Capítulo 17

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A Adelaide me disse que há algum tempo não via a mãe, já que brigaram feio. Ela morava no alojamento da escola e nem trocava mensagens. Morgana não se importava muito com o estudo da filha.

Era final de semana e não havia aula. Levantei cedo e caminhei pelos bairros. Minha intenção era ir aos bairros mais afastados, Morgana não poderia estar longe, eu a encontraria de qualquer forma. Afinal, eu era uma Bruxa, poderia identificar outra mesmo disfarçada, admito não ser fácil, mas não era impossível.

De repente, vi um rapaz usando um chapéu preto de abas curtas, o cabelo crescido me pareceu familiar. Já o tinha visto na escola algumas vezes, mas nunca acreditei que pudesse ser ele. Havia outro cara conversando com ele.

– Monstrinho das trevas! – disse, já me arrependendo.

Ele me olhou estranhamente, um misto de raiva e surpresa.

– É você mesmo? – eu falei tentado contornar o impacto negativo que provoquei.

– Quem é você? – ele franziu a testa.

– Sou a M... Giovanna! – corrigi rapidamente, lembrando que meus olhos ainda estavam negros – Isso mesmo, me chamo Giovanna.

– E de onde me conhece?

– Ué, você não é o "Monstrinho das Trevas"? Estudou em Vermont?

– Sim, mas ninguém me chama assim há muitos anos.

– Que bom te encontrar aqui, neste fim de mundo, não é mesmo? Desculpe, mas não me lembro de seu nome verdadeiro.

– Bradley. – ele olhava-me de forma esquisita, como se eu ainda fosse estranha para ele – Estuda na Universidade da Califórnia?

– Estudo. Faço Medicina e você?

– Estou estudando Direito, termino ano que vêm. – o amigo dele fez um sinal e se foi. Ele olhou-me mais de perto – Nossa! Você é muito parecida com alguém que conheci na outra universidade.

– Sério? Quem seria?

– Se não fosse os olhos negros e a pinta eu diria que era ela com toda certeza.

– Uau. Ela pelo menos era bonita?

– Era sim. E muito simpática. A simpatia em pessoa. O único defeito dela era...

Eu esperei ele terminar a frase, mas não terminou.

– Era a sua namorada? – perguntei.

– Não. Nós nunca namoramos. Ela foi... na verdade, ela era... hã, como eu posso dizer...

– Foi embora com outro, te deixou na mão, tinha uma deficiência?

– Não, nada disso – ele aproximou-se de mim, cochichando – Ela era uma Bruxa.

Arregalei os olhos, completamente surpresa.

– Oh, não! Apaixonou-se por uma Bruxa! Que merda, cara! Elas são horríveis e traiçoeiras. Eu soube que elas podem até te devorar depois de cozinhá-lo em uma caldeira bem grande. Eu teria muito medo se visse uma.

– Ah, pare com isso! É nisso que você acredita? – ele abanou uma das mãos, discordando do que eu disse – São histórias de contos de fadas, fábulas sem noção que o povo conta para assustar criancinhas bagunceiras. Alguns fazem isso para se promoverem, colocar a população contra elas. Eu nuca acreditei nisso.

– Eu não duvidaria disso. As Bruxas são más!

– A Magda não. Ela era diferente, tinha um charme incrível e estava sempre disposta a fazer o bem. Ela era um pouco desastrada com os poderes que possuía. Pena que estas leis idiotas deste país não favorecem aqueles povos incríveis. Talvez ela não fosse totalmente Bruxa. Acho que eles estavam enganados em relação a ela e a condenaram de forma injusta.

– Será? Para mim Bruxas são Bruxas.

– Sim, mas ela não tinha maldades, estava sempre disposta a ajudar.

Estava me sentindo estranha. Ele estava me elogiando como uma pessoa completamente apaixonada e eu não poderia ao menos contar-lhe a verdade. Eu teria que admitir, o "monstrinho das trevas" estava diferente. Mais charmoso. Mais gato!

– Sabia que se envolver com as Bruxas pode te condenar também por ser cúmplice?

– Eu sei, mas não ligo mais. Arrependo-me por não ter feito nada quando ela mais precisou de mim. Ela foi queimada como determina a lei, eu poderia ter interferido e ao menos tentado salvá-la... mas não, fiquei plantado como uma árvore e não fiz nada.

– Não se preocupe com isso, o tempo passa e as feridas se curam por si mesmas. Ela era uma Bruxa, talvez usou um feitiço e se safou, elas fazem isso o tempo todo.

– Era o que esperava. Mas sei muito bem o que aconteceu naquele dia.

Eu vi uma tristeza nos olhos dele e senti uma pena terrível. A vontade era abraçá-lo e revelar minha verdadeira identidade. Contar a ele tudo o que aconteceu. Porém, eu não podia. Isso interferiria nos meus planos e não poderia cumprir minha missão.

– Foi bom reencontrá-lo, "monstrinho das trevas" – despedi-me dele.

– Espero nos esbarrar outra vez em breve. Se cuide, Giovanna!

– Você também.

(O.<)

Eu parei em uma lanchonete na Washington Boulevard. Estava muito quente naquele dia, havia semanas que não caia uma gota de chuva. Segundo os meteorologistas, o tempo permaneceria assim por mais cinco ou seis dias. Pedi um refrigerante e um hot dog. Sei que minha alimentação deveria ser melhor, mas eu realmente estava faminta e com muita sede.

A televisão estava ligada no canal de notícias.

– "...mais duas crianças estão desaparecidas há quatro dias nas região metropolitana de Los Angeles. A polícia ainda não capturou nenhum suspeito. Somando-se a essas já são dez crianças em menos de um mês..."

Dez crianças... região metropolitana... Isso reduziria minhas suspeitas. Ao que parece, eu tinha um local onde procurar. Sei muito bem que a polícia e os agentes federais estavam em cima, tentando prender qualquer um que fosse suspeito. Eu, por ser uma Bruxa, estaria arriscando minha própria pele. Porém, sabia que era necessário. Eu sabia quem estava fazendo aquilo e precisava agir rápido. A polícia não estaria do meu lado, então, deveria redobrar a atenção.

Isso só poderia ser loucura, enfrentar uma Feiticeira de alto nível bem na terra dos Humanos, onde nossa presença não é permitida. Como dizer a eles que é apenas para capturar uma mera "Feiticeira" na boa e sair sem problemas?

Mas era isso ou a morte...


Magda II: o retorno da BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora