Olá, leitores queridos!
O capítulo de hoje é curtinho, mas cheio de emoção. Espero que gostem!
Conto com a sua leitura, comentário e voto!
Ótima leitura e fim de semana!
...
Já se passaram cinco dias desde o deslizamento e a chuva continua e continua.
Veca organizou orações diárias entre as mulheres e crianças do vilarejo e no início eu participava a contra gosto, para não fazer desfeita com a fé alheia, mas agora, fechar os meus olhos e pensar que Deus poderia me ouvir e rogar para que ele tivesse piedade de nós era uma necessidade básica. Nutria a minha fé, me acalentava quando os trovões e pequenos pedaços de terra despencavam penhasco abaixo.
Nessa manhã, conseguimos ouvir a movimentação do outro lado da pedra. Ninguém arriscava em se aproximar da monstruosidade cinza, ainda mais quando a tal movimentação poderia desencadear um novo deslizamento. Assistindo os curiosos que olhavam de perto, imaginei Zoran tomando conta da situação. Ele fazia isso tão bem! Ordenando que os bombeiros tivessem cuidado, conseguindo outros reforços, acalmando nossa família em Belgrado... Será que Peter estava sabendo do acontecido? Ele teria vindo para checar se eu estava bem, como sempre fazia, religiosamente?
Passos demorados se aproximaram, vindos do fundo do vilarejo, das montanhas acima, que eu apelidei no dia três, de ameaças rochosas. Slaven e Rade atolaram na lama muitas vezes antes de finalmente largarem as botas imundas na entrada e se abrigarem da chuva dentro da casa. Os segui para dentro, esfregando as mãos de ansiedade. Eles saíram cedo para verificar, mais uma vez, se o caminho das montanhas ainda era instransitável.
Veca parecia no mesmo estado de nervos que eu, mordendo os lábios, procurando os olhos do marido enquando ele se sentava com ela no sofá e Slaven - que só conversava o trivial comigo nos últimos dias - desaparecia na cozinha.
Me voltei para o portador de respostas - o que falava - e aguardei, tentando não perder a cabeça para a esperança de sair de lá.
- As coisas mudaram um pouco - pausou e alisou a barba - da última vez que fomos era imposível caminhar por lá por causa da lama. Agora, a chuva lavou toda a terra e tem uma porção de pedras soltas, prontas para rolar aqui para baixo a qualquer momento. - Fechei os olhos, agarrando a frustração dentro de mim. - Antes de subir, nós demos uma olhada lá embaixo, perto do penhasco e é ali que a coisa mais me preocupa. A terra já começou a ceder e cair lá embaixo. Pouca coisa, mas tudo começa aos poucos. Além disso, a reserva de lenha da madeireira está muito perto da beira e é perigoso demais que alguém vá até lá para remover tudo.
Eu pensei que as más notícias nunca acabariam, quando Rade se calou. Todos ficamos em silêncio por um instane, absorvendo a magnitude daquelas informações para os dias que viriam. Agora podiamos ser atingidos de ambos lados. O solo, que ficaria inutilizado por meses, a madeira, encharcada e prestes a rolar morro abaixo. Sem alimento para os animais. Todo o sustento do vilarejo se foi em uma lufada de vento e o destino deles não ficaria melhor quando fossem resgatados. O lugar ficaria inútil por meses, até que, se liberado, eles poderiam voltar a morar no único lar que já conheceram.
Eu não conseguia mais aguentar a situação, então me levantei e saí para a chuva mesmo. Apalpei o bolso do casaco que eu vestia e tirei o celular, com cuidado. Preservei a bateria dele com o maior zelo do mundo, desligando o aparelho no final de cada áudio, mesmo assim, o "x" vermelho sobre o indicador de bateria indicava que esse poderia ser o último recado que eu mandaria para Zoran. Meu olhar escapou até a montanha atrás de nós e o pensamento indesejado de que esse poderia ser o último relato da minha vida se agarrou a minha cabeça. Cliquei no ícone do gravador de áudio e me distanciei de todos. O último precisava ser o melhor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Perfeito Oposto
RomantizmSinopse: Riqueza, diversão, badalo. Todos sinônimos de uma cidade gigantesca e dona de todas as grandes oportunidades, como Nova York. Margareth Donovan não dispensava uma delas sequer. Secretária do prefeito de NY, desfrutava do melhor da riqueza...