os poemas eróticos são cheios de mentiras

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- E aí... - disse Vanessa, balançando o joelho na coxa de Dan enquanto estavam deitados nus de costas, contemplando o teto rachado do quarto em um deslumbramento pós-sexo. – o que achou?
Vanessa já havia experimentado sexo algumas vezes com o ex-namorado Clark, um bartender mais velho com quem ela ficou por pouco tempo no outono, quando Dan (como o resto da população masculina previsível) estava ocupado demais babando Serena van der Woodsen para perceber que Vanessa era apaixonada por ele. Mesmo que Vanessa tivesse transado pela primeira vez, ela teria lidado com tudo de uma forma banal, porque era assim que lidava com tudo. Dan, por outro lado, não era banal em nada, e foi ele que foi deflorado.
Ela estava doida para saber da reação dele.
- Foi ... - Dan encarou sem piscar a lâmpada cinza desligada pendurada no meio do teto, sentindo-se imobilizado e superestimulado ao mesmo tempo. Os quadris dos dois se tocavam sob o fino lençol vinho e parecia que uma corrente elétrica passava entre eles, zunindo nos dedos dos pés, nos joelhos, no umbigo, nos cotovelos e terminando no cabelo de Dan.
- Indescritível- respondeu ele finalmente, porque não havia palavras para descrever como se sentira. Escrever um poema sobre o sexo seria impossível, a não ser que ele recorresse a clichês metafóricos tediosos como fogos de artifício explodindo ou crescendos musicais. Até isso era totalmente impreciso.
Não descreviam a verdadeira sensação,ou como o sexo era todo esse processo de descoberta durante o qual tudo que era com um se tornava absolutamente maravilhoso. Por exemplo, o braço esquerdo de Vanessa: não era um braço particularmente espetacular - carnudo e branco, recoberto de uma penugem acastanhada e salpicado de sardas. Enquanto estavam transando não era mais o mesmo braço que ele conhecia e amava desde que ele e Vanessa ficaram acidentalmente presos em uma festa na oitava serie - era uma coisa preciosa e extraordinária que ele não conseguia parar de beijar; algo novo, excitante e delicioso. Ah, meu Deus. Está vendo? Tudo o que podia pensar para descrever o que era o sexo soava como uma propaganda idiota de um novo cereal ou coisa parecida.
Até a palavra sexo estava errada, e fazer amor parecia novela vagabunda.
Elétrico teria sido uma boa palavra para descrever o que era o sexo, mas novamente tinha conotações negativas demais, como cadeira elétrica e cerca eletrificada. Prolífico era outra palavra boa, mas o que significava exatamente? E trepidante parecia requintado demais e fraco, como um ratinho assustado.
Se era para escrever um poema sobre sexo, ele que ria provocar idéias de sexo, feras musculosas como leões e veados, mas não ratos.
- Terra chamando Dan. - Vanessa estendeu o braço e mexeu no lóbulo da orelha dele com a unha.
-Pináculo - murmurou Dan desvairado. - Epifania.
Vanessa se enfiou por baixo do lençol e deu um chupão na barriga branca e magra de Dan.
- Oi! Você está em choque ou coisa assim?
Dan deu uma risadinha e a puxou para si para poder beijar a boca de gato de Cheshire e o queixo de covinha de Vanessa.
- Vamos de novo.
Uaaaau!
Vanessa riu e esfregou o nariz nas sobrancelhas castanhas e desgrenhadas dele.
- Então parece que você gostou, hein?
Dan beijou o olho direito dela e depois o esquerdo.
- Hrnmmm - suspirou ele, todo o corpo zunindo de prazer e desejo. - Eu te amo.
Vanessa tombou no peito de Dan e fechou bem os olhos.
Não era uma garota muito mulherzinha, mas nenhuma garota consegue deixar de derreter na primeira vez que ouve um cara dizer essas três palavras.
- Eu também te amo - sussurrou ela em resposta.
Para Dan, parecia que todo o corpo estava sorrindo. Quem diria que essa segunda-feira comum de fevereiro seria tão...ótima?
Era demais para descrições floreadas, elegantes e poéticas.
De repente o celular de Dan disparou seu toque vibrante e alarmante na mesa-de- cabeceira, a alguns centímetros de distancia. Dan tinha certeza absoluta de que era só sua irmã mais nova, Jenny, ligando para reclamar da escola de novo. Ele virou a cabeça para ler o numero no visor. PRIVADO, piscava a mensagem, o que só acontecia quando Vanessa ligava de casa para ele.
- É a sua irmã. - Dan se apoiou no cotovelo enquanto pegava o telefone. - Talvez ela esteja ligando para dizer que você finalmente tem um celular - brincou ele. - Devo atender?
Vanessa revirou os olhos. Ela e a irmã guitarrista de 22 anos, Ruby, dividiam um apartamento em Wiliamsburg, no Brooklyn.
Ruby tomou três resoluções de Ano-novo: fazer ioga todo dia, beber chá verde em vez de café e cuidar mais de Vanessa, uma vez que os pais das duas estavam ocupados demais sendo umas aberrações hippies da arte em Vermont para cuidar dela.
Vanessa tinha certeza de que Ruby só estava ligando para perguntar se ela ia para casa, para que Ruby preparasse um bolo de carne e purê quando ela chegasse, mas era tão improvável que Ruby ligasse para o celular de Dan no meio do horário de aula que ela não podia deixar de atender.
Ela pegou o telefone tocando e o abriu.
- Oi! Como sabe onde me encontrar?
- Bem, boa tarde pra você, minha querida irmã – piou Ruby alegremente. - Lembra? Eu preguei seu horário na geladeira para saber exatamente onde você esta e o que está pensando o tempo todo, como uma nova versão melhorada de um Big Brother de Irmãs. De qualquer forma, só queria que você soubesse que chegou a correspondência e tem um envelope meio suspeito da Universidade de Nova York pra você.
Não resisti e abri. Adivinha só? Você entrou!
- Tá brincando! - O corpo de Vanessa já havia sido atingido pela adrenalina quando ouviu "Eu te amo", e agora isso.
Que piegas que nada, isso e que era orgásmico! Ela nunca teve certeza das chances que tinha de entrar cedo. E só para mostrar seu alcance artístico ao pessoal da admissão
da NYU e para provar como falava a serio quando dizia que queria ser uma cineasta importante, Vanessa mandou para a universidade o filme sobre Nova York que tinha feito no Natal. Depois de mandar, ela se preocupou que eles pensassem que ela estava exagerando. Mas agora suas preocupações se dissiparam. Eles gostaram dela! Eles a queriam! Vanessa finalmente podia se livrar para sempre dos grilhões ocos e cretinos da Constance Billard e se concentrar em sua arte num lugar para artistas sérios, como ela. Dan a encarava da cama. Seus doces olhos castanhos pareciam estar brilhando com um êxtase um pouco menor do que antes.
- Estou tão orgulhosa de você, querida – cantarolou Ruby em sua voz mais maternal. - Você vem jantar em casa?Andei lendo uns livros de culinária do Leste europeu. Estou pensando em fazer pierogi.
- Claro - respondeu Vanessa baixinho, subitamente preocupada com Dan. Ele não tinha se candidatado a universidade nenhuma cedo, então ele só saberia para onde ia no ano seguinte daqui a alguns meses. Dan era tão sensível. Esse era o tipo de coisa que podia atirá-lo em uma depressão de insegurança, do tipo em que ele se trancava no quarto e escrevia poemas sobre morrer em acidentes de carro ou coisa assim. - Obrigada por me contar - disse ela a Ruby rapidamente.- Te vejo mais tarde, tá bem?
Dan ainda encarava Vanessa cheio de expectativa quando ela desligou o telefone e o largou na cama.
- Você entrou para a NYU - disse ele, tentando inutilmente esconder o tom de acusação na voz. Ah, como ele era magrela, idiota e inadequado! Não que ele não ficasse feliz por ela, mas Vanessa já estava na faculdade e ele era só aquele cara esquelético que gostava de escrever poemas e que podia nunca entrar em faculdade nenhuma. - Uau - acrescentou ele com a voz rouca. - Isso e ótimo.
Vanessa deitou novamente na cama e puxou o lençol por sobre o corpo, o quarto parecia mais gelado agora que o suor da paixão tinha esfriado no corpo dos dois.
- Não e grande coisa - afirmou ela, tentando disfarçar a empolgação que transpirou quando ouviu a novidade. - Você e o cara do poema que vai sair na New Yorker.
Nos feriados de Natal, Vanessa mandou um poema de Dan, "Putas", para a The New Yorker sem o conhecimento dele e o poema fora aceito para publicação na edição dupla do Dia dos Namorados, que sairia no fim daquela semana.
- Parece que sim - concordou Dan, dando de ombros dubiamente. - Mas eu ainda não sei nada ... Quer dizer, sobre meu futuro.
Vanessa abraçou a cintura de Dan e apertou o rosto no peito branco e ossudo dele. Ela ainda não conseguia acreditar que ia para a NYU no outono. Era uma coisa certa, o destino dela.
Ainda tremendo de empolgação, ela tentou se concentrar em consolar Dan. - Quantos caras de 17 anos você conhece que publicam poemas na New Yorker? É incrível- murmurou ela com delicadeza.
- E assim que os funcionários da admissão das universidades a que você se candidatou descobrirem isso, você vai ingressar onde quiser, e talvez ate seja aceito onde não quer. - Talvez - respondeu Dan. Era fácil para Vanessa parecer tão confiante. Ela já estava dentro.
Vanessa se apoiou no cotovelo. Havia uma maneira certa de fazer com que Dan se sentisse melhor, pelo menos por algum tempo.
- Lembra do que estávamos fazendo antes de Ruby telefonar? - ronronou ela como uma gatinha preta safada.
Dan fez uma carranca para ela. Uma sobrancelha castanha estava erguida em um angulo ardente e suas narinas pálidas ficaram vermelhas. Ele não achou que ia ficar excitado de novo, mas seu corpo o surpreendeu. Ele puxou Vanessa e a beijou com força. Se havia uma coisa que fazia um garoto se sentir um leão, e não um ratinho, era um ronronar. Mi-au.

Gossip Girl - Vol. 4 - Eu Mereço!Onde histórias criam vida. Descubra agora