Vício

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- Me defina em uma palavra.

- Vício.

Eu a olhei nos olhos, mordeu o polegar e me deu um sorriso de canto.

- Sou seu vício?

- Sim, você é.

-  Por definição... Vício é aquilo que você gosta tanto que chega a doer, chega a te fazer mal. Você tenta parar e não consegue, não vive sem. E sempre sente culpa por não conseguir se livrar. É isso que sou pra você?

- Essa é a definição negativa. Eu quis dizer que só consigo pensar em você... Querer você, e sou viciada no teu cheiro.

- Tá bem.

Pus as mãos nos joelhos e me levantei da cama.

- Lua, o que há? Você perguntou e eu respondi;

- Nada.

-É a minha mãe de novo?

Eu estava de costas para ela. Fechei os olhos com força e respirei fundo. Me virei e tentei parecer tranquila.

- Não tem nada com a sua mãe. Ela está me ajudando muito...

"e planeja destruir minha vida"

- Que bom que sabe disso, ela está dando o melhor dela. Ela quer tentar te ajudar. Só isso.

- Ela quer controlar tudo!

Falei mas em seguida mordi a língua. Manu me olhou e suspirou.

- Eu sei amor mas... Já sei!

- Sabe o que?

- Vamos fugir...

- O que?

- ...deste lugar baby!

- Que lugar Manuela-

- VAMOS FUGIR!!

- Tá me zoando?

- Tô cansada de esperar, que você me carregue.

- Ah tá... Entendi.

A garota estava tirando uma com a minha cara.

- Vamos fugir... Pra outro lugar, baby!

- Manu...

- Vamos fugir, pra onde quer que você vá, que você me carregue!

Cantava, e então levantou e correu até mim. Não pude conter um sorriso. Então cantamos o refrão juntas;

- POIS DIGA QUE IRÁ!
IRAJÁ, IRAJÁ...

Ela segurou minha mão e saiu saltitando enquanto cantava muito alto.

- Pra onde eu só veja você, você veja a mim só
Marajó, Marajó.

- Qualquer outro lugar comum, outro lugar qualquer
Guaporé, Guaporé

Completei baixinho me achando um pouco boba.

- Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, céu azul...

Ela cantou rindo e fez sinal para que eu completasse, quando demorei demais, ela enlaçou meu pescoço e sussurrou em meu ouvido;

- Onde haja só meu corpo nu
Junto ao seu corpo nu.

Senti um arrepio e a olhei nos olhos, ela observava minha boca, parecia faminta. Manu tomou meus lábios em um beijo lento e envolvente. Quando já estávamos quase sem fôlego paramos.

- Só você pra me fazer rir num momento como este.

Ela sorriu e roçou o nariz no meu.

-Faz parte do meu trabalho.

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