ouvido.
Blair ficou atordoada demais para responder. Eles não se falavam desde a festa do Ano- Novo, e mesmo então a conversa tinha terminado mal. O que Nate estava fazendo ligando para ela agora ?
-Nate?- respondeu Blair, meio impaciente, meio curiosa.- Isso é realmente importante? Porque não posso falar. Estou meio que numa hora muito ruim.
-Não, não é importante- respondeu Nate enquanto tentava pensar numa explicação razoável para ter ligado ́para ela.- Só achei que você quisesse saber que eu decidi parar. Sabe como é...parar de fumar bagulho.-Ele chutou um monte de lixo congelado. Nem tinha certeza se era verdade. Ele estava largando realmente? Para sempre?
Blair ficou segurando o telefone num silencio confuso do outro lado da linha. Nate sempre era imprevisível- especialmente quando estava chapado-, mas nunca desse jeito. Gianni bateu o pente de tartaruga impaciente no encosto da cadeira de Blair.
- Bem, legal pra você- respondeu ela por fim - Olha eu tenho que ir, ta bem ?
Blair parecia distraída e Nate não tinha certeza por que tinha ligado pra ela.
- A gente se vê- murmurou ele, enfiando o telefone de volta no bolso do casaco.
- Tchau - Blair atirou o Nokia metalizado de volta na bolsa vermelha e se endireitou na cadeira giratória de couro.- Estou pronta- disse confiante.
- Lembre-se quero curto mais feminino.
Rugas de diversão apareceram nas bochechas bronzeadas e intencionalmente eriçadas de pêlos de Gianni. Ele piscou um olho castanho de cílios longos.
- Como la Katerina Hepburn. Certo ?
Epa.
Blair apertou o cinto do roupão bege do salão e olhou no espelho o cabelo preto de Gianni completamente cheio de gel, rezando para que ele não fosse idiota nem incompetente como parecia. Talvez fosse um problema de idioma.
- Não, não Katherine Hepburn. Audrey Hepburn. Sabe quem é, de bonequinha de luxo? My Fair Lady? Cinderela em paris? - Blair vasculhou o cérebro em busca de uma celebridade mais atual, alguém com o cabelo curto decente - ou talvez como Selma Blair -acrescentou ela desesperadamente, embora pensasse que o corte de cabelo de Selma era mais moleque que o cabelo que tinha em mente.
Gianni não respondeu. Em vez disso, passou os dedos nos cabelos castanhos e molhados de Blair.
- Que belo cabelo - disse ele pensativo enquanto pegava a tesoura e reunia os cabelo em uma mecha. Depois, sem nenhum aviso, ele decepou todo o rabo-de-cavalo com uma tesourada brutal.
Blair fechou os olhos enquanto o feixe de cabelos caía no chão. Por Favor, deixe-me bonita, rezava ela em silêncio, e sofisticada,com atitude e elegância. Ela abriu os olhos e viu, horrorizada, seu reflexo. A franja molhada, rombuda, na altura da orelha apontava para todo lado.
- Não se preocupe – tranqüilizou-a Gianni enquanto passava da tesoura grande para uma tosquiadora menor. - Agora modelamos.
Blair respirou fundo, enrijecendo-se. Era tarde demais para voltar atrás. A maior parte do cabelo estava no chão.
- Tudo bem - gaguejou ela. Depois o celular tocou de novo e ela investiu para ele. - Espere - disse a Gianni. - Alô. - É Blair Waldorf? Filha de Harold?
Blair se estudou no espelho. Não tinha mais muita certeza de quem era. Ela parecia mais uma nova prisioneira preparando-se para a penitenciária do que a filha do famoso advogado corporativo Harold Waldorf, que se divorciou da mãe de Blair dois anos antes e agora morava em um château na França, onde administrava um vinhedo com uma "pessoa", que por acaso era um homem.
Considerando o estado turbulento de sua existência atual, Blair realmente não se importava em ser completamente diferente, e era em parte por isso que ela se submetia a Gianni.
Nem ligava de virar Katherine em vez de Audrey, desde que o visual fosse totalmente novo.
- Sim - respondeu Blair com a voz fraquinha.
- Ótimo - respondeu o cara no telefone. A voz dele era profunda e lisonjeira, dificultando adivinhar a idade. Dezenove ou 35? - Aqui é Owen Wells. Seu pai foi meu orientador na firma quando eu comecei na carreira. Nos dois fomos alunos de Yale, e eu soube que você está interessada em ir para lá.
Interessada? Blair não estava só interessada em ir para Yale - era seu único propósito na vida. Por que diabos teria feito cinco matérias de estudos avançados?
É estou - guinchou ela. Ela olhou para Gianni, que cantarolava as palavras de uma musica melosa de Celine Dion que saía do sistema de som do salão. - Mas eu meio que estraguei minha entrevista.
Na verdade, ela meio que contou toda a lacrimosa história da vida dela ao entrevistador e depois meio que o beijou, o que era mais do que uma simples mancada.
- Bem, e exatamente por isso que eu estou ligando - respondeu Owen Wells, a voz sensual ressoando como as notas graves de um violoncelo. - O apoio de seu pai significa muito para a universidade e eles querem dar uma segunda chance a você. Estou oferecendo meus serviços como ex-aluno entrevistador, e o departamento de admissão já concordou em usar meu relatório quando analisar sua solicitação, em vez da entrevista que você fez em novembro. Blair ficou pasma. Uma segunda chance - era quase bom demais para ser verdade. Cansado de esperar, Gianni largou a tesoura no carrinho sobre rodas ao lado da cadeira de Blair, arrancou a ultima edição da Vogue do colo dela e foi, rebolando, reclamar com os colegas.
- E então, quando você está disponível? - insistiu Owen Wells.
Agora, Blair queria dizer. Mas não podia pedir a Owen para se sentar e esperar que Gianni cortasse o cabelo enquanto ele lhe fazia todas aquelas perguntas típicas de entrevista, tipo
Quem e a pessoa mais influente de sua vida?
- A qualquer hora - piou ela. Depois ela percebeu que não devia parecer tão desesperada, não quando devia ser uma menina prodígio total com uma agenda insana. - Na verdade, hoje eu estou meio ocupada e amanha pode ser um dia meio louco também. Na quarta ou quinta-feira depois da aula seria melhor.
- Em geral eu trabalho ate mais tarde, e tenho muitas reuniões esta semana, mas que tal quinta a noite? Lá pelas oito e meia?
- Tudo bem - respondeu Blair ansiosa. - Quer que eu vá ao seu escritório?
Owen fez uma pausa. Blair podia ouvir a cadeira de escritório dele estalar e ela o imaginou examinando a sala em Tribeca decorada por Philippe Starck com vista para o porto de Nova York, perguntando-se se era um lugar adequado para a reunião. Ela o imaginou alto e louro, com um bronzeado do tênis, como o pai. Mas Owen Wells seria pelo menos dez anos mais novo do que o pai, e por isso a aparência dele seria muito melhor. Ela se perguntou se ele sabia como era cool ter um w no nome e no sobrenome.
- Por que não nos encontramos no Compton Hotel?
Eles tem um ótimo bar que deve ser bem tranqüilo. – Ele riu. - Posso te pagar uma Coca, embora seu pai diga que você prefere Dom Perignon.
O rosto de Blair corou. O idiota do pai dela - o que mais ele tinha dito?
- Ah, não, Coca está ótimo - gaguejou ela.
- Que bom. Vejo você na quinta a noite. Estarei usando minha gravata de Yale.
- Espero ansiosamente por isso. - Blair tentou manter um tom de executiva apesar da vívida fantasia Owen-no-escritório.
- Muito obrigada por me ligar. - Ela desligou o celular e olhou diretamente para o espelho dourado diante dela. Os olhos azuis já pareciam maiores e mais intensos, agora que tinha menos cabelo.
Se fosse realmente uma atriz estrelando o filme de sua vida - o que ela sempre gostava de imaginar -, este seria o momento da virada: o dia em que ela mudou de cara e começou
a ensaiar para o maior papel de sua carreira. Olhou o relógio.
Só tinha meia hora para voltar a Constance para a aula de educação física. Mas não havia motivo para voltar correndo, especialmente agora que a Bendel's ficava a apenas três quadras e um vestido novo para a reunião com Owen Wells chamava por ela. Valia a pena se ferrar por matar a educação física se o novo corte de cabelo e o novo vestido a ajudassem a ingressar em Yale.
Gianni estava bebendo café e dando mole para os garotos do xampu. Blair lançou-lhe um olhar ameaçador, ele que se atrevesse a foder com o cabelo dela.
- Quando estiver pronta, senhorita - gritou ele num tom de tédio, como se pouco importasse se ia cortar ou não o cabelo dela. Blair respirou fundo. Estava apagando o passado – seu relacionamento fracassado com Nate, o novo marido revoltante e a gravidez constrangedora da mãe, a entrevista malfeita em Yale - e se recriando com uma nova imagem. Yale estava lhe dando uma segunda chance, e de agora em diante ela seria a senhora de seu próprio destino, escrevendo, dirigindo e estrelando o filme que era a sua vida. Ela já podia ver as manchetes no caderno Styles do New York Times, mostrando seu corte de cabelo.A Frente dos Tempos: linda morena encurta estréia para Yale!
Seu rosto se abriu num sorriso que ela já praticava para a nova entrevista com Owen Wells na quinta a noite.
- Estou pronta.

Gossip Girl - Vol. 4 - Eu Mereço!Onde histórias criam vida. Descubra agora