Capítulo XXVII: Um dia no escritório

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Lexa

O cheiro, o ar aveludado. Até mesmo a sensação do pólen no ar tocando meu rosto e o meu cabelo pareciam estar presentes. Era absurdamente comum. Como um deja vú leve e delicado.

– Você está encarando essa pintura, já faz um tempo.

Robert McHale comentou atrás de mim, segurando várias caixas de papelão com os braços.

– Desculpe, é que eu me distraí – respondi balançando a cabeça, parecia estar ali há alguns minutos, poderiam ser mais pelo visto – Parece que eu conheço esse lugar. Ou algum parecido pelo menos. Flores são normalmente todas iguais pra mim, mas essas parecem particularmente familiares.

Disse por fim, voltando a encarar a enorme pintura de uma rua repleta de cerejeiras floridas.

– Já esteve na Coreia do Sul?

Perguntou pondo as caixas sobre a mesa.

– O que?

– A mugunghwa, ou hibiscus syriacus em seu nome científico. Mas você provavelmente conhece como rosa-de-sarom, são comuns no Brasil também, você pode estar lembrando da sua infância. Contudo esse quadro especificamente foi pintado pela minha irmã como um presente para mim, ela mora lá desde que se formou, é parte do seu dom – explicou se aproximando de mim e da pintura, ela parecia mesmo diferente das que eu estava acostumada a ver nos museus de Londres, os tons de rosa, vermelho e azul eram lindíssimos – Ela me enviou quando eu consegui esse trabalho, mas só recentemente eu coloquei aqui. Estava somente juntando poeira no meu apartamento, no centro, então achei melhor trazer logo para cá. Onde pudesse ser apreciado, mesmo que fosse só por alunos machucados e ou envenenados, o que normalmente significa que eles não estão prestando muita atenção ao redor e mais em si mesmo, como de costume.

– Ah sim, mas não, nunca estive na Coreia do Sul. Conheço o Brasil e Londres, e é claro, os Estados Unidos agora.

– Talvez seja uma memória remanescente. Quanto mais forte a conexão entre você e seus membros do Círculo de Sangue for, mais forte e natural será a troca de informações. Automática, até.

Explicou me observando com atenção, de vez em quando eu o pegava olhando para nós assim.

– Talvez, mas fora meu irmão e eu, e o Sébastien que é canadense, nenhum dos outros já saiu desse país. Tirando é claro que se contarmos o sequestro da Amora em consideração. Mas talvez seja algo relacionado aos animes que o Roman assiste, ou os vídeos games, mangá, doramas e series televisas de inúmeros países da asia diferentes. Aliás ele é um grande fã de Boys Love tailandeses devo acrescentar – complete rindo, era uma atividade que antes meu namorado dividia com Giovanni e agora com seu melhor amigo – Eu provavelmente só estou confundindo. Mas parece familiar. Parece rotineiro até.

– Talvez seja parte da magia que está na obra.

– Ou talvez eu esteja finalmente enlouquecendo como a minha mãe.

Confessei, pelo estilo de raciocínio do meu irmão, era uma possibilidade aceitável.

– O que?!

– Deixa para lá. Piada interna. Mas o que achou do meu macacão florido?

Perguntei dando uma pequena voltinha, aproveitando o movimento causado pelas mangas longas e bufantes do macacão.

Bruxos&Demônios, vol. III - Vínculos&MonstrosOnde histórias criam vida. Descubra agora