Capítulo XIV: Dezenove anos de provação

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Samuel

– Você está bem?

Sébastien perguntou me tirando do torpor.

Balancei minha mão como se tentasse desfazer uma dormência e voltei a minha atenção a ele.

– Só pensando em como eu confundi algo que achei que nunca fosse confundir.

Respondi, escondendo minha mão logo depois como se ele fosse descobrir só de olhar para os meus dedos.

– Sabe a parte mais estranha do dia?

Perguntou parado sobre o espelho do quarto, terminando de se arrumar.

– Não. Mas tenho certeza que você vai me contar.

Comentei rindo e ele riu também.

– É que nós parecemos mais animados para comemorar o aniversário do Rex do que você. E vocês deveriam ser supostamente melhores amigos agora, não é?

Perguntou curioso, Sébastien era provavelmente o que menos se importava com a presença do Rex ao nosso redor, o que mostrava claramente maior independência e confiança do que antes. Isso desconsiderando Amora, para ela, ter o Rex ou não ao nosso lado como amigo tinha a mesma dinâmica pratica.

– E nós somos, mas não é isso. Eu sou estou distraído. E não fale como se você desgostasse dele agora.

– Não é que eu não goste, mas ele ainda é o Rex, sabe, e tem coisas que não mudam... Eu como todos, estou me acostumando.

– Bem, eu também não posso dizer que não é novo para mim – acrescentei me levantando da cama para ajudá-lo com a escolha da gravata – É mais difícil do que dizer que ele mudou, ou coisa do tipo. É mais como se ele tivesse voltado a ser o verdadeiro, nós só não tínhamos conhecido esse Rex ainda.

– Então toda aquela raiva e inveja era por que ele estava no armário?

Perguntou confuso, nós nunca tínhamos exatamente conversado sobre isso. Todos tinham aceitado minha nova amizade, mas nunca debatido por mais de alguns segundos – principalmente por que eu nunca tinha dado muita escolha – Somente Lexa e Killian tinham fortes opiniões sobre o Rex.

Bem ou mal tinha tanta coisa que não queríamos ou deveríamos tocar no assunto, que as vezes ficava difícil saber sobre quais assuntos delicados poderíamos tocar por mês, sem atingir a cota máxima de estresse.

– Infelizmente não é tão simples. Acho que ele nunca tinha tomado ciência dessa parte dele. Gay, ou bissexual, como preferir falar. Era algo soterrado em muitas outras preocupações e inseguranças. Estava presente é claro, mas mascarado.

– E você e sua irmã trouxeram isso à tona?

Perguntou, tentando entender.

– De certa maneira, Lexa e eu éramos representações de grandes problemas que ele não era capaz de lidar. Estar no armário, como você diz, e precisar se provar sempre e sempre sobre a sua magia e herança. Ele deixou claro que não gostava da gente na época pela facilidade que as coisas vinham a nossa mão, é claro que se ele soubesse o real motivo de sermos como somos, ele ficaria mais do que grato de ser quem é.

Respondi me virando, era um assunto ainda mais difícil do que explicar como o Rex era agora, ou sempre foi.

– Isso não muda nada, você sabe, não sabe?

Bruxos&Demônios, vol. III - Vínculos&MonstrosOnde histórias criam vida. Descubra agora