Capítulo 4

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Eu sabia que a Mary não queria me destruir, mas não abandonaria a guerra por causa disso. Desde que ela voltou dos Estados Unidos se dedicou ao país dela mais até do que eu. Eu precisava treinar meu pequeno exército de fracassadas para evitar sermos destruidas sem reação. Elas eram mais inúteis do que imaginei. Eu concordei com a Mary quando disse que Nicolau me deu o pior exército porque queria que eu morresse junto.

– Vocês precisam dominar a magia assim – eu disse, tentando explicar como funcionava – Não podem sair acertando tudo o que ver. Cada raio que sai de vocês as enfraquece. Eles consomem muita energia, por isso é importante que saibam como lidar com isso.

– E por que sua mãe fazia tantas poções mágicas?

– Algumas eram para aumentar as energias e ter um poder grande sobre o inimigo.

– Magda.

– Sim.

– Pode me dar um pouco da poção do amor? – disse uma jovem muito bonita dos cabelos encaracolados.

– O quê?

– É que eu estou gostando de um garoto...

Eu não estava acreditando. Estávamos nos preparando para uma guerra e o que ela pensava era como enfeitiçar um garoto!

– Francisca, estamos em pé de guerra e você só pensa em namorar?

– Sabe como é, mestra. Eu já que não posso conquistá-lo pelos meios normais, preciso fazer alguma coisa.

– Ele pelo menos é algum Bruxo?

– Hã... bem, eu acho que não.

– Elfo? Ninfo?... Vampiro?

Ela negava. Comecei a me preocupar.

– Ele é Humano.

– Humano? Está querendo conquistar um Humano?

– Qual é o problema? Eu soube que você enfeitiçou vários quando estava na terra deles.

– Humanos são perigosos e cruéis. Eles te seduzem e depois atacam covardemente.

Eu escutei duas delas cochichando: "Algum Humano deve ter machucado o coração dela". "Oh, coitada".

Por mais que eu implorava, elas não levavam nada a sério. Cansada, eu as dispensei. Caminhei sozinha de volta para o palácio, pensando no que poderia fazer para aquelas meninas se tornassem grandes soldadas. Estávamos enfrentando várias batalhas ao mesmo tempo e por todos os lados. As Fadas nos atacavam pelo Sul, os Vampiros pelo Norte, os Elfos, ao nosso Leste, resolveram nos enfrentar também. E pelo Oeste, os Humanos anunciaram que nos enfrentariam. Do jeito que a coisa ia, seríamos extintas mais rápido do que os dinossauros.

Mary, a minha amiga Fada, que não misturava a nossa amizade com os interesses dos povos dela e resolveu nos atacar assim mesmo, tinha razão. A culpa disso tudo era do meu tio Nicolau. Ele confrontou os povos de todos os lados, querendo dominar o mundo de uma vez. Parecia aqueles moleques sapecas que vive atentando todo mundo e depois saía correndo.

– Por que seu tio quer dominar o mundo? – perguntou Mary certa vez em que nos encontramos.

– Sei lá. Acho que ele assistia muito "Pink & Cérebro" quando era criança. Talvez ele queria ser o Cérebro.

– Eu não queria lutar contra você, Magda, mas seu tio fez coisas horríveis contra meu povo. Não posso deixá-lo impune.

Não me lembro do dia em que ela me chamou pelo nome, isso me comoveu.

– Então vai matar a todos nós?

– Se for preciso sim. Eu sugiro que se proteja, vá para longe onde não possa se machucar. Não quero feri-la, apenas impedir que a loucura de seu tio destrua tudo ao seu redor. – e olhando para mim diretamente, ela disse – Eu vou acabar com seu tio e tudo o que ele fez... talvez eu poupe você.

Talvez eu poupe você, talvez eu poupe você... eu achei ridícula a preocupação dela comigo. Ela estava dizendo em acabar com todo o meu povo e me deixar viva apenas por um caprichozinho besta dela. Eu a respeitava por tudo o que passamos, mas isso estava indo longe demais até mesmo para uma Fada.

                                                                               *[0.0]*

Cheguei em casa, tomei um banho quente e me preparei para dormir. A porta de entrada bateu e me assustou. Caminhei até o parapeito da escada.

– Magda querida. Ainda acordada esta hora? – disse meu tio, parecia bem diferente.

– Já me preparava para dormir. Está tudo bem?

– Tudo bem.

– Como foi a batalha?

– Boa, muito boa.

– Venceu os Vampiros?

– Quase. Estamos dando uma trégua por enquanto.

Eu desconfiei que ele queria me dizer algo. Estava muito estranho.

– Está com algum problema, tio?

– Me diz você. Como foi com as Bruxas Brancas?

Eu não sabia o que dizer, sei que deveria mentir, mas não sabia como faria isso.

– Estamos em trégua também.

– Não é verdade – ele mudou o tom de repente – Eu te dei uma missão e você não a cumpriu. Onde estão as Fadas agora?

Eu me espantei com a fúria com que ele me disse. Juro que tive vontade de dizer: no meu bolso é que não estão. Mas não disse.

– Você as deixou ir embora, Magda? A Bruxa Branca enviou a própria filha patética para nos enfrentar e você não foi capaz de acabar com a raça dela? A idiota é sua amiguinha? Vocês eram namoradas no colégio nos estados Unidos?

– Por que está falando assim comigo? O que eu fiz? – comecei a chorar.

– O que fez? Tem coragem de me perguntar o que fez? – a raiva dele era tão grande que imaginei que me transformaria em um inseto – Você arruinou nosso reino! Estamos falidos, aquelas Fadas horríveis nos destruirão! E a culpa é sua!

Merda! Estou ferrada! – pensei fechando os olhos.

– Desculpe, eu...

– Desculpas não vão adiantar, querida! Estou enfurecido contigo!

Eu sei.

– Sabe o que vou fazer contigo?

Me mandar para os Estados Unidos de volta?

– Sabe qual vai ser a sua punição por ter me desobedecido?

– Não...

– Você vai para o mesmo lugar onde eu enviei os traidores do reino. Quando eu vencer estas batalhas, talvez... se estiver de bom humor, eu a trago de volta.

– Espere aí, tio – eu estava completamente desesperada – Não precisa agir por impulso, eu posso consertar as coisas, eu...

– Cale a boca, sua idiota! Não sabe nem cuidar de si mesma, como irá cuidar de uma nação? Eu confiei em você, mas você me decepcionou... Agora é tarde para arrependimentos.

Antes que eu pudesse me defender ele lançou um raio poderoso em mim. Eu me protegi como pude, mas me desequilibrei e ele se aproveitou disso, me acertando com outro raio.

Um buraco surgiu no chão e eu fui jogada nele. Parecia que eu estava caindo em um tobogã sem fim e de costas. Eu sentia como se os galhos das árvores chocavam-se contra mim. Não havia nada que eu pudesse fazer a não ser esperar que aquilo tivesse um fim.

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Magda II: o retorno da BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora