IX - Descobrindo um Amigo

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Uma semana depois, Matt apareceu na minha porta pouco depois das cinco horas. Ele ainda estava com o seu uniforme. Fiquei contente de vê-lo.

- Vamos. - Disse ele, logo que abri a porta. - Eu vou comprar o jantar.

Uma vez que estávamos no Jipe, ele disse.

- Eu preciso parar em casa no caminho. Quero me trocar.

Eu ainda não tinha ido a sua casa e estava curioso para ver como ele vivia. Descobri que não era uma casa realmente. Ele parou em frente a uma faixa de apartamentos. Se fosse maior, poderia ser chamado de condomínio. Era um retângulo longo e estreito de tijolo branco, contendo quatro claustrofóbicos apartamentos de um quarto.

Caminhamos até porta, e eu estava atordoado com o vazio estéril do lugar. A maior parte da sala minúscula estava tomada por equipamentos de academia de musculação. Além disso, havia uma cadeira de metal dobrável, uma mesa de canto de madeira velha (sendo usado como uma mesa de café, em frente a uma cadeira), e uma TV sobre uma caixa. E era o apartamento de solteiro mais limpo que eu já tinha visto.

- Uau! Lugar agradável. O motivo cela de prisão realmente funciona pra você. Muito Feng Shui.

Ele me deu um pseudo-sorriso: sobrancelha armada e um lado de sua boca contraindo-se.

- Estive pensando que você não era realmente gay e então você vem e usa palavras como "motivo" e "Feng Shui".

Eu tive que rir disso.

- Sinta-se em casa. - Ele disse por cima do ombro enquanto ia para o quarto se trocar.

O sentimento clichê soava ridículo, nada já havia sentido menos como uma casa. Por trás da sala, junto ao que se passava por uma cozinha, era um canto que não conseguia ser chamado de sala de jantar. Estava uma mesa e outra cadeira dobrável de metal. Mas fiquei surpreso ao ver que a parede da volta inteira foi tomada por grandes fileiras de livros recheando o lugar.

Andei pelos títulos. Estavam amontoados aleatoriamente, mas logo percebi que na verdade eles foram classificados por gênero e aproximadamente por ordem alfabética do autor. Falar sobre limpo e arrumado. Uma das prateleiras era relacionada à lei processual da polícia, e os livros didáticos de justiça criminal.

Em seguida, mais não-ficção, sobretudo relacionados com a guerra e os militares, mas também umas poucas biografias e uma enorme variedade de ficção - mistério, horror, ficção científica, westerns, e até mesmo alguns romances gráficos.

Matt saiu do quarto, vestido com calça jeans normal e camiseta. Ele ficou ao meu lado, alto e reto com as mãos atrás das costas, olhando para os livros. Eu senti como se tivesse encontrado uma pequena janela em seu coração. Ou um santuário, mas eu não sabia para quê.

- Você nunca me pareceu um grande leitor.

Ele ficou em silêncio por um momento e então disse calmamente:

- Eu estou muito sozinho. Às vezes é difícil preencher as horas.

Essas palavras e a sugestão de resignação cansada em sua voz tocou uma corda dentro de mim ‒ que ecoou minha própria solidão tão completamente.

- Eu sei exatamente o que você quer dizer.

E nesse momento, algo se passou entre nós. Não nos falamos, mas eu sabia que ambos sentimos. Não foi nada tão banal ou romântico como encontrar um companheiro. Era simplesmente um reconhecimento silencioso de que realmente éramos almas gêmeas. Que ambos tinham estado sozinho por muito tempo e talvez nós não precisássemos ser mais.

Promessas (Série Coda - 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora