Sem sinal

260 7 4
                                    

Já fazia duas semanas.
DUAS
SEMANAS!
Duas malditas semanas que eu não falava com a Manuela. Nós duas conversávamos a pouco mais de um ano por mensagem direta no twitter e pelo whatsapp. Passávamos as madrugadas falando bobagens,  conversando sobre nossas vidas e traçando planos.
Brigávamos o tempo todo, nosso nivel de ciúmes era desigual, alguém marcou ela numa publicação? Eu tinha um crise de ciúmes. Alguma menina dizia que eu era linda? Outra crise de ciúmes, mas dessa vez vindo dela.
Era assim o tempo todo e por esse motivo nós teminávamos o nosso namoro o tempo todo.
Mas dessa vez estava doendo mais, porque não havia nenhuma indireta vindo dela em sua conta no twitter, e nenhuma aparição surpresa no wpp, nenhuma ligação; nada.
Ela havia sumido. Eu olhava o número dela e suspirava pensando se deveria ou não ligar, mas era sempre ela quem me ligava. Sempre ela que me procurava. E agora que ela havia parado, eu temia   sua rejeição, ligar pra ela pela primeira vez e ela desligar na minha cara. Eu estava com medo e não sabia o que fazer. Quando completou três semanas dela ficando offline eu desisti, deletei minha conta no twitter, pedi ao meu melhor amigo, já que eu não tinha coragem, e ele bloqueou o número dela no wpp e fui viver a vida real.

Mas a vida real parecia irreal e ilusória pra mim. As festas eram sem graça e eu tinha vontade de ficar sentada no celular o tempo todo. Mas eu não tinha a Manu pra conversar e me tirar do tédio me fazendo rir de coisas idiotas, não tinha o twitter pra reclamar de como aquela festa estava um saco, e pra rir de postagens que eram engraçadas admições de outras pessoas que se encaixavam perfeitamente na minha vida.
Eu me sentia vazia, sentia que não tinha nada.

-O que você tem filha?

-Nada papai.

Falei comendo o cereal com leite sem animo algum, prendi meus cabelos curtos com um laço e me levantei sem nem terminar o café da manhã.

-O Fabrício te levou a uma festa não foi?

-Sim.

-E não foi legal?

Meu pai tentava conversar sempre comigo, mas ele não fazia ideia do quanto a Manu me fazia falta. Pra ele era fácil arranjar outras amizades, afinal de contas "tem tanta gente jovem por ai, vá fazer amizades"
Como explicar ao meu pai que não é fácil assim?

Eu nem tentava mais fazer ele entender.

-Ei pequena, tá melhor?

-Tô sim Toni.

Meu irmão entrava na cozinha e me deu um beijo no rosto.

-A prova é em duas semanas, mas eu nem te vejo estudando.

Reclamou sério e eu me senti culpada. Eu tinha uma prova para fazer, e ela era super importante. Era minha única chance de ter meu maior sonho realizado; estudar  artes na  Europa. Um sonho meio impossível, mas a Manu me dava toda a força, e pouco antes dela sumir eu havia contado ao meu irmão, e pra minha surpresa Toni também me deu toda a força e me ajudou a fazer as inscrições. Eu estava no fim do ensino médio, na verdade havia acabado de entrar de férias do meu ultimo ano no colégio. A faculdade estava às portas, e eu mais uma vez estava insegura e com medo. Como na vez em que eu mudei de escola no meio do ano, entrei no lugar desconhecido onde todos tinham seus grupos e suas amizades formadas e somente eu era a esquisita chegando de paraquedas. Foi ai que o Fabrício me resgatou.
E eu era grata todos os dias da minha vida porque aquele menino salvou minha vida social no ensino médio, se tornou meu melhor amigo e melhor conselheiro e continuava sempre ao meu lado mesmo agora depois do colégio. Quantas pessoas podem dizer que carregaram pra vida toda uma amizade que nasceu nos tempos de escola? Pouquíssimas, eu sei.

-Eu vou te ajudar a estudar, mas acho bom essa sua cabecinha de vento prestar atenção...

Toni cutucou o lado da minha cabeça e eu ri. Ele estava com os cabelos cacheados molhados, estava cheirando a sabonete e ainda sem camisa. Pegou uma maçã na geladeira e saiu sorrindo.

Mensagem Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora