Capítulo 27: Gélido Como Lume

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Enfim, graduação concluída com louvor.

Entreguei minha monografia, apresentei à banca e passei com uma das melhores notas de conclusão de curso da universidade. Tudo o que eu mais queria desde que me mudei para a Califórnia, e mal acreditava que estava mesmo acontecendo. 

Por alguns momentos eu pensei que poderia surtar. Retirei minha existência do mundo e foquei no trabalho, salvo os momentos semanais que tirava para ligar para Maryann de um telefone público. Meu orientador, Sr. McKenzie, ou Jeffrey – como insistiu que eu o chamasse –, em diversos momentos sugeriu que eu parasse para procurar o psicólogo do campus, pois meu nível de estresse estava escancarado na minha cara, o vício em café e os olhos vermelhos por não dormir. Não sobrara nenhum resquício da minha vida social.

Àquela altura, meu telefone já havia sido trocado por drogas. Então parei de pagar o pacote de internet, e fiz toda minha pesquisa à moda antiga: nos livros escondidos pela biblioteca que se tornara minha segunda casa.

Eu já não a vi há muito tempo. Nem mesmo o babaca do Christopher. Ninguém que me trazia notícias dela. Eloise sumiu do meu mundo, levando boa parte da minha distração dos estudos com ela e assim, comprovei que realmente existem males que vem para o "bem"...

Era o dia da formatura, o tão sonhado dia de todo universitário. Beca, capelo, canudo e tudo o que eu tinha direito. Exceto a presença dos meus avós, ou qualquer outro familiar. Meu avô, infelizmente, acabou adoecendo, estava internado no hospital e sem aval para viajar. Minha avó, é claro, não poderia deixar o amor da sua vida sozinho, embora ela tenha me ligado emocionada por saber que seu neto, quem criara como filho, estava finalmente se formando. Porém, apesar de todos esses detalhes infelizes, eu recusava me deixar deprimir, pelo menos não naquele dia.

CONSEGUI! Eu me formei bacharel em ciência administrativa, com domínio adicional em economia – graças à Eloise que me fizera interessar nessa segunda área.

A cerimônia aconteceu num auditório do hotel Epiphany, não muito longe do meu habitat. A emoção inundou meu olhar ao segurar finalmente o canudo em minhas mãos, entregue por ninguém menos que meu orientador, que não me deixava em paz quando pensei em desistir, e por isso o agradeço até hoje em demasia.

Depois da cerimônia de colação de grau, minha vontade era apenas ir para casa e dormir finalmente – e qualquer hora depois arrumar a bagunça do apartamento, que por hora ainda era minha casa, mas parecia muito mais com uma cena de crime depois de revirada.

—Onde pensa que vai, Sr. Kholer? – indagou Jeffrey ao me ver passando como um foguete pela porta de saída.

—Para casa!? – respondi, mais em dúvida do que gostaria.

—Chega um dos marcos da sua vida, e você não vai ficar para a comemorar?

—Não estou muito emclima de festas – coloquei as mãos dentro dos bolsos. —Na verdade eu só gostaria mesmo de dormir agora.

—Vai ter tempo suficiente na sua vida para dormir– ele riu e apoiou sua mão nas minhas costas, enquanto me conduzia até o elevador para o coquetel organizado pelos riquinhos da turma. Drinks, petiscos e obviamente uma chuvarada de flashes e risos de pessoas socialmente elevadas pelo status da própria família, apesar de sozinhos não terem glória nenhuma. Nossa! Quando foi que fiquei tão amargo?—Você é um garoto muito inteligente. O futuro é feito de networking.E é isso que nós vamos fazer aqui hoje. Certo? 

—Tenho quase certeza que não tenho muito para impressionar hoje.

—Tudo o que você precisa, está aqui –afundouminha testa com o indicador. As portas do elevador se abriram e lá estava exatamente o tipo de situação social que eu estive evitando por meses. —Agora tome um drink e se relacione!

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