Capítulo 2: Preocupação nunca é demais

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Início de período novo na universidade. Como sempre, ansioso e animado por ter concluído mais uma etapa da minha longa caminhada em busca de algo melhor. Selly foi nomeada a primeira da sua classe de medicina no semestre passado, coisa que eu já esperava, era raro não a encontrar com um livro no colo e uma xícara de café em mãos. Infelizmente não consegui manter minha média tão alta quanto costumava ser, o estágio exigia muito de mim e era longe da universidade, então a maior parte do tempo passava em metrôs e ônibus, tentando conciliar estudos, trabalho e o restante da minha vida pessoal.

O dia estava quente, bastante ensolarado, e eu virado de um dia para o outro, um estudante zumbi esperando o momento em que finalmente encontraria a cama mais uma vez. Não dormi na noite anterior, cheguei tarde do trabalho e eu precisava concluir a pesquisa para entregar ao professor de logística, trabalho extracurricular e parte do contrato de bolsas da universidade.

— Prof. Edwards — a porta da sala estava aberta, mas era de praxe bater antes de entrar.

— Sr. Kholer — assentiu permitindo minha entrada — Creio que tenha concluído sua parte da pesquisa.

— Sim, senhor — puxei para frente minha bolsa carteiro e com cautela entreguei meu trabalho redigido e formatado de maneira impecável.

Minhas expectativas eram altas aguardando um "muito bem" ou "incrível" saltar de sua boca. Ao invés disso, seu enunciado me deixara bastante intrigado.

— Espero que isso consiga mantê-lo na universidade por mais tempo — abriu calmamente folheando as páginas — É muito dedicado.

— Perdão? — Uni as sobrancelhas com a testa franzida tentando sondar sua expressão quase fúnebre.

— Antes que eu esqueça — olhou-me por cima dos óculos - solicitaram sua presença na secretaria de assuntos comunitários.

— Mas eu tenho aula agora, — apontei para o corredor involuntariamente —tem algum problema com a minha matrícula?

— Obrigado, Sr. Kholer.

Foi uma deixa sutil para que eu me retirasse, e de repente relembrei dia após dia que antecederam as vinte e quatros horas anteriores àquela manhã. Não era costume ser convocado para uma visita na secretaria comunitária, a menos que tivesse feito alguma besteira que implicasse em sua permanência na universidade, mas eu tinha certeza que esse não era o meu caso.

Vinte minutos de caminhada pelo campus até chegar no destino. Esbaforido e suado, tentei controlar minha respiração e nervosismo com um copo d'água. Imaginei que seria atendido rapidamente, o local costumava ficar vazio, mas eu não fui o único a ser chamado. A sala estava fria e repleta de rostos ansiosos e confusos, assim como eu. Um por um, até restar um único jovem adulto que roía os cantos das unhas enquanto o barulho repetitivo das batidas da sola de seu tênis gasto no piso de mármore ecoava pelas paredes da sala de espera.

— Adam Kholer? — Denise, a bela secretária jovem simpática com cabelos de fogo surgiu no corredor com prancheta em mãos.

Assenti e levantei caminhando para que ela me levasse até o devido local. O som de seus saltos finos me deixava mais inquieto ainda.

— Poderia adiantar o assunto para mim? — Lhe dei um meio sorriso e um olhar de flerte na tentativa idiota para conseguir informações.

— Sinto em desapontá-lo, — esticou os lábios selados — mas está fora da minha área de atuação.

Como eu disse, tentativa idiota. Fui encaminhado até a sala da reitoria, o que era estranho uma vez que ninguém no campus costumava ter acesso à parte alta do controle de nosso ambiente acadêmico. Os reitores e vice-reitores, na universidade, eram como o parlamento em uma monarquia. Denise abriu a porta anunciando meu nome, respirei fundo para não enlouquecer e mantive certa distância da mesa larga de madeira envernizada até que fosse convidado para sentar.

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