Capítulo XXX: Choque de realidade

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Lexa

Sempre odiei o silêncio. Era o contrário de tudo para mim, diferente do meu irmão que se sentia sobrecarregado pelo outros ao redor no passado, eu tinha me acostumado com maior facilidade ao barulho constante das emoções. Talvez porque houvesse sido muito menos radical para mim do que para ele.

Era mais como estática ou um crepitar engraçado. Não é como se sentimentos falassem, mas as vezes eles gritavam mesmo assim.

Então quando criança eu tinha esse pesadelo recorrente mesmo que eu não lembro bem quando ele parou de acontecer.

Sempre do mesmo jeito, todas à vezes.

Começava comigo sentada num canto qualquer. Pessoas ao meu redor tentando falar comigo, e eu não conseguia ouvir. Nem um único som sequer. Nem o da minha respiração, da minha voz, do meu coração... Nada!

Mal sabia eu que esse tipo de pânico era nada comparado a ficar presa no meio das sombras, com a mesma sensação, mas somada com a solidão e o desespero da eternidade.

Não havia marcadores de tempo. Era uma total privação dos sentidos. Nem mesmo meu corpo se movia. Meus olhos estavam abertos o tempo todo.

Eu não conseguia gritar, eu não conseguia chorar ou me mover, ou me salvar.

– LEXA!

Ouvir meu nome ecoar no vazio foi a primeira coisa que ouvi depois de uma eternidade de silêncio. Meu corpo pareceu pesar e cair. E como de costume minha cabeça encontrou algo solido e que não iria sair do lugar.

A voz e os sons foram devolvidos de imediato, e um líquido quente escorria do meu ouvido esquerdo enquanto minha nuca ardia.

– Está tudo bem?

Amora perguntou me ajudando a me sentar.

– Estava flutuando novamente?

Perguntei sem responder, já que meu irmão e eu tínhamos o péssimo costume de transbordar nossos problemas para nosso sono.

– Bem no meio do quarto, com seu rosto já encostado no teto.

Amora explicou puxando meu cabelo para o lado.

– Como me acordou?

Perguntei franzindo o cenho, estava começando a doer bastante.

– Te chamei pelo elo, mas parecia como se não houvesse sinal. Então eu gritei. Presumi que o lamento da carpideira pudesse atravessar planos de consciência e tentei.

Explicou enquanto lançava um feitiço silencioso de cura.

– Por isso o zumbido no meu ouvido esquerdo – comentei encostando nele e sentindo o mesmo líquido morno de antes – E o sangue.

Acrescentei.

– Na próxima vez não durma tão pesado.

Retrucou rindo, terminando de me curar.

– Na próxima vez chame a Nik para me acordar. Ela pode fazer isso sem me deixar parcialmente surda ou com tinnitus.

– Não ficaria surpresa se você, o Sam ou eu, desenvolvêssemos isso aliás. Escutamos tantas coisas que não deveríamos.

Completou.

– Muitos fantasmas no seu ouvido?

Perguntei me levantando até a direção do espelho de corpo todo.

Bruxos&Demônios, vol. III - Vínculos&MonstrosOnde histórias criam vida. Descubra agora