Capítulo 10

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Eu acordei com o canto dos pássaros no meio da floresta. Frodje, o Gnomo loiro, me abandonou no meio daquele mato escuro dizendo para não acompanhá-lo. Eu me conformei e não me magoei, estava me acostumando a ser abandonada. Como dizem por aí, é melhor só do que mal acompanhada.

Espreguicei e olhei ao redor. Não sabia onde estava. Tinha que esperar o sol atravessar o céu um pouco mais para eu me orientar e saber para onde ir. Eu precisava chegar ao Norte, até Witchland. Afastei alguns galhos e já ia levantar voo quando escutei um barulho de vozes. Fui ver o que era.

– Viva a carrasca da Feticeira! – gritaram uma multidão de Gnomos.

– Mas o quê...

– Viva!

– Vamos Magda, diz a eles como fez – disse o Gnomo narigudo.

– Bem, eu... hã... primeiro, obrigada pelas homenagens, a feiticeira é uma pessoa má e mereceu o que fiz a ela. Acertei com meu golpe de raios combinados...

Todos estranharam e ficaram calados me olhando esquisito.

– Ela não é uma Humana? – interrompeu alguém no meio da multidão – Como ela soltou os raios?

Não é a primeira vez que me confundem com Humanos, não sei ao certo se isso era bom ou ruim, mas eu não gostava.

– É só uma força de expressão. Eu usei, na verdade, uma armadura de ferro. Todos sabem que as feiticeiras não resistem ao ferro, não é?

– Acertou ela com o cabo da barraca?

– Não, claro que não. Eu me preveni de outra forma. Sou uma guerreira, estou sempre preparada para isso.

Por um momento imaginei que eles desconfiariam de mim e me matariam. Mas ao invés disso, me levaram até uma casa enorme subterrânea. A casa era espaçosa, mas com o teto baixo. Eu tinha que me curvar para entrar. Bati a cabeça cinco vezes nos batentes das portas. Parecia com a casa dos Hobbits, só que um pouco mais baixa ainda. Tudo era muito limpo e organizado.

– Você é mesmo uma idiota. – resmungou o barbudo quando viu eu bater a cabeça outra vez ao passar por uma porta – Aposto que fez isso de propósito, só para chamar a atenção.

– Até parece que vou querer um galo em minha cabeça.

– Eu não duvido. – ele mudou de assunto – O que fez com a Feiticeira foi uma coisa boa, não sei para onde a mandou, mas precisa se cuidar. O povo Gnomo acredita que você é nossa salvadora.

– Que bom, agora posso me considerar uma celebridade.

– Não conte tanto com isso. Nós dois sabemos que você não é.

De repente, um gnomo que tinha as orelhas maiores que as dos outros entrou apressado e bateu a porta com força.

– O rei quer falar com a salvadora! E tem que ser agora.

Rei? Então os Gnomos também tem rei... e quer falar comigo?

– Vá logo. Ele detesta esperar e costuma punir quem se atrasa.

– Certo... lá vou eu, então. Nada de atrasos.

Atravessamos uma trilha cheia de curvas. Havia galhos espinhentos nos cantos que me arranhavam. Eu preferia atravessar voando, mas se fizesse eles me queimariam viva por ser uma Bruxa e não havia nada que eu pudesse fazer já que eles são muitos.

Fui bem recebida pelo rei. Apesar de ter quase arrancado a cabeça na hora de passar pela porta, que era baixa (fiquei com a testa vermelha). Colocaram um banquete com várias frutas colhidas na floresta. Depois, fui transportada em uma carruagem puxada por um pônei por todo o castelo. Se eu dissesse que aquele era o dia mais feliz da minha vida ninguém acreditaria. Poderia nunca acabar, eu seria a defensora dos Gnomos, teria muito ouro e prata... uma casa bacana para morar... lacaios uniformizados a me servir. Eu teria a vida sedentária que tanto quis. E, de vez em quando, uma briguinha com algum intruso para se aventurar e nada mais. Meu nome seria escrito para sempre na memória do reino dos Gnomos. Eu, Magda McFord, a defensora dos Gnomos!... Espere aí, teria que mudar meu nome ou seria condenada antes de aproveitar meus benefícios.

Magda II: o retorno da BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora